Rio de Janeiro, 20 e 21 de abril de 1990. Após esperar três décadas, os brasileiros respiram os ares da Beatlemania em seu país em meio ao caos político e econômico que dominava o governo do presidente Fernando Collor. O ano de 1990 tinha tudo para começar bem, até o Plano Collor deixar o brasileiro de bolso vazio. Sorte de quem guardava seu dinheiro em casa, debaixo do colchão, no porquinho cor-de-rosa em qualquer lugar, menos no banco. Em novembro de I989, a cinco meses do maior evento proporcionado por um artista pop no Brasil, os fãs já começariam a economizar para os shows de Paul McCartney, que anunciara, em entrevista coletiva dada à imprensa mundial, em Los Angeles, que faria duas apresentações no Brasil no ano seguinte. Os concertos ínéditos, mesmo sendo afetados pela economia, não chegaram a ser ofuscados pelo tremor social provocado pelo "efeito Collor", pelo contrário. O público presente nos dois shows, cerca de 300 mil pessoas, conseguiu matar a sede que já perdurava a pelo menos por duas gerações. A primeira, formada por famintos beatlemaníacos, não conseguiria mais concretizar o sonho de assistir aos Beatles, já que John Lennon havia sido assassinado em 1980, em Nova York. A segunda geração, composta por amantes da segunda banda de Paul McCartney, o Wings, também não teve a chance de presenciar o supergrupo ao vivo. Pelo menos, em ambos os casos, em solo verde-amarelo.
A saga de Paul no Rio de Janeiro - Diário da World Tour 1990 -
Por Cláudio D. Dirani - "Paul McCartney - Todos os segredos da carreira-solo"
30/11/1989 - O jornal Folha de São Paulo, em matéria assinada por Ana Mana Bahiana, publica em sua edição nacional a confirmação dos primeiros shows de um ex-beatle em território brasileiro. A notícia gera furor entre fãs e jornalistas, que anunciam a excursão de Paul McCartney ao Brasil na primeira página das principais revistas e jornais do País. O custo para trazer o beatle ao país (em 1989): US$ 4 milhões. Cerca de 25 patrocinadores bancaram o projeto.
I5/4/I990 - A empresa Mills-Niemeyer, responsável pela vinda de Paul McCartney ao Brasil, revela os segredos do "cardápio" exigido para ele e sua equipe, composta por 50 pessoas, entre banda e técnicos de som e luz. Café da manhã: 36 rosquinhas, tipo donuts, pão de centeio e feijão cozido da marca Heinz. Almoço e jantar: canelone com recheio de espinafre e nozes de pinho, pão de alho com salada de espinafre e abacate, fetuccini assado com espinafre, lasanha recheada com queijo de soja e cenoura, curry de legumes com tofu e molho de amendoim, arroz de amêndoas com sultana e espaguete ao molho de legumes e lentilhas.
16/4/1990 — O coordenador da turnê, Barry Marshall, garante em entrevista exclusiva à imprensa brasileira que os shows de Paul McCartney não darão lucro à organização da World Tour. Segundo o empresário, um dos principais motivos para o insucesso financeiro seria o Plano Collor, que desfalcou sensivelmente a economia brasileira. De qualquer modo, Marshall garante que os shows acontecerão, principalmente porque McCartney "quer cantar muito no Brasil". Até o momento, 110 mil ingressos, dos 360 disponíveis para os dois espetáculos no Maracanã, marcados para os dias 19 e 21, já foram vendidos. Os preços das entradas para ver Paul no Rio de Janeiro, já convertidos à nova moeda, o cruzeiro: arquibancadas (Cr$ 400,00), pista (Cr$ 700,00), cadeiras azuis (Cr$ 3.500,00) e cadeiras amarelas (Cr$ 6.000,00).
18/4/1990 — Paul McCartney pisa em solo brasileiro pela primeira vez na história, às 6hO5 da manhã, no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. McCartney e família (a mulher, Linda, e os filhos Heather, Mary, Stella e James) chegam no Vôo 811 daVarig, proveniente de Miami, Estados Unidos. Cerca de 60 pessoas que aguardavam a passagem de Paul pelo saguão do aeroporto foram frustradas pela organização do evento "Paul In Rio", quando o porta-voz da RioTur, Trajano Oliveira, anuncia a rápida partida do beatle rumo ao Rio Palace Hotel, em Copacabana. Segundo Oliveira, a família McCartney teria deixado o aeroporto a bordo de um helicóptero, após uma rápida operação armada para driblar a imprensa.
19/4/1990 - Após mais de 24 horas de chuvas torrenciais sobre o Rio de Janeiro, o primeiro show de McCartney é oficialmente adiado. Segundo o diretor técnico da Mills-Niemeyer, Francisco Dourado, a decisão foi tomada para não colocar em risco a parafernália técnica, caso ocorresse descargas elétricas sobre 0 palco. Geoff Baker, assessor de imprensa de Paul afirmou que ele "odeia cancelamentos", e que o espetáculo acontecerá amanhã (20), de qualquer maneira, já que McCartney tem compromissos inadiáveis na Inglaterra na próxima terça-feira, dia 23, quando dará toques finais na produção de seu próximo álbum ao vivo.
20/4/1990 – Mesmo ainda debaixo de chuva, Paul McCartney cumpre a promessa e toca 32 canções para mais de 100 mil pessoas no estádio do Maracanã, em um show de aproximadamente 2h15. Na área VIP do estádio estavam presentes as atrizes Maitê Proença, Cláudia Raia, Tereza Rachel e Pepita Rodrigues; os cantores Marcelo Frommer (Titãs), Erasmo Carlos e Léo Jaime, o presidente da Academia Brasileira de Letras Austregésilo de Athayde, Roberto Marinho, presidente das organizações Globo, o ativista político Fernando Gabeira, Zico e Tita, ex-jogadores do Flamengo e da Seleção Brasileira, entre outras personalidades.
21/4/I990 - Com o fim das chuvas sobre a capital carioca, o estádio Mário Filho é inundado por fãs vindos de toda a parte do Brasil e da América do Sul. O resultado não poderia ser diferente: recorde mundial de público em local fechado, quebrado e reconhecido pelo Guiness Book of The Records, com 184.368 pessoas tomando as dependências do Maracanã.
23/4/1990 - A Rede Globo transmite com exclusividade o especial "Paul In Rio", com as seguintes canções apresentadas no show do dia 20/4: “Cant Buy Me Love”, “My Brave Face”, “Let It Be”, “Live And Let Die”, “The Fool On The Hill”, “Get Back” e “P.S Love Me Do”. Os clipes promocionais de “We Got Married” e “Figure Of Eight” foram incluídos no programa.
Demais !!!
ResponderExcluirInesquecível. Texto mais que perfeito.E já faz tanto tempo mas consigo ainda respirar aqueles ares daqueles dias. A nota triste... a porcaria exibida pela GROBO!Imperdoável!
ResponderExcluirOtimo post Edu! Reconheci o texto quando comecei a ler... o Livro do Dirani... vive na minha cabeceira ultimamente. E cara! eu ia fazer 3 anos quando o Paul veio aqui a primeira vez! :)
ResponderExcluirCaramba Edu, lembro me como se fosse hoje,eu estava eufórico com á vinda do Paul,afinal era um ex Beatle,mas com certeza ele gostou do Brasil pois já voltou várias vezes,e esperemos que volte muito mais vezes.
ResponderExcluirNunca iremos nos esquecer
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