quarta-feira, 18 de abril de 2012

O SHOW DE BOB DYLAN EM BRASÍLIA

Por Marco Miranda
Acabo de ligar o computador. Busco na memória real, não na virtual, os acordes perfeitos de um show da noite passada. Sim, acordes perfeitos, precisos, impecáveis. Acordes de um rock feito por quem sabe fazer, por quem está na estrada há muito tempo trilhando e abrindo caminhos para gerações de pessoas engajadas em algum discurso sociológico libertário. Seja tocando um rock, escrevendo poemas ou discursando nas mesas dos bares.
O que vi na noite passada foi uma prova de que o rock não tem idade. No alto dos seus quase 72 anos, Mr. Bob Dylan botou pra quebrar. Reuniu uma banda de excelentes músicos, colocou a bagagem no avião, saiu mundo afora e fez uma escala aqui em Brasília. O palco foi armado no ginásio Nilson Nelson, por onde já passou de Jackson Five a Eric Clapton. Dessa vez, todos aguardavam a lenda viva do rock. Aproximadamente 8 mil pessoas, pelos meus cálculos imprecisos. E pontualmente às 21h30min, as luzes se apagaram e o som acendeu a platéia. O show começou.
Neste instante eu ainda estava numa das duas únicas filas destinadas para a entrada das arquibancadas do ginásio. A ansiedade tomava conta de todos que ainda não tinham entrado e somente ao final da segunda música consegui enxergar o palco. E foi aí que também comecei a enxergar o lado que deixou a desejar no show, a tal da produção. Sei que o rock é um som considerado cru, de acordes simples e objetivos e que tem que ser tocado sem firulas. É disso que eu gosto no rock. Mas quando se vai a um show em que o ingresso menos caro custa 120 reais, a meia entrada, o mínimo que se espera é ter condições de ver o show.
E não foi isso o que aconteceu. Pra começar, os dois telões instalados no palco estavam desligados. A iluminação era a mais simplória possível e o microfone de Bob Dylan destruiu qualquer chance de ouvir em alto e bom som, a voz anasalada mais famosa do mundo. O bar mais próximo da arquibancada exigiria, no mínimo, dez minutos de show perdidos para se comprar uma cerveja cara e quente. Mas eu não estava lá para me chatear com os problemas.
O que eu e a maioria das pessoas queríamos era ouvir a lenda cantando alguns dos seus clássicos. Mas isso também não aconteceu. Não que o som que estava rolando fosse ruim, pelo contrário, era sensacional. Mas se um artista leva 30 ou 40 anos para tocar num lugar, o mínimo que se pode esperar é que ele toque o que o público espera. O set list do show reservou espaço apenas para uma Like a Rolling Stone quase irreconhecível, com um arranjo muito diferente do que estamos acostumados a ouvir. E o show, que durou exatamente uma hora e meia, chegou ao fim deixando uma legião de novos e velhos fãs parcialmente frustrados, mas de alguma forma também estasiados. Todos estávamos ávidos para cantar em coro os grandes clássicos de Mr. Dylan. Não cantamos com ele, mas o que foi legal é que em nenhum instante a platéia desrespeitou o ídolo, que ao final, depois do único bis, fez reverências ao público. Ele não disse “obrigado Brasília”, mas saiu do palco feliz. E a cidade, mesmo com todas as falhas técnicas da produção, disse de coração “thanks, Mr. Bob Dylan”.

5 comentários:

  1. Pois é, Marcão. Infelizmente, não pude ir. Mas só de ler seu texto, já me arrependi por ter faltado... e pelo jeito que a carruagem anda, era a última oportunidade de conferir se o velhão ainda dá no couro mesmo. Parabéns pelo texto. Parabéns por ter visto Mr. Zimmerman. Obrigado. Valeu! Abração!

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  2. Cara, também fui ao show. Não concordo que ele não cantou clássicos, não.

    O show foi demais

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  3. Bem esclarecedor. Mas não é de hoje que Dylan faz isso. Desde seu "acústico" que notei que ele "quase" deforma alguns clássicos.Ficam até difíceis de reconhecer.Mais parecendo que ele os canta com a mais indisfarçável má vontade.Ao menos é o que venho lendo sobre seus shows e do pouco que vi/ouvi.

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  4. Como diz minha irmã: Ele pode abaixar a calça e mostrar a bunda (deculpa as palavras)que eu ainda vou lá ver porque ele é É O CARA!
    Também não concordo que ele não cantou os clássicos.
    Don’t Think Twice It’s All Right, Tangled Up In Blue, A Hard Rain’s A-Gonna Fall, Highway 61 Revisited são só exemplos.
    Em relação a falta de imagens do telão e a iluminação, isso foram exigências do prórpio Dylan segundo reportagem do Correio Braziliense.
    Agora quanto ao áudio convenhamos que a acústica do estádio é péssima e a voz do senhor Dylan já não é a mesma.
    Infelizmente ele abusou muito do alcóol e cigarro durante anos e a voz dele foi completamente prejudicada. Pelo que eu pude ver não há mais possibilidade nenhuma dele cantar como antigamente pois não há mais fôlego nem voz para isso e por isso das músicas com arranjo tão irreconhecíveis, algumas vezes parecendo serem mais faladas/declaradas do que cantadas.
    Enfim...repito o que gritei no show: (Bob Dylan) VOCÊ É FODA!!!!

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  5. Não sei se estou certo,mas li em algum canto que os telões nos shows do Bob são desligados por exigencia do mesmo.

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