segunda-feira, 22 de julho de 2019

THE BEATLES - A HARD DAY'S NIGHT - O FILME***********


Os Beatles provavelmente nunca teriam ascendido à condição de majestades sem “Os Reis do Iê, Iê, Iê”. O primeiro filme da banda mais popular da história, que completou 55 anos, captura e amplifica um fenômeno até hoje sem precedentes na música popular: a Beatlemania.

“A Hard Day’s Night” foi o primeiro longa-metragem da história a lucrar antes mesmo do lançamen­to. Esse era o tipo de poder que eles tinham, um poder nunca antes concedido a quatro músicos. Eles eram uma sensação, um fenômeno que ninguém conseguia compreen­der. Tudo o que queriam, eles conquistavam. Tudo em que to­cavam virava magia. Aonde quer que fossem, o mundo inteiro os acompanhava. Todos os dias, uma multidão de fãs, impren­sa e polícia lutava ao redor deles, empurran­do, puxando e gritando; e lá estavam, no cen­tro de tudo, os sempre sorridentes, risonhos e brincalhões Beatles. “A beatlemania foi além da compreensão”, Lennon refletiria mais tarde, e ele tinha toda razão.
A primeira proposta para um filme dos Beatles foi feita em Londres. Se chamava “The Yellow Teddy Bears”. Girava em torno de uma escola feminina — na qual distinti­vos de ursinhos amarelos eram usados para denotar promiscuidade - e de um professor bem-intencionado. Eles não gostaram. O cinema, era um caminho que eles tinham mui­to interesse em trilhar. Os produto­res queriam que eles aparecessem em cena tocando algumas canções, das quais, aboca­nhariam os direitos autorais. Eles acreditavam firmemente que, em­bora uma canção possa durar um mês, um filme vive para sempre. Conscientes de sua imagem, concordaram que o filme do qual participariam deveria ser algo mui­to especial para justificar seu envolvimento.
E então The Goon Show entra na jogada. Em 1959, Peter Sellers estava procurando uma maneira de transferir o Goon Show do rádio para a televisão. Ele precisava de um diretor capaz de compreender visuais e humor surrealistas. Uma noite, ele viu The Dick Lester Show, programa improvisado (contan­do, entre outros, com Alun Owen, roteirista de Liverpool) que procurava reproduzir o humor ao estilo do Goon Show na televisão. Sellers entrou em contato com o diretor do programa, um homem de 23 anos chamado Richard Lester.

Utilizando uma câmera cinematográ­fica de 16 mm recém-adquirida por Sellers, além de um campo no norte de Londres e um elenco contando com Spike Milligan e Graham Stark, eles fizeram um curta-metragem de onze minutos chamado The Running jumping and Standing Still Film (1960). Lester não só o dirigiu, como também compôs a música. A filmagem era para uso privado, mas foi vista por um crítico de televisão que insistiu em sua inscrição no Festival de Edimburgo. Foi o que eles fizeram, e o filme acabou sen­do lançado na Grã-Bretanha.

A seguir, Lester foi contratado para di­rigir o filme It’s Trad, Dad! (1962), uma comé­dia musical que entrou às pressas em pro­dução para aproveitar a tendência de jazz tradicional que estava impregnando a para­da pop no Reino Unido. Entre os músicos que participaram do filme estavam Chubby Checker, Helen Shapiro, Gene Vincent, Chris Barber e Acker Bilk. Os Beatles viram as duas obras de Lester, mas foi um curta que chamou atenção de ver­dade. “Nós discutimos isso (a possibilidade de um filme) com Brian em várias ocasiões, e ele perguntou se tínhamos algumas ideias a esse respeito”, contou Paul McCartney. “Só conseguíamos pensar na pessoa que tinha feito o Running Standing, porque era um cur­ta brilhante”.
Dick Lester entrou na universidade aos 15 e se formou em psicologia clínica. Trabalhou com música e televisão, cantou numa banda vo­cal e foi diretor de cena na CBS. Foi para Londres e passou a dirigir o programa de jazz Downbeat, na ATV. Lester também se tornou amigo do roteirista Alun Owen, que colaborava com o The Dick Lester Show. Foi a Owen que ele se voltou em busca do roteiro, mas somente após Johnny Speight, posteriormente criador da clássica série te­levisiva Till Death Us Do Part, recusar.
Owen, que se descrevia como um “boêmio com raí­zes operárias”, era perfeito; ele era de Liverpool e seu último grande sucesso na televisão, No Trams to Lime Street (1959), era ambienta­do em sua cidade natal. Os Beatles viram a reprodução e então Owen foi convidado para acompanhar os rapazes durante uma excursão, para que observasse a personalidade de cada um e capturasse sua linguagem peculiar. Owen escreveu o roteiro em aproximadamente um mês, tempo curtíssimo para tamanho empreendimento.
Filmado a toque de caixa, com período completo de produção (roteiro, filmagem, edição) espremido em 16 semanas, as gravações começaram em 2 de mar­ço e terminaram em 24 de abril, “Os Reis do Iê-Iê-Iê” nasceu como um produto 100% comercial, sem qualquer ambição artística. A ideia da gravadora dos Beatles, a EMI, era apenas aproveitar a fama dos rapazes de Liverpool, adquirida durante a primeira passagem da banda pelos EUA, para vender discos e bilhetes de cinema. Ninguém imaginava que o grupo se tornaria o mais importante da música popular no século XX. Tampouco previam que o filme se tornaria uma referência obrigatória no terreno dos musicais. O medo de que o sucesso escasseasse a qualquer momento acelerou a produção, mas não impediu o jovem cineasta Richard Lester de lançar as fundações do novo gênero (o documentário musical) e criar as sementes do que viria a ser um grande símbolo cultural no fim do século – o videoclipe.
Nos primei­ros dias, a filmagem aconteceu num trem rumo à região sudoeste da Inglaterra. Entre outras locações, estavam os Estúdios de Ci­nema Twickenham e o Teatro Scala, em Lon­dres. Lester e os Beatles trabalhavam bem jun­tos. O diretor estava ciente da visão do grupo e fez questão de incorporar a espontaneidade dos rapazes como comediantes sempre que possível. De forma correspondente, eles improvisaram em muitas cenas.
Conforme a filmagem se aproximava do fim, a trilha sonora já estava pronta. Respon­sável pelo lançamento do disco nos Estados Unidos, a United Artists prensou meio mi­lhão de cópias do LP. No dia 25 de junho, uma quinta-feira, eles deram uma cópia a uma im­portante estação de radio nova-iorquina pa­ra uma apresentação antecipada. A reação positiva do público a essa nova coleção de canções dos Beatles foi tamanha que, na segunda-feira, as encomendas chegaram a um milhão de cópias. Inacreditavelmente, uma semana mais tarde, chegaram a dois milhões. Cine­mas dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e da Europa encomendaram mais de 1.700 cópias do longa-metragem. A plateia ainda não ha­via visto o filme, mas ele já era um sucesso absoluto.
A fita foi editada e montada numa velo­cidade absurda. Começar um filme em março e tê-lo pronto para exibição em julho foi um feito incrível. O grupo participou de duas grandes estreias para promovê-lo: uma em 6 de julho, em Londres, e outra em 10 de julho, em Liverpool. Eles estavam bastante nervosos por voltar para casa. Depois que se mu­daram de Liverpool, boatos e murmúrios de­sagradáveis os acompanharam até Londres, dizendo que todos os odiavam, que eram trai­dores, um bando de Judas que não deveria ter saído do Cavern. Conhecendo os conterrâneos, eles esperavam que alguma raiva pú­blica lhes fosse lançada assim que pisassem na cidade. Após desembarcarem no Aeroporto Speke (hoje conhecido como Ae­roporto de Liverpool John Lennon), os rapazes entraram nas obrigatórias li­musines, completamente pasmos ao serem saudados por duzentos mil moradores eufó­ricos. “Depois disso, nada mais importa”, Harrison afirmou entusiasmado ao olhar aquele mar de gente. “Isso é o máximo”.
A opção pelo improviso, associada às técnicas modernas de montagem, acabou por capturar muito bem a atmosfera de irreverência e inovação cultural associadas à Beatlemania. As piadas são ótimas, e os números musicais que intercalam as cenas forneceram inspiração e um modelo estético para o futuro dos vídeos.
Para os críticos, o trabalho de Richard Lester – que mais tarde participaria da primeira trilogia do Superman – ultrapassa o status de clássico, ao estabelecer uma nova gramática para o cinema. “Hoje, quando assistimos à edição rápida da TV, as imagens feitas com câmeras de mão, entrevistas feitas com pessoas em movimento, pedaços intercortados de diálogo, música tocada em documentário, e a todas as outras marcas do estilo moderno, estamos olhando para os ‘A Hard Day's Night".
Infelizmente, não encontrei em lugar algum, o filme completo legendado em poruguês on line com um link disponível. Mas quem quiser, pode assistir A HARD DAY'S NIGHT completo aqui, original em inglês, sem legendas. Pelo menos, a resolução é boa. Valeu!

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