Por alguns anos na década de 1960, Londres foi a capital mundial do cool. Quando a revista Time dedicou sua edição de 15 de abril de 1966 a Londres: a Swinging City, ela consolidou a associação entre Londres e todas as coisas da moda que vinham crescendo na imaginação popular ao longo da década.
A notável metamorfose de Londres de uma capital sombria e encardida do pós-guerra em um epicentro de estilo brilhante foi em grande parte devido a dois fatores: juventude e dinheiro. O baby boom da década de 1950 significou que a população urbana era mais jovem do que desde os tempos romanos. Em meados dos anos 60, 40% da população em geral tinha menos de 25 anos. Com a abolição do Serviço Nacional para os homens em 1960, esses jovens tinham mais liberdade e menos responsabilidades do que a geração de seus pais. Eles se rebelaram contra as limitações e restrições da sociedade do pós-guerra.
Somado a isso, os londrinos tinham mais renda disponível do que nunca - e estavam procurando maneiras de gastá-la. Nacionalmente, os ganhos semanais nos anos 60 superavam o custo de vida em impressionantes 183%: em Londres, onde os ganhos eram geralmente maiores do que a média nacional, o número era provavelmente ainda maior.
Essa combinação inebriante de riqueza e juventude levou ao florescimento da música, da moda, do design e de qualquer outra coisa que banisse a escuridão do pós-guerra. Butiques de moda surgiram à toa. Os homens se aglomeraram em Carnaby St. perto do Soho, para ver as últimas novidades da moda 'Mod'. Enquanto as mulheres eram atraídas para a King's Road, onde as mini-saias radicais de Mary Quant voaram dos trilhos de sua loja icônica, a Bazaar.
Mesmo as modas mais chocantes ou totalmente malucas foram popularizadas por modelos que, pela primeira vez, se tornaram superestrelas. Jean Shrimpton foi considerada o símbolo da Swinging London, enquanto Twiggy foi nomeada “a cara” de 1966.
A música também foi uma grande parte do swing de Londres. Enquanto Liverpool tinha os Beatles, o som de Londres era uma mistura de bandas que alcançaram sucesso mundial, incluindo The Who, os Kinks, os Small Faces e os Rolling Stones. Sua música era o esteio de estações de rádio piratas como Radio Caroline e Radio Swinging England. Tipos criativos de todos os tipos gravitavam para a capital, de artistas e escritores a editores de revistas, fotógrafos, anunciantes, cineastas e designers de produtos.
Mas nem tudo no jardim de Londres era rosado. A imigração era uma batata quente política: em 1961, havia mais de 100.000 estrangeiros em Londres e nem todos os recebiam de braços abertos. O maior problema era uma enorme escassez de moradias para substituir edifícios bombardeados e favelas inadequadas e lidar com uma população urbana em expansão. A solução mal concebida - enormes propriedades de prédios de apartamentos - e os problemas sociais que elas criaram mudaram a face de Londres para sempre. Na década de 1970, com o declínio da indústria e o aumento do desemprego, a Swinging London parecia uma memória muito vaga e distante. Fonte: History.
Esse texto que a gente confere agora, é do sensacional livro "THE BEATLES 1966 - O Ano Revolucionário" de Steve Turner.
Paralelamente aos anos 1960 de Timothy Leary, Alan Watts e Allen Ginsberg, em que estados de transcendência e renúncia ao materialismo eram enfatizados, havia os anos 1960 de David Bailey, Batman, James Bond, Vidal Sassoon, Twiggy, The Avengers, Playboy, em que estilo, riqueza e glamour reinavam supremos. Foi durante uma semana em meados de abril, por coincidência, que a revista Time publicou sua icônica capa “London: The Swinging City”, que cimentou o conceito de “Swinging London” e deu à capital uma muito necessária cara nova. Londres deixou de ser apenas a cidade dos banqueiros e jogadores de críquete, mas também das dolly birds (garotas atraentes e elegantes), butiques, dos bistrôs e dos Beatles. A cidade “imersa em tradição” tinha sido “tomada pela mudança” e “libertada pela afluência”. A Time concluía que Londres “floresceu totalmente. Ela tem swing; é a cena”.
A matéria, que teve a contribuição de sete jornalistas da equipe da agência de Londres, mas foi escrita por Piri Halasz, citou Robert Fraser, o ator Terry Stamp, a personalidade da TV Cathy McGowan (coapresentadora mod do programa semanal sobre música Ready, Steady, Go!), o dramaturgo John Osborne e a aristocrata Jane Ormsby-Gore. Os jornalistas perambularam por galerias e boates, foram a butiques e teatros, numa tentativa de capturar a cena efervescente. As palavras e frases recorrentes na matéria poderiam ter sido usadas para descrever a música que os Beatles estavam produzindo na época: “revigorante”, “vital”, “experimental”, “nova” e “apaixonada por mudança”.
“Paperback Writer”, à sua própria maneira, destilava o mesmo momento. Aquele foi um período em que havia a impressão de que praticamente qualquer pessoa, não importava a simplicidade de seu passado, podia se dar muito bem. Era preciso apenas ter uma boa ideia, bons contatos e audácia. A natureza exata do livro (paperback) em discussão na letra era indistinta (um romance baseado num romance? Um romance sobre um jornalista do Daily Mail que queria ser romancista?). Mas o espírito da busca do autor, não. Era alguém tão desesperado que cederia seu texto de qualquer maneira necessária, somente para que fosse impresso. Era uma abordagem do trabalho diametralmente oposta à dos Beatles. A escrita de ficção era um tópico incomum numa canção pop da época, em especial numa música pop dos Beatles. Paul estava ciente de que se aventurava num território novo em relação às letras. Um jornalista da Beatles Book Monthly presente na sessão perguntou o que ele pretendia com “Paperback Writer”. “Você escutou a letra?”, perguntou Paul. O jornalista tinha ouvido e comentou que era “muito incomum”. Paul explicou: “O problema é que já fizemos tudo o que podíamos com quatro pessoas, e é difícil variar sempre com as mesmas coisas e fazer um som diferente”. Para o Melody Maker, ele diria mais tarde: “Sempre tentamos fazer algo diferente, e essa ideia é diferente”.
A outra candidata a single era “Rain”, que começou com uma ideia de John, para a qual Paul acredita ter feito uma contribuição de 30 por cento. De acordo com Paul, era sobre o lado prazeroso da chuva: “As canções tradicionalmente tratam a chuva como uma coisa ruim. Não existe sensação melhor que a chuva batendo nas suas costas". “Rain”, no entanto, era mais do que isso. Era mais filosófica do que meteorológica. John estava de novo enfrentando a questão da consciência e precisava expandi-la ou alterá-la. Uma tempestade de chuva, ele argumentava na canção, não é nem boa nem ruim. O estado de “nossa mente” é o que determina como nos sentimos quando nos molhamos. Reestruture sua mente, e as experiências negativas podem ser eliminadas. “Paperback Writer” foi gravada no dia 13 de abril. Para diferenciá-la, Paul queria que o som do baixo ficasse mais destacado na mixagem. Ele estava se inspirando na maneira como a Motown dava destaque a seu baixista de estúdio, James Jamerson, e à forma de tocar de Donald “Duck” Dunn, da Stax. Os singles britânicos daquele momento, como “My Generaüon” e “Substitute”, do The Who, e “Keep on Running” e “Somebodv Help Me”, do Spencer Davis Group, também tinham aumentado o baixo.
Em agosto de 1965, nos Estados Unidos, Paul ganhou um baixo Rickenbacker 4001S customizado para canhotos, usado em Rubber Soul, ao descobrir que seu som direto e claro se encaixava com a nova fluidez que estava buscando para seu estilo de tocar. Ele continuou a usar o baixo Hofner Violino, sua marca registrada, pois era mais leve e mais apropriado para tocar ao vivo. Paul pediu a Geoff Emerick para melhorar o som do Rickenbacker para que funcionasse como um instrumento de destaque, que não ficasse soterrado pelos outros sons. Emerick inventou outra solução muito original. Em vez de colocar um microfone diante da caixa do baixo, como era o costume em gravações, Emerick recabeou um alto-falante, transformando-o num microfone. A enorme superficie que capturava o baixo potencializou o som a níveis sem precedentes. O resultado foi tão poderoso que excedeu os limites decretados pelo manual de regras da EMI. Isso porque as gravações com volume alto podiam fazer as agulhas dos toca-discos pular por causa das ranhuras dos discos de vinil. No entanto, os Beatles eram naquele momento uma banda tão valiosa para a EMI que concessões foram feitas para eles. Nesse caso, o responsável pela prensagem dos discos, Tony Clarke foi um aliado de Emerick e não interferiu na mixagem para tentar diminuir o baixo.
Em 30 de maio de 1966, o single “Paperback Writer / Rain” foi lançado nos Estados Unidos. O lançamento britânico já havia acontecido em 23 de maio, chegando ao primeiro lugar das paradas de sucesso. “Paperback Writer” foi escrita por Paul McCartney e gravada em Abbey Road em dois dias consecutivos, 13 e 14 de abril de 1966. Foi produzida por George Martin e teve Geoff Emerick como engenheiro. Paul McCartney faz os vocais, toca a guitarra solo e baixo; John Lennon faz backing vocals e toca pandeiro; George Harrison faz backing vocals e toca guitarra base; e Ringo Starr toca bateria. “Paperback Writer” aparece nos álbuns: “A Collection of Beatles Oldies”, “Hey Jude”, “Past Masters” e “1”.
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