Por João Lopes – Fonte: DNpt
Os Beatles estão de volta às salas de cinema através de um documentário de Ron Howard: The Beatles: Eight Days a Week. O novo filme que estreia quinta-feira, talvez pudesse parafrasear o título de uma comédia de Woody Allen. Qualquer coisa como: "Tudo o que você sempre quis saber sobre os Beatles, mas não sabia como perguntar..." Afinal de contas, há muito que os quatro de Liverpool estão inscritos na história da cultura popular. As convulsões de usos, costumes e ideias ao longo da década de 1960 não podem ser compreendidas sem passar pelas suas canções, desde a contagiante simplicidade de She Loves You até à ousadia experimental de A Day in the Life. E tudo isso vivido na vertigem de quem foi queimando etapas criativas a uma inusitada velocidade - as gravações dessas duas canções, por exemplo, estão separadas apenas por quatro anos, de 1963 a 1967. Essa vertigem surge como o centro irradiante do filme de Ron Howard, por certo um dos acontecimentos maiores na história recente do documentarismo. Num contexto audiovisual em que passamos a ter um espectacular acesso a muitos materiais informativos, The Beatles: Eight Days a Week celebra um princípio eminentemente cinematográfico, bem diferente da "acumulação" tantas vezes favorecida por modelos televisivos: a reprodução dos clichés mitológicos não basta para compreender a dimensão e os efeitos de um fenómeno, sobretudo de um fenómeno como os Beatles. Assistimos, assim, à fulgurante ascensão de quatro rapazes unidos pela paixão pela música, desembocando no célebre concerto do Shea Stadium, Nova Iorque, em 15 de agosto de 1965, quando John, Paul, George e Ringo reconheceram uma amarga verdade: os gritos da assistência tinham desvirtuado a sua própria performance, gerando um "circo" de que, afinal, eles não queriam ser personagens. Tal concerto constitui uma peça nuclear desta evocação, já que surge, na íntegra, depois do documentário propriamente dito (para uma duração total de 2 horas e 17 minutos). E através de um fascinante paradoxo cinematográfico: de fato, os Beatles queixavam-se de que já nem conseguiam ouvir-se uns aos outros; o certo é que o restauro do som é notável (reequilibrando música e... gritos), tanto quanto o da imagem, aliás tratada por esse talentoso diretor de fotografia que foi Andrew Laszlo. A produção de The Beatles: Eight Days a Week combina as mais célebres imagens emblemáticas (incluindo a primeira performance no programa de Ed Sullivan, na CBS, a 9 de Fevereiro de 1964) com momentos íntimos pouco conhecidos ou mesmo inéditos (por exemplo, com o manager Brian Epstein). A tudo isso somam-se os contributos de muitos fãs a que a produção apelou, sobretudo para conseguir alguns registos dos países por onde os Beatles passaram. Isto sem esquecer os depoimentos fundamentais de personalidades como Kitty Oliver (sobre a integração dos negros nos concertos), Richard Lester (que os dirigiu nos filmes A Hard Day"s Night e Help!, respectivamente de 1964 e 1965), Elvis Costello, Whoopi Goldberg ou Sigourney Weaver. Sendo uma aventura visceralmente musical, The Beatles: Eight Days a Week desenvolve-se também como um conto filosófico sobre a fama, suas euforias e ilusões, proezas e equívocos, num salutar contraponto à ideologia contemporânea dos "famosos" televisivos. É, além do mais, um filme de inequívoca comunhão afetiva, incluindo depoimentos atuais de Paul McCartney e Ringo Starr, e tendo contado com a colaboração de Yoko Ono e Olivia Harrison, viúvas de John Lennon e George Harrison.
Reflectindo as muitas transformações dos nossos tempos, o filme tem estreia mundial a 15 de setembro, surgindo dois dias mais tarde, nos EUA, no Hulu (serviço televisivo de aluguer). Sem esquecer que, como recorda Ron Howard, os Beatles foram um fenómeno global que não precisou da Internet e dos circuitos da nossa sociedade de informação.
Contagem regressiva... Mãos suando... Tá chegando a horaaaaaa...
ResponderExcluirNa espera, não criando muita expectativa. Espero que me surpreenda.
ResponderExcluirHey Howard: DON'T LET ME DOWN!
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