por PAULO CAVALCANTI – Rolling Stone Brasil
Todo mundo já ouviu a expressão "o dia em que a música morreu". Ela apareceu na canção "American Pie" (1972), de Don McLean, descrevendo o fatídico dia em que o avião que transportava os pioneiros do rock Buddy Holly, J.P. Richardson (mais conhecido pelo apelido The Big Bopper) e Ritchie Valens caiu em um campo coberto de neve em Clear Lake, Iowa. A tragédia aconteceu na madrugada de 3 de fevereiro de 1959. Foi uma perda gigantesca para o rock. Simbolicamente, muitos consideraram o exato instante que marcou o fim da inocência daquele início do rock. A tragédia levou três artistas jovens de grande talento e que ainda tinham muito a oferecer. Buddy Holly já era um nome de enorme sucesso na época, mas a morte dele com apenas 22 anos fez com que se transformasse em uma autêntica lenda. Ele se mostrou extremamente influente, deixando sua impressão musical em tudo o que foi produzido até a metade da década de 1960, antes do psicodelismo aparecer e mudar a cena. Todo o rock inglês, de uma forma, ou outra, bebeu na fonte criada por Buddy Holly. The Beatles, The Rolling Stones, The Who, The Searchers, The Hollies (que até se inspiraram no nome dele) e muitos outros gravaram as canções do artista norte-americano, ou então tentaram imitar o som característico dele. Charles Hardin Holley nasceu há exatamente 80 anos, no dia 7 de setembro de 1936 em Lubbock, Texas. Ele começou se interessando pela música country, mas também ouvia muito o som pulsante do rhythm and blues. Não levou muito tempo para Holly, assim como Elvis Presley e outros, começar a juntar elementos das músicas branca e negra e, assim, dar a cara do emergente rock and roll. Com os amigos e conterrâneos Jerry Allison (bateria) e Joe B. Mauldin (baixo), Holly formou o The Crickets. No começo, gravavam pela Decca, mas o sucesso veio mesmo quando foram contratados pela Coral. Eles eram produzidos por Norman Petty e gravavam no estúdio dele em Clovis, Novo México. Petty, na realidade, era o produtor nominal – era Holly quem metia a mão na massa e criava o som revolucionário da banda.
Ao lado dos Crickets, ele criou vários clássicos do rock como "That'll be The Day","Oh, Boy!", "Rave On!", "Peggy Sue", "Words of Love", "Not Fade Away", "Everyday", etc. Buddy Holly e companheiros faziam um som denso, encorpado e claro como um dia de sol. Apesar das raízes dos Crickets estarem no rockabilly, eles não sovam como músicos regionais e a pegada era moderna e avançada. Logo, Buddy Holly and The Crickets se tornaram um dos artistas mais requisitados dos Estados Unidos, tocando para casas lotadas e aparecendo em programas de TV como American Bandstand eThe Ed Sullivan Show. O visual do cantor também se mostrou influente. Usando óculos de aro grosso e com jeitão de nerd, Buddy Holly provava que qualquer um poderia ser um astro do rock e não precisava necessariamente ter o mesmo look sexy e apolíneo de Elvis Presley. No final de 1958 Holly estava insatisfeito, achando que precisava de maior autonomia. Então, se separou de Norman Petty e dos Crickets. O cantor se mudou para Nova York com o objetivo de iniciar uma carreira solo e aprender produção e outros truques da indústria fonográfica. Enquanto isto, permanecia em seu apartamento gravando demos acompanhados do violão. Algumas destas canções eram "Peggy Sue Got Married", "Crying, Waiting, Hoping" e "Learning The Game". Apesar do acompanhamento esparso, a qualidade sonora era excelente e isso seria de grande utilidade no futuro.
Nesse meio tempo ele havia se casado e a esposa, Maria Elena Santiago, engravidou. Holly precisava de dinheiro e resolveu participar da Winter Tour Party, que também tinha no elenco Ritchie Valens (no auge com os hits "Donna" e "La Bamba"), The Big Bopper (com o hit "Chantilly Lace") e os novatos Frankie Sardo e Dion DiMucci. Para tal empreitada, ele selecionou novos músicos para acompanhá-lo: Carl Bunch (bateria), Tommy Allsup (guitarra) e o futuro super astro da country music Waylon Jennings (baixo). A turnê começou em Milwaukee, Wisconsin, no dia 23 janeiro de 1959. Os artistas excursionavam em meio a um inverno rigoroso. As apresentações era extenuantes e eles viajavam de cidade em cidade em um ônibus desconfortável. Quando chegaram a Clear Lake, Holly resolveu fretar um pequeno avião para que ele e sua banda rumassem ao próximo destino, que era Moorhead – de lá, iriam para Fargo, no Dakota do Norte. Com isso, poderiam chegar antes e dormir e comer decentemente, além de conseguirem lavar as roupas sujas que carregavam. O show à noite, no dia 2 de fevereiro, no Surf Ballroom, foi um tremendo sucesso. Todos os artistas foram muito bem recebidos, especialmente Holly. Depois da apresentação, Holly falou para o gerente do local: "Ou eu vou para o topo, ou eu vou cair. Mas eu acho que eu vou alcançar as alturas". Ele ligou para Maria Elena em Nova York para dizer que estava tudo bem e que já estaria viajando para o próximo destino. Mas sabendo que a mulher tinha medo de pequenos aviões, não contou com ele iria viajar.
O piloto do avião se chamava Roger Peterson. Ele tinha 21 anos e voava havia cerca de dois. Ele queria muito fazer a viagem, por causa do dinheiro e pelo fato de poder interagir com artistas famosos. Peterson era dono de um pequeno avião vermelho Beechcraft 35 Bonanza. No último instante aconteceu algo inesperado. Jennings e Allsup, que deveriam ir com Holly, cederam seus lugares para Valens e J.P. Richardson. Na verdade, Valens e Allsup decidiram que iriam embarcar no cara ou coroa - e Valens ganhou. Carl Bunch tinha ficado para trás, já que estava se recuperando de uma queimadura no pé causada pelo intenso frio. No final, os músicos de Holly, notando que Valens e Richardson estavamem péssimas condições (Richardson estava muito resfriado), não se importaram que os amigos voassem no lugar deles – afinal, eles eram astros do show. Foi o que salvou Jennings e Allsup. Pouco depois da 0h30, na terça-feira, no dia 3 de fevereiro, Ritchie Valens e The Big Bopper se acomodaram no assento traseiro do avião com toda a roupa suja dos músicos, e Holly se sentou ao lado do piloto. O barômetro ia baixando, o teto e a visibilidade diminuíam, uma neve leve caía, o vento soprava forte, a pista de decolagem tinha pouca iluminação. Pouco antes da 1h da madrugada, o avião avançou lentamente pela pista do aeroporto e decolou, fez uma volta de 180º e apontou para o norte. Não havia horizonte definido e a viagem não teria volta. Hubert Dwyer, proprietário da empresa área que viabilizou o transporte, não recebia notícias de Peterson desde que o avião havia levantado voo horas antes. Temendo o pior, ele pegou outro avião para refazer a rota do Beechcraft Bonanza. Do alto, viu os destroços e alertou o xerife local. A polícia chegou e todos perceberam que nada poderia ser feito. Os corpos dos músicos estavam espalhados sem vida pelo campo nevados onde o avião caiu. O legista concluiu que todos morreram na hora e, posteriormente, a perícia analisou que o piloto, Peterson, não tinha a experiência e os equipamentos necessários para efetuar um voo naquelas condições péssimas.
Foi um imenso choque, afinal, a morte dos artistas foi a primeira grande perda dentro da história do rock. A morte de Holly, Valens e Richardson foi manchete no mundo todo. Maria Elena, que estava grávida de seis meses, entrou em estado de choque e sofreu um aborto. A viúva do músico não compareceu ao funeral e nunca visitou o túmulo do falecido marido. Enquanto isso, “It Doesn't Matter Anymore", que Holly havia acabado de lançar, chegava aos primeiros postos das paradas mundiais.
Mas a Winter Tour Party não parou. Jennings, Alsup e Bunch seguiram cumprindo as datas pré-estabelecidas. Jennings assumiu o posto de vocalista. Quando o show chegou em Fargo, estava no palco uma banda chamada The Shadows, comandada por um rapaz de 15 anos chamado Robert Velline. Como muitos na época, ele era fanático por Buddy Holly. Velline e os amigos, todos músicos amadores, foram chamados pelos promotores locais para “tapar buraco”. No começo da década de 1960, depois de trocar o nome para Bobby Vee e assinar com Liberty Records, ele se tornou um grande astro e por toda a vida homenageou Buddy Holly. Chegou até a gravar um elogiado álbum juntos aos Crickets em 1961. Em 1963, Vee lançou o LP I Remember Buddy Holly. Os discos de Holly seguiam vendendo e a necessidade de material novo era urgente. Assim, a família dele entregou para o produtor Norman Petty o material que o cantor havia gravado informalmente em Nova York. Petty juntou os "tapes do apartamento", como passaram a ser chamados, e acrescentou a eles o acompanhamento da banda The Fireballs, que ele estava produzindo naquele momento. Até hoje são polêmicos (muitos achavam que Petty deveria ter chamado os Crickets), mas os overdubs deram certo e logo canções como "Learning The Game", “Peggy Sue Got Married" e "Crying, Waiting, Hoping" eram lançadas no mercado, conseguindo boa vendagens. Até a segunda metade da década de 1960 sempre havia produto "novo" de Buddy Holly no mercado. Mas é claro chegou um momento em que a fonte secou. Os Crickets seguiram sem Holly e tiveram uma carreira bem-sucedida, especialmente na Europa. Holly não foi esquecido. Em Lubbock, os fãs ainda fazem peregrinação ao túmulo do artista. Em 1972, Don McLean lançou "American Pie" e o sucesso da canção colocou Buddy Holly novamente na boca do povo. Paul McCartney, grande fã e colecionador da obra do artista texano, adquiriu na década de 1970 todo o catálogo e os direitos autorais relativos a Holly. A MPL Communications, empresa do ex-beatle, gerencia e supervisiona os lançamentos de material que tenha a ver com o músico norte-americano.
Em 1978, foi lançado o filme biográfico A História de Buddy Holly, com Gary Busey no papel principal. Indicado ao Oscar, o filme foi polêmico (houve problemas legais), mas é é bem agradável e dá uma dimensão adequada da importância de Buddy Holly na história e consolidação do rock. Com seu som energético e disciplinado, ele até poderia ser considerado um avô do power pop. Em 1994, o Weezer gravou uma canção como nome do pioneiro. A bela homenagem "Buddy Holly", escrita pelo líder Rivers Cuomo, foi um grande sucesso, mostrando que ele era mesmo imortal, cujo legado iria seguir atravessando décadas.
Em 2009, quando foram lembrados os 50 anos da morte de Buddy Holly, Paul McCartney falou à Rolling Stone EUA: “Ouvir e cantar as músicas de Buddy faz a gente ficar feliz. Parece que aquele tempo volta, e você é adolescente mais uma vez. Para mim, isso evoca lembranças lindas, porque foi bem quando eu estava começando a me ligar em música. John e eu cantávamos ‘Words of Love’ juntos, em casa. Ele cantava e eu seguia com a harmonia. E isso se transformou na espinha dorsal de muitas obras dos Beatles – John fazendo o vocal principal e eu cantando a harmonia. Passamos horas tentando descobrir como tocar o acorde de guitarra de abertura de ‘That’ll Be the Day’, e realmente fomos abençoados pelos céus no dia em que conseguimos. Essa foi uma das primeiras músicas que eu aprendi a tocar e, na verdade, foi a primeira que John, George e eu gravamos, em um disco caseiro”.
Foi um imenso choque, afinal, a morte dos artistas foi a primeira grande perda dentro da história do rock. A morte de Holly, Valens e Richardson foi manchete no mundo todo. Maria Elena, que estava grávida de seis meses, entrou em estado de choque e sofreu um aborto. A viúva do músico não compareceu ao funeral e nunca visitou o túmulo do falecido marido. Enquanto isso, “It Doesn't Matter Anymore", que Holly havia acabado de lançar, chegava aos primeiros postos das paradas mundiais.
Mas a Winter Tour Party não parou. Jennings, Alsup e Bunch seguiram cumprindo as datas pré-estabelecidas. Jennings assumiu o posto de vocalista. Quando o show chegou em Fargo, estava no palco uma banda chamada The Shadows, comandada por um rapaz de 15 anos chamado Robert Velline. Como muitos na época, ele era fanático por Buddy Holly. Velline e os amigos, todos músicos amadores, foram chamados pelos promotores locais para “tapar buraco”. No começo da década de 1960, depois de trocar o nome para Bobby Vee e assinar com Liberty Records, ele se tornou um grande astro e por toda a vida homenageou Buddy Holly. Chegou até a gravar um elogiado álbum juntos aos Crickets em 1961. Em 1963, Vee lançou o LP I Remember Buddy Holly. Os discos de Holly seguiam vendendo e a necessidade de material novo era urgente. Assim, a família dele entregou para o produtor Norman Petty o material que o cantor havia gravado informalmente em Nova York. Petty juntou os "tapes do apartamento", como passaram a ser chamados, e acrescentou a eles o acompanhamento da banda The Fireballs, que ele estava produzindo naquele momento. Até hoje são polêmicos (muitos achavam que Petty deveria ter chamado os Crickets), mas os overdubs deram certo e logo canções como "Learning The Game", “Peggy Sue Got Married" e "Crying, Waiting, Hoping" eram lançadas no mercado, conseguindo boa vendagens. Até a segunda metade da década de 1960 sempre havia produto "novo" de Buddy Holly no mercado. Mas é claro chegou um momento em que a fonte secou. Os Crickets seguiram sem Holly e tiveram uma carreira bem-sucedida, especialmente na Europa. Holly não foi esquecido. Em Lubbock, os fãs ainda fazem peregrinação ao túmulo do artista. Em 1972, Don McLean lançou "American Pie" e o sucesso da canção colocou Buddy Holly novamente na boca do povo. Paul McCartney, grande fã e colecionador da obra do artista texano, adquiriu na década de 1970 todo o catálogo e os direitos autorais relativos a Holly. A MPL Communications, empresa do ex-beatle, gerencia e supervisiona os lançamentos de material que tenha a ver com o músico norte-americano.
Em 1978, foi lançado o filme biográfico A História de Buddy Holly, com Gary Busey no papel principal. Indicado ao Oscar, o filme foi polêmico (houve problemas legais), mas é é bem agradável e dá uma dimensão adequada da importância de Buddy Holly na história e consolidação do rock. Com seu som energético e disciplinado, ele até poderia ser considerado um avô do power pop. Em 1994, o Weezer gravou uma canção como nome do pioneiro. A bela homenagem "Buddy Holly", escrita pelo líder Rivers Cuomo, foi um grande sucesso, mostrando que ele era mesmo imortal, cujo legado iria seguir atravessando décadas.
Em 2009, quando foram lembrados os 50 anos da morte de Buddy Holly, Paul McCartney falou à Rolling Stone EUA: “Ouvir e cantar as músicas de Buddy faz a gente ficar feliz. Parece que aquele tempo volta, e você é adolescente mais uma vez. Para mim, isso evoca lembranças lindas, porque foi bem quando eu estava começando a me ligar em música. John e eu cantávamos ‘Words of Love’ juntos, em casa. Ele cantava e eu seguia com a harmonia. E isso se transformou na espinha dorsal de muitas obras dos Beatles – John fazendo o vocal principal e eu cantando a harmonia. Passamos horas tentando descobrir como tocar o acorde de guitarra de abertura de ‘That’ll Be the Day’, e realmente fomos abençoados pelos céus no dia em que conseguimos. Essa foi uma das primeiras músicas que eu aprendi a tocar e, na verdade, foi a primeira que John, George e eu gravamos, em um disco caseiro”.
Muito legal. Triste que ele morreu cedo mesmo assim deixou um excelente legado.
ResponderExcluirBuddy Holly é essencial e fundamental para quem gosta de musica. Como o Jimi Hendrix viveu pouco e produziu muito. Compositor como ele na época acho que só o Chuck Berry.
ResponderExcluirJunto com as mortes de John Lennon marvin gaye e karen Carpenter foram as mais tristes da historia da musicas buddy big bopper e Ritchie eram maravilhosos e partiram de maneira estupida desse mundo ! diferente de muitos que buscam seu fim através de vícios em drogas !
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