Por José Teles
"Se comparado ao melhor dos trabalhos anteriores com os Beatles, as
canções em McCartney são decididamente de segunda classe", o comentário
está na crítica de McCartney, álbum solo de Paul McCartney, em maio de 19670,
no então jornal Rolling Stone. Langdon Winner, o crítico da RS, adverte aos fãs
que o disco é decepcionante. Ram, o álbum seguinte do exbeatle foi
impiedosamente massacrado: "Ram é tão incrivelmente inconsequente e tão
monumentalmente irrelevante, que se torna difícil se concentrar nele para que
se possa gostar ou detestalo", disparou Jon Landau, que mais tarde
ficaria conhecido como produtor de Bruce Springsteen.
Paul McCartney provavelmente deve lembrar, ter rido destas críticas ontem,
ao lançar Pure McCartney (Hear Music), uma retrospectiva de 46 anos de
sua carreira solo, com quatro CDs na edição mais requintada, disponível também
em CD duplo, vinil, ou digital (sai no Brasil, pela Universal Musical em CD
duplo). O CD 1 é aberto com Maybe Im Amazed, balada do álbum McCartney, seguida
por Heart of the Country, de Ram, canção pop folk, acústica, que Jon Landau
considerou o ponto em que o álbum chegou ao nível mais baixo, a prova mais
clara do fracasso do disco.
Numa biografia recém lançada, Paul McCartney The Life, de Phillip Norman,
Macca confessa que nessa época ele também chegou ao nível mais ralo de autoconfiança.
Não por acaso, a terceira faixa do CD 1 é Jet, do álbum Band on the Run, de
1973. O quinto e, finalmente, elogiado álbum solo. Foi o terceiro com o grupo
Wings, sob cujas asas se abrigou quando descobriu que fora dos Beatles ele era
vulnerável, um vil mortal. Aos 74 anos, um dos poucos superstars dos anos 1960
que continua criando, na estrada e com um fã clube cada vez mais vigoroso, Paul
McCartney é igualmente o derradeiro de uma linhagem iniciada no começo do
século 20, a de autores de refinadas canções pop cujo o ápice aconteceu nos
anos 1940, com os irmãos Gershwin, Cole Porter, Irving Berlin, Hoagy Carmichael
e Richard Rodgers.
A dupla Lennon & McCartney não foi, como se diz, o começo, mas o fim de uma
era. Com a eclosão do rock and roll, o trabalho de composição passou para
compositores muito jovens, compondo sob encomenda para intérpretes tão ou mais
jovens quanto eles. Leiber & Stole, Barry Man & Cynthia Weil, Carole
King & Gerry Goffim, Jeff Barry & Ellie Greenwich, Burt Bacarach,
autores de dezenas de hits entre 1958 e 1964, ironicamente influenciaram os
Beatles (alguns gravados por eles), mas foram tirados do mercado quando o
quarteto de Liverpool aterrissou nos EUA, em 7 de fevereiro de 1964 e se tornou
sucesso no mundo inteiro.
Lennon & McCartney não eram apenas compositores. Eles cantavam as próprias
músicas. De repente, todo mundo estava fazendo o mesmo, praticamente acabando
com o autor/fornecedor de hits para terceiros. A tensão criativa entre John
Lennon, Paul McCartney e, mais tarde, George Harrison levou a dupla a se
superar a cada disco, e cada um deles a superar a si mesmo em cada canção.
Muitas duplas de autores surgiram nos anos 1960, a maioria já se aposentou ou
virou autoparódia, como Jagger & Richards. Paul McCartney continua
ininterruptamente, há quase seis décadas, um ourives artesão de canções pop.
Perto dele, talvez Burt Bacharach que, aos 88 anos, raramente se apresenta.
Assim, como McCartney, Bacharach foi reabilitado pela crítica nos anos 1980 (e
redescoberto pela geração dos anos 1990). Até então não era considerado do
primeiro time de compositores.
O conceito da coletânea, segundo McCartney, revela no site oficial, foi a de
compor o repertório para se curtir como passatempo da viagem, ou animar
festinhas e reuniões domésticas. A ordem é randômica. Nem segue a cronologia do
lançamento das canções, nem é abastecida pelos hits, ao contrário das
compilações convencionais feitas com a música dele. No CD 2, por exemplo, tem
Band on the Run (1973, do álbum homônimo), e My Valentine (2012, do ignorado
Kisses on the Bottom).
No quarto disco, ele aproxima a Hope for the Future, composta para a trilha do
game Activision Destiny (2014), com o pop eletrônico Temporary Secretary (1980,
de McCartney II), que causou estranheza, foi esquecida e virou hit nas pistas
30 anos depois. Pure McCartney é a mais ampla panorâmica feita da obra solo de
Paul McCartney que, como curador deste projeto, pretende mostrar o quanto
ousou, mesmo tendo errado várias vezes. Ele consegue reunir 67 canções, numa
geral que poderia chegar facilmente às cem faixas. O que talvez cause
estranheza, afaste dele parte do publico, é o fato de continuar extremamente
melódico numa época em que a melodia cumpre papel menor na canção.
A questão é que pode ser (tem cara) de mais do mesmo.E tudo misturado.
ResponderExcluirÉ meio complicado... Já tenho os todos os discos de carreira... E vai custar uma graninha boa... Se ainda viesse com algumas raridades (como "A Love For You", que descobri outro dia, aqui mesmo!)... Acho que vou passar batido nessa. A não ser que saia por um preço beeeeeeeeeeeem camarada...
ResponderExcluirEssa coletânea é Demais-do-Mesmo. puro caça-níquel, nem mesmo na edição luxuosa e cara, trás algo de novo. Como não é prioridade, vai para fim da minha lista e mesmo assim se encontrar numa promoção. O Paul fica nos devendo algo mais consistente.
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