segunda-feira, 16 de novembro de 2009

WELCOME BACK MISS L!

Caros amigos: nossa querida amiga Lara Selem esteve fazendo uma turnê pelo oriente e nos conta, de forma emocionante e envolvente suas impressões sobre a velha índia. Obrigado, Lara! É um grande prazer ter você aqui de volta. Abração!

Hoje é o meu último dia na Índia. Ainda estou em Varanasi, a cidade sagrada dos hindus. Depois de 7 dias nesse país, saio daqui com todos os meus sentidos alterados. Eles nunca mais serão os mesmos, tenho certeza.
O olfato aprendeu a sentir ao mesmo tempo o cheiro dos indianos, do incenso, do sândalo, do estrume das vacas sagradas, dos corpos queimando no Ganges, das essências, das especiarias, presentes em todas as ruas pelas quais caminhei.
A audição, que normalmente prefere o silêncio ao barulho, foi invadida pelas buzinas ensurdecedoras dos tuc-tucs, rikishas e carros desgovernados, pela suavidade repetitiva dos mantras, pelo hindi ininteligível, pelos clamores dos mendigos, pelos vendedores de tranqueira, pela cítara (que George tanto gostava).
O paladar aprendeu um pouco a tolerar comidas apimentadas, se viciou na masala (pra misturar no chá), e nunca bebeu tanta água (mineral).
O tato experimentou a textura da serpente que se enrolou no meu pescoço e a língua dela no meu braço, a tromba peludinha do elefante baby, as encrustrações no mármore do Taj Mahal, as inscrições do alcorão nas paredes de sandstone dos fortes dos marajas, a água do Ganges, a aspereza das mãos dos indianos trabalhadores.
E a minha visão foi afetada pela sujeira e pobreza das ruas da velha Delhi, que me fizeram chorar um dia inteiro. Se assustou com o trânsito maluco de tuc-tucs, rikishas, vacas, pessoas, que fazem suas próprias regras e são verdadeiros loucos nas ruas. Mas também se encantou com as cores dos saris das mulheres nas ruas e no campo, com as paredes da cidade rosa (Jaipur), com a exuberância arrebatadora do Taj Mahal (Agra), com o olhar dos peregrinos de Varanasi.
Mas o principal sentido afetado pela força da Índia, foi o sexto, da intuição. Porque intuição é um misto de conhecimento e sensibilidade.
Percebi o tamanho da minha ignorância sobre tudo que vi por aqui. Aprendi que, segundo o hinduismo, uma vida plena só existe se houver prosperidade e sabedoria juntas, pois isoladas não promovem evolução e fazem do homem um idiota. E que pro budismo, todas as vidas tem problemas e que é possível sim passar por eles com o semblante sereno de quem domina as emoções com a meditação. No Ganges, vi vida e morte sendo celebradas ao mesmo tempo, como faces da mesma moeda, fazendo da dualidade a beleza de tudo que somos: luz e escuridão, dia e noite, pobreza e riqueza, saúde e doença, o forte e o fraco.
Aprendi que respeitar as crenças e as realidades, sem julgar, sem impor a "minha" verdade não é fácil, mas é a única maneira de se alinhar com a força da Índia. Vi tudo acontecendo ao mesmo tempo agora. Coisas que pra nós, ocidentais, parecem absurdas, caricatas, esquisitas. Deixo a Índia respeitando absolutamente tudo que vi, ouvi, senti, provei e toquei. Consciente do meu tamanho... grande pra algumas coisas, e pequeno pra muitas.
E saio daqui com um grande dever de casa: aprender mais, evoluir mais, simplificar mais. A Índia turbinou a minha sensibilidade e me permitiu jogar no Ganges as cinzas de sentimentos que eu não queria mais carregar. Deixou a minha bagagem mais leve ao me permitir escolher o que levar. Me fez refletir sobre tudo o que é mais importante na minha vida: as pessoas que amo, do
passado, do presente e do futuro. E, sobretudo, o peso das minhas decisões em relação a elas, pois lhes sou responsável no limite das minhas ações.

Namastê.
Valeu!! Abraços, Lara Selem

4 comentários:

  1. Hey, Miss L! Deve ter sido realmente um passeio incrível! Nossos parabéns pelo seu talento, simplicidade e humildade. E mais uma vez, obrigado por estar aqui. Beijão! Edu

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  2. Obrigada Edu!! De fato, foi incrível.

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  3. ...Remember: to let it into your heart, than you can start to make it better!

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  4. Minha doce amiga, apesar da curiosidade que sempre tive pelo oriente, mesmo com os documentários que já assisti, sem nunca ter estado por lá, tive a real sensação de ter te acompanhado de alguma forma nessa passagem...mais ainda agora com uma transcrição tão bela e simples, como você!! Namastê!!!

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