quarta-feira, 22 de julho de 2015

JOHN LENNON EM NOVA YORK - OS ANOS DE REVOLUÇÃO – PARTE 3

"John Lennon em Nova York", do jornalista americano James A. Mitchell, será lançado neste mês no Brasil (Foto: Reprodução)
Fonte: jornaldocommercio. Por José Teles
Dois cigarros de maconhas levaram John Lennon a sair da letargia pós-Beatle e realizar sua apresentação nos Estados Unidos, em dezembro de 1971, em Ann Arbor, no campus da Universidade do Michigan. O ativista yippie, ala politizada dos hippies, Jerry Rubin conseguiu convencer Lennon a entrar na causa pela liberação de também ativista John Sinclair, condenado a dez anos de prisão, por oferecer dois baseados a uma polícia disfarçada (claro, a pena foi agravada por antecedentes). Começaria daí a fase de atuação política de John Lennon nos EUA, por conta de que passou a ser seguido, espionado e obrigado a lutar durante cinco anos para não ser deportado. Esta e outras passagens dos últimos dez anos da vida do ex-Beatle são contadas no livro John Lennon em Nova York - Os Anos da Revolução (no original The Walrus & The Elephants: John Lennon’s Years of Revolution), de James A. Mitchell (tradução de Pedro Jorgensen Jr.), lançamento da Valentina.
Passados 44 anos desde que John & Yoko mudaram-se para Nova York, e 35 desde seu assassinato na calçada do edifício Dakota, parece redundante escrever sobre uma dos personagens mais badalados do século 20. O autor, no entanto, conta sua história por outro ângulo, ironicamente ressaltado no título original. O Walrus (leão marinho, é John), e os Elephant’s Memory, que o acompanha no álbum Sometime in New York (1971), um jornal sonoro, uma série de canções de temática política imediatista.
Mitchell começa a traçar a trajetória de John Lennon por intermédio de Wayne “Tex” Gabriel, guitarrista da Elephant’s Memory (falecido em 2010). Através de Tex chegou a outros integrantes do grupo e a militantes da época, com os quais Lennon conviveu, e marchou pelas ruas nova-iorquinas. Quando decretou o fim do sonho, em God, faixas do álbum Plastic Ono Band (1970), Lennon referia-se à utopia hippie da paz e do amor, os tempos eram outros e pediam ação. Paradoxal, para quem fazia sucesso mundo com a pacifista Imagine.
Um ex-Beatle que queria viver com a mulher como pessoas comuns. Moraram no Village, num apartamento modesto para a fortuna que possuíam. Passeavam de bicicleta pelo bairro e frequentavam a Washington Square, ponto de encontro de malucos e descolados. Foi lá que conheceu Jerry Rubin, um dos ativistas políticos mais radicais dos EUA (que levou uns empurrões de Pete Townshend do Who, quando foi fazer proselitismo no palco do festival de Woodstock. Pouco tempo depois, ele entraria em ação, sua participação no concerto em Ann Arbor foi decisiva para liberar John Sinclair, e para que as autoridades revissem as draconianas leis antimaconha (até porque precisavam cortejar o eleitorado, que recebera naquele ano o direito de votar partir dos 18 anos).
“O flower power não deu certo?”, questionou Lennon no palco, naquela noite, entre uma e outra canção. “E daí? A gente começa de novo.” John Lennon começava a repensar seus anos de fama com os Beatles, numa entrevista ao jornalista Tariq Ali, do Red Mole, da imprensa underground inglesa: “Achava vergonhoso não ter participado mais ativamente dos movimentos contra a Guerra do Vietnã e em defesa dos direitos civis”, disse. “Eu gostaria de compor canções para a revolução. (...) Gostaria que eles vissem que rock and roll não é Coca-Cola. É por isso que venho dando declarações mais pesadas e tentando me livrar da imagem de moderninho”, comentou na entrevista. Mas embora tenha se esforçado, ele continua até um Beatle até o final da vida.
Em Ann Arbor, chegou a visitar uma loja de instrumentos, a Herb David Guitar. O dono o reconheceu e o cumprimento chamando-o de John, que brincou dizendo-se primo dele. Os fregueses demoraram a se dar conta de quem se tratava. “Lennon passou mais de uma hora na loja e deu até uma canja no violão para deleite dos fregueses que o ouviam, boquiabertos.” A cadeira ficou no mesmo lugar por quatro décadas, com uma inscrição em papelão dizendo: John Lennon sentou aqui em 1971 – uma autêntica peça de museu, venerada com status de memorabilia presidencial. Os produtores o tratavam como um Beatle, hospedando-o no melhor hotel da cidade, e dispensando segurança especial a ele durante o concerto. Não conseguiu, no entanto, detê-lo quando ele escutou a voz de Stevie Wonder, que se ofereceu para participar: “Stevie Wonder está aqui?”, gritou Lennon, incrédulo. “Eu preciso vê-lo!” Ao imaginar Lennon no meio da multidão, Andrews hesitou. “Um Beatle não desfila no meio do público”, advertiu Andrews. “Você não entendeu”, disse Lennon. “Stevie Wonder é o meu Beatle.”. E foi assistir no meio das pessoas que se aglomeravam diante do palco.
Em alguns momentos a história do ex-Beatle envereda pela Nova Esquerda americana, como o SDS (Students for a Democratic Society), de Jerry Rubin e Abbie Hoffman. A época era de confronto e radicalismos no mundo inteiro, que vivia a contrarrevolução que se seguiu à revolução frustrada de 1968. Se não cometia os mesmos crimes das ditaduras latino-americanas, o governo dos americanos do Norte tampouco seguia a risco a constituição. 
As atividades de John Lennon passaram a ser monitoradas, inclusive com escuta telefônica, por agentes que não fariam feio diante do atrapalhado agente 86, do seriado televisivo dos anos 60, vivido por Mel Brooks: “Um memorando de 2 de fevereiro sobre a mudança de John e Yoko do St. Regis dizia: ‘Lennon mudou-se, desde então, para endereço ignorado.’ Ora, nessa data já fazia meses que Lennon se instalara no apartamento da Bank Street, 105; o agente fora incapaz de descobrir o que quase todo o Greenwich Village já sabia. E, para se certificar da identificação, o mesmo memorando solicitava informações adicionais, ‘incluindo uma foto do investigado’.” Ou seja, para conseguir uma fotografia de John Lennon em Nova York era necessária a ajuda do QG. A atuação de Lennon incluía luta pelos direitos da mulher, dos negros, das minorias em geral, mas a autoridades competentes temiam a influência sobre os jovens que iam às urnas.
Mas, incompetências à parte, foram cinco anos difíceis para Lennon e Yoko, que só conseguiu o visto definitivo em 1976, quando ele se tornou dono de casa, cuidando do filho Sean, enquanto Yoko cuidava dos negócios. Muito bem, como se sabe. Mas John Lennon não conseguiria evitar que o dinheiro continuasse a jorrar em sua conta bancária.
O mito dos Beatles só fez crescer com o tempo, Lennon jamais deixaria de um dos quatro. Não foi o cidadão John Lennon em quem Mark Chapman disparou a carga de sua pistola, em 8 de dezembro de1980. Foi no Beatle John Lennon. Este ano ele completaria 75 anos, difícil imaginar que tipo de música ou atuação teria num mundo que virou cabeça para baixo. 
Jerry Rubin, cujo apelido durante muito foi B.O (de bad olor, mau cheiroso), nos anos 80 tornou-se corretor da bolsa em Wall Street, e nos anos 90, envolveu-se novamente com a polícia. Não mais por sua atuação política e sim por estar metido num esquema de pirâmide.

7 comentários:

  1. Haja grana. Pelo visto terei de comprar ontem. À guisa, o Agente 86, Maxwell Smart não era o Mel Brooks.

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  2. Esses post desse livro aqui no "Baú", me deixam mais e mais, louco para ter esse livro nas mãos. Infelizmente, o caixa da baixo, e vou ter que me aguentar mais um tempo. Esse período do John é interessantíssimo, essa historia na loja de instrumentos é muito legal.

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  3. Não era mesmo não. Acho que Mel Brooks era o criador ou idealizador ou produtor da série. Mas o nome do ator era Dom Adams. o "Agente 86" já apareceu aqui no Baú. Procure! Come and get it!

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  4. Pois quem gostou e estiver sem verba, fique de olho no Baú do Edu. Esse bichão pode ser seu!!! vamos pensar juntos numa mecânica para a coisa funcionar. Alguém topa?

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  5. Instigante, estes trechos são deliciosos.

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