Em 8 de dezembro de 1968 (atenção aqueles que curtem numerologia) saiu o divórcio de John Lennon com Cynthia Powell, mãe de seu filho Julian. Em fevereiro de 1969 saiu o divórcio de Yoko Ono com Anthony Cox, pai de sua filha Kyoko. Com isso, o caminho estava aberto para que os dois, John e Yoko, pudessem oficializar a sua união. Além do mais, já estavam atrasados, afinal Paul já estava casado com sua Linda. Na Inglaterra não poderia ser, por um impedimento legal: Yoko não tinha visto de permanência no país. Tencionavam se casar no mar, a bordo de um navio, saindo de Southampton, Inglaterra, que cruzaria o Atlântico. Como não planejaram a viagem com antecedência, não puderam embarcar por falta de vagas. Tentaram ainda cruzar o Canal da Mancha em direção à Holanda, mas estavam sem os passaportes naquele instante. Então, abandonaram a ideia de núpcias no mar e foram para Paris.
De lá, acionaram um administrador da Apple Records, Peter Brown, que os aconselhou a se casarem em Gibraltar e providenciou toda a papelada e os preparativos do casamento. Assim, ele foi realizado, no dia 20 de março de 1969. Para a lua-de-mel o casal seguiu para Paris; e após alguns dias, de carro para o hotel Amsterdam Hilton, na Holanda. Lá, eles que já haviam convocado a imprensa, anunciam o que foi chamado de "Bed-in": uma semana de protestos, sem sair da cama, por conta das guerras no mundo.
Durante esses sete dias na cama, convidaram várias figuras de conhecimento público para visitá-los, sempre com a presença da imprensa mundial. Timothy Leary, Tommy Smothers, Dick Gregory, e Al Capp para cantar a música em favor da paz "Give Peace a Chance", gravada no quarto de hotel no dia 1 de junho. Todos menos Al Capp se juntaram ao ex-beatle e sua mulher. Em seguida, partiram para Viena, Áustria e de lá voltaram para Londres, onde tinham encomendado 50 mudas de carvalho que enviariam para alguns líderes mundiais como símbolo da semente da paz.
Baseado nesta história, e com o refrão: "Christ you know it ain't easy, you know how hard it can be. The way things are going, they're going to crucify me". ("Cristo, Você sabe como não é fácil, Você sabe quão difícil pode ser. Do jeito que as coisas vão, eles me crucificarão"), John Lennon compôs a letra. A música atingiu o primeiro lugar nas paradas de sucesso na Inglaterra, nos EUA e em vários países ao redor do mundo. Por causa do refrão com menção a Cristo e à crucificação, "The Ballad of John and Yoko" foi boicotada pela maioria das rádios americanas e inglesas, e proibida na Austrália.
Da gravação, lançada pelos Beatles, só John Lennon e Paul McCartney participaram. Os outros dois Beatles estavam ausentes, Ringo filmando com Peter Sellers e George fora do país. John Lennon tinha pressa e por isso convenceu Paul a ir gravar junto com ele. A gravação foi realizada em uma só sessão (que durou 8 horas e meia e teve 11 tomadas – a 10ª foi escolhida e editada) no dia 14 de abril de 1969, três dias depois do lançamento de “Get Back”. Esta foi a primeira música dos Beatles que não teve mixagem para mono; só foi produzida em estéreo. John Lennon fez o vocal principal, tocou violão, guitarra e pandeiro. Paul McCartney participou dos vocais (só os dois fizeram backings), tocou seu baixo como se quisesse deixar gravada ali uma mensagem, piano, bateria e maracas.
Para finalizar com chave de ouro, agora, a gente confere um pequeno trecho sobre o episódio da gravação da canção do livro "Paul McCartney - Uma Vida" de Peter Ames Carlin:
"Na manhã do dia 14 de abril, o telefone tocou em Cavendish e Paul ouviu a voz de John do outro lado da linha. Ele tinha acabado de voltar de seu casamento com Yoko, em Gibraltar, e da semana corrida "em cima da cama" que haviam conduzido em Amsterdã, para promover sua nova campanha internacional pela paz. Bem a caminho de deixar para trás suas identidades individuais em troca de um novo perfil unificado — Johneyoko era a forma como John gostava de descrever ambos —, John havia composto uma nova canção para comemorar a união. Era "The Ballad of John and Yoko", e ele queria transformá-la num novo single dos Beatles. George e Ringo não estavam disponíveis — os dois estavam fora da cidade. Mas Paul poderia vir até a EMI naquela tarde para gravá-la? Sim, claro. Por que não? Fantástico! A campainha tocou algumas horas depois, e lá estava John, com a guitarra e Yoko a tiracolo; em seguida, eles subiram à sala de música para que John tocasse a sua canção. Christ, you know it ain't easy! Com toda sua transgressão comportamental, aquilo era rock 'n' roll na forma mais pura de Chuck Berry: três acordes, uma história em primeira pessoa e muita atitude. Paul entendeu e apreciou na hora. Então, eles juntaram Linda e Yoko e caminharam pela rua, como um novo quarteto desajeitado, dobrando a esquina em direção a Abbey Road. Descendo ao Estúdio Três e com uma nova canção entre eles, tudo voltara a ser como antes. John tocou guitarra e deu as ordens; Paul tocou baixo, bateria e maracás, e atirou-se a uma nova harmonia vocal. O trabalho foi rápido, eles riram e fizeram piadas. "Havia uma vibração maravilhosa ali, de fato", relembra o diretor de arte da Apple, John Kosh, que assumiu as funções na sala de controle. Kosh estava com a mulher e eles ficaram ali esperando, observando os rapazes em atividade até que John pudesse subir para avaliar o calendário que Kosh estava rascunhando para ele. Linda, que ainda era nova naquele ambiente, mas estava ansiosa para desempenhar o papel de mulher e protetora de Paul, confundiu Marjorie Kosh com uma estranha qualquer. Talvez, disse Linda de forma fria, fosse hora de Marjorie dar o fora. Imediatamente. "Eu não vi nem ouvi nada", diz Kosh. "Apenas me lembro de Marjorie dizer 'Foda-se!' e sair bufando." A fofoca circulou e, logo depois, John ligou para a casa de Kosh e se desculpou. Dentro do estúdio, porém, nada mais importava naquele dia além da música. "Um pouco mais rápido, Ringo!", John pediu a Paul, que tocava bateria. "Tudo bem, George!", Paul respondeu. "Sempre me surpreendeu como, estando apenas nós dois, aquilo acabou soando como os Beatles", Paul afirmou.
O John e a Yoko sabiam na época como ninguém chamar atenção !!
ResponderExcluirAinda bem que era uma causa nobre , embora utópica !!
Puxa... apesar de ter este livro, o que me surpreendeu foi a atitude arrogante e deselegante de Linda. Vai ver, depois dessa, ela tomou Simancol!
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