No início de 1974, George Harrison anunciou que planejava fazer uma tumê pela América no outono. Como já antecipara, a notícia encontrou grande apoio do público. Infelizmente, a visão cintilante em sua mente não conseguiu ser traduzida para o mundo real. Seu primeiro passo em falso foi esperar demais para escrever e gravar o material. Chegou a dar um título para o álbum, ‘Dark Horse’, mas desenvolveu uma terrível laringite quando ia começar a gravar as músicas e não conseguiria um tempo para recuperar a voz. Comprometido com um itinerário de concertos por sete semanas para os quais não estava preparado, partiu para os Estados Unidos sem o álbum completo. Agravou ainda mais sua condição nos ensaios e, quando a turnê começou, a qualidade de sua voz era péssima e diminuia ainda mais, a cada performance. Pior, a reação à justaposição de música indiana e a ocidental não foi tão calorosa quanto esperava. Seus apelos em relação a Krishna deixaram muitos na audiência se sentindo dogmatizados quando foram para ser entretidos.
Críticos começaram a se referir à turnê de George e amigos como a turnê “Dark Hoarse” (O rouco negro) e compararam sua voz às “noites boas e ruins” de Bob Dylan. George estivera em alguns dos concertos tumultuados de Bob Dylan no Reino Unido em 1966, quando a platéia o vaiou e gritou “Judas!” ao vê-lo entrando no palco com uma guitarra e uma banda de apoio, ao invés de seu violão. Dylan, deter¬minado a seguir sua própria vontade e deixar as coisas acontecerem, simplesmente se dirigiu à banda e disse: “Toquem mais alto!”. Harrison não era menos determinado a se manter verdadeiro consigo mesmo. Se ele recuasse diante das críticas, o que isso diria de seu comprome¬timento com suas crenças? Então ele pedia à multidão que cantasse “Hare Hare” e “Krishna! Cristo! Krishna! Cristo!” e os criticava quando não respondiam com entusiasmo suficiente. “Eu não sei o que estão pensando, mas daqui de cima vocês parecem bem mortos.” Para outra audiência apática, ele salientou: “Eu não estou aqui em cima pulando como um louco para meu próprio bem, mas para dizer que o Senhor está em seus corações. Alguém tem de lhes dizer isso”. Determinado a se distanciar do legado dos Beatles, resistiu a incluir músicas dos Beatles no show e, quando finalmente cedeu para agradar o público, ele mudou as letras. Em um cover da música de John Lennon, “In My Life”, ele cantou que “amava mais Deus”; e sua guitarra não sofria gentilmente, ela “sorria”. Mesmo quando grandes porções da plateia começavam a ir embora, ele continuava usando o palco como um púlpito. Terminava cada show com os mesmos dizeres: “Toda a glória para Sri Krishna!”.
Já não estando com boa saúde desde o começo da turnê, Harrison esgotava sua força física e mental a cada semana que passava. Quando retornou a Friar Park no fim da turnê, ele andava como se fosse um zumbi pelos jardins. “Isso foi o mais próximo que cheguei de um colapso nervoso. Eu não conseguia nem entrar na casa.” Ainda assim, estava satisfeito pela turnê ter representado alguma forma de vitória. Apesar das críticas negativas e seus vocais abaixo do padrão, apesar de qna se ter sofrido um colapso, centenas de milhares de pessoas haviam sido expostas à música indiana e à consciência de Krishna. O que o desapontou foram os tipos de pessoas que compareceram aos shows. Cada dia era uma jornada espiritual; ele pode ter falhado, mas fez um esforço consciente para amar Deus, seu povo e seu mundo. Os “fãs” que haviam ido ver George não possuíam objetivos tão nobres. “Eu poderia entrar no palco e ficar chapado, porque havia muitos baseados rolando. Eu só pensava: ‘Eu realmente tenho algo em comum com todas essas pessoas?’.
No começo da turnê, enquanto falava com a imprensa em Los Angeles, ele havia descrito a empreitada como um teste. Disse que ou ficaria “extasiadamente feliz” quando terminasse e faria uma turnê no mundo todo, ou voltaria novamente para sua “caverna” por cinco anos. No fim das contas, a volta à caverna se estendeu por 17 anos.
Um ponto luminoso nesse ano problemático fora Olivia Trinidad Arias. Nascida na Cidade do México em 1948, ela havia se mudado para a Califórnia com sua família. Trabalhando como secretária na A&M Records em 1974, foi contratada para o escritório em Los Angeles do novo selo de George, Dark Horse Records. Primeiro por telefone, depois pessoalmente, George a achou encantadora e animada. Ele gostava tanto de sua companhia que se certificou de que ela o acompanhasse em sua tumê, e o relacionamento dos dois floresceu. Depois da tumê, ela viajou com ele de férias para o Havaí, e de lá se mudou para Friar Park.
Acho que nunca veremos, "oficialmente", o material dessa tour sair devidamente remasterizado numa embalagem legal. Se o "Live In Japan" não viu a luz do dia até hoje, imagina esse?
ResponderExcluirTenho uma opinião formada sobre o que fez essa tour de 74 um fiasco. Mas não poderia falar aqui. Pareceria incoerente com o meu amor e, embora às vezes não pareça, esse é um blog família.
ResponderExcluirFala Edu!
ResponderExcluirFala Edu!!
ResponderExcluirFala Edu! Usa metáforas
ResponderExcluirAcho que o grande defeito foi o problema na garganta do Hare. Embora intercalar música indiana no meio de rocks tenha sido um erro (poderia abrir o show e priu) e também ele não tocar ou fazer de má vontade as músicas dos Beatles. In My Life virou uma aberração.
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