quinta-feira, 25 de agosto de 2016

O DIA QUE CYNTHIA LENNON PERDEU O TREM


No dia 24 de agosto de 1967, John e Cynthia, Paul e Jane, George e Patti comparecem a uma palestra do iogue Maharishi Mahesh Yogi no London Hilton, em Park Lane. Logo após, tiveram uma conversa reservada com o Maharishi e decidiram participar de um de seus seminários, que seria realizado no final de semana seguinte em Bangor, no País de Gales. Quando chegou a hora da viagem, Cynthia Lennon perdeu o trem. Aqui no nosso blog preferido, a gente confere, nas próprias palavras dela, o que aconteceu naquele dia.
O Maharishi condenava as drogas e explicara que através da meditação nós poderiamos encontrar uma euforia natural tão po­derosa quanto a que qualquer droga induzia. John adorou a ideia e já havia começado a falar sobre iluminação, consciência cósmica e superação das drogas. Dessa forma, eu me tomei uma defensora da mensagem do Maharishi. Talvez aquela fosse a mudança de dire­ção pela qual John vinha procurando, e talvez dessa vez eu pudesse compartilhá-la com ele.
A palestra foi realizada numa noite de terça. Na sexta, tomei as providências para que Julian passasse o fim de semana com Dot e fiz as nossas malas. No sábado, partimos para pegar o trem para Bangor na Estação Euston, de Londres. Além do grupo dos Beatles, Mick Jagger e Marianne Faithfull iriam também. Nós todos deveri­amos viajar no mesmo trem que o grupo do Maharishi, com o inevi­tável bando de fotógrafos e repórteres que haviam partido em busca do mais novo interesse excêntrico dos Beatles.
Era a primeira vez que os Beatles viajavam para algum lugar sem Brian e seus assistentes Neil e Mal em vários anos. Brian sabia disso e disse que talvez se juntasse a nós depois do fim de semana. John sentia-se como um garotinho excitado, mas também estava ner­voso. Ele disse que ir a algum lugar sem Brian, Neil ou Mal era "como andar por aí sem calças". Mesmo quando fora filmar na Espanha, ele tinha levado Neil para atender a todas as suas necessidades.
Estava uma manhã clara e ensolarada quando partimos. Eu já estava pronta logo cedo, mas Patti, George e Ringo iriam no nosso carro e estavam atrasados. Quando Anthony chegou à estação, nós tínhamos cinco minutos para pegar o trem. John pulou do carro jun­tamente com os outros e correu para a plataforma — deixando-me para trás com as malas. Aquele era o resultado de ter passado anos sabendo que outros cuidariam dos detalhes. Eu o segui o mais ra­pidamente que pude. A estação estava um caos, com fãs, repórteres, policiais e passageiros se espremendo. Eu tentava abrir caminho, mas quando cheguei à plataforma fui barrada por um policial que, não sabendo que eu fazia parte do grupo dos Beatles, disse:
- Desculpe, meu bem, é tarde demais, o trem já está partindo — e me empurrou para o lado.
Eu gritei pedindo ajuda. John colocou a cabeça do lado de fora da janela, viu o que estava acontecendo e gritou:
- Diga a ele que você está conosco! Diga a ele que a deixe entrar.
Era tarde demais. O trem já estava se afastando da plataforma e eu fui deixada para trás com as nossas malas, as lágrimas correndo pelo meu rosto. Foi uma situação terrivelmente desconcertante. Os repórteres me cercaram tirando fotos, e eu me senti uma completa idiota. Peter Brown, assistente de Brian, tinha vindo nos ver partir. Ele colocou o braço no meu ombro e disse que me levaria para Bangor de carro.
- Nós provavelmente chegaremos lá antes do trem — ele me assegurou, ansioso por me alegrar.
Mas o que nem ele nem ninguém sabia era que as minhas lá­grimas não se deviam unicamente ao fato de ter perdido o trem. Eu estava chorando porque o incidente parecia simbolizar o que estava acontecendo ao meu casamento: John estava no trem, correndo em direção ao futuro, e eu havia sido deixada para trás. Enquanto es­tava ali, vendo o trem desaparecer a distância, cheguei à conclusão de que a solidão que estava sentindo naquela plataforma se torna­ria algo permanente um dia.
Neil Aspinall me levou para Bangor. Foi uma viagem tranqui­la de seis horas, bem diferente do circo que a mídia havia montado a bordo do trem. Porém, enquanto observava pela janela a gloriosa zona rural, meu coração estava cheio de medo. O que aconteceria em seguida a mim e a John?
Nós chegamos tranquilamente pouco depois que os outros ha­viam sido recebidos por multidões aos gritos e mais equipes de im­prensa na estação. Bangor, uma pequena cidade costeira, não sabia o que a havia atingido. Eu fui recebida com abraços e beijos dos ou­tros e repreensões de John.
- Por que você fica sempre por último, Cyn? Como é que você foi capaz de perder aquele trem?
- Talvez, se você não tivesse deixado as malas para eu carre­gar, querido, eu tivesse conseguido — respondi a ele.
Como ele ousava me censurar, quando havia agido de forma tão desatenciosa? No entanto, engoli meus sentimentos, como já fi­zera tantas vezes. Como sempre, eu não queria uma briga, especial­mente com todos os outros à nossa volta. Esse foi outro momento em que eu deveria ter sido mais assertiva com John. Mais uma vez, deixei passar.

5 comentários:

  1. Cá entre nós... Essa mulher era muito pastel. Putz!

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  2. Mas que o troço foi esquisito foi!

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  3. Na minha opinião ela já tinha embarcado no trem errado, lá atrás, um pouco antes de ficar gravida e casar com o John. Tenho respeito por ela, mas lendo o livro dela, dá para ver que ela era bem recalcada e insegura. Dá até para entender o por que do John ter se separado dela.

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  4. Assino embaixo de cada ponto e vírgula, Valdir!

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  5. Pena da Cynthia. John se apoiava nela no começo e depois cuspiu no prato que comeu assim como cuspiu em outros pratos.

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