terça-feira, 9 de outubro de 2018

COMO JOHN LENNON PODE MUDAR SUA VIDA


Os discos de John Lennon e dos Beatles continuam chamando a atenção do público. Ouvir as músicas de Lennon com atenção e refletir sobre suas letras é conhecer o homem. Os autores de “Como John Lennon pode mudar a sua vida” fazem uma análise da obra-referente do cantor e as lições contidas em seus textos e atos – quase sempre mundanos e fúteis, desconstruindo o mito, mas revelando que as mensagens de Lennon contém ensinamentos que poderiam tê-lo transformado quase que num autor de autoajuda – ou de “alta ajuda”, como diz o editor da Geração, Luiz Fernando Emediato.
A 1ª edição do livro “Como John Lennon pode mudar a sua vida”, foi lançada em março de 2006, pela Editora Geração Editorial. O meu, ganhei do meu amigo e compadre Marco Miranda assim que saiu. É um livro muito bonito, com 320 páginas, um design gráfico bastante arrojado e acabamento de 1º mundo. Mas confesso que esse livro nunca me atraiu de verdade... Em vários momentos, acho até meio bobo. De qualquer forma, alguns amigos, já faz anos, me pediram para fazer uma postagem sobre ele que nunca rolou. Agora vai. Aqui, a gente confere o último capítulo – “Um Homem Comum”. Valeu. VIVA JOHN LENNON!
Imagine foi lançada em 1971 no disco que carrega o mesmo nome. Na época, pouca gente deu bola para a canção. Quer dizer, não foi um sucesso retumbante logo de cara. Nas paradas inglesas, por exemplo, estreou no posto 45. O próprio Lennon não acreditava no sucesso da canção, que na verdade era mais uma reflexão do cantor. Ao piano, de forma totalmente tranqüila, contrariando seu espírito sempre irriquieto, John imagina um mundo sem guerras, religiões, posses, ciúmes e tudo mais que existe e é capaz de gerar algum tipo de conflito. “Imagine” acabou se tomando a mais querida e reconhecida Música de John Lennon - incluindo aí os tra­balhos com os Beatles. Um fato curioso, já que os versos falam de temas polêmicos, como religião, patriotismo e até, mesmo que timidamente, acolhe alguns mandamentos do socialismo, pregando o fim das posses.
A letra foi inspirada - acreditem! - num poema de Yoko, escrito ainda nos anos 1960. Os acordes da introdução, tocados no piano, talvez sejam alguns dos sons mais famosos do mundo. E não existe qualquer ser vivo no universo que não tenha uma memória afetiva com “Imagine” de trilha sonora.
A reunião de todas essas coisas, a melodia cativante, o cantar delicado, a le­tra utópica, fez da canção um hino eterno. Depois dos ataques de 11 de setembro, por exemplo, foi entoada por Neil Young, num pedido de paz. E é incrível que um homem comum, que tropeçou nas próprias pernas em vários momen­tos, que traiu suas mulheres, brigou com amigos, tenha chegado a ponto de criar a reunião de frases mais transcendentais do século XXI, coisa que nenhum guru conseguiu.
De tempos em tempos a imprensa aparece com uma notícia “nova” sobre John Lennon. Geralmente é sobre alguma revelação bombástica de sua vida particular: batia na mulher, não ligava para o filho, era um masturbador compulsivo, teve relações homossexuais, drogava-se constante­mente, chutou a cabeça de um amigo. O leitor logo se admira. O primeiro pensamento que vem é “como aquele homem bom, o pacifista era capaz de fazer algo assim tão, tão...” Tão comum. Tão prosaico. Tão normal.
John sempre foi um homem comum. Mas a grandiosidade de suas canções e o sucesso dos trabalhos que realizou colocaram-no num pata­mar quase divino. Ele sempre é visto como uma divindade, um sábio que ficava na montanha analisando o mundo e regurgitava vez por outra pa­lavras de ordem e paz, sob guitarras.
De divino, John não tinha nada. Em todos os momentos de sua vida, quando a barra pesou, ele não levitou ou parou para meditar sentado numa cama de pregos. Teve as reações que qualquer ser humano teria. Depois da morte da mãe, tornou-se amargo e desagradável, assim como possivelmente nós, pobreS mortais, ficaríamos. No fim dos Beatles, sentiu ressentimento dos ex-amigos que só pensavam no dinheiro e em maltratar seu amor. Res­sentimentos comuns, quando amigos se separam. Ele também pisou na bola com suas mulheres, com seu filho, com seus amigos. Quantas vezes por mi­nuto as pessoas não cometem erros desse tipo no mundo? Quantos pais deixam de lado família e filhos por causa do trabalho? John era assim. Co­mum. Normal. Um impulsivo. Sempre agia antes de pensar. Sempre coloca­va as emoções na frente dos bois. O que há de divino nisso?
Nada. O diferencial é que John era genial quando resolvia sentar ao violão e ao piano para transformar em música essas frustrações e alegrias do cotidiano. A música corria em suas veias. As palavras se encaixavam na métrica das harmonias, fossem raivosas ou delicadas. Assim, Lennon foi genial. E isso não se explica. Na verdade, explica-se, sim. A alquimia das canções só funcionou porque o que se dizia ali era real. Vinha do coração. O homem normal, que acabara de trair a mulher e sentia uma culpa abissal, sentava-se e produzia “Nobody Loves You When Youre Down and Out”. Todos os outros traidores de coração partido em todo o mundo identificavam-se e choravam com a canção. Dessa mistura do emocional, do passional incontrolável com a música nasceu um genial John Lennon. Aqueles que têm coração agradecem de joelhos.
John nunca se deu bem com o mercado da música. Se fosse necessário tomar-se um compositor da indústria, destes que entregam uma canção perfeitamente pop quando a gravadora manda, talvez não tivesse alcança­do o patamar de mito. No momento em que se viu preso na gana dos empresários, sentou e pediu socorro. “Help!”
Quando pedia paz, nos anos 70, ele pensava em um mundo pacífico, mas também precisava de uma harmonia interior. Ele queria paz, mas vivia um turbulento conflito interno com drogas, traições e frustrações. Só que escrevendo sobre si, mas abrangendo todo o universo (“pense glo­balmente, aja localmente”), John acabou por unir os povos através do sentimento de suas canções. Ensinou todos a cantar juntos, pelo mesmo motivo, mesmo que não entendam as palavras de forma precisa.
Por essas e outras razões é que a morte de John Lennon, um roqueiro, é lembrada como um dos maiores acontecimentos do século passado. Pessoas choravam e se abraçavam como após o 11 de setembro. Multi­dões desoladas caminhavam pelas ruas, como no funeral da princesa Dia­na. Centenas não acreditavam no que viam, como os torcedores brasileiros após a derrota para a Itália, na Copa de 82.
Como alguém disse uma vez, a morte de John Lennon foi um daqueles momentos em que o planeta parece estar sob um eclipse, na escuridão, em câmera lenta. E todos acendem suas velas para iluminar o homem que só queria paz.
Bless you.

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