Lançada como single em março de 1970, "Let It Be" parecia ter sido gravada como o canto do cisne dos Beatles, mas a música datava de janeiro de 1969. Ninguém fazia ideia de que aquele seria o último single. Paul tinha escrito "Let It Be" a partir da sua sensação geral de desespero, uma vez que os Beatles começavam a ruir a olhos vistos. O documentário tinha começado como um registro de um ensaio seguido de uma apresentação ao vivo, mas foi o registro de um grupo dando os últimos suspiros. A essa altura, John Lennon preferia passar seu tempo com Yoko Ono, cuja presença no estúdio não era bem-vinda por ninguém. George Harrison já havia deixado o grupo uma vez, após uma briga com Lennon e estava de saco cheio há muito tempo, pela maneira como suas composições eram instantaneamente rejeitadas. Até mesmo Ringo tirou umas férias quando o clima ficou realmente ruim durante a gravação do álbum branco. Paul McCartney estava claramente tentando assumir o papel de líder porque sentia que sem organização e disciplina ninguém chegaria mais a lugar nenhum. "Acho que estamos muito pra baixo desde que o sr. Epstein morreu", é possível ouvir Paul dizendo no filme. "É por isso que estamos cansados do grupo. Não há nada nele de que podemos tirar proveito.Tem sido um peso. A única maneira de não ser um peso é os quatro pensarem 'devemos transformá-lo em algo de bom novamente ou deixar pra lá?". Mesmo que o papel de Paul tenha sido necessário, não fez dele o mais querido. Os demais começaram a se ressentir do seu papel de organizador. "Let It Be" foi escrita como uma resposta a toda essa pressão: "Eu a escrevi quando todos esses problemas comerciais começaram a me encher. Eu estava passando por um momento pesado e foi a minha maneira de exorcizar meus fantasmas". Ele disse.
"Let It Be" foi composta entre o lançamento dos discos “Álbum Branco” e “Abbey Road” quando decidiram fazer um disco ao vivo nos novos estúdios da Apple, que se chamaria “Get Back”. Foi um período intenso para os Beatles e para Paul McCartney, que era o único do grupo que parecia ainda se importar com os relacionamentos internos. Nessa época, eles estavam sendo músicos, compositores, produtores e empresários e após a morte do empresário Brian Epstein, Paul se sentiu menos motivado, porém, mais obrigado a manter o grupo unido. Paul McCartney fala sobre a letra no livro “Many Years From Now” de Barry Miles: “Uma noite, durante aqueles tempos intensos, eu tive um sonho com minha mãe que tinha morrido há mais de 10 anos. E foi tão bom vê-la porque isso é fantástico nos sonhos: Você fica unida a essa pessoa por segundos e parece que esteve presente fisicamente também. Foi ótimo para mim e ela parecia estar em paz no sonho dizendo, ‘Tudo ficará bem, não se preocupe, pois tudo se acertará.’ Eu não me lembro se ela usou a palavra ‘Let it be’ (Deixa estar) mas era o sentido do seu conselho. Eu me senti muito abençoado por ter tido aquele sonho. E comecei a canção literalmente com a frase ‘Mother Mary’. A canção é baseada naquele sonho”.
A canção cita “Mother Mary comes to me” que apesar de parecer algo Católico ou Cristão (“Ave Maria vem até mim”), na verdade se trata de Mary McCartney, mãe de Paul. Mas ele explica a dualidade: “Ave Maria ou Mãe Maria, se torna uma coisa religiosa e você pode tomar desse jeito. Eu não me importo. Eu fico feliz se as pessoas tomarem para alimentar sua fé. Não tenho problema com isso. Acho importante ter fé na vida, principalmente no mundo que vivemos”.
John Lennon demonstra pouca afeição pela canção na entrevista para a revista Playboy em 1980: “Aquilo é Paul. O que eu posso dizer? Nada a ver com os Beatles. Poderia ser até Wings. Eu acho que a inspiração foi ‘Bridge Over Troubled Water.’ É o que eu acho mas não tenho muito a dizer. Só sei que ele sempre quis fazer ‘Bridge Over Troubled Water”. Lennon estava equivocado dando sua opinião sobre a inspiração de McCartney, pois o disco de Simon and Garfunkel, "Bridge Over Troubled Water" foi lançado um ano depois dos Beatles terem gravado a canção "Let It Be".
"Let It Be" foi lançada como single em 6 de março de 1970 no Reino Unido e 11 de março nos Estados Unidos, tendo "You Know My Name" como lado B. Foi produzida por George Martin e Chris Thomas e teve como engenheiros Glyn Johns, Jeff Jarratt e Phil McDonald. Paul McCartney faz o vocal principal, toca piano, maracas, piano elétrico e baixo; John Lennon faz vocais de apoio e toca baixo de 6 cordas; George Harrison também faz vocais de apoio e toca a guitarra solo; Ringo Starr toca sua bateria e Billy Preston toca órgão. Sem créditos: duas trombetas, dois trombones, um saxofone tenor e um violoncelo. Linda McCartney fez backing vocals nas primeiras sessões.
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