sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

THE BEATLES - GEORGE HARRISON - FOR YOU BLUE

Inicialmente, “For You Blue” era para se chamar “George’s Blues”. Depois ganhou um título provisório de “Because You’re Sweet And Lovely”. Uma canção de melodia simples, que os Beatles gravaram rapidamente (em 6 takes), sem maiores complicações – o que era raro, nas sessões de estúdio de “Let It Be”. Nos bastidores, nada era simples. Além das diferenças autorais e financeiras, havia as diferenças musicais. George sempre foi o Beatle mais disposto a desenvolver suas habilidades musicais, e foi assim que ele estabeleceu amizades próximas com músicos tão diferentes quanto Ravi Shankar e Eric Clapton. Isso também o levou a fazer experiências constantes com diferentes afinações, instrumentos e modos de tocar. Escrita para Pattie, “For You Blue” era um blues tradicional. O comentário de George sobre ela foi: “É uma música simples seguindo todos os princípios normais dos doze compassos, exceto por ser otimista!”. Curiosamente, apesar de a faixa receber o nome “For You Blue”, o título não é mencionado na letra.

BOB DYLAN - DON'T THINK TWICE, IT'S ALRIGHT


Embora tenha sido escrita um ano antes, "Don't Think Twice, lt's All Right" foi lançada em 1963, ano fundamental para a música pop, com Bob Dylan e os Beatles revolucionando tudo. Foi também um ano sofrido para Dylan, abandonado que fora por Suze Rotolo, sua musa e a mulher retratada caminhando abraçadinha com ele pela rua na capa de seu segundo álbum, The Freewheelin' Bob Dylan.

O casal se conhecera na primavera de 1961, depois que ela o viu se apresentando no clube Greenwich Village. Voltaram a se encontrar poucas semanas depois. "Desde o primeiro momento, eu não conseguia tirar os olhos dela", escreveu Dylan na sua autobiografia, Chronicles: "Ela era a coisa mais erótica que eu já tinha visto: pela clara, cabelos dourados, uma italiana puro-sangue. Mal começamos a conversar, e eu comecei a ficar zonzo. Ela fazia exatamente o meu tipo". Um conhecido deles os descreveu "como duas crianças inocentes se apaixonando"; porém, mais tarde em 1961, quando Dylan gravou seu primeiro álbum, Suze começou a perceber que ele estava prestes alcançar o sucesso e que a fidelidade irrestrita que ele demandava a impediria de ter vida própria. "Como sua namorada, senti isso com muita clareza, desapareci e me tornei uma nulidade. Mesmo que ele não me visse como tal, foi isso o que aconteceu. Foi um dilema". Susan Elizabeth Rotolo veio de uma família com fortes conexões esquerdistas; seus pais, filhos de imigrantes italianos, eram membros do Partido Comunista Americano, e ela se descrevia como "um bebé de fraldas vermelhas", filha de comunistas na Era McCarthy. Dylan reconheceu a influência de Suze ao relatar numa entrevista que "Suze já estava nessa de igualdade e liberdade muito antes de mim. Eu checava as canções com ela. Ela trabalhou como secretária no Congresso sobre Igualdade Racial e era vinculada a protestos contra a proibição de viagens a Cuba". Com ela, Dylan aprendeu muito sobre a situação dos direitos do cidadão e os problemas enfrentados pelos negros. A música folk e os movimentos pelos direitos do cidadão estavam muito interligados. Após seis meses vivendo com Dylan, Suze decidiu passar um tempo na Itália com a mãe e o padrasto (seu pai morrera quando ela tinha 14 anos) para estudar Arte na Universidade de Perugia. Dylan sentia sua falta e escrevia longas cartas, na esperança de que ela voltasse em breve para Nova York.

Depois de adiar sua volta várias vezes, ela por fim retornou, em janeiro de 1963. Os críticos associaram as canções de amor intenso do ábum Freewheelin', que expressavam saudade e perda, em particular "Don't Think Twice, lt's All Right", ao relacionamento de Dylan com Suze. "One Too Many Mornings" e "Tomorrow Is a Long Time" são também canções que tratavam de afastamento e perda enquanto Suze estava longe. Dylan foi à Inglaterra no final de 1962 e, em seguida, à Itália, sem saber que Suze já estava a caminho de Nova York. Quando Dylan voltou a Nova York em meados de janeiro de 1963, ele a convenceu a se mudar para seu apartamento na West Fourth Street. A foto da capa do álbum Freewheelin' foi tirada algumas semanas depois pelo fotógrafo Don Hunstein, da equipe da Columbia, na esquina da Jones Street com a West Fourth Street, em Greenwich Village, Nova York, a poucos metros do apartamento onde o casal morava. A influência de Bertolt Brecht nas composições e na interpretação de Dylan foi reconhecida como derivada da participação de Suze no teatro brechtiano. Ela o convidou para um ensaio de Brecht on Brecht, de George Tabori, na Sheridan Square Playhouse, e Dylan, em Chronides, descreve como ter assistido à apresentação de "Pirate Jenny", de Kurt Weill, provocou uma mudança fundamental na sua abordagem das composições. O interesse de Dylan por pintura também pode ser vinculado ao seu relacionamento com Suze Rotolo. No texto de capa de Freewheelin' Dylan comenta: "Não se trata de uma canção de amor. É uma declaração que você faz talvez no intuito de se sentir melhor. É como se você estivesse falando consigo mesmo". O biógrafo de Dylan, Howard Sounes, comentou: "A magnitude da canção estava na perspicácia da linguagem. A frase 'Don't think twice, it's ali right' poderia ser murmurada, cantada com resignação ou expressa com uma mistura ambígua de amargura e lamento. Raras vezes as emoções contraditórias de um amante frustrado são tão bem expressas, e a canção transcende as origens autobiográficas do sofrimento de Dylan". Em maio de 1963, Dylan se apresentou com Joan Baez no Monterey Folk Festival, ocasião em que ela subiu ao palco para cantar em dueto uma nova canção de Dylan, "With God on Our Side". Essa apresentação marcou o início do romance entre Baez e Dylan. Suze Rotolo distanciou-se de Dylan ao se mudar para Cuba em meados de 1964, rompendo o embargo a viagens de cidadãos americanos à Cuba não obstante a ilegalidade da ação. Em 1970, ela se casou com Enzo Bartoliocci, que havia conhecido durante sua estada em Perugia. Eles têm um filho, Lucas, hoje fabricante de guitarras em Nova York. Nas palavras do "dylanólogo" Michael Gray, "Nos anos subsequentes ao término do relacionamento com Dylan, Suze manteve o respeito por ele, valendo-se de um silêncio determinado e absoluta recusa a dar entrevistas". Contudo, a situação mudou em tempos mais recentes: em 2004 Suze deu entrevista para um documentário de TV produzido pelo Canal 13 do Public Broadcasting Service de Nova York e para o New York Daily News. Em novembro do mesmo ano, ela apareceu no Experience Music Project em um debate sobre os primórdios da atuação de Dylan em Greenwich Village. Suze também apareceu no filme de Martin Scorsese Bob Dylan: No Direction Home, um documentário sobre o início da carreira de Dylan no período de 1961 a 1966. O livro de Suze Rotolo, Freewheelin' Time: A Memoir of Greenwich Village ín the Sixties, foi publicado pela Broadway Books em 2008 e inclui relatos do seu tempo ao lado de Dylan.

BOB DYLAN tornou-se um dos maiores artistas americanos dos últimos 50 anos, atrelando sucesso comercial com sucesso de crítica, com sua música que permeia inúmeros gêneros. "Don't Think Twice, lt's Alright" está em seu segundo LP, The Freewheelin' Bob Dylan. Não foi lançada como single, mas o álbum, que incluía alguns de suas composições mais aclamadas, ficou em 1º lugar no Reino Unido. Dylan continuou a deixar a sua marca na música e na cultura americana; suas letras e melodias conseguiram desafiar o tempo, como comprovado em 2009, quando Together Through Life o colocou de volta pela quinta vez no topo das paradas. Ele guarda a reputação de ser um dos maiores cantores-compositores dos EUA; seus álbuns estão na lista dos maiores sucessos há mais de cinco décadas.

THE BEATLES - WITH LOVE, FROM ME TO YOU


"From Me To You", terceiro single dos Beatles, foi escrito em 28 de fevereiro de 1963, durante uma viagem de trem de York a Shrewsburry, na turnê de Helen Shapiro. Ela não sabe precisar em que momento da viagem a música foi escrita, mas lembra que os Beatles a tocavam para ela quando chegaram a Shrewsburry, onde se apresentariam num lugar chamado Granada Cinema. “Eles me pediram para ouvir duas músicas que tinham feito. Paul sentou ao piano, John ficou ao meu lado, e eles cantaram "From Me To You" e “Thank You Girl”. Disseram que já tinham uma idéia de qual era a favorita, mas não tinham tomado a decisão final, então queriam a minha opinião sobre qual seria o melhor “lado A”. Eu escolhi "From Me To You, e eles disseram: “Ótimo! Foi dessa que gostamos mais!

CONVIDADOS ESPECIAIS - SUPERGRASS - ALRIGHT

O Supergrass é uma banda inglesa com todas características e influências das velhas bandas inglesas que, aliás, é coisa rara hoje em dia. Power trio originário da cidade de Oxford, tem como centro pensante Gaz Coombes que, junto com o baterista Danny, iniciaram a história desta banda de pouca repercussão no Brasil, embora já tenham tocado por aqui. "The Jennifers" foi a primeira banda de Gaz e Danny que, junto com outros dois integrantes, chegaram inclusive a lançar um single chamado 'Just Got Back Today' em 1992. Já em 1993 a banda dividiu-se e foi chamado o baixista Mick para montar uma nova banda, inicialmente denominada 'Theodore Supergrass' e logo em seguida 'Supergrass'. É difícil negar que o single 'Alright' foi o ‘abre alas’ para a banda no cenário rockeiro nacional inglês e internacional. A música chamou a atenção e foi o principal destaque do primeiro disco intitulado 'I Should Coco'. O fato é que este disco é muito mais do que isso. É recheado de belas canções que lembram as boas bandas dos anos 60 sem perder a originalidade. Não falta peso, não falta melodia, não faltam belos acordes e não falta espírito rock and roll. Primeiro disco sempre é um caso à parte. Geralmente mostram as músicas de vários anos de estrada e garagem. No caso do Supergrass, elevou a banda a um status de quase estrela. Quase.
Excursionaram pela Europa, Estados Unidos e chegaram no Brasil para tocar no Hollywood Rock em 96. Fizeram dois shows de alto nível (Rio e São Paulo) acompanhados pelo tecladista Rob Coombes (irmão de Gaz) onde tiveram mais repercussão entre jornalistas e músicos do que entre o público. Tocaram numa noite denominada "alternativa" junto com Pato Fu e The Cure. Passada esta fase veio um período longe da mídia e de composição do segundo disco lançado em Abril de 1997, dois anos depois do lançamento do primeiro e denominado 'In it for the Money'. É fácil perceber a evolução nas composições. Mais trabalhadas, mais longas e com um refinamento instrumental maior. As guitarras em alguns momentos estão mais sujas e pesadas mas sem perder a melodia bonita que é uma das características principais do Supergrass. A responsabilidade do segundo disco foi superada com tranqüilidade e definitivamente colocou a banda no cenário das melhores bandas de rock dos anos 90. Por Daniel Peccini - http://whiplash.net/

OBITUÁRIO - BRUXA SOLTA EM JANEIRO DE 2014

Jay Traynor – 1958/2014
Jay Traynor, cantor original do Jay and the Americans, morreu no dia 2 de janeiro, aos 70 anos, na Flórida, vitimado por um câncer no fígado. No final da década de 50, o nova-iorquino Traynor fez parte do grupo de doo wop Mystics. Depois, foi um dos fundadores de um grupo vocal que foi renomeado Jay and the Americans pelos produtores Jerry Leiber e Mike Stoller. Traynor foi o vocalista principal do grande hit "She Cried". Os singles seguintes não fizeram sucesso e ele foi substituído por David Black, que mudou o nome para Jay Black e levou o Jay and the Americans a um novo patamar de sucesso. Pelo resto da década de 60, Traynor tentou seguir a carreira solo com pouco êxito. Na década de 70, seguiu trabalhando nos bastidores da indústria musical. Na década de 80, voltou a cantar e nos últimos anos fazia parte da versão reformada do grupo The Tokens.


Nelson Ned – 1947/2014
O cantor, que foi muito popular no Brasil e na América Latina na década de 1970 interpretando boleros e canções românticas, morreu em 5 de janeiro, em Cotia (SP), aos 66 anos, vitimado por complicações causadas por uma pneumonia. Em 2003, Ned sofreu um AVC e desde então sua saúde veio piorando progressivamente. Nasceu em Ubá (MG) e era conhecido pela baixa estatura - sofria de nanismo e tinha 1,12 m. Deixou sucessos como "Tudo Passará" e "Deus Abençoe as Crianças".


Márcio Antonucci – 1945/2014
Ao lado do irmão Ronaldo, Márcio Antonucci fez parte da dupla Os Vips, um dos principais nomes da jovem guarda, que estouraram com canções como "A Volta" e "Faça Alguma Coisa pelo Nosso Amor". Na dé¬cada de 70, Antonucci virou produtor e se tornou diretor musical da Rede Globo. Anos depois, ele desempenhou o mesmo cargo na TV Record. Tam¬bém foi o responsável por projetos discográficos como A Discoteca do Chacrinha e 30 Anos de Jovem Guar¬da. Morreu no dia 20 de janeiro, em Angra dos Reis (RJ), aos 68 anos, vitimado por uma pneumonia.


Roy Cicala – 1939/2014
O engenheiro e produtor norte-americano morreu em 22 de janeiro em São Paulo, onde estava radicado desde 2005. Ele tinha 74 anos e foi vítima de complicações decorrentes de câncer no fêmur. Cicala se notabilizou ao atuar no Record Plant, famoso estúdio de gravação de Nova York, onde trabalhou intimamente com John Lennon em todos os discos que o ex-beatle gravou na década de 1970. Também colaborou com Jimi Hendrix, Bruce Springsteen, Miles Davis e David Bowie, e também com artistas brasileiros, como Nasi e Lobão.


terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

HAPPY BIRTHDAY GEORGE HARRISON

“Yesterday, today was tomorrow, and tomorrow, today will be yesterday”. Hoje, 25 de fevereiro nosso querido George Harrison estaria completando 71 anos, apesar do próprio afirmar em seus últimos anos, que havia descoberto ter chegado ao mundo material no dia 24 de fevereiro. Sua trajetória foi interrompida em 29 de novembro de 2001, aos 58 anos, pelas sequelas de um câncer que começou na garganta, foi para o pulmão e por fim para o cérebro. Seu estado de saúde agravou-se depois de sua casa ser invadida por um idiota que o esfaqueou diversas vezes. O estudo das religiões e ensinamentos orientais o levaram a desenvolver o mais elevado sentimento que um ser humano pode ter, o amor universal. Um ser humano absolutamente iluminado que soube, como poucos, enfrentar seu destino com coragem e dignidade. Um exemplo para todos nós. Parabéns, amigo. Jamais esqueceremos. Podem passar mil anos! Hare Krishna!

Não deixe de conferir também:

GEORGE HARRISON - BLUE JAY WAY
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GEORGE HARRISON - MARTIN SCORSESE
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GEORGE HARRISON - BRAINWASHED COMPLETA 10 ANOS
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GEORGE HARRISON - THE PIRATE SONG
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A BIOGRAFIA ESPIRITUAL DE GEORGE HARRISON
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GEORGE HARRISON - WITHIN YOU WITHOUT YOU
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GEORGE HARRISON - BLOW AWAY
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THE BEATLES - GEORGE HARRISON - I ME MINE
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GEORGE HARRISON - I'D HAVE YOU ANYTIME
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O CASAMENTO DE GEORGE HARRISON & PATTI BOYD
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GEORGE HARRISON - GIVE ME LOVE
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WHILE MY GUITAR GENTLY WEEPS – 2013
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GEORGE HARRISON - ISN'T IT A PITY
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GEORGE HARRISON - GEORGE HARRISON 1979
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GARY TILLERY - A BIOGRAFIA ESPIRITUAL DE GEORGE HARRISON

Especialmente em homenagem ao 71º aniversário de George, a gente confere novamente a postagem sobre o livro de Gary Tillery, publicada originalmente em 24 de dezembro de 2012.
Bem, não é assim nenhuma Brastemp - até mesmo pelo tamanho (200 páginas) - mas é bem legalzinho o livro de Gary Tillery "A Biografia Espiritual de George Harrison". O autor separou a obra em quatro capítulos: "Vivendo no mundo material", "A formação de um místico", "Levando a palavra para o mundo" e "A luz interior". Gary Tillery faz um passeio por Liverpool e a infância de Harrison, a entrada para os futuros Beatles, as turnês para Hamburgo, o sucesso, a Beatlemania, as experiências com as drogas - especialmente o LSD, que teve papel fundamental na descoberta espiritual de George, a importância do Maharishi e a viagem à Índia, a amizade de Ravi Shankar, a separação dos Beatles, o sucesso do álbum All Things Must Pass, o concerto por Bangladesh, a separação (traumática) de Patty Boyd, o uso indiscriminado de álcool e cocaína, a fracassada turnê de 1974, o processo de plágio, o fracasso dos álbuns em meados dos 70, a criação da Dark Horse, o aparecimento de Olivia Arias, a morte de John Lennon, a redenção com o sucesso de Cloud Nine e os Traveling Wilburys, a excursão ao Japão com Eric Clapton, a vida como jardineiro e finalmente, a terrível batalha contra o câncer. Todos esses assuntos sempre entrelaçados com a relação espiritual de Harrison com o Hinduísmo. Só que de forma rápida demais. Foi muito bacana ler o livro de Tillery, até mesmo porque, em todos esses anos de Beatlemania, foi a 1ª biografia de George Harrison lançada no Brasil que tomei conhecimento. Se estiver errado, alguém me corrija. Parabéns ao autor e à Madras Editora pelo lançamento. O preço também é bem legal: 30 pilas. Para terminar com chave de ouro, um verdadeiro presente de Papai Noel: a gente confere aqui e agora com absoluta exclusividade do nosso blog preferido, o "Epílogo" completo, na íntegra. Valeu, abração a todos. Hare Krishna!

George Harrison uma vez escreveu: "Um por um, somos despertados pelo som da flauta de Krishna. Sua flauta funciona de diversas formas". Apesar de seu próprio despertar ter acontecido por intermédio de químicos psicoativos, ele era bem ciente de que a maioria das pessoas ia por caminhos mais tradicionais. O modo como a pessoa atinge o objetivo - yoga, meditação, cânticos, um guru inspirador - é imaterial. O objetivo é despertar, e o gentil estímulo de George aos que ainda dormiam corre por suas músicas como uma corrente submarina desde o momento em que despertou, no meio dos anos 1960, até seu último e póstumo álbum, em 2002. 'Você é um deles?", ele pergunta ao final de "Within You Without You", significando os que se escondem atrás de uma parede de ilusões até que seja tarde demais. Um ano depois, ao som de uma guitarra pesarosa, ele tristemente observa: "Eu olho para todos vocês, vejo o amor que está aí e está dormindo". Em "Beware of Darkness", ele alerta o ouvinte sobre a maya sem esperança e triste: "Não é para isso que você está aqui". Em "Awaiting on You All", diz sem hesitar: "O Senhor está esperando que todos despertem e vejam". Referindo-se a si mesmo e ao que ele espera alcançar em "Living in the Material World", canta: "Tenho muito trabalho a fazer / Tentando passar uma mensagem adiante". Em "Unconsciousness Rules", Harrison compara a vida sem iluminação à indiferença de uma pista de dança, e comenta: "Seus sentidos descontentes levam-no junto na viagem, você está vivendo dia após dia onde o inconsciente comanda". Semanas antes de morrer, gravou "Horse to the Water". Sua letra fala de três indivíduos conturbados que ele tenta iluminar. O primeiro prefere se voltar às drogas (ou talvez suicídio -"ele desligou seu sistema nervoso"). O segundo sofredor opta pelo esquecimento no uísque. O terceiro, um pregador, interessa-se mais por condenar "os maus da fornicação" do que despertar para encontrar Deus em si mesmo. Entristecia Harrison o fato de poucas pessoas entenderem a verdade que ele havia visto tão claramente - que estamos aqui para queimar nosso carma passado, tornarmo-nos cientes de nossa divindade e nos libertarmos do eterno retorno. Poucos percebiam como estavam desper¬diçando sua preciosa oportunidade. Como um bebê em um berço, en¬cantado pelos brinquedos brilhantes e giratórios ao alcance de sua mão, as pessoas continuam muito distraídas pelo que percebem por meio de seus cinco sentidos; não dirigem o olhar para dentro, não exploram o que é interno; continuam sucumbindo aos atrativos do mundo material, hipnotizados pelas alegrias, tragédias, prazeres e medos. George ainda tentava dizer isso em seu último álbum, Brainwashed, lançado um ano após sua morte por meio dos esforços conjuntos de Dhani e Jeff Lynne. A confiante primeira faixa, "Any Road", fala de "viajar aqui, viajar ali". Sim, ele está dizendo que a maioria de nós passa a vida vagando sem rumo e "se você não sabe para onde está indo qualquer caminho o levará até lá. Mas, quando você decide que já teve o bastante e sabe para onde está indo, precisa entrar no caminho certo". Então tome nota, ele dá a dica: "o caminho para sair está dentro". A faixa título do álbum, "Brainwashed", relembra Dylan, cita diversos modos pelos quais as pessoas passam por uma lavagem cerebral nos dias de hoje, em um estilo similar a "Everybody Must Get Stoned"e "Gotta Serve Somebody". Nos tempos de juventude, "sofremos a lavagem por nossos líderes", "nossos professores" e "nossa escola". Sofremos a lavagem constantemente, diz George, por computadores, celulares, militares e ("enquanto você está preso no trânsito") a mídia. Por frustração, e, na esperança de despertar o ouvinte, ele interrompe várias vezes a lista com "Deus Deus Deus, guie-nos por essa confusão." Dhani, que teve um papel indispensável no término do álbum, possui um apego especial a essa música: "Eu simplesmente amo muito 'Brainwashed' porque é a música mais realista de todas. É verdade - todos estão sofrendo lavagens cerebrais por essas mensagens, por acatar muito do que nos é dito, e vivemos conformados". Até o final da vida, George estava dizendo: Acorde! É irônico que, uma década após sua morte, o impacto de George Harrison no mundo seja fácil de reconhecer - irônico porque a evidên¬cia está ao redor. Praticamente toda cidade e município no mundo oci¬dental tem escolas de yoga disponíveis. O mesmo pode ser dito sobre a meditação. E espalhados pela América cristã estão mais de 250 templos hindus, muitos nas áreas centrais - Idaho, Nebraska, Alabama, Texas —, e não apenas em lugares previsíveis como Califórnia e Nova York. Sem querer minimizar a contribuição de Vivekananda, Yogananda, Maharishi, Prabhupada e outros como eles, sejamos honestos: o sucesso que obtiveram seria tão global sem o tremendo empurrão dado aos seus esforços pela influência dos Beatles? Yogananda, por exemplo, passou mais de 30 anos no Ocidente, e o Maharishi uma década, antes que os Beatles abruptamente trouxessem a espiritualidade indiana para a percepção cotidiana. E, dos quatro, Harrison liderava o caminho espiritualmente. Foi o primeiro Beatle a abraçar a entoação de cantos e meditação, a primeiro a ler Autobiography of a Yogi e insistir que os outros a lessem, o primeiro a ficar intrigado pelo Maharishi, e o primeiro a se comprometer com a ida a Rishikesh com o guru - inspirando John e os outros. ("George está alguns centímetros à frente de nós", John admitiu durante a visita ao retiro do Maharishi.) Como resultado da busca espiritual de George, elementos da cultura oriental, que provavelmente continuariam sendo distrações exóticas nas grandes cidades, tornaram-se, com o bem noticiado envolvimento dos Beatles, primeiro "alternativos" e depois aceitáveis para as grandes massas. Ainda mais: quando Harrison estava alcançando a fama, as únicas músicas "estrangeiras" ouvidas em rádios inglesas e americanas consistiam em hits inovadores, como "Sukiyaki" e "Nel blu dipinto di blu". Atualmente, a categoria world music está presente em qualquer lugar em que música seja vendida. Sem dúvida, muito desse sucesso foi consequência do aumento de satélites de comunicação e a internet, mas é indiscutível que o processo tenha sido acelerado pela influência cultural dos Beatles. E George era o Beatle que mais uma vez liderou o caminho para os outros três. Foi ele quem ficou cativado pela música da índia, quem fez Ravi Shankar ficar famoso, além de ser o responsável por levar o mantra Hare Krishna ao top 20 na Inglaterra, tornando-o popular ao redor do Ocidente. Harrison abriu a porta que levou à descoberta e apreciação, por milhões de pessoas, do reggae, o som de "distrito" sul-africano, salsa, e outras músicas ao redor do mundo. Por que é tão fácil não enxergar o legado de Harrison? A razão mais óbvia é que ele chegou à fama sob a sombra de duas personalidades incrivelmente talentosas e muito mais extrovertidas. John Lennon, com seus demônios da infância, sua criatividade prodigiosa e sua esperteza em explorar sua fama sem precedentes para avançar as causas em que acreditava, demarcou um espaço na história de sua era. Paul McCartney quase se igualava a ele. Um gênio da música e showman natural, Paul havia se tornado o compositor mais bem-sucedido da história e uma força de muitas facetas na música moderna - criando tudo, desde músicas de rock 'n' roll, baladas e trilhas sonoras a trabalhos sinfônicos, música de câmara, dois oratórios e um bale. Comparado a John e Paul, George foi sempre o "Beatle Quieto". De tempos em tempos ele se tornava o centro das atenções — por exem¬plo, com a chegada relâmpago nas listas de All Things Must Pass e "My Sweet Lord", ou quando produziu o Concerto para Bangladesh, ou retornou à atenção do público com Cloud Nine ou os Traveling Wilburys. Mas ele, como o gato de Alice no País das Maravilhas, inevitavelmente iria desaparecer. Suas motivações para fazer o que fazia eram sempre um enigma para qualquer fã. Ele lembrava um criptograma. As pessoas achavam difícil conciliar que alguém tão "normal" pudesse ser associado a assuntos tão estranhos. John era facilmente categorizado como o artista louco; talvez as pessoas não entendessem por que ele era tão dedicado a destruir a imagem benéfica criada enquanto era um Beatle, mas eles conseguiam categorizá-lo. Paul era o extrovertido afável, sempre o centro das atenções e perfeitamente confortável com isso. Mas George ficou com a imagem de homem modesto e despretensioso, alguém da classe trabalhadora, alguém que aparecia de vez em quando nos eventos de Fórmula 1, mas passava a impressão de que preferia estar em casa cuidando do jardim. George era como Ringo, um bom camarada. E mesmo assim ele não se encaixava nessa imagem. Um artigo ou entrevista ocasional revelaria alguma nova informação estranha - a doação de uma propriedade para um templo hindu no Reino Unido, uma peregrinação a uma obscura cidade chamada Vrindavan, uma reunião com o Maharishi e o apoio aos seus esforços políticos. George era como uma nuvem misteriosa, vagando em direções inesperadas. Apesar de ser um criptograma, George sempre será lembrado pelas duas vertentes do legado - sua música notável e sua profunda espiritualidade. Suas músicas são tão evocativas para nós agora quanto o eram na época em que as escreveu e as gravou. Uma vez que o fluxo e refluxo sedutor do ritmo da guitarra que abre "My Sweet Lord" prende sua atenção, focar em qualquer outra coisa exige um esforço gigantesco. Quem consegue ouvir "While My Guitar Gently Weeps" e não se afundar em um estado melancólico de consciência? Quem consegue ouvir a delicada "Here Comes the Sun" ou a vibrante "Heading for the Light" e não ter seus espíritos elevados? "Something" é a música romântica mais sensível já gravada, considerada um clássico instantâneo por ninguém menos do que Frank Sinatra. E a magistral "All Things Must Pass" (que pede para ser cantada por um coral de centenas de pessoas no mesmo programa com "Shenandoah") deixa até o ouvinte mais superficial contemplativo. Além de suas conquistas como artista, George é lembrado como um homem espiritual. Diferentemente de John Lennon, que compartilhou de sua primeira viagem abridora de mente com LSD, em 1965, Harrison acreditava inequivocadamente em um Deus pessoal. Lennon usava livremente a palavra "Deus" em conversas, mas para ele era apenas uma expressão para uma força de fundo natural e universal. Lennon pensava em Deus como uma reserva infinita de energia, como uma estação de energia que poderia ser usada para o bem ou para o mal. Harrison, ao contrário, gostava de contemplar Deus em sua forma humana como Krishna. Às vezes ele o imaginava adulto, como um guru ou mestre, mas na maior parte do tempo ele gostava de imaginá-lo como o descrevem na índia - um bebê ou Govinda, o pastorzinho. George gostava de ter a opção de se relacionar com Deus em diferentes situações, como professor, um amigo ou uma criança que evocava seus instintos protetores. O que parecia ser pouco conhecido fora do círculo de amigos religiosos de Harrison era sua veneração tanto por Jesus como por Krishna. De acordo com Deepak Chopra, amigo de George por 15 anos, ele não só era um leitor ávido da literatura hindu como também gostava de mergulhar em livros que apresentavam uma visão alternativa do Cristianismo. Segundo Chopra, Harrison era fascinado por textos como os evangelhos gnósticos e o Evangelho de Tomé, e tinha o costume de fechar cartas para seus amigos com um símbolo hindu e uma cruz cristã. Provavelmente inspirado por Yogananda, que repetidamente dis¬cute "consciência de Cristo" em sua autobiografia, Harrison via Jesus como uma encarnação de Deus que merecia reverência. O pobre carpinteiro da Galileia havia compreendido o grande segredo, queimou seu carma e manifestou a divindade dentro de si. E ele não foi o único a fazê-lo ao longo dos tempos. Rama e Buda, por exemplo, também atingiram esse objetivo. Como poderia fazer, presumidamente, qualquer um de nós. Em uma carta para sua mãe em 1967, Harrison escreveu: "Eu quero ser autorrealizado. Eu quero encontrar Deus. Não estou interessado em coisas materiais, esse mundo, a fama. Estou partindo para o objetivo real". Quatro anos depois, no começo de 1971, com All Things Must Pass e "My Sweet Lord" no topo das listas, George foi questionado sobre suas futuras ambições. "Eu quero ser consciente de Deus", ele respondeu. "Essa é realmente minha única ambição e todo o resto na vida é incidental." Quantos de seus companheiros do rock teriam falado tal objetivo de vida publicamente? Em busca desse objetivo, Harrison considerou vantajoso seguir um caminho não comumente seguido no Ocidente - o caminho do misticismo. Enquanto estava em sua turnê de 1974 pelos Estados Unidos, ele disse a um entrevistador: "A mim parece que a filosofia ocidental é bem preconceituosa, pois olha para o misticismo como 'qualquer coisa' mágica, sabe? Mas depois de tudo que os maiores filósofos ocidentais falaram, para mim tudo se resume ao fato de que ainda não alcançaram o que o povo oriental conseguiu". Para Harrison, os pensadores do Ocidente, com seus argumentos cuidadosamente racionalizados, não conseguiam achar o que era rele¬vante. Seus cérebros de mamífero altamente desenvolvidos os guiavam cada vez mais longe por um caminho enganoso da mesma forma que o dele guiava, até o dia em que uma dose de LSD o impulsionou para fora da camisa de força sensorial. Daquele ponto em diante, ele com¬preendeu a natureza ilusória do mundo cotidiano ao seu redor e passou a entender que tudo está inter-relacionado. Assim que começou a meditar regularmente e entoar cantos, che¬gou à conclusão de que ele não era a presença física que via no espelho — aquele que o mundo conhecia como George Harrison. Ele era o "eu" que habitava aquele homem, o "eu" que poderia dar um passo para trás e observar os problemas, esperanças, forças, fragilidades, doenças, de¬sejos e até pensamentos. Depois que conheceu Ravi Shankar e seguiu seu conselho, Harrison começou a estudar o que os sábios da antiga Índia tinham a dizer sobre o assunto. Aqueles homens sagrados afirmavam que, permeando esse abundante oceano de energia que chamamos de Universo - e acessível para a mente treinada -, estava a Deidade Suprema, fonte de todo o conhecimento. Deus permeia o grande oceano de energia, e a alma individual é como uma gota desse oceano. Então, o "eu" que para e observa é, mais precisamente, uma pequenina parte do "nós". Assim como uma gota do oceano contém as mesmas qualidades do oceano todo, cada pessoa possui as mesmas qualidades de Deus. Todo mundo, portanto, tem a potencialidade para manifestar a divindade. De fato, fazer isso é o objetivo de cada um. Pode levar muitas encarnações para uma pessoa se tornar ciente desse objetivo, e muitas mais para atingi-lo. Harrison acreditava que as verdades antigas e esotéricas deveriam ser espalhadas pelo planeta. Tal convicção ficava por trás de sua música, assim como seu apoio à Sociedade da Autorrealização, de Yogananda, e à Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna - como também ocorrera com seu apoio ao Movimento Regeneração Espiritual, do Maharishi. Ele acreditava que uma onda crescente de pessoas ao redor do mundo iria descobrir e se beneficiar do misticismo oriental. Imaginava milhões de pessoas despertando do encanto de maya e agarrando a realidade que estava logo abaixo da superfície. Resumindo, ele queria ajudar as pessoas a alcançarem o objetivo que ele tinha estabelecido para si mesmo aos 20 anos - tornar-se autorrealizado e consciente de Deus. E ele sabia onde poderiam encontrar o começo do caminho que levava ao objetivo, assim como ele encontrou. "Todos possuem dentro de si uma gota desse oceano", ele disse uma vez, "e nós temos as mesmas qualidades de Deus, assim como uma gota do oceano tem as mesmas qualidades que o mar inteiro. Todos estão procurando por algo lá fora, mas está tudo bem dentro de nós mesmos".

RINGO STARR - STARR STRUCK



Starr Struck é uma compilação que reuniu os melhores faixas de álbuns menos bem sucedidos de Ringo Starr lançados originalmente entre 1976 e 1983. "A Dose of Rock 'N' Roll" e "Wrack My Brain" foram Top 40 de singles, e este álbum continha músicas especialmente escritas por seus colegas ex-Beatles. O álbum também marcou o primeiro lançamento nos EUA de quatro músicas de 1983 do álbum Old Wave de Ringo. O resultado foi um bom substituto para cinco álbuns de Ringo que estavam fora de catálogo. 
Faixas: 01- Wrack My Brain (George Harrison / Ringo Starr); 02- In My Car (Joe Walsh); 03- Cookin' - In the Kitchen of Love (John Lennon); 04- I Keep Forgettin' (Jerry Leiber / Mike Stoller); 05- Hard Times (Peter Skellern); 06- Hey! Baby (Bruce Channel / Margaret Cobb); 07- Attention (Paul McCartney / Ringo Starr); 08- A Dose of Rock & Roll (Carl Groszman); 09- Who Needs a Heart (Vini Poncia / Ringo Starr); 10- Private Property (Paul McCartney); 11- Can She Do It Like She Dances (S. Duboff / G.Robinson); 12- Heart on My Sleeve (Benny Gallagher / Graham Lyle); 13- Sure to Fall - In Love With You (Carl Perkins); 14- Hopeless (Ringo Starr / Joe Walsh); 15- You Belong to Me (P. W. King / C. Price / R. Stewart; 16- She's About a Mover (Doug Sahm)

sábado, 22 de fevereiro de 2014

BURT BACHARACH - Por JOÃO CARLOS DE MENDONÇA


Quem viveu aqueles fantásticos anos sabe do que estou falando. O pianista e compositor BURT BACHARACH foi o maior e melhor criador das melhores músicas “açucaradas” da história da música pop. Sempre foi aquele típico músico americano de canções tolas de amor que atravessou quase duas décadas (e ainda está na ativa) produzindo sucessos que concorriam com todos os movimentos musicais surgidos naquele período citado. Enquanto a Bossa Nova conquistava o mundo, o império britânico revolvia o rock com o beat, o psicodelismo, o rock progressivo, o glitter e o punk, a era dos festivais (Woodstock, Ilha de Wight, Monterrey Pop) bombava, e o blues elétrico e o jazz fusion americanos ditavam tendências...sempre havia alguma música dele nas paradas internacionais, correndo por fora. Um fenômeno. De repente, grandes nomes da “soul music” e até do “rock” registrariam suas criações, sem contar que seus vários temas tinham lugares cativos no repertório vetusto dos grandes nomes do jazz. Trilhas para filmes então, são incontáveis. A titulo ilustrativo, devo lembrar que lançou um álbum inteiro em parceria com ELVIS COSTELLO chamado “Painted From Memory”.

Nascido em 1928 em Kansas City (Missouri), começou a carreira como pianista e arranjador de MARLENE DIETRICH até conhecer seu principal letrista, “HAL DAVID” (co-responsável por suas mais significativas canções), mas também escreveu com outros diversos parceiros. Seria impossível listar quem gravou ou regravou suas músicas, embora sua mais efetiva intérprete tenha sido DIONNE WARWICK, também CARPENTERS, ARETHA FRANKLIN, STAN GETZ, WEST MONTGOMERY e a banda inglesa MANFRED MANN o interpretaram desde o início dos anos 60. Bem recentemente, várias bandas e cantores contemporâneos participaram de um disco tributo em sua homenagem. Para o cinema, sua canção RAINDROPS KEEP FALLING ON MY HEAD (com BJ Thomas) é parte inseparável da magia do filme “Butch Cassidy and Sundance Kid” e sua trilha sonora para HORIZONTE PERDIDO é antológica, com destaques para as singelas canções “LIVING TOGETHER, GROWING TOGETHER” e “THE WORLD IS A CIRCLE”. Sem contar as que foram utilizadas em diversas outras produções de Hollywood. E não é que logo em seu 1º disco, pode-se ouvir um Lennon totalmente convicto cantando com os Beatles “BABY IT’S YOU”, escrita por... Dá prá alguém contar o número exato de regravações de “WALK ON BY”? Talvez você não identifique pelo nome nenhuma dessas canções, mas experimente ouvir “(They Long To Be) CLOSE TO YOU”, “LOVE THEME FROM ARTHUR”, “THE LOOK OF LOVE”, “ALFIE”, “THIS GUY’S IN LOVE WITH YOU”, “CASSINO ROYALE”, “I JUST DON’T KNOW WHAT TO DO WITH MYSELF”, “SAY A LITTLE PRAYER”, “WHAT THE WORLD NEEDS NOW”, “PROMISES PROMISES” e “I’LL NEVER FALLING IN LOVE AGAIN”. Apenas 10% do material que tenho às vistas. Entre os intérpretes estão Duke Ellington, Nina Simone, Isaac Hayes, Stevie Wonder, Chrissie Hynde, Sinatra, Sérgio Mendes, Neil Diamond e Seal. É pouco? BURT não é tão açúcar assim! Mas um café com Suita. E eu tomo, eu tomo, eu tomo...

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

GEOFF EMERICK - MINHA VIDA GRAVANDO OS BEATLES

Às vezes, quase sempre, fico pensando no quanto nós – fãs dos Beatles de verdade, somos privilegiados, quase abençoados e recompensados pelo tamanho do nosso amor. Qual outra banda ou artista na história da música pode ser um assunto tão inesgotável quanto os Beatles, mais de 50 anos seguidos? Nenhum. Todos os anos, principalmente perto do natal, livrarias e lojas de discos se enchem de produtos Beatles. São CDs, DVDs e... livros! Cada um mais legal do que o outro e de autores tão distintos. Um é fotógrafo, outro é jornalista, outro é engenheiro de som, outro é apenas escritor e pesquisador incansável. Ok, custa uma grana estar sempre atualizado com a maior e melhor banda de todos os tempos, mas é um sacrifício muito prazeroso e gratificante. O retorno é imediato.

Finalmente, depois de quase dois meses e tantas interrupções, consegui terminar de ler o livrão “Here, There And Everywhere – Minha Vida Gravando os Beatles”, com as memórias do homem que foi trabalhar no complexo dos estúdios da EMI (ainda não se chamava Abbey Road) ainda menino e participou, praticamente de todas as sessões de gravação que os Beatles fizeram lá. Geoff Emerick começou a trabalhar no estúdio localizado em Abbey Road em 1962, com apenas 16 anos como engenheiro assistente e foi promovido a engenheiro de som em 1966, saindo apenas para tentar reconstruir, em 1969, o natimorto estúdio dos Beatles na Apple. Depois do fim da banda, continuou a trabalhar com Paul McCartney, além de vários outros artistas. Ele dividiu sua obra em 17 capítulos por ordem cronológica:
1- Tesouro escondido; 2- Abbey Road; 3- Conhecendo os Beatles; 4- Primeiras sessões; 5- Beatlemania; 6- A noite de um dia duro; 7- Inovação e invenção – o making of do Revolver; 8- Começa Sgt. Peppers; 9- Uma obra-prima toma forma – o conceito do Pepper; 10- All You Need Is Love, Magical Mystery e Yellow Submarine; 11- O making of do Álbum Branco – o dia que eu pedi demissão; 12- A calmaria depois da tempestade; 13- Uma bigorna, uma cama e três pistoleiros – o making of do Abbey Road; 14- O passeio final pela Abbey Road; 15- Os anos na Apple; 16- Esgotos, lagartos e monções – o making of de Band On The Run; 17- A vida após os Beatles. O epílogo é assinado por Elvis Costello, com quem Emerick gravou e produziu vários álbuns.

Geoff Emerick conta, às vezes (muitas) com riqueza de detalhes, tudo o que ele viu, sentiu e principamente, ouviu diretamente vindo da fonte, as maiores músicas dos maiores compositores do sécuo XX, muitas vezes criadas na frente dos seus olhos e ouvidos tão apurados. Emerick conta toda a história da sua vida e como consseguiu, ainda moleque, um emprego no maior e melhor estúdio de Londres. Meses depois, conheceria os Beatles e esteve com eles desde o começo até o final. 
Detalhes preciosos de seus melhores trabalhos – "Tomorrow Never Knows", "Sgt. Pepper’s" e "Abbey Road". Depois de terminar o livro, a gente compreende claramente porquê qualquer álbum dos Beatles, tem uma sonoridade e uma qualidade incrivelmente absurdas, se comparados com qualquer outro artista ou banda contemporâneo a eles. Presley, Dylan e os Rolling Stones, perdem feio, de longe! Todo o time técnico dos estúdio do clomplexo EMI (só passou a ser Abbey Road depois do álbum), capitaneados por George Martin, faziam muita diferença. Eles eram o que de melhor havia em Londres e os Beatles sabiam disso melhor do que ninguém. Geoff Emerick tornou-se peça fundamental para o som que os Beatles queriam, e sabiam que só ele poderia conseguir. “Quero que minha voz pareça a do Dalai Lama falando alto de uma colina”, “Meu baixo está abafado”, “Dá para melhorar o som da bateria de Ringo?”. Dava, tinha que dar. Algumas passagens são realmente divertidas como uma noite, durante as remixagens de Let It Be. Um Phil Spector completamente louco e fora de sí, gritava e gesticulava para todos: “Quero mais eco!!!”, “Quero mais reverb!”. Ringo era o único Beatle presente naquela sessão e em certo momento pegou o produtor (que estava armado) pelo braço e o levou para uma conversinha particular no corredor. Quando voltaram, Spector estava mais calmo e só assim o trabalho pôde continuar. Em outro trecho, conta a forma como John Lennon gostava de atormentar a vida de Brian – o empresário. Ainda no início da Beatlemania, foi anunciado que os Beatles seriam a principal atração do Royal Variety Show, que aconteceria em uma semana, um concerto beneficente para a aristocracia inglesa. Foi quando, para desespero de Brian, Lennon sapecou: “Vou mandar todos chacoalharem as malditas porras das jóias”. Incentivado por Paul, que dizia “duvido! Você não tem coragem”, Lennon não voltaria atrás. Brian praticamente implorou para que ele não dissesse aquilo. Mas ele disse, mesmo que, na hora H, tenha deixado de fora os palavrões. Outro trecho bem legal é quando os Beatles voltam da Índia e se encontram no estúdio novamente para trabalhar no que seria o álbum Branco. Para Emerick, já havia uma energia negativa ali. Para ele, foi ali que realmente houve uma rachadura. Uma ruptura que jamais poderia ser consertada ou emendada como uma fita magnética. Lennon e Harrison, deliberadamente, aumentavam o volume de suas guitarras ao máximo numa possível intenção de sufocar o baixo de Paul. E foi durante essas primeiras sessões que os Beatles, pela 1ª vez, quase trocaram sopapos no estúdio. A gravação de Ob La Di – Ob La Da, se arrastou por dias-sem-fim para desespero de Lennon e Harrison. Era a resposta de Paul. Mais na frente, quando estavam na sala de controle finalizando “I Want You (She’s so heavy), pertinho do final, Lennon decretou: “corte a fita aqui!”. Todos se entreolharam se questionando como aquilo era um absurdo. Mas não havia como discutir. 

Selecionei aqui para a gente, uma parte muito bacana sobre uma das últimas sessões de gravação do Abbey Road. Todos estavam trabalhando no processo de finalização de “The End”. Vamos conferir?

“Passamos os próximos dias fazendo overdubs e dando os toques finais em algumas canções. O foco foi rapidamente deslocado para a canção intitulada "The end", que pensávamos ser a que fecharia o álbum, por isso era muito importante. Havia uns poucos compassos vazios para serem preenchidos com o solo de bateria de Ringo — Paul tinha dito "vamos pensar em alguma coisa mais tarde", da mesma forma que havia feito com a parte do meio de "A day in the life"— e houve uma longa discussão sobre o que adicionar para completá-la. "Bem, um solo de guitarra é a coisa óbvia", disse George Harrison. "Sim, mas dessa vez você deve me deixar tocar", disse John, meio que brincando. Ele gostava de tocar guitarra solo durante os ensaios, mas sabia que não tinha o requinte de George ou Paul, então ele raramente o fazia na gravação. Todos riram, inclusive John, mas pudemos ver que ele estava falando muito sério. "Já sei!", ele disse, maliciosamente, sem vontade de encerrar o assunto. "Por que não tocamos todos o solo? Podemos revezar e trocar pequenos fraseados. Solos longos de guitarra com "duelos" de guitarristas estavam se tornando moda na época, por isso foi uma sugestão que claramente tinha mérito. George não estava confiante, mas Paul não só abraçou a ideia, como também foi ainda mais longe:"Melhor ainda", disse ele,"por que nós três não tocamos ao vivo?". Lennon adorou a ideia; pela primeira vez em semanas, vi um brilho real nos seus olhos. Não demorou muito para o entusiasmo de John passar para George, que finalmente entrou no clima. Mal Evans foi imediatamente enviado para o estúdio para configurar os amplificadores de guitarra, enquanto os três Beatles ficaram na sala de controle, ouvindo a base e pensando sobre o que eles iriam tocar. Paul anunciou que queria fazer o primeiro solo, e uma vez que a canção era sua, os outros aceitaram. Sempre competitivo, John disse que teve uma grande ideia para o fim, por isso ele viria por último. Como sempre, o pobre George Harrison foi ofuscado por seus dois companheiros de banda e ficou no meio. Yoko, como de costume, estava sentada ao lado de John na sala de controle enquanto eles estavam tendo essa discussão, mas, quando Lennon se levantou para sair para o estúdio, ele se virou para ela e disse suavemente: "Epere aqui, amor, não vai levar mais de um minuto". Ela pareceu ter ficado um pouco chocada e magoada, mas ela fez o que ele pediu, sentando-se próxima à janela da sala de controle assistindo ao restante da sessão. Foi quase como se John soubesse que ela iria estragar a atmosfera se estivesse no estúdio com eles. Algo disse a John que, para fazer aquilo funcionar, ele deveria estar apenas com Paul e George, e que seria melhor que Yoko não estivesse ao lado dele naquele momento. Talvez fosse esse o motivo, ou talvez porque em algum nível subconsciente eles decidiram suspender seus egos em prol da música, mas durante o período de aproximadamente de uma hora que eles levaram para gravar aqueles solos, toda a hostilidade, toda a disputa, tudo de ruim que havia entre os três antigos amigos foi esquecido. John, Paul e George pareciam ter voltado no tempo, como se fossem crianças de novo, tocando pelo simples prazer de tocar. Mais do que tudo, eles me lembraram de pistoleiros, com suas guitarras a tiracolo e olhares de aço, determinados a superar um ao outro. No entanto, não havia nenhuma animosidade, não havia nenhuma tensão, qualquer um poderia ver que eles estavam apenas se divertindo. Enquanto eles estavam praticando, tomei muito cuidado em criar um som diferente para cada Beatle, de modo que seria aparente ao ouvinte que eram três pessoas tocando e não apenas uma pessoa fazendo um solo estendido. Cada um deles estava tocando uma guitarra de modelo diferente e através de um tipo diferente de amplificador, por isso não foi tão difícil alcançar o que eu queria. Fiz com que Mal alinhasse os três amplificadores em uma fileira — não havia necessidade de uma grande separação, porque todos seriam gravados em um único canal. Havia pouca sobreposição entre cada solo de dois compassos, então eu sabia que poderia equalizar os níveis mais tarde, simplesmente mexendo no botão de volume. Incrivelmente, após apenas breve período de ensaio, deu tudo certo em um único take. Quando acabou, não houve tapinha nas costas ou abraços — os Beatles raramente se expressavam fisicamente —, mas vimos um monte de sorrisos largos. Foi um momento emocionante — uma das raras vezes em que eu pude dizer isso nos últimos meses —, e eu fiz questão de felicitar cada um deles quando entraram na sala de controle para ouvir o resultado. Eu estava tão impressionado pela performance de Harrison em particular, que fiz questão de dizer "Aquilo foi realmente brilhante" assim que ele entrou pela porta. George parecia um pouco surpreso, mas ele me deu um aceno com a cabeça e um gracioso "obrigado". Foi uma das poucas vezes em que me senti como se eu tivesse me ligado a ele em um nível pessoal. Acredito que tenha havido também a possibilidade de que, enquanto estavam tocando, eles tenham percebido que poderiam nunca mais tocar juntos; talvez eles estivessem vendo naquele momento uma despedida comovente. Foi a primeira vez em muito tempo que os três estavam realmente tocando juntos no estúdio; na maioria das sessões do Abbey Road haveria apenas um ou dois deles, e algumas vezes, Ringo. Além disso, eles sabiam que essa faixa encerraria o álbum; parecia já ter sido decidido que "The big one", como chamavam o medley, faria parte do lado dois do álbum, em contraste com o lado um, que conteria canções individuais, abrindo e fechando com composições de Lennon. Para mim, aquela sessão foi sem dúvida o ponto alto do verão de 1969, e ouvir aqueles solos de guitarra ainda me faz sorrir até hoje. Se os bons sentimentos engendrados por aquele dia estivessem presentes ao longo de todo o projeto, imaginem como o Abbey Road poderia ter sido ainda mais grandioso!”
  
Legal, não é? É sim, sem dúvida. Porém, como nada no mundo é perfeito, o livro de Emerick também peca em algumas coisas e (ou) abordagens. Em nenhum momento, ele faz um elogio mais eloquente a George Harrison. Quando faz, é de forma sempre polida e econômica. Não reconhece em nenhum momento quando viu Harrison fazer os incríveis solos de "I Saw Her Standing There (de Paul), e em "A Hard Day's Night (de John), ou simplesmente inventar o simples riff para Paul em "And l Love Her". Só vai ficar mais otimista em relação a George, durante Abbey Road depois das porradas "Something" e "Here Comes The Sun". Também não foi lá muito generoso com John. Imaginem com a mulher dele. O mesmo não se pode dizer de Paul McCartney, de quem Emerick rasga a seda o tempo todo. Quando fala de Linda, se derrete todo, passando a impressão de que mantinha alguma forma de amor platônico secreto por ela. Mas é a forma que ele vê as coisas, não é? Acho que todos nós leitores, devemos perceber que é a forma como ele viu acontecer diante dos seus olhos e, principalmente de seus ouvidos e dedos que manipulavam os botões. Enfim, imperdível para qualquer Beatlemaníaco! Leitura obrigatória enquanto ainda está nas livrarias e tirar suas próprias conclusões. Agora, já estou na metade do “JOHN LENNON, YOKO ONO E EU” de Jonathan Cott. Quando acabar, conto para vocês. Abração, Planeta Beatles!

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

IMAGINE: YOKO ONO COMPLETA 81 ANOS


Yoko Ono completa hoje 81 anos. A controvertida artista, taxada como vilã pelo fim da maior e melhor banda de todos os tempos, nasceu em Tóquio, em 18 de fevereiro de 1933. É viúva de John Lennon e mãe de Kyoko Chan Cox e Sean Lennon. Suas obras, tanto musicais quanto plásticas e conceituais, são caracterizadas pela provocação, introspecção e pacifismo. Dizem também que é uma pessoa notável e que quase nunca desiste. Porém, para muitos, sua fama é negativa, acusada de ter sido a causa da separação dos Beatles, consagrada como a maior da história. Nascida numa família rica, Yoko Ono teve oportunidade durante a infância de estudar em Gakushin, uma das mais exclusivas escolas do Japão. Durante este período estudou também piano clássico e canto. Durante a Segunda Guerra Mundial deslocou-se frequentemente entre cidades do Japão e Estados Unidos até 1952, quando se mudou definitivamente para Nova Iorque. A partir de então frequentou a faculdade de música Sarah Lawrence, onde conheceu importantes músicos de vanguarda, que posteriormente seriam inspiração para o surgimento do grupo Fluxus.

Em 1956 casou-se com Toshi Ichiyanagi. Entre o fim da década de 1950 e 1960, Yoko Ono realizou obras de cunho conceitual que oscilam entre a introspecção poética e sátira provocadora. Em 1961, após desentendimentos com o marido, Toshi, retorna ao Japão. A má repercussão de seus trabalhos e a crise conjugal acabam por lhe causar um estado de profunda depressão e é internada. Foi removida do hospital pelo amigo Anthony Cox que denunciou que ela estava recebendo doses anormais de medicamentos. Uma relação amorosa entre os dois culmina na separação de Yoko e Toshi e no seu casamento com Anthony, com quem veio a ter uma filha, Kyoko Chan Cox, em 1963.

Na América, entrou para um novo grupo vanguardista denominado Fluxus. Em 1964 lança o livro Grapefruit. Em 1965 se apresenta novamente no Carnegie Recital Hall com sua performance Cut Pieces ("corte pedaços"), onde permanecia sentada, convidando o espectador a cortar com uma tesoura pedaços de sua roupa até ficar nua. Com a repercussão de suas obras, Yoko é convidada em 1966 a realizar uma exposição individual. Nesta exposição, foi exposta a obra Ceiling Painting, uma instalação na qual uma escada conduz o observador até um vidro no teto, onde há uma lupa presa para que se leia a pequena inscrição "Yes!".

John Lennon, visitou a exposição. Ele viu uma escada que chegava ao teto, subiu e, com uma lupa, leu uma pequena mensagem que dizia apenas "sim". "Foi um grande alívio que não estivesse escrito "não" ou "foda-se" ou algo assim. Eu fiquei muito impressionado", contou o músico em sua famosa entrevista para a revista Rolling Stone em 1970. Foi, artisticamente, amor à primeira vista. Seu encantamento com a obra despertou interesse pela produção artística de Ono. Lennon financiou sua próxima instalação, Half-A-Room, uma peça intimista e melancólica.

A partir de 67, Yoko Ono e John Lennon começaram a produzir composições de vanguarda, sem estrutura musical alguma. Lennon se separou de sua primeira esposa e casou-se com Yoko em 20 de março de 1969, e eles tiveram um filho, Sean Lennon, em 9 de outubro de 1975. Mesmo dia do velho. Incrível, né? O resto, a gente conhece. De qualquer forma, apesar das contovertidas aventuras de Yoko, Parabéns! A gente fica agora com um vídeo bem legal e com uma resolução excelente dela e do marido numa apresentação no Apollo Theater em Nova York em dezembro de 1971. "Sisters O' Sisters". Muito bacana!

Não deixe de conferir a postagem “OS ÚLTIMOS DIAS DE JOHN LENNON”, publicada com absoluta exclusividade no dia 8 de dezembro de 2013, que traz um belíssimo e emocionado texto sobre John, escrito por Yoko Ono e publicado originalmente na revista Rolling Stone: http://obaudoedu.blogspot.com.br/2013/12/os-ultimos-dias-de-john-lennon-por-yoko.html

IMAGEM DO DIA - YOKO ONO - IMAGINE PEACE TOWER


A Torre Imagine Peace Tower é uma obra da artista plástica Yoko Ono, que a idealizou para homenagear John Lennon, e acabou criando um monumento-símbolo à paz mundial. Trata-se de uma torre de luz, com a inscrição "Imagine a Paz" esculpida em 24 idiomas ao redor da obra. Dessa torre saem luzes de alto alcance que iluminam o céu verticalmente. A torre foi projetada e construída na Ilha de Viðey, nas cercanias de Reykjavík, capital da Islândia, foi inaugurada em 9 de outubro de 2007.

OS BEATLES VERSUS CASSIUS CLAY

Matéria publicada originalmente em 18 de fevereiro de 2010
Em fevereiro de 1964, os Beatles chegaram aos Estados Unidos pela primeira vez para realizar uma série de shows no país. Permaneceram nos EUA por duas semanas e causaram furor por onde passaram. No dia 09 de fevereiro, se apresentaram ao vivo no programa de auditório apresentado por Ed Sullivan. O "Silvio Santos" dos americanos naquela época. O programa foi assistido por um público de 73 milhões de espectadores, número recorde para a época. No dia 16, foi a segunda apresentação no programa. Os Beatles estavam em Miami. Agora todos queriam ver os Beatles, como se eles tivessem algum fetiche mágico, como se pudessem resolver tudo – o que de certa forma, realmente podiam. A platéia de Sullivan estava repleta de celebridades anciosas para colocar os olhos nos Beatles, entre elas as lendas do boxe Sonny Liston – que disputaria com Cassius Clay o título dos pesos pesados no fim de semana seguinte – e Joe Luis. Devido a essas presenças, Paul sentiu-se compelido a prever que Clay venceria a luta, o que gerou um convite do relações-públicas Harru Conrad para que conhecessem o jovem boxeador durante um treino no Fifth Strret Gym.Os Beatles nunca foram fãs de boxe. Eles não demonstraram nenhum interesse enquanto estavam em Liverpool, mesmo quando o pai de Pete Best promovia grandes eventos da luta no ginásio local. Mas naquele momento eles desviaram uma parcela de seu precioso tempo para encenar o encontro com Cassius Clay. Por que, de repente, isso se tornou prioridade? De acordo com George, “foi uma grande jogada de publicidade. Fazia parte da condição de Beatle, na verdade, ser arrastado e jogado em salas cheias de jornalistas tirando fotos e fazendo perguntas”. Não era nenhum segredo que Clay havia transformado o mundo do boxe com sua personalidade exuberante. Incorrigível tagarela “que podia falar à razão de 300 palavras por minuto”, ele posava constantemente para as câmeras, contando vantagens comicamente e cuspindo versinhos bobos. Ninguém tinha visto ainda uma verdadeira demonstração de seu potencial no ringue, mas ele já havia impressionado a amioria dos críticos como artista de primeira linha. Sendo assim, parecia apropriado que os maiores artistas do momento se desviassem para as órbitas uns dos outros. Ainda assim, basta dizer que o lúgubre ginásio esfumaçado onde ele treinava foi dominado pela invasão de quatro rapazes de cabelo estranho vestindo calças justíssimas e jaquetas brancas de manga curta. “Dê só uma olhada nesses Beatles! Eles parecem meninas”, grunhiu um brutamontes que fumava um charuto ao lado do ringue. Os Beatles por sua vez, não estavam nada bem-dispostos; tinham ficado chateados pela imposição da visita e se sentido incomodados por ter esperado quinze minutos por Clay. “Onde diabo está o Clay”, Ringo perguntou para ninguém em particular, claramente irritado pelo atraso. Em seguida foi a vez de John resmungar contra a atitude da diva. “Vamos cair fora daqui”, ele disse aos outros. Mas dois guarda-estaduais da Flórida bloquearam a porta até que o anfitrião chegasse. Se os rapazes tinham planos de escapulir, eles evaporaram no instante em que Cassius Clay – o Desbocado de Louisville – entrou pela porta. “E aí, Beatles?” ele rugiu, desarmando-os com seu charme. “Precisamos fazer algum show juntos na estrada! Íamos ficar ricos.” Ele tinha uma personalidade incrível, um espírito cativante, era marcado para a grandeza e ficou inalterado pela celebridade. Os Beatles gostaram dele imediatamente, e não hesitaram em entrar em cena no extravagante “show” que ele encerrava com elegância. Ele “insistia em se divertir enquanto treinava”. Clay os incitou a subir no ringue e gritou: “Caiam, seus vermes!” – e os rapazes cairam de costas. Então John o instruiu a estender o braço por cima deles “com a mão enluvada, em pose de vitória”, e foi obedientemente atendido por Clay. Ninguém precisava de muito treino. Todos eram, Beatles e boxeador, showmen consumados; eles sabiam seus papéis, aproveitaram todas as deixas. Para fechar o encontro com chave de ouro, Clay agarrou Ringo, suspendeu-o sobre a cabeça e o girou como um cata-vento – do jeito que Popeye se livrava dos inimigos. Os espectadores e puxa-sacos gritavam, virando os punhos para baixo, condenando a pobre vítima; o treinador Drew “Bundini” Brown, implorou comicamente pela vida do baterista; então Clay deu uma passoa à frente e disparou algumas frases de grande profundidade: Isso não era exatamente Byroniano, mas agradou muito aos autores de “Love, love me do / you know i love you”. Para os Beatles, que estavam rapidamente se tornando ícones culturais, Clay, com seus 22 anos, era como uma lama gêmea: “Ele tem todo aquele espetáculo maluco sob controle”, eles teriam dito a Brian. Espontâneo e elegante, Clay era genial em seus próprios termos, sem todo aquele “papo-furado”. Eles deixaram o ginásio pouco tempo depois “com grande relutância”. “Clay os impressionou”, lembrava o fotógrafo Harry Benson. Mas o que os cativou e tocou não foi o seu carisma; foi o seu poder. Clay era boa-pinta, mas também socava como uma marreta. Os Beatles sabiam que, se as coisas fossem como Brian queria, a beleza e a fofura seriam tudo o que importava. Ainda assim, a imagem que eles cultivavam, embora os incomodasse, continuava a ser útil e, naquele momento, lhes proporcionava um certo privilégio.Depois da sessão de fotos de Clay com os Beatles, Sonny Liston declarou que não gostava dos rapazes de Liverpool. Se lascou! Na noite de 25 de fevereiro de 1964 - na Flórida – Cassius Clay arrasou Sonny Liston (que, curiosamente aparece na capa de Sgt. Pepper's) por nocaute depois do 6º round tornando-se campeão mundial dos pesos-pesados.