Caros amigos: nosso blog mais querido recebe agora, orgulhosamente, o lendário Johnny Cash - um dos maiores ícones da música americana - numa belíssima e emocionada matéria feita pelo nosso querido amigo e colaborador Luiz Clementino.
A sociedade norte americana, na década de 50, estava muito bem estruturada. O país saiu rico e fortalecido das duas grandes guerras. Com muito trabalho, mas também explorando outras nações, houve uma equilibrada distribuição de renda interna para a população. A classe média comprava o que queria, desde eletrodomésticos a carrões confortáveis e potentes. Infelizmente havia o preconceito racial, um fato muito triste e que posteriormente traria graves conseqüências.
No aspecto cultural, o som negro escravocrata era muito perseguido e discriminado, mas o blues foi fator determinante para o enriquecimento do estilo branco chamado “COUNTRY MUSIC”. Com isso, a mistura rhythm and blues e country music gerou o ROCK and ROLL. Nesse cenário, apareceram os “rebeldes sem causa”, jovens que tinham boa qualidade de vida, mas expressavam suas insatisfações, elaborando música de negros, dançando e cantando ao som dessa “música do demônio”. Nessas condições, surgiu um cidadão chamado SAM PHILLIPS, produtor da cidade de Memphis que criou a famosa gravadora SUN RECORDS, responsável por gravar artistas brancos cantando repertório negro, em cima de ritmos frenéticos, sem a instrumentação de violinos, guitarras havaianas, banjos ou bandolins, presentes até então na música branca.
Esses jovens músicos eram nada mais nada menos que ELVIS PRESLEY, JERRY LEE LEWIS, JOHNNY CASH, ROY ORBISON e CARLS PERKINS. Por meio do seu talento, criatividade e muita ousadia para os valores da época botaram pra lascar, mudando o panorama musical norte-americano e assumindo a maravilhosa MÚSICA NEGRA. No cinema deu-se o mesmo com atores como MARLON BRANDO, MONTGOMERY CLIFF e JAMES DEAN, com estupendas interpretações utilizando o método da famosa escola Actors Studio.
Vamos comentar um expoente dessa geração, o fascinante JOHNNY CASH, o HOMEM DE PRETO, que com seu talento e uma sensibilidade do tamanho de um dinossauro nos deixou um legado musical maravilhoso. Ao longo de quase cinco décadas o “O HOMEM DE PRETO”, com sua misteriosa e cavernosa voz, acompanhada do seu violão, trilhou gêneros como country, blues, folk e gospel. Até seu falecimento, foi uma “lenda viva” do country alternativo, admirado e respeitado por artistas famosos e pelo grande público. Seu desaparecimento foi notícia mundial.
Na ocasião, me lembro, o Time Magazine estampou seu rosto na capa, “JOHNNY CASH 1932-2003” e publicou uma matéria lindíssima de várias páginas. E o fascínio permaneceu. Foram feitos tributos, shows, CDs, história em quadrinhos e, em 2005, um belo e correto filme. JOHNNY CASH foi um cara coerente com seu trabalho. Rolou firme no seu próprio estilo musical simples, eficiente e cativante. Sua música tem uma intensidade espantosa. Com a voz grave e envolvente, suas apresentações tinham uma magia inexplicável. Seus arranjos tradicionais eram encharcados de sensibilidade que muitas vezes JOHNNY não conseguia canalizar.
Cheio de traumas de infância e com mil demônios para exorcizar, tornou-se doidão, viciado em anfetaminas e barbitúricos. Com atitudes selvagens, mau comportamento e aprontando nos shows passou algumas noites na cadeia. Apesar dessa falta de controle, sempre produziu material de qualidade, criando vários hits. Gravou e lançou dois álbuns ao vivo e bem-sucedidos, Johnny Cash at Folsom Prison, de 1968, e Johnny Cash at San Quentin, de 1969. A população penitenciária o adorava, pois CASH não cantava para os detentos. Ele se apresentava como um deles. De acordo com o crítico de música Seth Jacobson, do jornal britânico Daily Mirror, as gravações nos presídios foram tensas, principalmente em Folsom Prison, com guardas fortemente armados quando CASH se apresentando para 2 mil detentos, que uivavam em delírio, letras de canções barra pesadíssimas. Em um dos vídeos da apresentação em San Quentin, são focados, em close, presídiários emocionados ,com lágrimas nos olhos.
JUNE CARTER, cantora de country, pertencente a uma família com tradição musical, resistiu como pode em não se envolver com o “O HOMEM DE PRETO”. Perfeitamente compreensível, pois significava encrenca da grossa. Porém, JUNE era uma mulher e tanto. A união foi inevitável. Viveram juntos várias décadas, enfrentaram barra, tiveram um filho e foram felizes. Ela foi sua grande companheira em todos os aspectos, o levou à conversão religiosa e o ajudou a superar o vício e seus sérios problemas. JUNE faleceu em maio de 2003, aos 71 anos. Quatro meses após, JOHNNY CASH também se foi para encontrar o grande amor de sua vida.
Já no final da vida, cantando In my life, para JUNE, é visível o peso da idade na sua voz, mas nãoperde a sensibilidade e a sua peculiar simplicidade. Um vídeo dessa música é ilustrado por fotos em ordem cronológica, o que o torna mais bonito e carregado de emoção.
No documentário BOB DYLAN - NO DIRECTION HOME, de Martin Scorsese, DYLAN afirma que JOHNNY CASH era uma espécie de deus para ele e que mal conseguiu dedilhar seu violão ao tocaram juntos, tamanha era a emoção. Existe um efêmero vídeo de ambos bêbados, cantando uma canção de HANK WILLIAMS, com BOB DYLAN ao piano. Posteriormente os dois gravaram uma canção no álbum “Nashiville Skyline”.
No seu próprio programa de TV, pela rede ABC, (1969-1971), estão registrados momentos maravilhosos com artistas e amigos que o admiravam como: Kris Kristofferson, Willie Nelson, The Carpenters, Joni Michell, Neil Young, toda nata do “country music” norte-americano, além de muitos outros.
Em 2005, estourou nas telas o filme JOHNNY E JUNE (Walk the Line), dirigido por JAMES MANGOLD, produzido pela Century Fox e nos principais papéis JOAQUIN PHOENIX e a lourinha REESE WHITERSPOON. Trata-se de uma bonita história de amor com desencontros, conflitos e a grande paixão pela música. O filme, muito bem feito, é todo um capricho só, com excelente fotografia em cores originais, direção de arte nota 10, vestuário e reconstituição da época impecáveis. A narrativa é generosa e agradável, divergindo das montagens frenéticas dos filmes atuais. O ponto alto é a atuação dos atores, notadamente para Joaquin e Reese, que sem nenhuma experiência musical (foram treinados durante seis meses), interpretam as canções sem dublagem. A trilha sonora, executada como pano de fundo durante o filme, foi composta por T-Bone Burnet e é maravilhosa.
Cada cena tem um significado sutil, como por exemplo, quando CASH observa ELVIS se apresentando nos primórdios do rock and roll, com aquela performance peculiar do “rei do rock”. Ele o observa com uma expressão séria por alguns minutos e parece diagnosticar o grande potencial de Presley. Logo a seguir dá um sorriso, vira as costas e vai embora. Em outra cena, a câmera parada, Joaquin Phoenix interpreta Johnny Cash em desespero, totalmente destemperado, quebrando tudo, do violão a pia, à procura das anfetaminas. A pia foi arrancada da parede no improviso, não estava no script.
Em outro momento do filme, o diretor dá a dica de como foi a inspiração do hit “I WALK THE LINE”. June chega perto do palco de um teatro vazio onde JOHNNY CASH, THE KILLER e demais músicos estão bêbados quando deveriam estar ensaiando. Ela dá um tremendo esporro em todos eles, arma um barraco e diz que eles não sabem andar na linha (Walk the line). O plano a seguir é CASH gravando esse bonito country.
Joaquin foi escolhido pelo próprio Johnny Cash para o papel. Por sua interpretação o ator ganhou o Globo de Ouro. REESE, com sua maravilhosa atuação, levou o Oscar de melhor atriz.
JOHNNY CASH foi um vencedor, um guerreiro que lutou bravamente, perdeu algumas batalhas, mas ganhou a guerra. Permaneceu fiel às suas raízes country-folk-blues. Enquanto John Lennon abria as asas da criatividade e voava para muito alto com sua música, Keith Richards se aprofundava no blues do Mississipi e na esteira do rock and roll de Chuck Berry, e o Pink Floyd percorria longos caminhos com sons experimentais, o HOMEM DE PRETO permaneceu na mesma base ao longo dos anos. Ele produziu coisas belas e cativantes, sendo admirado e respeitado não somente pelo grande ELVIS, mas por toda uma geração. Seu olhar misterioso e sua voz cavernosa o tornaram um ícone da música em todo o planeta.
Esse texto é dedicado ao meu filho BRUNO, o terceiro de uma série de seis, baixista de sua banda, a REDIAL ROCKER, que fotografo as apresentações, e para MARGARITHINHA que insistiu carinhosamente para eu escrever sobre JOHNNY CASH. Dedico também para a população do Haiti, país devastado por terremotos e tanto sofrimento.
Muito obrigado e até a próxima! Luiz Clementino
Quando duas lendas se encontram... Johnny Cash e Mr. Bob Dylan. Espero que tenham gostado, continuem voltando e enviando para seus amigos. Valeu! Abração!
No aspecto cultural, o som negro escravocrata era muito perseguido e discriminado, mas o blues foi fator determinante para o enriquecimento do estilo branco chamado “COUNTRY MUSIC”. Com isso, a mistura rhythm and blues e country music gerou o ROCK and ROLL. Nesse cenário, apareceram os “rebeldes sem causa”, jovens que tinham boa qualidade de vida, mas expressavam suas insatisfações, elaborando música de negros, dançando e cantando ao som dessa “música do demônio”. Nessas condições, surgiu um cidadão chamado SAM PHILLIPS, produtor da cidade de Memphis que criou a famosa gravadora SUN RECORDS, responsável por gravar artistas brancos cantando repertório negro, em cima de ritmos frenéticos, sem a instrumentação de violinos, guitarras havaianas, banjos ou bandolins, presentes até então na música branca.
Esses jovens músicos eram nada mais nada menos que ELVIS PRESLEY, JERRY LEE LEWIS, JOHNNY CASH, ROY ORBISON e CARLS PERKINS. Por meio do seu talento, criatividade e muita ousadia para os valores da época botaram pra lascar, mudando o panorama musical norte-americano e assumindo a maravilhosa MÚSICA NEGRA. No cinema deu-se o mesmo com atores como MARLON BRANDO, MONTGOMERY CLIFF e JAMES DEAN, com estupendas interpretações utilizando o método da famosa escola Actors Studio.
Vamos comentar um expoente dessa geração, o fascinante JOHNNY CASH, o HOMEM DE PRETO, que com seu talento e uma sensibilidade do tamanho de um dinossauro nos deixou um legado musical maravilhoso. Ao longo de quase cinco décadas o “O HOMEM DE PRETO”, com sua misteriosa e cavernosa voz, acompanhada do seu violão, trilhou gêneros como country, blues, folk e gospel. Até seu falecimento, foi uma “lenda viva” do country alternativo, admirado e respeitado por artistas famosos e pelo grande público. Seu desaparecimento foi notícia mundial.
Na ocasião, me lembro, o Time Magazine estampou seu rosto na capa, “JOHNNY CASH 1932-2003” e publicou uma matéria lindíssima de várias páginas. E o fascínio permaneceu. Foram feitos tributos, shows, CDs, história em quadrinhos e, em 2005, um belo e correto filme. JOHNNY CASH foi um cara coerente com seu trabalho. Rolou firme no seu próprio estilo musical simples, eficiente e cativante. Sua música tem uma intensidade espantosa. Com a voz grave e envolvente, suas apresentações tinham uma magia inexplicável. Seus arranjos tradicionais eram encharcados de sensibilidade que muitas vezes JOHNNY não conseguia canalizar.
Cheio de traumas de infância e com mil demônios para exorcizar, tornou-se doidão, viciado em anfetaminas e barbitúricos. Com atitudes selvagens, mau comportamento e aprontando nos shows passou algumas noites na cadeia. Apesar dessa falta de controle, sempre produziu material de qualidade, criando vários hits. Gravou e lançou dois álbuns ao vivo e bem-sucedidos, Johnny Cash at Folsom Prison, de 1968, e Johnny Cash at San Quentin, de 1969. A população penitenciária o adorava, pois CASH não cantava para os detentos. Ele se apresentava como um deles. De acordo com o crítico de música Seth Jacobson, do jornal britânico Daily Mirror, as gravações nos presídios foram tensas, principalmente em Folsom Prison, com guardas fortemente armados quando CASH se apresentando para 2 mil detentos, que uivavam em delírio, letras de canções barra pesadíssimas. Em um dos vídeos da apresentação em San Quentin, são focados, em close, presídiários emocionados ,com lágrimas nos olhos.
JUNE CARTER, cantora de country, pertencente a uma família com tradição musical, resistiu como pode em não se envolver com o “O HOMEM DE PRETO”. Perfeitamente compreensível, pois significava encrenca da grossa. Porém, JUNE era uma mulher e tanto. A união foi inevitável. Viveram juntos várias décadas, enfrentaram barra, tiveram um filho e foram felizes. Ela foi sua grande companheira em todos os aspectos, o levou à conversão religiosa e o ajudou a superar o vício e seus sérios problemas. JUNE faleceu em maio de 2003, aos 71 anos. Quatro meses após, JOHNNY CASH também se foi para encontrar o grande amor de sua vida.
Já no final da vida, cantando In my life, para JUNE, é visível o peso da idade na sua voz, mas nãoperde a sensibilidade e a sua peculiar simplicidade. Um vídeo dessa música é ilustrado por fotos em ordem cronológica, o que o torna mais bonito e carregado de emoção.
No documentário BOB DYLAN - NO DIRECTION HOME, de Martin Scorsese, DYLAN afirma que JOHNNY CASH era uma espécie de deus para ele e que mal conseguiu dedilhar seu violão ao tocaram juntos, tamanha era a emoção. Existe um efêmero vídeo de ambos bêbados, cantando uma canção de HANK WILLIAMS, com BOB DYLAN ao piano. Posteriormente os dois gravaram uma canção no álbum “Nashiville Skyline”.
No seu próprio programa de TV, pela rede ABC, (1969-1971), estão registrados momentos maravilhosos com artistas e amigos que o admiravam como: Kris Kristofferson, Willie Nelson, The Carpenters, Joni Michell, Neil Young, toda nata do “country music” norte-americano, além de muitos outros.
Em 2005, estourou nas telas o filme JOHNNY E JUNE (Walk the Line), dirigido por JAMES MANGOLD, produzido pela Century Fox e nos principais papéis JOAQUIN PHOENIX e a lourinha REESE WHITERSPOON. Trata-se de uma bonita história de amor com desencontros, conflitos e a grande paixão pela música. O filme, muito bem feito, é todo um capricho só, com excelente fotografia em cores originais, direção de arte nota 10, vestuário e reconstituição da época impecáveis. A narrativa é generosa e agradável, divergindo das montagens frenéticas dos filmes atuais. O ponto alto é a atuação dos atores, notadamente para Joaquin e Reese, que sem nenhuma experiência musical (foram treinados durante seis meses), interpretam as canções sem dublagem. A trilha sonora, executada como pano de fundo durante o filme, foi composta por T-Bone Burnet e é maravilhosa.
Cada cena tem um significado sutil, como por exemplo, quando CASH observa ELVIS se apresentando nos primórdios do rock and roll, com aquela performance peculiar do “rei do rock”. Ele o observa com uma expressão séria por alguns minutos e parece diagnosticar o grande potencial de Presley. Logo a seguir dá um sorriso, vira as costas e vai embora. Em outra cena, a câmera parada, Joaquin Phoenix interpreta Johnny Cash em desespero, totalmente destemperado, quebrando tudo, do violão a pia, à procura das anfetaminas. A pia foi arrancada da parede no improviso, não estava no script.
Em outro momento do filme, o diretor dá a dica de como foi a inspiração do hit “I WALK THE LINE”. June chega perto do palco de um teatro vazio onde JOHNNY CASH, THE KILLER e demais músicos estão bêbados quando deveriam estar ensaiando. Ela dá um tremendo esporro em todos eles, arma um barraco e diz que eles não sabem andar na linha (Walk the line). O plano a seguir é CASH gravando esse bonito country.
Joaquin foi escolhido pelo próprio Johnny Cash para o papel. Por sua interpretação o ator ganhou o Globo de Ouro. REESE, com sua maravilhosa atuação, levou o Oscar de melhor atriz.
JOHNNY CASH foi um vencedor, um guerreiro que lutou bravamente, perdeu algumas batalhas, mas ganhou a guerra. Permaneceu fiel às suas raízes country-folk-blues. Enquanto John Lennon abria as asas da criatividade e voava para muito alto com sua música, Keith Richards se aprofundava no blues do Mississipi e na esteira do rock and roll de Chuck Berry, e o Pink Floyd percorria longos caminhos com sons experimentais, o HOMEM DE PRETO permaneceu na mesma base ao longo dos anos. Ele produziu coisas belas e cativantes, sendo admirado e respeitado não somente pelo grande ELVIS, mas por toda uma geração. Seu olhar misterioso e sua voz cavernosa o tornaram um ícone da música em todo o planeta.
Esse texto é dedicado ao meu filho BRUNO, o terceiro de uma série de seis, baixista de sua banda, a REDIAL ROCKER, que fotografo as apresentações, e para MARGARITHINHA que insistiu carinhosamente para eu escrever sobre JOHNNY CASH. Dedico também para a população do Haiti, país devastado por terremotos e tanto sofrimento.
Muito obrigado e até a próxima! Luiz Clementino
Parabéns, Clementino. Ficou muito bacana!
ResponderExcluirMuito bom. Já vi o filme e gostei muito. Parabéns ao Clementino e ao Edu pela belíssima arte!
ResponderExcluirSensacional!
ResponderExcluirlinda materia edu e lindo texto do amigo clementino
ResponderExcluir