O historiador e jornalista Paulo César de Araújo, personagem principal de um dos casos emblemáticos de proibições de biografias não autorizadas no Brasil, se viu, nos últimos dias, nova¬mente no foco de uma polêmica envolvendo um medalhão da MPB. Autor do livro sobre Roberto Carlos, fora de circulação desde 2007, Araújo foi acusado por Chico Buarque, em artigo de jornal, de nunca ter dado entrevista a ele, e que, apesar disso, seu nome constava em depoimento na biografia do Rei. No mesmo dia, o escritor enviou à publicação foto e vídeo da conversa com Chico, realizada na casa do compositor no início dos anos 1990. Desde então, o telefone de Araújo não parou de tocar.
Ele luta na Justiça para que “Roberto Carlos em detalhes” (Editora Planeta), trabalho ao qual se dedicou por 15 anos, retorne às prateleiras das livrarias. Ao mesmo tempo, é réu em processo movido pelo artista. O Rei teria se incomodado com passagens do livro que invadem sua intimidade (relacionamentos e acidente na infância, por exemplo) e a publicação não pôde ser reeditada. Mesmo assim, teria vendido quase 50 mil cópias nos meses que ficou nas lojas, entre 2006 e o ano seguinte. Quando os advogados de Roberto conseguiram a proibição, mais de 10 mil exemplares já impressos, no estoque da editora, teriam sido embargados. Mesmo assim, não é difícil encontrar o conteúdo da biografia na íntegra na internet; ou em sites de vendas, por mais de R$ 300.
Baiano de Vitória da
Conquista, 51 anos, o professor de história mora em Niterói (RJ) e prepara,
agora, um livro em que conta os bastidores da década e meia de pesquisa sobre
Roberto Carlos. Neste papo franco, Araújo indica o que acredita ser o real
motivo do impedimento da biografia, comenta a polêmica com Chico Buarque e
garante que o movimento Procure Saber, que tenta barrar biografias não
autorizadas, é "batalha perdida". Roberto Carlos foi procurado por
meio da assessoria de imprensa, e a resposta foi de que ele só atende jornalistas
em entrevistas coletivas, no início de cada ano. "Ele está em estúdio
finalizando CD e nos preparativos para a gravação do especial de fim de ano da
TV Globo", complementa o texto.
A criação do Procure Saber esquentou a polêmica. Chico Buarque escreveu que você não o havia entrevistado. No mesmo dia, você rebateu, apresentando imagens e gravações. Como foi sua reação diante da acusação?
A criação do Procure Saber esquentou a polêmica. Chico Buarque escreveu que você não o havia entrevistado. No mesmo dia, você rebateu, apresentando imagens e gravações. Como foi sua reação diante da acusação?
Foi surpreendente, né?! Recebi com grande espanto.
Porque o processo do Roberto, bem ou mal, a gente já sabia da possibilidade. Não faltou gente me avisando:
"Olha, tome cuidado". Por todo o histórico dele, né. Foi um processo, de certa forma,
anunciado. Agora, essa acusação de Chico foi completamente inesperada.
Nem nos piores pesadelos
eu
poderia imaginar que,
um
dia, Chico Buarque mandaria um artigo para o jornal negando uma
entrevista. Eu nunca soube que ele tinha reclamado disso e, do nada, partiu com
tudo. Eu tive que ser rápido.
Roberto Carlos
nunca mostrou exatamente um engajamento político, ao contrário de
alguns colegas do Procure Saber. Como você vê a adesão deles à causa que exige autorização
prévia para que biografias sejam publicadas?
Se alguém quisesse apostar comigo,
dois meses trás,
que Caetano
Veloso e Chico
Buarque
apoiariam Roberto
nessa
causa maluca,
eu
iria
perder.
Imagine você uma figura como Caetano, libertário, que já posou nu em capa de disco, chegar falando em privacidade. É
uma surpresa, desagradável. Eu lamento, e vejo a causa como perdida. Chico e
Caetano são escritores. Roberto nunca foi Jeitor de livros, não tem essa
intimidade com a literatura. Então, você até entende essa atitude dele. Caetano,
Chico
e
Gil estão defendendo uma causa de Roberto Carlos. É decepcionante.
Você é fã de Roberto desde criança. Quando o
admirador resolveu se tornar biógrafo?
Eu tive duas motivações. Uma foi a afetiva: ele foi meu
primeiro ídolo de infância. A outra, intelectual. Quando cheguei à faculdade e me interessei
pelo estudo da música brasileira, constatei que não tinha nenhum livro que explicasse o
fenómeno Roberto
Carlos
—
àquela
altura
com
mais
de 35 anos de carreira. Escrevi o livro pra tentar responder
qual era a intervenção
dele na MPB.
Você fica incomodado com o fato de o conteúdo da biografia Roberto Carlos em detalhes estar disponível na internet ao alcance de poucos diques?
Você fica incomodado com o fato de o conteúdo da biografia Roberto Carlos em detalhes estar disponível na internet ao alcance de poucos diques?
Não, acho ótimo. Eu o escrevi para ser lido. O livro
foi colocado
na internet no dia seguinte à proibição, quase que como um ato de desobediência civil.
Desde 2007 que esse livro circula, não tenho mais ideia de quantos leitores eu
tenho. Recebo e-mails de pessoas no México, Argentina. Roberto tem muitos fãs
na América Latina.
A proibição, então, surtiu pouco efeito na prática. Afinal, as histórias que você apurou estão aí para quem quiser ler.
Se o objetivo do Roberto era proibir o livro, ele não conseguiu. Mas o objetivo dele não foi
esse: foi
impedir
que alguém ganhasse dinheiro com o livro. Isso ele conseguiu. Eu não recebo nenhum centavo. Ele não está preocupado
com privacidade, nada disso, só não quer ninguém ganhando dinheiro com o nome
dele.
Nesse debate entre liberdade de expressão e direito à
privacidade, os biógrafos estão em posição oposta em relação
aos artistas.
Como pesquisador,
qual é, na sua opinião, o limite que fere a intimidade de alguém?
São dois direitos importantes e que estão garantidos.
Mas aquele que pautou sua vida pelo estrelato, que procurou capas de
revistas, o sucesso e a exposição, esse tem direito menor à privacidade, não
pode reclamar, porque expôs a sua vida. Aprivacidade deve valer para a figura
anónima, que se pautou pelo recato. E o ónus e o bónus (de ser famoso). O que tem que prevalecer é
a liberdade de expressão.
Você iniciou a pesquisa como admirador de
Roberto. Hoje, após a batalha judicial, qual é o sentimento em relação ao artista?
Olha,
sinceramente, o Roberto é meu objeto de estudo. Eu encaro com a maior naturalidade. Eu não brigo com meu
objeto de estudo. Ele que brigou comigo. Eu
não tenho nenhum problema, meu arquivo Roberto
Carlos continua sendo atualizado. Só lamento pela história dele. Por mim
também, mas eu não tenho nenhum rancor. Entendo
que ele tem suas limitações, contradições.
Pretendo escrever outros livros sobre o Rei. O que eu vejo no futuro
são muitos biógrafos e novas obras. Esse movimento
contra as biografias é batalha perdida.Chico Buarque e Roberto Carlos, ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros nomes de peso da música brasileira, iniciaram há algumas semanas uma ' espécie de campanha a favor de artigos do Código Civil que condicionam a publicação de biografias à autorização do personagem ou de familiares. Eles integram o grupo Procure Saber, encabeçado pela empresária Paula Lavigne (aham!), e foram acusados de defender a censura prévia. Foi essa lei que proibiu a reedição de Roberto Carlos em detalhes e Noel Rosa — Uma biografia, dois exemplos marcantes. Desde-2011, uma ação movida pela Sindicato Nacional dos Editores de Livros tenta derrubar tais artigos, alegando que a Constituição garante liberdade de expressão irrestrita e que o Código Civil não pode se sobrepor e ela. A discussão tem ganhado adeptos em ambos os lados e deve ser decidida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no fim de novembro.
Desgastados diante da opinião pública por defender o
direito à privacidade como justificativa para a censura de biografias não autorizadas,
artistas do grupo “Procure Saber” gravaram vídeos que devem ser exibidos, a
partir de hoje, nas redes sociais. O anúncio foi feito pelo próprio grupo na
página que mantém no Facebook. O discurso dos famosos acompanhará o tom usado
pelo cantor Roberto Carlos, em entrevista exibida no domingo no programa Fantástico,
da Rede Globo. Embora tenha se posicionado contra a obrigatoriedade de
avaliação prévia por parte do biografado, o artista — que conseguiu, na Justiça,
aproibição do livro de PCA não autorizado sobre sua vida — destacou ser necessário
fazer "certos ajustes" na legislação e não descartou a importância
de participação nos lucros, sem detalhar, no entanto, como deveriam ser essas
regras.
A manifestação de Roberto Carlos, interpretada por muitos como um recuo da classe artística no posicionamento adotado anteriormente, não passa de uma mudança estratégica de discurso, na avaliação dos que desejam ver derrubada a necessidade de autorização prévia. Eles apostam que os vídeos de artistas do “Procure Saber” que já se manifestaram sobre o tema, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Djavan, virão com a mesma retórica: contra a proibição prévia, até para se livrarem da pecha de censores causada pelas declarações que incendiaram as redes sociais nas últimas semanas, mas alegando necessidade de mudanças em nome da intimidade dos biografado. "A entrevista do Roberto me pareceu mera estratégia. Por um lado, talvez uma parte desses artistas tenha reconhecido que o mecanismo da lei atual é inconstitucional porque dá controle absoluto aos biografados, o que não existe em nenhum lugar do mundo civilizado e desenvolvido. Mas, por outro lado, quando perguntado se liberaria a própria biografia, ele diz que é preciso analisar, sem dar justificativas", diz Gustavo Binenbojm, advogado da Associação Nacional dos Editores de Livros, que entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal questionando os dois dispositivos do Código Civil que admitem a autorização prévia para publicação de biografias no Brasil. Os trechos da entrevista com Roberto Carlos assistidos por Lira Neto, biógrafo do ex-presidente Getúlio Vargas, deixaram o escritor confuso. "Não entendi qual é o ponto de vista dele. Me parece que diz ser a favor das biografias não autorizadas, mas com ajustes, sem dizer quais são esses ajustes. Para mim, ficou na mesma", diz Neto. Para o mestre em direito autoral Cláudio Vasconcelos, a manifestação do cantor em rede nacional ficou um tanto evasiva. "Ele falou da necessidade de se chegar a um acordo entre biógrafos e biografados, mas não deixou claro que acordo seria esse nem se a ausência de acordo iria um impedimento absoluto publicação", assinala. Vascom los destaca, entretanto, qm gesto do cantor abre a possib dade de amadurecimento debate, apesar da falta de obj< vidade nas declarações. Depois da entrevista de Roberto Carlos, advogados levantam a hipótese de, uma vez derrubada a autorização prévia, dar ao biografado o direito de submeter a obra ao Judiciário quando verificar informação de cunho privado. "Essa possibilidade é tão ou mais gravosa do que o próprio mecanismo de autorização prévia. Não há uma linha demarcatória sobre o que é informação pública e privada. Biografia é um gênero que depende desse entrecruzamento da vida pública com a vida particular. "É ônus de ter uma vida pública. Quem tem que julgar a obra é o leitor. O juiz deve ser chamado quando há crime, calúnia, difamação. O resto é censura", reage Binenbojm.
A manifestação de Roberto Carlos, interpretada por muitos como um recuo da classe artística no posicionamento adotado anteriormente, não passa de uma mudança estratégica de discurso, na avaliação dos que desejam ver derrubada a necessidade de autorização prévia. Eles apostam que os vídeos de artistas do “Procure Saber” que já se manifestaram sobre o tema, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Djavan, virão com a mesma retórica: contra a proibição prévia, até para se livrarem da pecha de censores causada pelas declarações que incendiaram as redes sociais nas últimas semanas, mas alegando necessidade de mudanças em nome da intimidade dos biografado. "A entrevista do Roberto me pareceu mera estratégia. Por um lado, talvez uma parte desses artistas tenha reconhecido que o mecanismo da lei atual é inconstitucional porque dá controle absoluto aos biografados, o que não existe em nenhum lugar do mundo civilizado e desenvolvido. Mas, por outro lado, quando perguntado se liberaria a própria biografia, ele diz que é preciso analisar, sem dar justificativas", diz Gustavo Binenbojm, advogado da Associação Nacional dos Editores de Livros, que entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal questionando os dois dispositivos do Código Civil que admitem a autorização prévia para publicação de biografias no Brasil. Os trechos da entrevista com Roberto Carlos assistidos por Lira Neto, biógrafo do ex-presidente Getúlio Vargas, deixaram o escritor confuso. "Não entendi qual é o ponto de vista dele. Me parece que diz ser a favor das biografias não autorizadas, mas com ajustes, sem dizer quais são esses ajustes. Para mim, ficou na mesma", diz Neto. Para o mestre em direito autoral Cláudio Vasconcelos, a manifestação do cantor em rede nacional ficou um tanto evasiva. "Ele falou da necessidade de se chegar a um acordo entre biógrafos e biografados, mas não deixou claro que acordo seria esse nem se a ausência de acordo iria um impedimento absoluto publicação", assinala. Vascom los destaca, entretanto, qm gesto do cantor abre a possib dade de amadurecimento debate, apesar da falta de obj< vidade nas declarações. Depois da entrevista de Roberto Carlos, advogados levantam a hipótese de, uma vez derrubada a autorização prévia, dar ao biografado o direito de submeter a obra ao Judiciário quando verificar informação de cunho privado. "Essa possibilidade é tão ou mais gravosa do que o próprio mecanismo de autorização prévia. Não há uma linha demarcatória sobre o que é informação pública e privada. Biografia é um gênero que depende desse entrecruzamento da vida pública com a vida particular. "É ônus de ter uma vida pública. Quem tem que julgar a obra é o leitor. O juiz deve ser chamado quando há crime, calúnia, difamação. O resto é censura", reage Binenbojm.
Para fazer o download do livro “Roberto Carlos em detalhes”, o link é:
http://sociedadedospoetasamigos.blogspot.com.br/2013/10/download-livro-roberto-carlos-em.html
Só vou falar uma coisa : " É Proibido Proibir" !!!!!
ResponderExcluirPor mais que eu admire musicalmente , Caetano,Gil,Milton e o Roberto Carlos essa costa toda de ' Procure Saber " para mim , só mostra o quanto esse povo só pensa em $$$$$$$$ e se acham superiores ao resto de todos nós !!!
E o que mais me deixa p@#$ com isso é que essa "ação" deles privilegia essa corja de políticos que não querem seus nomes envolvidos as sujeiras que eles fazem e entrem para a "historia oficial " como cidadãos modelos !!!!
É isso mesmo, Val! Esse é realmente o país dos contrastes. A maioria das celebri¬dades modernas está de¬sesperada para que se es¬creva sobre elas. As estre¬las dedicam bastante tem¬po, energia e recursos para se manter sob os holofotes da mídia. Então, é ridículo que tentem ditar quem po¬de e quem não pode escre¬ver sobre elas. Enquanto autores forem justos, pre¬cisos e respeitosos, ne¬nhum astro deveria tentar impedir ninguem de escrever sobre eles. Eu tenho e li o livrão do Paulo César e gostei muito. Em nenhum momento denigre a imagem do artista, ao contrário, apenas enaltece. Uma bobagem sem igual que só acontece no Brasil mesmo. Imaginem se Paul McCartney fosse processar cada biógrafo que já o chamou de maconheiro...
ResponderExcluirEu também concordo com vocês, se o artista não quer aparecer que mude de trabalho,vai trabalhar na feira, sei la,mais querer dizer que tem que ser como ele quer não da,gosto do Roberto mais assim não da.
ResponderExcluirA VERDADE E QUE ELES FORAM NA ONDA DA EX DO CAETANO, ATRIZ E EMPRESÁRIA PAULA LAVIGNE QUE E A MENTORA DO PROCURE SABER.O NOME CERTO DESSE MOVIMENTO DEVERIA SER TOPA TUDO POR DINHEIRO,MAIS ELA SERIA PROCESSADA POR PLAGIO PELO SILVIO SANTOS..
ResponderExcluirE para acrescentar, qualquer artista (ou cidadão) que se julgar vítima de calúnia, difamação etc pode e deve processar o autor.Que certamente terá de responder pelo que escreveu! O resto é CENSURA.
ResponderExcluirChico, Gil, Caetano e... Roberto Carlos. Não é de graça que detesto essa gente.
ResponderExcluirCelebridades não são deuses. Se elas acham que podem destruir a liberdade de expressão, precisam de choque de realidade.
ResponderExcluirQuem quiser baixar o livro em 2021 o link é:
ResponderExcluirhttps://lelivros.love/book/download-roberto-carlos-em-detalhes-paulo-cesar-araujo-em-epub-mobi-e-pdf/
Quem ainda quiser baixar o livro (ebook) em 2021 o link é o seguinte:
ResponderExcluirhttps://lelivros.love/book/download-roberto-carlos-em-detalhes-paulo-cesar-araujo-em-epub-mobi-e-pdf/