Publicado no jornal "O Liberal" de Belém, no domingo, 14 de dezembro de 1980.
HONOLULU - Em algum ponto obscuro da vida de Mark David Chapman, estão guardadas as pistas que podem explicar a razão pela qual ele matou o homem que mais admirava. As conjecturas sobre a cabeça de Chapman estarão no centro das controvérsias que decorrerão do assassinato de John Lennon, como por exemplo, a discussão sobre o controle da venda de armas e o registro de pessoas com desequilíbrio mental. Alguns vão teorizar dizendo que, ao matar alguém importante, o jovem ex-guarda de segurança estava simplesmente tentando ser importante também. Talvez ele tenha desenvolvido uma reação de amor-ódio pelo ídolo que adorava. Pode-se pensar num caso de suicídio ao contrário, que acaba em homicídio. As pistas estão enterradas na história pessoal de Chapman, cujas linhas gerais são parecidas com as de milhares de jovens "Zé-Ninguéns" - mãe repressora, drogas, rock, fascínio por Cristo fracassos pessoais e tentativas de suicídio. Chapman nasceu a 10 de maio de 1955 em Fort Worth, Texas, quando os Beatles ainda estavam bem aquém da imaginação de qualquer pessoa - inclusive deles próprios. A sua família morou em Jacksonville, Flórida, até 1962, mudando-se então para Decatur, Georgia, perto de Atlanta. O pai, David, trabalhou no departamento de crédito de uma companhia de petróleo e depois num banco. A mãe, Diane, tomava conta de Mark e de sua irmã caçula, Susan. Tomy Morris, amigo de ginásio, disse que a mãe de Mark era muito exigente com a disciplina e gritava com ele. Segundo Morris, Mark se revoltava com os pais severos. "Eles não gostava da maioria dos amigos dele Estavam sempre acusando-o de tomar drogas, re-vstavam seu quarto e impunham uma série de restrições". Outro amigo de escola, Garry Limuti, diz que os pais de Mark não estava errados em suas suspeitas. "Mark teve várias experiências ruins com drogas. Lembro quando virou cristão, a gen¬te chamava ele na escola de "Jesus Freak" - os jovens que entram para uma seita ou religião e ficam dominados pelo fanatismo. Charles Craft, que também era colega de classe, contou que Mark tinha uma enorme coleção de discos e fazia parte de um grupo que tocava em festas da escola. Em 1970, aos 14 anos, Mark fugiu de casa, segundo os arquivos policiais da fíeorgia. Nesse período, os únicos problemas registrados que teve com a lei foram a entrada proibida numa lanchonete em 1973, queixa posteriormente re¬tirada, e uma multa por excesso de velocidade em 1975. O ministro batista Walter Hendrix estudou com Chapman e lembra que ele era tenor no co¬ral da escola. "Minha primeira impressão de Mark, quando estava na oitava série, foi que ele era um rapaz muito direitinho, de cabelo curto. Mais ou me¬nos no segundo colegial, ele deixou o cabelo crescer e começou a usar coisas como jaquetas do Exército". Mark levava uma Bíblia ao colégio, escrevia trechos nos cadernos e usava um grande crucifixo, acrescentou Hendrix, “aconteceram problemas raciais no colégio Columbia, e ele disse alguma coisa sobre pretos batendo em brancos, mas não era racista”. Em 1975, Chapman foi companheiro de quarto durante seis meses de David Moore, um executivo da asssociação cristã de moços que dirigia o programa de instalação de refugiados da Indochina em Fort Chaffee, Arkansas. Mark havia voltado do Líbano, onde a eclo¬são da guerra civil interrompera o seu trabalho num programa de intercâmbio. "Ele era um dos funcionários mais sensíveis que tivemos", contou Moore. "Chegou a coorde¬nador de equipe, um dos cinco do campo intei¬ro. Era um serviço bem responsável para um ra¬paz de apenas 20 anos". Moore disse que Mark anteriormente tomava barbitúricos e anfetaminas, mas em Fort Chaf
fee desistiu das drogas, não fumava maconha e ia a igreja regularmente. Na época, tocava sem pa¬rar os discos dos Beatles.
Na época, apaixonou-se por uma garota cha¬mada Jessica, que o convidou a entrar para uma pequena escola religiosa, segundo Moore. Depois de um semestre, Mark desistiu e a namorada dispensou-o.
Os arquivos policiais mostram que Chapman obteve uma licença de porte de arma na Georgia em 1976, para trabalhar como guarda de seguran¬ça. O patrão forneceu o treinamento sobre o uso do revólver.
No ano seguinte, ele mudou-se para Honululu e logo depois deu entrada a um hospital devido a uma aparente tentativa de suicídio. Mark arru¬mou um emprego nesse hospital, o Castle Memo¬rial, primeiro na parte de manutenção e depois como gráfico.
Seu supervisor, Paul Tharp, disse que Mark era um bom funcionário, criativo, que gostava de mostrar slides de suas viagens ao exterior na hora do almoço. "Todo mundo gostava dele. Ele conversava com todos, fazia muitos amigos". Mas no conjunto habitacional onde morava, uma vez a luz foi cortada por falta de pagamento. Mark sumiu e deixou o apartamento "numa bagunça". A reforma ficou em 2 mil dólares.
Há um ano e cinco meses, Mark se casou no religioso com Gloria Abe, uma nissei de 29 anos que ele conheceu na agência de viagens onde tra¬tou de uma volta ao mundo. Conscientemente ou não, ele fez uma escolha similar a de Jonh Len¬non, casado com a japonesa Yoko Ono. Amigos do casal dizem que Gloria amava o marido, que a convenceu a arrumar um emprego no hospital para que pudesse trabalhar juntos. No prédio Kukui Plaza, onde o casal morou num apartamento alugado por 450 dólares, o síndico Bob Connell diz que Chapman era nor¬mal, de conversa agradável, que nunca criou problemas.
No ano passado, Chapman resolveu que o emprego no hospital era muito confinado e foi trabalhar como guarda de segurança num conjunto de apartamento, em Waikiki, onde tinha mais contatos humanos. Numa igreja da seita cientológica cristã, em frente a seu novo emprego, Dennis Clarke djz que Chapman muitas vezes ia ao apartamento de um amigo e ficava tocando discos dos Beatles "bem alto mesmo, durante duas ou três horas por dia. Não amolava muito, mas acho que a intenção era justamente amolar". Para Fua Liva, colega de trabalho como guarda de segurança, Chapman ficava nervoso e agitado com coisas sem importância. Kirk Mclean dis¬se que Mark era uma "pessoa negativa, fria e feia" que odiava tudo o que e bom no mundo, e comparou-o aos "Blue Meanies", os nojentos vilões do filme dos Beatles "Yellow Submarine".
Mas outros conhecidos insistem que Chapman era agradável e amistoso.
Não há dúvida de que Chapman tinha obsessões. A fixação pelos Beatles e Jesus Cristo, no ano passado ele acrescentou a mania de colecionar obras de arte.
Pat Carlson, vendedora de uma galeria de arte, disse que um interesse ocasional ocorrido no fim do ano passado assumiu tão proporção que ela tem certeza de que "ocupava a maior parte do seu tempo livre". Chapman comprou uma obra de Salvador Dali por 5 mil dólares, "Lincoln in Dalivision". Depois passou a se interessar por Normam Rockwell e "gastou uma fortuna em telefonemas interurbanos, checando e pesquisando coisas".
"Sempre senti pena da mulher dele - comenta Pat - porque pensava, nossa, esse cara está passando a vida em galerias". Em outubro, os telefonemas de Chapman a vendedora, que demoravam até uma hora, pararam de repente. Foi a essa altura que os acontecimentos começaram a marchar diretamente para o momento fatal em frente ao prédio de apartamentos de John Lennon em Nova York.
Chapman deixou o emprego de guarda a 23 de outubro. No registro da firma, em vez de assinar seu nome, escreveu "John Lennon" e riscou. Quatro dias depois, pediu uma licença de porte de arma, concedida pois não tinha antecedentes criminais, e comprou um revolver calibre 38 por 169 dólares, numa loja de armas a uma quadra da central de polícia de Honolulu.
Com a confiança aparentemente reforçada por um empréstimo de 2.500 dólares numa firma de crédito, Chapman foi a Nova York, provavelmente no sábado, dia seis, e pegou um apartamento no Sheraton Centre Hotel, com diária de 82 dólares. Começou então a circular em frente ao Dakota, o prédio onde morava o homem cujo nome ele usou durante muito tempo numa pulseira.
Horas depois de obter o autografo de Jonh Lennon, na segunda-feira, equipado com 14 horas de fitas dos Beatles e um exemplar do "apanhador em campo de centeio" de J. D. Salinger Chapman estava esperando quando Lennon voltou de uma gravação.
"Mr. Lennon" chamou calmamente. Lennon virou-se. Chapman agachou-se em posição de tiro, segurando o revolver nas duas mãos, e disparou cinco vezes. Preso, disse a um policial: "A maior parte de mim não queria fazer isso, mas uma pequena parte de mim fez. Não pude evitar.
Um Grande Fdp !!!
ResponderExcluirGraças a ele milhões de outros malucos viram que podem " ficar famosos " matando uma pessoa importante !!!
Mil prisões perpetuas é pouco para ele !!!
Acho que ele não passa de psicopata, mal sucedido, e muito invejoso, que sua prisão lhe seja eterna,tanto física quanto espiritual.
ResponderExcluirEsse cara, devia ter matado primeiro a própria mãe, depois a mulher e os filhos, depois, se matado e só aí então, matar o John Lennon!
ResponderExcluirAfter all this years eu ignoro esse cara! Se era fama e auê que ele queria... acho que é o que Lennon desejaria.A justiça está sendo cumprida aqui,depois ele se acerta com Deus.Como o maluco que esfaqueou George...nem sei o nome.Nem quero saber!Não quero mais ódios em minha vida!
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