Sem nostalgia, mas com respeito pelo passado, os Novos Baianos celebram um novo momento de união na história da banda. O grupo inicia nesta sexta, 12, uma turnê que passará por São Paulo (Citibank Hall, 12 e 13 de agosto), Rio de Janeiro (Metropolitan, 2 e 3 de setembro) e Belo Horizonte (10 de setembro). Nesta matéria, conversamos com a banda sobre os tempos de dureza, quando os integrantes moravam todos juntos, a relação deles com dinheiro, debatemos a atual situação política do país, o legado de Acabou Chorare (1972) e, de quebra, Moraes Moreira publicou uma composição inédita e uma carta dedicadas a Tom Zé. Leia abaixo um trecho da matéria.
A Lei Natural dos Encontros Por José Flávio Júnior
Nada foi programado, tudo aconteceu no ritmo do ‘matrix’ de Deus.” Mística, mas sempre ao seu modo, Baby do Brasil começa a discorrer diante da pergunta mais elementar de uma reportagem sobre o retorno dos Novos Baianos em 2016: por que agora? “Não estávamos nem pensando nisso! Mas, com certeza, foi no momento certo. Recebemos o convite para reinaugurar a Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador, em maio, e foi um sucesso. Aí, a produtora Time for Fun nos propôs uma turnê por São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.” A resposta chega por e-mail, às 5h01 da manhã. Notívaga, Baby foi a coordenadora da entrevista dos Novos Baianos para a Rolling Stone Brasil. Ligou para dar ideias sobre as fotos, sugeriu que as perguntas fossem enviadas para os cinco integrantes da linha de frente do grupo, colocou um produtor para comandar um FaceTime com a turma reunida, ligou de novo para questionar se a pauta não estava muito política...
Cuidado justificado, já que estamos tratando de um dos grupos mais importantes da história da MPB, com uma trajetória cintilante entre 1969 e 1979. Descontando o show na Virada Cultural paulistana, em 2009, que não contou com Moraes Moreira, a formação não se juntava desde 1998, quando fez as últimas apresentações do CD de reencontro Infinito Circular (1997). Antes da bem-sucedida turnê Baby Sucessos, que estreou em 2012, a cantora estava totalmente afastada do mundo secular. Agora, parece ter recobrado o gosto pela vida pop. O que não quer dizer que a niteroiense que nos idos de Novos Baianos era conhecida como Baby Consuelo tenha se afastado da Palavra. “Continuo subindo o monte para as vigílias, fazendo jejuns com propósito, orando, em média, uma hora por dia, buscando os frutos do Espírito Santo”, ela afirma. “Recebo convites para pregar, dar testemunho, visito pessoas em hospitais e em outros lugares que me chamam para orar. O que mudou em mim foi a filosofia de vida, que se tornou absolutamente ‘Crística’ e não religiosa. Tem sido muito, muito natural andar em santidade na Babilônia.”
A autodenominada “popstora” reconhece que o show solo que dividiu com o filho Pedro Baby – e que virou DVD – reacendeu algo, ainda que o repertório ali fosse mais focado em sua trajetória longe dos Novos Baianos. “Teve a apresentação no Rock in Rio, em que chamei Pepeu para ser meu convidado especial e isso emocionou a todos. Creio que foi o primeiro passo para tudo entrar em harmonia entre a gente”, diz Baby, em referência ao show no festival, em 2015, com canja de seu ex-marido. “Estamos em ritmo de amor fraternal, nos sentindo em família, um cuidando do outro, todos curtindo muito estarmos juntos novamente e, claro, dando muitas risadas com as experiências que vivemos”, completa. Por falar em Rock in Rio, Pepeu Gomes não descarta que essa reunião dos Novos Baianos siga de pé até a próxima edição do festival no Brasil, marcada para 2017, e seja vista no evento. “Não acho um sonho impossível, não. Tudo pode acontecer! Temos bagagem e também temos público para encarar um festival desse porte”, confia o guitarrista, que participou de todas as edições nacionais do circo comandado pelo empresário Roberto Medina. Até lá, o que há de concreto na agenda do grupo são os shows em São Paulo (Citibank Hall, 12 e 13 de agosto), Rio de Janeiro (Metropolitan, 2 e 3 de setembro) e Belo Horizonte (10 de setembro). O repertório traz a íntegra do álbum Acabou Chorare (1972), eleito pela Rolling Stone o maior álbum da música popular brasileira, além de músicas emblemáticas de outros trabalhos, caso de “Dê um Rolê” (lançada em um compacto, em 1971), “Colégio de Aplicação” (do lisérgico álbum de estreia, É Ferro na Boneca, de 1970) e “Na Cadência do Samba” (sucesso de Ataulfo Alves regravado no primeiro disco do grupo sem Moraes Moreira, Vamos pro Mundo, de 1974). Paulinho Boca de Cantor explica que o clamor para uma volta da trupe nunca cessou. “Desde a semana seguinte em que nos separamos que quase todos os dias de nossa vida as pessoas nos param para perguntar quando nos reuniremos novamente. Claro que novos artistas regravando nossas músicas, a exemplo de Marisa Monte na década de 1990, ajudaram a despertar ainda mais o interesse e fizeram com que o trabalho fosse reavaliado.” O single atual de Pitty, por coincidência, é uma releitura de “Dê um Rolê”, de Moraes e Luiz Galvão, o principal letrista da gangue. Paulinho inclusive destaca o “Eu sou, eu sou, eu sou amor da cabeça aos pés”, de “Dê um Rolê”, como o verso que o Brasil mais precisa escutar neste instante conturbado em que vivemos (“Pois só o amor resolve!”, afirma), muito embora sua passagem predileta da obra dos Novos Baianos seja o “Vou mostrando como sou e vou sendo como posso”, da clássica “Mistério do Planeta”.
Que boa notícia. Excelente matéria.
ResponderExcluirSem dúvida, grande notícia! Alguns grupos, como os Novos Baianos, Mutantes, 14 Bis e Legião Urbana são eternos.
ResponderExcluirGosto muito de Novos Bainos. Sempre e legal ver e ouvir. Mas essa reunião tem um jeito de ser por grana. Sei lá...estou velho e chato.
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