1957, Little Rock, Estados Unidos. Depois de uma decisão histórica do tribunal, um grupo de nove jovens negras integra a escola secundária central, até então inteiramente frequentada por alunos brancos. Discriminadas e vítimas de segregação, até o governador do estado do Arkansas, Orval Faubus, contesta o lugar das adolescentes na escola. A história ficou conhecida como Little Rock Crisis e as notícias chegaram ao Reino Unido, onde Paul McCartney se sentiu especialmente tocado pelo relato. Foi a partir daí que escreveu “Blackbird”, canção que só seria libertada quase uma década mais tarde, em 1968, no disco duplo “The Beatles” — mais conhecido como “white album” (álbum branco). Ainda assim, McCartney nunca tinha conhecido pessoalmente nenhuma das protagonistas dessa história. O encontro aconteceu finalmente este sábado, 30 de abril, num concerto em Little Rock. “Incrível conhecer duas das Little Rock Nine — pioneiras do movimento de direitos civis e inspiração para o ‘Blackbird’”, escreveu o músico no Twitter, onde partilhou também a foto com Thelma Mothershed e Elizabeth Eckford. Durante a atuação, e antes de tocar “Blackbird”, o antigo membro dos Beatles fez questão de explicar ao público a importância da canção: “Nos anos 60 havia muitos problemas com os direitos civis, particularmente em Little Rock. Víamos isto nas notícias lá em Inglaterra, portanto é um lugar muito importante para nós. Para mim, foi aqui que começaram os direitos civis […] Isso fez-me querer escrever uma letra que, se algum dia chegasse às pessoas que estavam a passar por esses problemas, podia ajudá-las um pouco.”
Aqui, como sempre com a mais absoluta exclusividade, a gente confere o que disse o autor Steve Turner em seu livro "The Beatles - A história por trás de todas as canções".
Existem várias versões em torno da verdadeira história da criação de “Blackbird”. Uma versão é que Paul acordou cedo um dia em Rishikesh para ouvir um melro-preto cantar, pegou o violão para transcrever o canto do pássaro e criou a música. Também há quem diga que, inspirado pelas notícias dos conflitos raciais nos EUA, ele traduziu o esforço das minorias raciais, que começavam a se impor, para a imagem de um pássaro com as asas quebradas tentando voar.
A madrasta de Paul. Àngíe McCartney afirma que a musica foi escrita para a mãe dela, Edie Stopforth. Ela diz ter uma cópia de um take de estúdio em que Paul diz “esta é para Edie” antes da gravação “Minha mãe estava morando comigo e com Jim depois de uma longa doença", ela conta. “Durante esse período, Paul nos visitou e ficou algum tempo sentado na cama da minha mãe. Ela disse a ele que sempre ouvia um pássaro cantar á noite. Paul acabou levando um gravador para o quarto dela e gravou o som desse pássaro.
Paul afirmou que a melodia não foi inspirada pelo canto de um melro, mas pela sua lembrança da Bourrée de Bach em mi menor (da Suíte para Alaúde nº 1 – BWV 996) que ele aprendeu na adolescência em um manual de violão. Em parte, ele estava pensando na situação racial dos EUA e a escreveu como um encorajamento para as mulheres negras oprimidas.
Apesar de ter sido escrita em 1968. é difícil afirmar com precisão o mês exato, uma vez que Paul afirmou tê-la composto na sua fazenda na Escócia, e não na índia. E provável que ele a tenha começado na índia, influenciado por Donovan, e terminado entre seu retorno em 26 de março e a gravação das fitas demo na casa de George em Esher no fim de maio. Isso torna mais provável a hipótese de que a letra tenha vindo na sequência da morte de Martin Luther King em 4 de abril.
No dia 11 de Junho, ele a tocou tocou em um filme promocional da Apple dirigido por Tony Bramwell. O termo “Blackbird” para se referir a pessoas de origem africana é usado desde a época do mercado de escravos, sempre de forma pejorativa. Nos anos 1960, as campanhas pelos direitos humanos se apropriaram dele e transformaram em algo positivo. Um musical sobre direitos humanos, Fly Blackbird, com músicas de Bernard Jackson e James Hatch, estreou na off-Broadway em 1962 e ganhou o prêmio Obie de Melhor Musical.
No verão de 1968, Paul cantou uma versão acústica de “Blackbird” para fãs reunidos na porta de sua casa. Margo Bird, ex-AppIe Scruff (nome dado ao grupo de fãs que costumavam se reunir na frente dos escritórios da Apple em Savile Row), recorda: "Acho que havia uma garota com ele, Francie Schwartz. Nós estávamos do lado de fora, e é óbvio que ela não iria embora. Ele tinha uma sala de música na pane superior da casa, abriu o caixilho da janela, sentou na beira e tocou para nós. Foi no começo da manhã.
Paul gosta de citar “Blackbird” como prova de que suas melhores canções vêm espontaneamente, quando letra e música transbordam como se surgissem sem nenhum esforço consciente da parte dele.
Confiram aqui a postagem original de Blackbird de 17 de abril de 2013.
Confiram aqui a postagem original de Blackbird de 17 de abril de 2013.
Acho que uma coisa leva à outra. Um riff, um melro, a situação das estudantes e demais movimentos e então tão.
ResponderExcluirNo inicio a intenção de falar de direitos civis foi a inspiração, mas hoje acho que o significado da musica é mais abrangente, pode ser o que nos toca mais o coração.
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