Em 3 de julho de 1971, Jim Morrison, o carismático e influente cantor dos Doors, morria em Paris. O desaparecimento do artista norte-americano há 42 anos até hoje intriga e fascina as sucessivas gerações de jovens que nunca deixam de renovar o interesse pela obra do grupo californiano. O fato é que em seus últimos dias em Paris, Jim parece ter feito um esforço deliberado para doar seu cadáver a especulações mistificadoras e tendenciosas que desde os primórdios alimentaram a história do rock com mistérios, confusões e reinações falaciosas. Por que Paris? Como muitos jovens com sede de uma densidade cultural que a América não oferece, Jim foi ao Velho Mundo seguir as pegadas de artistas que inspiravam sua poesia. Muitos deles tinham nascido, criado ou morrido na capital francesa, como Arthur Rimbaud, Charles Beaudelaire e Oscar Wilde. E nessa busca, Mr. Mojo Risin (anagrama que Jim criou para si) exagerou. Ao chegar à capital fez questão de se hospedar no L’Hotel, estabelecimento soturno do Quartier Latin onde Wilde morreu em 1900. Um dia bebeu até cair, literalmente, despencando da janela do quarto sobre o teto de um carro. Fora a segunda queda em circunstâncias semelhantes em pouco tempo. Semanas depois de errar por outros hotéis, começou a tossir compulsivamente e a cuspir sangue. Quando, enfim, encontrou residência fixa, a namorada Pamela Courson o convenceu a procurar atendimento. Um médico prescreveu ao asmático e obeso paciente forte medicação, alertando que misturados ao álcool os remédios lhe fariam mais mal do que bem. Ao se mudar para o número 17 da rua Beautreillis (proximidades da Bastilha), rua na qual Beaudelaire havia residido, Jim começou a fazer incursões diárias a uma adega vizinha, de onde voltava para casa abraçado a garrafas de vinho branco. Foi no apartamento do terceiro andar da Beautreillis (hoje protegido por uma grade de ferro para evitar curiosos) que o cantor morreu, na madrugada de 3 de julho do verão ameno de 1971. Pam o encontrou sem vida dentro da banheira. A embaralhar as circunstâncias da morte do ídolo, colabora em grande medida o fato de Pamela ser heroinômana e, como tal, confusa. A versão inicial da morte, como contada acima e constatada por um legista (ataque cardíaco), é dela. Entretanto, dias depois a própria Pam passou a dizer que o namorado não estava morto e que no futuro voltaria para acabar de compor a ópera pop que deixara inacabada.
Outro ingrediente que viria adicionar dúvidas iniciais ao círculo de pessoas próximas ao cantor é que poucos viram seu cadáver. Bill Siddon, empresário dos Doors, voou para Paris, no dia 5 de julho, foi ao apartamento, encontrou o caixão lacrado e ficou satisfeito. Ao voltar para Los Angeles, o tecladista Ray Manzarek lhe perguntou se havia visto o corpo de Jim. A resposta negativa alimentou até o fim da vida as desconfianças do parceiro musical de Morrison, morto em maio último, aos 74 anos. Nos subterrâneos da iluminada cidade, a conversa era diferente. Jim havia mesmo morrido, mas no banheiro da boate Rock 'n' Roll Circus, na Rive Gauche, ponto de convergência entre viciados e traficantes de heroína. Segundo os amigos do cantor trata-se de "papo de junkie". Ao contrário de Pam, Morrison não cur¬tia a "brown sugar". A cineasta francesa Agnès Varda e a cantora britânica Marianne Faithfull foram duas das conhecidas chamadas por Pamela à Rua Beautreillis enquanto o cadáver de Jim ainda esfriava. A ex de Mick Jagger ficou abalada e viajou imediatamente para o Marrocos, onde espalhou a notícia. Varda, que adorava Jim e sua rima maldita, ficou e foi uma das sete pessoas presentes ao melancólico sepultamento do poeta, no cemité-rio Père Lachaise, em 7 de julho.
A vontade do artista, conforme havia expressado a um amigo pouco antes de morrer, foi respeitada. Jim Morrison é um dos ilustres norte-americanos que não voltaram para casa após sua incursão parisiense, como Isadora Duncan, Gertrude Stein, Stuart Merril e Richard Wright. Seu túmulo simples, próximo ao de Oscar Wilde e ao de Honoré de Balzac, é o recordista de visitações e depredações do Pére Lachaise. Mr. Mojo Risin, que este ano completaria 70 anos (8/12/1943), sucumbiu ao próprio descaso com a preservação física e mental, embora sua poesia revele que conhecesse suficientemente o ciclo da vida. Escreve ele em Os mitos e os ateus: "Nós vivemos, nós morremos e a morte nada cessa. Nós perseguimos nossa viagem dentro do pesadelo." Para além das lendas e mentiras que engendrou, e até por causa de¬las, a tola morte de Morrison é até hoje um mal assimilado contra-exemplo para os jovens que o amam, pois como ele cantava em Ligth my fire:o tempo de hesitar terminou.
O album de estreia dos Doors em 1967 trouxe a canção mais emblemática da banda: Light my fire. Vendeu mais de 12 milhões de cópias e é considerado pela Rolling Stone um dos 50 melhores álbuns do mundo. Mas não é ela que a gente confere agora não, é “L.A. Woman”, uma das minhas preferidas.
Muito bom! Direto ao ponto.
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