quarta-feira, 8 de abril de 2009

O ESCRITOR QUE OS BEATLES CANTARAM

Por Renata Silva e Sara Santos Silva - jpn@icicom.up.pt

Mais de 200 anos após a sua morte, o "poeta do mistério" continua bem presente na cultura contemporânea. Na música, influenciou compositores como Debussy ou os incomparáveis The Beatles.
"The Raven" é apenas um dos álbuns mais paradigmáticos da influência de Edgar Allan Poe na criação musical contemporânea. Lou Reed recriou, em 2003, o ambiente da escrita do autor num disco conceitual.
Anabela Duarte, antropóloga, apresentou no Colóquio Internacional "Poe and Gothic Creativity" uma tese sobre a influência de Poe na estética e na criação musical contemporânea. Em declarações ao JPN, destaca a "filosofia de transgressão e de negrume" presentes no álbum "The Raven", marcadamente "poesca".
Mas o legado de Poe [Infografia] não se esgota na obra do ex-Velvet Underground. Na verdade, pouco tempo depois da morte do escritor, Claude Debussy compôs uma ópera baseada no conto "The Fall of the House of Usher", que, no entanto, não chegou a concluir. Já nos anos 80, do século XX, o minimalista Philip Glass produziu uma ópera baseada nessa mesma obra.
"Man, you should have seen them kicking Edgar Allan Poe", cantavam os Beatles, numa canção intitulada "I'm the Walrus", que, como explica ao JPN Anabela Duarte, "é uma sátira à sociedade inglesa do seu tempo e, simultaneamente, um protesto de revolta em relação ao modo como Poe havia sido tratado pelos seus conterrâneos". Na década de 60, Poe aparece mesmo na capa de "Sgt. Peppers Lonely Heart Club Band".
Uma espécie de niilismo punk
Segundo Anabela Duarte, "a apetência das gerações mais novas por Poe" deve-se ao facto de ser um autor "não conformista e anti-convencional". Em 1844, Edgar Allan Poe publicou um artigo intitulado "The Ballon-Hoax", no jornal "The Sun". "Embriagado, colocava-se à porta do jornal e dizia às pessoas: "Não comprem, não comprem, fui eu que escrevi!", relata a antropóloga.
"O espírito atormentado, a paranóia, a rebeldia, o desejo de auto-destruição são algumas das linhas pelas quais se regem muitas das tendências e sensibilidades artísticas contemporâneas", explica Anabela Duarte.
Diamanda Galás como "espelho distorcido" de Poe
Os temas de Diamanda Galás são embebidos em mistério, revolta e inconformismo. Não é, deste modo, surpreendente que seja um dos melhores exemplos da influência de Poe na música actual. Anabela Duarte considera que Galás "reflecte, como um espelho distorcido, a atmosfera de negrume e diabolismo presentes em muitos dos escritos" do autor.
"Masque of the Red Death" é um triplo CD da compositoracompositora que subverte o conto homónimo de Poe. Cada disco "aposta para uma tipologia da morte vermelha, sendo a peste equiparada à praga por excelência do séc. XX e séc. XXI, ou seja, a SIDA", explica a antropóloga Anabela Duarte.
Ao longo de 200 anos, Edgar Allan Poe foi uma fonte de inspiração na estética musical e artística contemporânea. Contos como "The Raven", "The Fall of the House of Usher" e "The Mask of the Red Death" foram alguns dos escritos mais influentes no universo artístico, nomeadamente na música.
Edgar Allan Poe é considerado, juntamente com Jules Verne, um dos precursores da literatura de ficção científica e fantástica modernas. Algumas das suas novelas, como The Murders in the Rue Morgue (Os Crimes da Rua Morgue), The Purloined Letter (A Carta Roubada) e The Mystery of Marie Roget (O Mistério de Maria Roget), figuram entre as primeiras obras reconhecidas como policiais, e, de acordo com muitos, as suas obras marcam o início da verdadeira literatura norte-americana.

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