Fonte: jornaldocommercio. Por José Teles
Dois cigarros de maconhas levaram John Lennon a sair da
letargia pós-Beatle e realizar sua apresentação nos Estados Unidos, em dezembro
de 1971, em Ann Arbor, no campus da Universidade do Michigan. O ativista
yippie, ala politizada dos hippies, Jerry Rubin conseguiu convencer Lennon a
entrar na causa pela liberação de também ativista John Sinclair, condenado a
dez anos de prisão, por oferecer dois baseados a uma polícia disfarçada (claro,
a pena foi agravada por antecedentes). Começaria daí a fase de atuação política
de John Lennon nos EUA, por conta de que passou a ser seguido, espionado e
obrigado a lutar durante cinco anos para não ser deportado. Esta e outras
passagens dos últimos dez anos da vida do ex-Beatle são contadas no livro John
Lennon em Nova York - Os Anos da Revolução (no original The Walrus & The
Elephants: John Lennon’s Years of Revolution), de James A. Mitchell (tradução
de Pedro Jorgensen Jr.), lançamento da Valentina.
Passados 44 anos desde que John & Yoko mudaram-se
para Nova York, e 35 desde seu assassinato na calçada do edifício Dakota,
parece redundante escrever sobre uma dos personagens mais badalados do século
20. O autor, no entanto, conta sua história por outro ângulo, ironicamente
ressaltado no título original. O Walrus (leão marinho, é John), e os Elephant’s
Memory, que o acompanha no álbum Sometime in New York (1971), um jornal sonoro,
uma série de canções de temática política imediatista.
Mitchell começa a traçar a trajetória de John Lennon por
intermédio de Wayne “Tex” Gabriel, guitarrista da Elephant’s Memory (falecido
em 2010). Através de Tex chegou a outros integrantes do grupo e a militantes da
época, com os quais Lennon conviveu, e marchou pelas ruas nova-iorquinas.
Quando decretou o fim do sonho, em God, faixas do álbum Plastic Ono Band
(1970), Lennon referia-se à utopia hippie da paz e do amor, os tempos eram outros
e pediam ação. Paradoxal, para quem fazia sucesso mundo com a pacifista
Imagine.
Um ex-Beatle que queria viver com a mulher como pessoas
comuns. Moraram no Village, num apartamento modesto para a fortuna que
possuíam. Passeavam de bicicleta pelo bairro e frequentavam a Washington
Square, ponto de encontro de malucos e descolados. Foi lá que conheceu Jerry
Rubin, um dos ativistas políticos mais radicais dos EUA (que levou uns
empurrões de Pete Townshend do Who, quando foi fazer proselitismo no palco do
festival de Woodstock. Pouco tempo depois, ele entraria em ação, sua
participação no concerto em Ann Arbor foi decisiva para liberar John Sinclair,
e para que as autoridades revissem as draconianas leis antimaconha (até porque
precisavam cortejar o eleitorado, que recebera naquele ano o direito de votar
partir dos 18 anos).
“O flower power não deu certo?”, questionou Lennon no
palco, naquela noite, entre uma e outra canção. “E daí? A gente começa de
novo.” John Lennon começava a repensar seus anos de fama com os Beatles, numa
entrevista ao jornalista Tariq Ali, do Red Mole, da imprensa underground
inglesa: “Achava vergonhoso não ter participado mais ativamente dos movimentos
contra a Guerra do Vietnã e em defesa dos direitos civis”, disse. “Eu gostaria
de compor canções para a revolução. (...) Gostaria que eles vissem que rock and
roll não é Coca-Cola. É por isso que venho dando declarações mais pesadas e
tentando me livrar da imagem de moderninho”, comentou na entrevista. Mas embora
tenha se esforçado, ele continua até um Beatle até o final da vida.
Em Ann Arbor, chegou a visitar uma loja de instrumentos,
a Herb David Guitar. O dono o reconheceu e o cumprimento chamando-o de John,
que brincou dizendo-se primo dele. Os fregueses demoraram a se dar conta de quem
se tratava. “Lennon passou mais de uma hora na loja e deu até uma canja no
violão para deleite dos fregueses que o ouviam, boquiabertos.” A cadeira ficou
no mesmo lugar por quatro décadas, com uma inscrição em papelão dizendo: John
Lennon sentou aqui em 1971 – uma autêntica peça de museu, venerada com status
de memorabilia presidencial. Os produtores o tratavam como um Beatle,
hospedando-o no melhor hotel da cidade, e dispensando segurança especial a ele
durante o concerto. Não conseguiu, no entanto, detê-lo quando ele escutou a voz
de Stevie Wonder, que se ofereceu para participar: “Stevie Wonder está aqui?”,
gritou Lennon, incrédulo. “Eu preciso vê-lo!” Ao imaginar Lennon no meio da
multidão, Andrews hesitou. “Um Beatle não desfila no meio do público”, advertiu
Andrews. “Você não entendeu”, disse Lennon. “Stevie Wonder é o meu Beatle.”. E
foi assistir no meio das pessoas que se aglomeravam diante do palco.
Em alguns momentos a história do ex-Beatle envereda pela
Nova Esquerda americana, como o SDS (Students for a Democratic Society), de
Jerry Rubin e Abbie Hoffman. A época era de confronto e radicalismos no mundo
inteiro, que vivia a contrarrevolução que se seguiu à revolução frustrada de
1968. Se não cometia os mesmos crimes das ditaduras latino-americanas, o
governo dos americanos do Norte tampouco seguia a risco a constituição.
As atividades de John Lennon passaram a ser monitoradas,
inclusive com escuta telefônica, por agentes que não fariam feio diante do
atrapalhado agente 86, do seriado televisivo dos anos 60, vivido por Mel
Brooks: “Um memorando de 2 de fevereiro sobre a mudança de John e Yoko do St.
Regis dizia: ‘Lennon mudou-se, desde então, para endereço ignorado.’ Ora, nessa
data já fazia meses que Lennon se instalara no apartamento da Bank Street, 105;
o agente fora incapaz de descobrir o que quase todo o Greenwich Village já
sabia. E, para se certificar da identificação, o mesmo memorando solicitava
informações adicionais, ‘incluindo uma foto do investigado’.” Ou seja, para
conseguir uma fotografia de John Lennon em Nova York era necessária a ajuda do
QG. A atuação de Lennon incluía luta pelos direitos da mulher, dos negros, das
minorias em geral, mas a autoridades competentes temiam a influência sobre os
jovens que iam às urnas.
Mas, incompetências à parte, foram cinco anos difíceis
para Lennon e Yoko, que só conseguiu o visto definitivo em 1976, quando ele se
tornou dono de casa, cuidando do filho Sean, enquanto Yoko cuidava dos
negócios. Muito bem, como se sabe. Mas John Lennon não conseguiria evitar que o
dinheiro continuasse a jorrar em sua conta bancária.
O mito dos Beatles só fez crescer com o tempo, Lennon
jamais deixaria de um dos quatro. Não foi o cidadão John Lennon em quem Mark
Chapman disparou a carga de sua pistola, em 8 de dezembro de1980. Foi no Beatle
John Lennon. Este ano ele completaria 75 anos, difícil imaginar que tipo de
música ou atuação teria num mundo que virou cabeça para baixo.
Jerry Rubin, cujo apelido durante muito foi B.O (de bad olor, mau cheiroso), nos anos 80 tornou-se corretor da bolsa em Wall Street, e nos anos 90, envolveu-se novamente com a polícia. Não mais por sua atuação política e sim por estar metido num esquema de pirâmide.
Jerry Rubin, cujo apelido durante muito foi B.O (de bad olor, mau cheiroso), nos anos 80 tornou-se corretor da bolsa em Wall Street, e nos anos 90, envolveu-se novamente com a polícia. Não mais por sua atuação política e sim por estar metido num esquema de pirâmide.
Haja grana. Pelo visto terei de comprar ontem. À guisa, o Agente 86, Maxwell Smart não era o Mel Brooks.
ResponderExcluirEsses post desse livro aqui no "Baú", me deixam mais e mais, louco para ter esse livro nas mãos. Infelizmente, o caixa da baixo, e vou ter que me aguentar mais um tempo. Esse período do John é interessantíssimo, essa historia na loja de instrumentos é muito legal.
ResponderExcluirNão era mesmo não. Acho que Mel Brooks era o criador ou idealizador ou produtor da série. Mas o nome do ator era Dom Adams. o "Agente 86" já apareceu aqui no Baú. Procure! Come and get it!
ResponderExcluirPois quem gostou e estiver sem verba, fique de olho no Baú do Edu. Esse bichão pode ser seu!!! vamos pensar juntos numa mecânica para a coisa funcionar. Alguém topa?
ResponderExcluirInstigante, estes trechos são deliciosos.
ResponderExcluirEU QUERO, EDU!!!
ResponderExcluirEntão... como faremos?
ResponderExcluir