O meu primo Raimundo Floriano está escrevendo um livro no qual dedica um capítulo às “balsas” do Rio Balsas. Meu cunhado Cesário Barbosa Bonfim já fez um excelente trabalho sobre este assunto, cujo conteúdo aquele já está autorizado a usar.
O Raimundo pediu ao meu filho Eduardo Bonfim e Silva que desenhasse uma “balsa” para ilustração de sua obra.
O Eduardo, apesar de toda boa vontade, ficou em dificuldade por ter saído da nossa cidade de Balsas ainda muito criança e nunca ter viajado em tal embarcação, bem como por não ter em mãos uma fotografia retratando um “balsa grande”, mas tão somente de pequenos “macacos” - como eram chamadas as”balsinhas”para viagens curtas - pediu-me então que eu fizesse um esboço do que ainda me lembro de uma”balsa grande”, com capacidade para transportar muita carga e até passageiros em certas épocas do ano.
Assim, mesmo não sendo desenhista, resolvi tentar atender ao pedido e rabiscar um arremedo (conforme anexo), apenas para dar uma idéia do que ainda me lembro a respeito daquele rústico meio de transporte, de tanta utilidade na época.
A”balsa” era feita de talos de palmas do buritizeiro jovem, cortadas ao rés do chão, secos e/ou verdes; os verdes ficavam um bom tempo ao sol, para depois serem juntados aos secos, permitindo assim a uniformidade de flutuação de todos, cuja quantidade utilizada dependia do volume de cereais a ser transportado da região dos “gerais” para a cidade de Balsas; eram cobertas de palha de coco babaçu ou de piaçava, tendo duas vogas fazendo papel de leme, sendo uma na frente e a outra atrás. Transportavam arroz com casca, feijão, farinha de mandioca, tapioca e até pequenos animais, tais como leitoas, galinhas e outros. Eram os produtos desses pequenos lavradores arduamente conseguidos em pequenas “roças de toco” e chiqueiros muito rudimentares. Naquela época sequer era conhecido o arado puxado a animal ou qualquer outro acessório que facilitasse a cultura, exceto o machado e a enxada. A modernidade passou diretamente desses utensílios para as máquinas agrícolas, o que fez desaparecer, praticamente, o pequeno lavrador, restando apenas aqueles que plantam para a própria subsistência.
Chegando em Balsas, depois de vendidos os produtos, quase sempre aos proprietários das usinas de beneficiamento de arroz e a pequenos quitandeiros da cidade; os talos de buriti eram adquiridos pelos intermediários desses produtos, que os deixavam por muitos dias arrumados no sentido vertical para desencharcarem, a fim de que pudessem ser reutilizados na confecção de grandes “balsas” que carregavam não só o arroz pilado (como era chamado), mas também couros de boi, peles silvestres, crina animal, penas de emas e porcos vivos para a cidade de Floriano, no Estado do Piauí ou, eventualmente, para Teresina, capital do mesmo Estado.
As “balsas” também levavam a estudantada ao término das férias de fim de ano; nestes casos eram divididas ao meio, no comprimento, com uma parede de palhas, formando um quarto para a acomodação das moças e de uma ou mais senhoras encarregadas da comitiva. Os rapazes armavam suas redes na outra metade, sobre o lastro formado de sacos de arroz pilado que se estendia por todo o assoalho da “balsa”.
O comando ficava a cargo do “mestre” – exímio conhecedor de todos os canais percorrido nos rios Balsas e Parnaíba, mas sempre ao sabor da correnteza das águas, auxiliado pelo “contra-mestre”, o qual também fazia as vezes de cozinheiro.É importante dizer que esses bravos trabalhadores retornavam do destino a pé, levando nas costas não só o saco com a rede de dormir e alguns pertences, mas também as pás das vogas para serem usadas novamente.
Ao chegarem a Floriano eram desmanchadas e vendidas a quem interessasse, para confecção de cercas de buriti nos quintais daquelas pessoas de menos posse.
Brasília, 25/09/2009 – Pedro Ivo de Sousa e Silva
Querido Papai: não tenho palavras para agradecer nem expressar minha emoção pelo Senhor estar aqui. Obrigado demais! 4 EVER!
ResponderExcluirMuito interessante, Edu!
ResponderExcluirpena que muitas coisas importantes foram perdidas com a chegada da "modernidade". Parabéns pelo texto dele.
Abraço
Henrique Behr (Alêma)
AHHH...AGORA JÁ SEI DE ONDE VEM TANTO TALENTO...ABRAÇÃO! (CLÁUDIA DIAS!
ResponderExcluirdudu:
ResponderExcluirque maravilha!
fiquei emocionado com essa
espaço do BAÚ para essa
importante matéria,Balças
terra do meu querido amigo:
CARIOQUINHA.
meus comprimentos para
RAIMUNDO,EDUARDO e PEDRO IVO
luiz clementino
Caro Eduardo,
ResponderExcluirMuito legal o texto que o tio Pedro Ivo fez sobre "as balsas".Gostei muito do seu blog, a gente viaja lendo os posts e ouvindo esses hits inesquescíveis dos Beatles.
Parabéns e um grande abraço.
Marcelo (primo)
Edu, arruma um macaco pra gente dar umas voltas no laguim véi.
ResponderExcluirPerfeitos, texto e desenho. Esta empreitada vai ser um sucesso!
ResponderExcluirBjs Rosana.
Que coisa linda ler um texto do meu tio mais amado!
ResponderExcluirQue aula nosso pai nos deu hein?! Lindo!! legal demais. Meu Deus, tô morrendo de saudade...
ResponderExcluirShow!!! Parabéns!!!
ResponderExcluirAntonio Estevam disse:
ResponderExcluirBadfinger,
Isso é o que chamo de uma participação especial, padrão de luxo, modelo exportação.
Bacana o texto do P.I.
Pbns pela idéia.
Saudações vascaínas.
Izaura disse:
ResponderExcluirEduardo, fiquei muito emocionada ao ler o texto do Pedro Ivo, com quem acabei de conversar por telefone. Mesmo eu sendo de Balsas, desconhecia tantos detalhes: é impressionante a memória de seu pai. Para ser sincera, nunca tive a oportunidade de entrar numa balsa, só as conhecia por fora, mas me lembro do quanto ficávamos felizes quando avistávamos uma descendo nosso querido Rio Balsas.
Parabéns ao Pedro Ivo, meu irmão muito querido, pelo belo texto que me trouxe tantas lembranças e a você, pela iniciativa de publicá-lo. Torço para que o livro do Raimundo seja um sucesso.
Beijos.
Izaura
Valeu, galera! Viva o Papaiiiiii!!!!
ResponderExcluirAs histórias de Balsas me lembram as navegações descritas por Gabriel Garcia Marques em Amor no Tempo do Cólera. Sem falar nesta Macondo maranhense que é a família Silva. Parabéns, PI!(Mônica Menescal)
ResponderExcluirPô Edu! Muito legal a história. Melhor ainda saber que teu pai tá aí, firme e forte, conforme dá prá ver na foto. Abração.
ResponderExcluirÀS BALSAS DO BALSAS
ResponderExcluirO tempo corre como as águas de um rio.
E sobre as águas do rio Balsas
As balsas deslizavam mansamente.
Levando alimento, levando notícias.
Levando sonhos, levando gente.
O rio corre como as águas do tempo
E o que hoje não mais se vê sobre as águas
Flutua num rio de lágrimas tiradas do pensamento.
Lágrimas da saudade cultivada pelo eterno tempo.
Quem me dera ter sido menino para descer o rio sorrindo.
Quem me dera viver a emoção de ver a balsa partindo.
Quem me dera nadar de braçadas nos braços deste rio
E na relva de suas margens, sob o sol aquecer o frio.
Balsas que não vivi, lugar que nunca vi.
Conheço-te apenas dos versos,
Que os teus filhos saudosos entoam,
Das palavras que ao vento voam.
Quanta história corre em suas águas
Quantas mágoas destiladas em gotas
Quantas vidas por ti passaram
Tantas outras em ti ficaram.
Salve as águas do rio Balsas
Salve as balsas das águas do rio.
Salve o tempo que hoje descubro e vivo
Com as histórias do seu Pedro Ivo.
Um grande abraço ao Seu Pedro Ivo e todos da família.
Edu,
ResponderExcluirParabéns ao PI pelo brilhante texto e ilustração.
É de PRIMEIRA, ESPECIAL DE LUXO,
Abração,
Casusa Neto.
Edu,
ResponderExcluirMaravilha! Parabens ao Tio P.I. Nasci em Balsas, mas nunca vivi nesta cidade. Estive lá por apenas três vezes. Apesar disso, tive a oportunidade de conhecer tanto os macacos como as balsas, por dentro e por fora. Peguei várias caronas do Curtume ao Porto da Passagem, quando não ia a nado mesmo.
Abraço,
Cazuza Jr.
Tio Pedro Ivo, homem sério, Pai de família dedicado, exemplo a ser seguido... deixamos nossos mais profundos sentimentos para toda a família...
ResponderExcluirHelder, Rita de Cássia e João Pedro Simões
Saudades do tio, lembranças da sua dignidade, sua simplicidade e sua amizade.
ResponderExcluirTia Leonor, Adelmar, Eduardo, Marília e Cacilda, estamos juntos nesse momento difícil, mas com a certeza de que ele já está num mundo muito melhor.
Flávio José, Nilvane, João Armando e Ana Flávia
QUERIDO PRIMO EDUARDO,QUE COISA LINDA QUE VC FEZ...,TENHO CERTEZA QUE O TIO PEDRO IVO FICOU MUITO SATISFEITO E ORGULHOSO COM VC.... AGORA,SÓ NOS RESTAM AS LEMBRANÇAS FELIZES QUE TIVEMOS A SEU LADO. TÁ DOENDO....PARECE MENTIRA, É INACREDITÁVEL,PESADELO...AINDA NÃO CAIU A FICHA ...DÁ UM DESESPERO ...SÓ DEUS PARA ALIVIAR ESSA DOR TERRÍVEL QUE ESTAMOS SENTINDO....TE ADORO...UM BEIJO CARINHOSO DA SUA PRIMA...RITA DE CÁSSIA.
ResponderExcluirLinda homenagem que você fez a seu pai.
ResponderExcluirEle se foi desta vida mas continua vivo em meu coração
Rob