Os discos de John Lennon e dos Beatles continuam chamando a atenção do público. Ouvir as músicas de Lennon com atenção e refletir sobre suas letras é conhecer o homem. Os autores de “Como John Lennon pode mudar a sua vida” fazem uma análise da obra-referente do cantor e as lições contidas em seus textos e atos – quase sempre mundanos e fúteis, desconstruindo o mito, mas revelando que as mensagens de Lennon contém ensinamentos que poderiam tê-lo transformado quase que num autor de autoajuda – ou de “alta ajuda”, como diz o editor da Geração, Luiz Fernando Emediato.
A 1ª edição do livro “Como John Lennon pode mudar a sua vida”, foi lançada em
março de 2006, pela Editora Geração Editorial. O meu, ganhei do meu amigo e
compadre Marco Miranda assim que saiu. É um livro muito bonito, com 320
páginas, um design gráfico bastante arrojado e acabamento de 1º mundo. Mas
confesso que esse livro nunca me atraiu de verdade... Em vários momentos, acho
até meio bobo. De qualquer forma, alguns amigos, já faz anos, me pediram para
fazer uma postagem sobre ele que nunca rolou. Agora vai. Aqui, a gente confere
o último capítulo – “Um Homem Comum”. Valeu. VIVA JOHN LENNON!
Imagine foi lançada em 1971 no disco que carrega o mesmo nome. Na época,
pouca gente deu bola para a canção. Quer dizer, não foi um sucesso retumbante
logo de cara. Nas paradas inglesas, por exemplo, estreou no posto 45. O próprio
Lennon não acreditava no sucesso da canção, que na verdade era mais uma
reflexão do cantor. Ao piano, de forma totalmente tranqüila, contrariando seu
espírito sempre irriquieto, John imagina um mundo sem guerras, religiões,
posses, ciúmes e tudo mais que existe e é capaz de gerar algum tipo de
conflito. “Imagine” acabou se tomando a mais querida e reconhecida Música de
John Lennon - incluindo aí os trabalhos com os Beatles. Um fato curioso, já
que os versos falam de temas polêmicos, como religião, patriotismo e até, mesmo
que timidamente, acolhe alguns mandamentos do socialismo, pregando o fim das
posses.
A letra foi inspirada - acreditem! - num poema de Yoko, escrito ainda nos anos
1960. Os acordes da introdução, tocados no piano, talvez sejam alguns dos sons
mais famosos do mundo. E não existe qualquer ser vivo no universo que não tenha
uma memória afetiva com “Imagine” de trilha sonora.
A reunião de todas essas coisas, a melodia cativante, o cantar delicado, a letra
utópica, fez da canção um hino eterno. Depois dos ataques de 11 de setembro,
por exemplo, foi entoada por Neil Young, num pedido de paz. E é incrível que um
homem comum, que tropeçou nas próprias pernas em vários momentos, que traiu
suas mulheres, brigou com amigos, tenha chegado a ponto de criar a reunião de
frases mais transcendentais do século XXI, coisa que nenhum guru conseguiu.
De tempos em tempos a imprensa aparece com uma notícia “nova” sobre John
Lennon. Geralmente é sobre alguma revelação bombástica de sua vida particular:
batia na mulher, não ligava para o filho, era um masturbador compulsivo, teve
relações homossexuais, drogava-se constantemente, chutou a cabeça de um amigo.
O leitor logo se admira. O primeiro pensamento que vem é “como aquele homem
bom, o pacifista era capaz de fazer algo assim tão, tão...” Tão comum. Tão
prosaico. Tão normal.
John sempre foi um homem comum. Mas a grandiosidade de suas canções e o sucesso
dos trabalhos que realizou colocaram-no num patamar quase divino. Ele sempre é
visto como uma divindade, um sábio que ficava na montanha analisando o mundo e
regurgitava vez por outra palavras de ordem e paz, sob guitarras.
De divino, John não tinha nada. Em todos os momentos de sua vida, quando a
barra pesou, ele não levitou ou parou para meditar sentado numa cama de pregos.
Teve as reações que qualquer ser humano teria. Depois da morte da mãe,
tornou-se amargo e desagradável, assim como possivelmente nós, pobreS mortais,
ficaríamos. No fim dos Beatles, sentiu ressentimento dos ex-amigos que só
pensavam no dinheiro e em maltratar seu amor. Ressentimentos comuns, quando
amigos se separam. Ele também pisou na bola com suas mulheres, com seu filho,
com seus amigos. Quantas vezes por minuto as pessoas não cometem erros desse
tipo no mundo? Quantos pais deixam de lado família e filhos por causa do
trabalho? John era assim. Comum. Normal. Um impulsivo. Sempre agia antes de
pensar. Sempre colocava as emoções na frente dos bois. O que há de divino
nisso?
Nada. O diferencial é que John era genial quando resolvia sentar ao violão e ao
piano para transformar em música essas frustrações e alegrias do cotidiano. A
música corria em suas veias. As palavras se encaixavam na métrica das
harmonias, fossem raivosas ou delicadas. Assim, Lennon foi genial. E isso não
se explica. Na verdade, explica-se, sim. A alquimia das canções só funcionou
porque o que se dizia ali era real. Vinha do coração. O homem normal, que
acabara de trair a mulher e sentia uma culpa abissal, sentava-se e produzia
“Nobody Loves You When Youre Down and Out”. Todos os outros traidores de
coração partido em todo o mundo identificavam-se e choravam com a canção. Dessa
mistura do emocional, do passional incontrolável com a música nasceu um genial
John Lennon. Aqueles que têm coração agradecem de joelhos.
John nunca se deu bem com o mercado da música. Se fosse necessário tomar-se um
compositor da indústria, destes que entregam uma canção perfeitamente pop
quando a gravadora manda, talvez não tivesse alcançado o patamar de mito. No
momento em que se viu preso na gana dos empresários, sentou e pediu socorro.
“Help!”
Quando pedia paz, nos anos 70, ele pensava em um mundo pacífico, mas também
precisava de uma harmonia interior. Ele queria paz, mas vivia um turbulento
conflito interno com drogas, traições e frustrações. Só que escrevendo sobre
si, mas abrangendo todo o universo (“pense globalmente, aja localmente”), John
acabou por unir os povos através do sentimento de suas canções. Ensinou todos a
cantar juntos, pelo mesmo motivo, mesmo que não entendam as palavras de forma
precisa.
Por essas e outras razões é que a morte de John Lennon, um roqueiro, é lembrada
como um dos maiores acontecimentos do século passado. Pessoas choravam e se
abraçavam como após o 11 de setembro. Multidões desoladas caminhavam pelas
ruas, como no funeral da princesa Diana. Centenas não acreditavam no que viam,
como os torcedores brasileiros após a derrota para a Itália, na Copa de 82.
Como alguém disse uma vez, a morte de John Lennon foi um daqueles momentos em
que o planeta parece estar sob um eclipse, na escuridão, em câmera lenta. E
todos acendem suas velas para iluminar o homem que só queria paz.
Bless you.
Fraco, embora bonito pelo design bacana. NADA!
ResponderExcluir