terça-feira, 29 de outubro de 2013

ROBERTO CARLOS EM DETALHES - PAULO CÉSAR DE ARAÚJO

O historiador e jornalista Paulo César de Araújo, personagem principal de um dos casos emblemáticos de proibições de biografias não autorizadas no Brasil, se viu, nos últimos dias, nova¬mente no foco de uma polêmica envolvendo um medalhão da MPB. Autor do livro sobre Roberto Carlos, fora de circulação desde 2007, Araújo foi acusado por Chico Buarque, em artigo de jornal, de nunca ter dado entrevista a ele, e que, apesar disso, seu nome constava em depoimento na biografia do Rei. No mesmo dia, o escritor enviou à publicação foto e vídeo da conversa com Chico, realizada na casa do compositor no início dos anos 1990. Desde então, o telefone de Araújo não parou de tocar. Ele luta na Justiça para que “Roberto Carlos em detalhes” (Editora Planeta), trabalho ao qual se dedicou por 15 anos, retorne às prateleiras das livrarias. Ao mesmo tempo, é réu em processo movido pelo artista. O Rei teria se incomodado com passagens do livro que invadem sua intimidade (relacionamentos e acidente na infância, por exemplo) e a publicação não pôde ser reeditada. Mesmo assim, teria vendido quase 50 mil cópias nos meses que ficou nas lojas, entre 2006 e o ano seguinte. Quando os advogados de Roberto conseguiram a proibição, mais de 10 mil exemplares já impressos, no estoque da editora, teriam sido embargados. Mesmo assim, não é difícil encontrar o conteúdo da biografia na íntegra na internet; ou em sites de vendas, por mais de R$ 300.
Baiano de Vitória da Conquista, 51 anos, o profes­sor de história mora em Niterói (RJ) e prepara, agora, um livro em que conta os bastidores da década e meia de pesquisa sobre Roberto Carlos. Neste papo franco, Araú­jo indica o que acredita ser o real motivo do impedimen­to da biografia, comenta a polêmica com Chico Buarque e garante que o movimento Procure Saber, que tenta bar­rar biografias não autorizadas, é "batalha perdida". Ro­berto Carlos foi procurado por meio da assessoria de im­prensa, e a resposta foi de que ele só atende jornalistas em entrevistas coletivas, no início de cada ano. "Ele está em estúdio finalizando CD e nos preparati­vos para a gravação do especial de fim de ano da TV Glo­bo", complementa o texto.
A criação do Procure Saber esquentou a polêmica. Chico Buarque escreveu que você não o havia entrevistado. No mesmo dia, você rebateu, apresentando imagens e gravações. Como foi sua reação diante da acusação?
Foi surpreendente, né?! Recebi com grande es­panto. Porque o processo do Roberto, bem ou mal, a gente já sabia da possibilidade. Não faltou gente me avisando: "Olha, tome cuidado". Por todo o histórico dele, né. Foi um processo, de certa for­ma, anunciado. Agora, essa acusação de Chico foi completamente inesperada. Nem nos piores pesa­delos eu poderia imaginar que, um dia, Chico Buarque mandaria um artigo para o jornal negan­do uma entrevista. Eu nunca soube que ele tinha reclamado disso e, do nada, partiu com tudo. Eu tive que ser rápido.
Roberto Carlos nunca mostrou exatamente um engajamento político, ao contrário de alguns colegas do Procure Saber. Como você vê a adesão deles à causa que exige autorização prévia para que biografias sejam publicadas?
Se alguém quisesse apostar comigo, dois meses trás, que Caetano Veloso e Chico Buarque apoiariam Roberto nessa causa maluca, eu iria perder. Imagi­ne você uma figura como Caetano, libertário, que já posou nu em capa de disco, chegar falando em privacidade. É uma surpresa, desagradável. Eu la­mento, e vejo a causa como perdida. Chico e Cae­tano são escritores. Roberto nunca foi Jeitor de li­vros, não tem essa intimidade com a literatura. Então, você até entende essa atitude dele. Caeta­no, Chico e Gil estão defendendo uma causa de Roberto Carlos. É decepcionante.
Você é fã de Roberto desde criança. Quando o admirador resolveu se tornar biógrafo?
Eu tive duas motivações. Uma foi a afetiva: ele foi meu primeiro ídolo de infância. A outra, inte­lectual. Quando cheguei à faculdade e me interes­sei pelo estudo da música brasileira, constatei que não tinha nenhum livro que explicasse o fenóme­no Roberto Carlos àquela altura com mais de 35 anos de carreira. Escrevi o livro pra tentar respon­der qual era a intervenção dele na MPB.
Você fica incomodado com o fato de o conteúdo da biografia Roberto Carlos em detalhes estar disponível na internet ao alcance de poucos diques?
Não, acho ótimo. Eu o escrevi para ser lido. O li­vro foi colocado na internet no dia seguinte à proibição, quase que como um ato de desobe­diência civil. Desde 2007 que esse livro circula, não tenho mais ideia de quantos leitores eu te­nho. Recebo e-mails de pessoas no México, Argen­tina. Roberto tem muitos fãs na América Latina.
A proibição, então, surtiu pouco efeito na prática. Afinal, as histórias que você apurou estão aí para quem quiser ler.
Se o objetivo do Roberto era proibir o livro, ele não conseguiu. Mas o objetivo dele não foi esse: foi impedir que alguém ganhasse dinheiro com o livro. Isso ele conseguiu. Eu não recebo nenhum centavo. Ele não está preocupado com privacida­de, nada disso, só não quer ninguém ganhando di­nheiro com o nome dele.
Nesse debate entre liberdade de expressão e direito à privacidade, os biógrafos estão em posição oposta em relação aos artistas. Como pesquisador, qual é, na sua opinião, o limite que fere a intimidade de alguém?
São dois direitos importantes e que estão garan­tidos. Mas aquele que pautou sua vida pelo estrelato, que procurou capas de revistas, o sucesso e a exposi­ção, esse tem direito menor à privacidade, não pode reclamar, porque expôs a sua vida. Aprivacidade de­ve valer para a figura anónima, que se pautou pelo recato. E o ónus e o bónus (de ser famoso). O que tem que prevalecer é a liberdade de expressão.
Você iniciou a pesquisa como admirador de Roberto. Hoje, após a batalha judicial, qual é o sentimento em relação ao artista?
Olha, sinceramente, o Roberto é meu objeto de estudo. Eu encaro com a maior naturalidade. Eu não brigo com meu objeto de estudo. Ele que brigou co­migo. Eu não tenho nenhum problema, meu arqui­vo Roberto Carlos continua sendo atualizado. Só la­mento pela história dele. Por mim também, mas eu não tenho nenhum rancor. Entendo que ele tem suas limitações, contradições. Pretendo escrever ou­tros livros sobre o Rei. O que eu vejo no futuro são muitos biógrafos e novas obras. Esse movimento contra as biografias é batalha perdida.

Chico Buarque e Roberto Carlos, ao lado de Caeta­no Veloso, Gilberto Gil e outros no­mes de peso da música brasileira, iniciaram há algumas semanas uma ' espécie de campanha a favor de arti­gos do Código Civil que condicio­nam a publicação de biografias à autorização do personagem ou de familiares. Eles integram o grupo Procure Saber, encabeçado pela em­presária Paula Lavigne (aham!), e foram acu­sados de defender a censura prévia. Foi essa lei que proibiu a reedição de Roberto Carlos em detalhes e Noel Rosa — Uma biografia, dois exem­plos marcantes. Desde-2011, uma ação movida pela Sindicato Nacio­nal dos Editores de Livros tenta der­rubar tais artigos, alegando que a Constituição garante liberdade de expressão irrestrita e que o Código Civil não pode se sobrepor e ela. A discussão tem ganhado adeptos em ambos os lados e deve ser decidida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no fim de novembro.
Desgastados diante da opi­nião pública por defen­der o direito à privacida­de como justificativa para a censura de biografias não auto­rizadas, artistas do grupo “Procure Saber” gravaram vídeos que devem ser exibidos, a partir de hoje, nas redes sociais. O anúncio foi feito pelo próprio grupo na página que mantém no Facebook. O discurso dos famosos acompanhará o tom usado pelo cantor Roberto Carlos, em entrevista exibida no domingo no programa Fantástico, da Rede Globo. Embora tenha se posicio­nado contra a obrigatoriedade de avaliação prévia por parte do bio­grafado, o artista — que conse­guiu, na Justiça, aproibição do livro de PCA não autorizado sobre sua vi­da — destacou ser necessário fa­zer "certos ajustes" na legislação e não descartou a importância de participação nos lucros, sem deta­lhar, no entanto, como deveriam ser essas regras.
A manifestação de Roberto Carlos, interpretada por muitos como um recuo da classe artística no posicionamento adotado an­teriormente, não passa de uma mudança estratégica de discurso, na avaliação dos que desejam ver derrubada a necessidade de auto­rização prévia. Eles apostam que os vídeos de artistas do “Procure Saber” que já se manifestaram so­bre o tema, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Djavan, virão com a mesma retórica: contra a proibi­ção prévia, até para se livrarem da pecha de censores causada pelas declarações que incendiaram as redes sociais nas últimas sema­nas, mas alegando necessidade de mudanças em nome da intimi­dade dos biografado. "A entrevista do Roberto me pareceu mera estratégia. Por um lado, talvez uma parte desses ar­tistas tenha reconhecido que o mecanismo da lei atual é incons­titucional porque dá controle ab­soluto aos biografados, o que não existe em nenhum lugar do mun­do civilizado e desenvolvido. Mas, por outro lado, quando pergunta­do se liberaria a própria biografia, ele diz que é preciso analisar, sem dar justificativas", diz Gustavo Binenbojm, advogado da Associação Nacional dos Editores de Livros, que entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade no Su­premo Tribunal Federal questio­nando os dois dispositivos do Có­digo Civil que admitem a autori­zação prévia para publicação de biografias no Brasil. Os trechos da entrevista com Roberto Carlos assistidos por Lira Neto, biógrafo do ex-presidente Getúlio Vargas, deixaram o es­critor confuso. "Não entendi qual é o ponto de vista dele. Me parece que diz ser a favor das biografias não autorizadas, mas com ajustes, sem dizer quais são esses ajustes. Para mim, ficou na mesma", diz Neto. 
Para o mestre em direito auto­ral Cláudio Vasconcelos, a mani­festação do cantor em rede na­cional ficou um tanto evasiva. "Ele falou da necessidade de se chegar a um acordo entre biógrafos e biografados, mas não deixou claro que acordo seria esse nem se a ausência de acordo iria um impedimento absoluto publicação", assinala. Vascom los destaca, entretanto, qm gesto do cantor abre a possib dade de amadurecimento debate, apesar da falta de obj< vidade nas declarações. Depois da entrevista de Roberto Carlos, advogados levantam a hipótese de, uma vez derrubada a autorização prévia, dar ao biografado o direito de submeter a obra ao Judiciário quando verificar informação de cunho privado. "Essa possibilidade é tão ou mais gravosa do que o próprio mecanismo de autorização prévia. Não há uma linha demarcatória sobre o que é informação pública e privada. Biografia é um gênero que depende desse entrecruzamento da vida pública com a vida particular. "É ônus de ter uma vida pública. Quem tem que julgar a obra é o leitor. O juiz deve ser chamado quando há crime, calúnia, difamação. O resto é censura", reage Binenbojm.
Para fazer o download do livro “Roberto Carlos em detalhes”, o link é: http://sociedadedospoetasamigos.blogspot.com.br/2013/10/download-livro-roberto-carlos-em.html

9 comentários:

  1. Só vou falar uma coisa : " É Proibido Proibir" !!!!!
    Por mais que eu admire musicalmente , Caetano,Gil,Milton e o Roberto Carlos essa costa toda de ' Procure Saber " para mim , só mostra o quanto esse povo só pensa em $$$$$$$$ e se acham superiores ao resto de todos nós !!!
    E o que mais me deixa p@#$ com isso é que essa "ação" deles privilegia essa corja de políticos que não querem seus nomes envolvidos as sujeiras que eles fazem e entrem para a "historia oficial " como cidadãos modelos !!!!

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  2. É isso mesmo, Val! Esse é realmente o país dos contrastes. A maioria das celebri¬dades modernas está de¬sesperada para que se es¬creva sobre elas. As estre¬las dedicam bastante tem¬po, energia e recursos para se manter sob os holofotes da mídia. Então, é ridículo que tentem ditar quem po¬de e quem não pode escre¬ver sobre elas. Enquanto autores forem justos, pre¬cisos e respeitosos, ne¬nhum astro deveria tentar impedir ninguem de escrever sobre eles. Eu tenho e li o livrão do Paulo César e gostei muito. Em nenhum momento denigre a imagem do artista, ao contrário, apenas enaltece. Uma bobagem sem igual que só acontece no Brasil mesmo. Imaginem se Paul McCartney fosse processar cada biógrafo que já o chamou de maconheiro...

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  3. Eu também concordo com vocês, se o artista não quer aparecer que mude de trabalho,vai trabalhar na feira, sei la,mais querer dizer que tem que ser como ele quer não da,gosto do Roberto mais assim não da.

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  4. A VERDADE E QUE ELES FORAM NA ONDA DA EX DO CAETANO, ATRIZ E EMPRESÁRIA PAULA LAVIGNE QUE E A MENTORA DO PROCURE SABER.O NOME CERTO DESSE MOVIMENTO DEVERIA SER TOPA TUDO POR DINHEIRO,MAIS ELA SERIA PROCESSADA POR PLAGIO PELO SILVIO SANTOS..

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  5. E para acrescentar, qualquer artista (ou cidadão) que se julgar vítima de calúnia, difamação etc pode e deve processar o autor.Que certamente terá de responder pelo que escreveu! O resto é CENSURA.

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  6. Chico, Gil, Caetano e... Roberto Carlos. Não é de graça que detesto essa gente.

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  7. Celebridades não são deuses. Se elas acham que podem destruir a liberdade de expressão, precisam de choque de realidade.

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  8. Quem quiser baixar o livro em 2021 o link é:
    https://lelivros.love/book/download-roberto-carlos-em-detalhes-paulo-cesar-araujo-em-epub-mobi-e-pdf/

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  9. Quem ainda quiser baixar o livro (ebook) em 2021 o link é o seguinte:

    https://lelivros.love/book/download-roberto-carlos-em-detalhes-paulo-cesar-araujo-em-epub-mobi-e-pdf/

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