terça-feira, 11 de agosto de 2015

JOHN LENNON EM NOVA YORK - OS ANOS DE REVOLUÇÃO – Parte 4


Sem poder contar com Yoko Ono e Sean Lennon para seu livro “John Lennon em Nova York - Os Anos da Revolucao”, o jornalista americano James A. Mitchell repassou o periodo mais ativista e pacifista do ex-beatle conversando com radicais da esquerda americana como John Sinclair e Gloria Steinem e integrantes da banda que o acompanhou – “Elephant's Memory”. Todos conviveram com Lennon entre 1971 e 1972 em Nova York, quando foi considerado uma ameaça ao governo do republicano Richard Nixon e quase foi deportado.

“Yoko alegou que já há muitos livros sobre Lennon. Entendi seu ponto de vista. Mas o Iegado dessa época permanecia negligenciado" - diz Mitchell, trazendo um retrato apurado da devassa feita na vida do artista pela espionagem do governo Nixon. O ex-beatle, protestando ativamente contra a guerra do Vietnã e tantas outras causas chegou a ser visto como um jovem líder pronto para deflagrar uma séria ameaça à reeleição de Nixon, que aconteceria em 1972. A luta de Lennon pela sua permanência nos Estados Unidos durou até 1976, quando finalmente recebeu seu tão sonhado ‘Green Card’. “Fiquei surpreso de ver a que ponto chegaram as tentativas para deportá-lo, conta Sean Lennon, que também afirmou que seu pai foi assassinado pela CIA e o FBI. Claro que o governo Nixon carrega vários crimes em suas costas e isso estaria, de fato, dentro de uma certa lógica, mas nada tão extremo ao ponto de matar uma figura pública do quilate de Lennon.” Afirma Mitchell.

Entre os artistas mais adorados e idolatrados do século XX, com certeza, The Beatles encabeçam essa lista e, consequentemente cada um de seus integrantes. Dentre eles, destaca-se a figura simbólica e carismática de John Lennon. O músico possui diversas facetas. Desde as mais óbvias, como as do garoto sonhador, rebelde e talentoso de Liverpool, até as mais complexas, que vêm à tona quando Lennon decide dar um novo rumo à sua vida, passando algum tempo em Nova York. O livro de Mitchell, conta tim-tim por tim-tim sobre este episódio da vida dele e como suas decisões e ações contribuíram para a perpetuação da nova imagem do antigo Beatle.

Dividido em sete capítulos mais um posfácio que contam, não de forma cronológica, a saga do músico inglês nos EUA, o livro foi dedicado ao finado Wayne Tex Gabriel, guitarrista da banda americana de Lennon, a Elephants Memory. "Meu passo inicial para escrever este livro foi através de uma entrevista anterior que fiz com Wayne Gabriel a respeito de suas curiosas aventuras com Lennon - que eu julguei ser uma história não muito conhecida pelos fãs dos Beatles de hoje em dia, mas não é", explica Mitchell, especialista em biografias jornalísticas documentais. Mitchell mostra como John Lennon se voltou contra o conservadorismo e sofreu uma abusiva perseguição do governo do então presidente cachaceiro Richard Nixon. "A luta de Lennon foi apenas um de vários abusos na administração de Nixon", pontua Mitchell, que disse estar sempre ao lado da liberdade de expressão e de quem protesta pacificamente - o que era o caso de John Lennon.
Tudo começa quando o ex-Beatle chega em Nova York e se engaja na luta pela libertação do ativista radical John Sinclair, que fora condenado a dez anos de prisão por porte de dois baseados de maconha. Entre idas e vindas com os chamados yippies, provenientes do YIP (Youth Internacional Party), partido fundado por Abbie Hoffman e Jerry Rubin ou como eram conhecidos os hippies engajados politicamente, Lennon consegue fazer um show em 1971 com direito a uma música de sua autoria dedicada a Sinclair, que entoava "let him be, set him free". Dois dias depois, dado o apelo midiático do rock star, Sinclair foi libertado. "Ele [Sinclair] foi preso pelo que fez ou por representar a todos?", questionou o Lennon referindo-se à evidente perseguição política do governo para com a juventude revolucionária da época.

A Elephant's Memory era formada por Stan Bronstein, Rick Frank, Gary Van Scyoc, Adam Ippolito, Michal Shapiro e Wayne Tex Gabriel. Os elefantes eram considerados uma banda da cena do underground nova-iorquina e passaram por algumas transformações até encontrarem o leão-marinho e sua Apple Records. "A Elephants Memory passou muito tempo com Lennon e trouxe perspectivas bastante interessantes nesta saga", opina Mitchell sobre a banda que acompanhou Lennon em uma fase na qual o cantor procurava construir algo diferente daquilo que já havia produzido. Apesar de terem uma nítida conexão quando tocavam juntos, John e os Elefantes não duraram, devido a diversas problemáticas, como a questão da imigração do músico - que era torturado continuamente pela espera de uma resposta definitiva do governo dos EUA. Enquanto não tivesse seu passaporte ajustado pelas autoridades locais, Lennon estava incapacitado de produzir algo musicalmente sério. Para se ter ideia, o máximo que o astro conseguiu foi fazer um show para caridade no Madison Square Garden de Nova York, em 1972. A parceria entre os elefantes e o leão-marinho durou o ano de 1972 inteiro e gerou o álbum “Sometime in New York City” que, infeliz e injustamente, não agradou nem o público, nem a crítica da época. "Da próxima a gente acerta", disse Lennon em 1973, que sempre esperou por dias melhores.

Quando chegou em Nova York, em 1971, John Lennon queria uma chance de começar de novo. Parou de de acenar sorrindo para fãs e entrou na onda do Flower Power como um legítimo hippie americano a circular pelas ruas do Greenwich Village com a aura esfumaçada de maconha. O livro “John Lennon em Nova York”, que sai agora em português, esmiuça esta que é a fase menos explorada da vida do genial Lennon, que, quando era bem mais jovem, comparou o alcance da fama dos Beatles à de Jesus Cristo, mas que em um novo país, queria fazer parte de uma outra onda – menos comercial e mais política. Lennon estava apaixonado. Não só por Yoko Ono, a artista plástica de vanguarda que expunha retratos de nádegas da elite intelectual em galerias alternativas. Eles estava encantado também pela sua nova persona pública, de ativista político que pregava o amor livre e o fim das posses, apesar de manter uma nada modesta fortuna em patrimônio na sua Ingleterra natal. Seu lance agora era incorporar causas, como o fim da guerra do Vietnã, a liberação da maconha e a igualdade dos direitos das mulheres. Onde havia um barulho progressista em Manhatan, lá estava Lennon atrás dos óculos redondos que se tornaram sua marca registrada para sempre. Isso incomodou e muito, o presidente Richard Nixon, que via no ativista célebre uma força contra a campanha republicana à sua reeleição. Lennon passou a ser um dos alvos da vigilância do FBI, dirigido então por J. Edgar Hoover e essa é a parte mais interessante da biografia parcial de Michell.

A administração Nixon viu inimigos onde não existiam durante um tempo confuso nos EUA”, disse o autor. O FBI relatou declarações que nunca foram feitas, como a ameaça de Lennon em atrapalhar a Convenção Republicana de 1972. O livro lista lambanças como relatórios com endereço errado da residência de Lennon, documentos em que o bureau se desculpava pela impossibilidade de fotografar Lennon – na mesma semana em que jornais do mundo inteiro mostravam-no circulando pelas ruas da cidade –, ou, ainda, textos em que os agentes de Hoover garantiam que o “radical” tinha a ver com os protestos contra o Bloody Sunday, como ficou conhecida a ofensiva do exército inglês contra ativistas da Irlanda do Norte, em janeiro de 1972. Esta biografia única e ilustrada de Michell se baseia em entrevistas inéditas feitas pelo autor com os membros da banda underground norte-americana de Lennon, a Elephant’s Memory; com a escritora e líder feminista Gloria Steinem; com o cofundador da Bancada Negra do Congresso, Ron Dellums; com o veterano dos “Sete de Chicago” Rennie Davis; com o advogado de Lennon especializado em imigração Leon Wildes; e com o poeta e ativista John Sinclair, o homem que Lennon libertou de uma sentença de dez anos de prisão – feito que demonstrou seu enorme poder político e cultural e pôs em marcha a surpreendente história aqui contada.

James A. Mitchell é autor de But for the Grace: Profiles in Peace from a Nation at War, uma história de orfandade no Sri-Lanka assolado pela guerra; da biografia roqueira It Was All Right: Mitch Ryder’s Life in Music; e de Applegate: Freedom of the Press in a Small Town. As obras de Mitchell – repórter e editor durante mais de 30 anos em Nova York e no Michigan e jornalista do Exército dos Estados Unidos –, sobre uma ampla variedade de temas, vieram a público em publicações como Entertainment Weekly, Crain’s Detroit Business, The Humanist, Video Business e Starlog. Mitchell produziu filmes para o iReport, da CNN, sobre a guerra civil que durou 26 anos no sul da Ásia. Mora no Michigan.

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6 comentários:

  1. Absolutamente sensacional e imperdível! Sem dúvidas, um dos principais livros lançados sobre John Lennon nos últimos 35 anos. O livro de Mitchell esclarece esmiuçadamente todos os detalhes da luta entre Lennon e o governo americano para poder ficar nos Estados Unidos. Luta que Lennon venceu, depois de batalhas verdadeiramente épicas. Que país não gostaria de ter um artista como John Lennon vivendo nele? John e Yoko amavam Nova York e o que os Estados Unidos fizeram com ele foi uma grande sacanagem só precedida pela que fizeram com Chaplin. O livro de Mitchell arrefeceu de forma fundamental minha crença que Lennon sempre foi o mais relevante dos Beatles. É mais um daqueles livraços que, quando a gente termina, se sente meio órfão. Apenas 39 reais. É muita diversão e informação por tão pouco. 10, nota 10!!! Adorei conhecer a história dos Elefantes!

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  2. Agora sim... Vou correndo atrás!

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  3. Comprei o meu estes dias na Amazon e está 24,90. Também aproveitei e comprei o Anthology em português por 80 reais. lá.

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  4. Realmente comprar pela internet sái bem mais em conta. Mas não consumo isso pelo preço. Minha ansiedade e imediatismo não me dão a esse luxo não!Sem contar que, sequer, tenho meu "Green Card" de crédito.

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  5. Poxa! Que legal, ganhei esse livro em uma promoção da Kiss FM, irei buscá-lo amanhã \o/

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  6. ta na minha lista, mas a grana anda curta

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