O single (no Brasil, compacto simples) dos Beatles com Strawberry Fields Forever e Penny Lane está fazendo 50 anos. Nos Estados Unidos, foi lançado no dia 13 de fevereiro de 1967. No Reino Unido, no dia 17. As duas canções (uma de John Lennon, outra de Paul McCartney) eram o prenúncio de algo extraordinário que estava em gestação: o álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, lançado em junho daquele ano.
Strawberry Fields Forever e Penny Lane são reminiscências da infância em Liverpool. Os Beatles fazem a música nova do presente falando do passado. Strawberry Fields Forever, embora assinada por Lennon/McCartney, foi composta por John Lennon a partir das lembranças que ele tinha de um orfanato do Exército da Salvação. O registro inicial não indicava que a canção pudesse se transformar num dos pontos altos da discografia do grupo e num marco indiscutível do rock psicodélico. Os diversos registros (há até um bootleg com eles) confirmam que a canção cresceu no estúdio, enquanto era gravada. E, aí, temos que somar a melodia enigmática de John ao arranjo deslumbrante de George Martin.
Penny Lane, igualmente atribuída à dupla Lennon/McCartney, foi composta por Paul McCartney. A letra fala de uma rua de Liverpool. É uma balada com as marcas do inspirado melodista que Paul sempre foi, desde muito jovem. O solo de trompete de David Mason remete ao barroco e às influências da música erudita que os Beatles, via George Martin, incorporaram ao trabalho deles.
Strawberry Fields Forever e Penny Lane se
completam em suas diferenças. São tão belas que formam um compacto sem lado B.
Na época, a canção de Lennon provocou uma certa estranheza em alguns ouvintes,
o que não ocorreu com a de McCartney. A passagem do tempo as fez igualmente
poderosas. Com todos os significados que
encerram, Strawberry Fields Forever e Penny Lane continuam
fascinantes!
Aqui, com a exclusividade de sempre, a gente confere o que disse Paolo Hewitt sobre o single em seu livro “Love Me Do – 50 momentos marcantes dos Beatles”.
A gangue debandou e cada
um foi cuidar da sua vida. Pela primeira vez desde a contratação pela EMI, eles
não se veriam por pelo menos um mês. Nas pausas anteriores, eles tiraram férias
juntos — Paul com Ringo, John com George, George com Paul. De forma reveladora,
dessa vez eles viajaram sozinhos. Enquanto o grupo se dispersava, um pensamento
rondava a mente de todos: Aonde vamos agora? Nunca uma banda deixara de fazer
tumês, tomando-se uma unidade apenas de gravação. Será que a estratégia
funcionaria?
Ringo
foi em busca de sol, George foi para a Índia estudar citara com Ravi Shankar,
Paul ficou em Londres para compor a trilha sonora do filme Lua de mel ao
meio-dia (1966), partindo em seguida para a África, e John foi para a Espanha
participar de Como ganhei a guerra (1967), de Dick Lester. Mais tarde, Lennon
contou ter sido esse o primeiro momento em que pensou em sair da banda. Ele
apenas não teve coragem para dar o primeiro passo. Se ser um Beatle tinha
começado a perder o encanto e o interesse, o mesmo podia ser dito de sua vida
doméstica. “Em vez de ir para casa, fui de imediato para a Espanha com Dick
Lester, porque não conseguia lidar com o fato de não estar sempre no palco”,
ele confessou. “E foi nessa hora que a semente foi plantada; eu tinha de dar um
jeito de sair daquilo tudo sem ser expulso pelos outros.” Sempre otimista, Paul
não tinha tais apreensões e rapidamente começou a bolar novas estratégias para
a banda. “Estávamos de saco cheio de ser os Beatles. Nós odiávamos de verdade
aquela merda dos quatro rapazes cabeludos. Não éramos rapazes, éramos homens
[...]. Além disso, passamos a gostar de maconha e nos considerávamos artistas
[...]. Então, num avião, tive uma ideia...” E essa ideia levaria à produção da
obra mais famosa da banda. Foi nesse cenário confuso que Lennon começou a trabalhar numa de suas melhores
canções, “Strawberry Fields Forever”. Por causa do filme de Lester, o roqueiro
também passou um tempo em Hamburgo com Neil Aspinall, visitando todos os
antigos locais. Quando voltou à Espanha (Cynthia, Ringo e a esposa, Maureen, se
juntaram ao guitarrista após duas semanas de filmagem), ele começou a mexer
com o passado e deu início à composição da música batizada com o nome do
orfanato situado próximo de sua casa em Liverpool. De acordo com uma declaração
posterior, a letra era uma psicanálise, inteligente e bonitinha, mas sem dizer
muita coisa. Um verso — no qual ele se vê sozinho no alto de uma árvore —
aludia à confusão a respeito de sua personalidade. Ele era um gênio ou um
louco? Segundo John, essa dúvida o atormentava desde os 5 anos de idade. Era essa habilidade de sempre mudar e desafiar que mantinha alertas os outros
Beatles. As pessoas ficavam cautelosas ao redor de Lennon; nunca se sabia ao
certo o que ele pensava e sentia. Isso não apenas lhe rendia o controle em
qualquer situação, como também qualquer incentivo positivo seu tinha muito
mais significado. Catorze anos após a separação dos Beatles, Paul falou sobre
ele: “Todos nós respeitávamos o John. Ele era mais velho e claramente o líder:
tinha o pensamento mais veloz, era o mais inteligente e todo esse tipo de
coisa (...). Certamente, ele era o que eu mais admirava". É tentador acreditar que McCartney compôs “Penny Lane" em retaliação à nova
canção de Lennon. Nada disso. Numa entrevista concedida em novembro de 1965,
ele mencionou que pensava em compor uma música chamada “Penny Lane” (provavelmente
em resposta à obra-prima anterior de John, “In My Life”, na qual o músico
lidava com lembranças da vida). A exemplo da contribuição de Lennon, “Penny
Lane" se referia à Liverpool da juventude do baixista.Repleta de melodia, entusiasmo e confiança, em “Penny Lane" McCartney
leva o ouvinte num passeio vivido pelas ruas, parando para destacar o
barbeiro, o banqueiro, a enfermeira e o bombeiro. São figuras tradicionais,
mas McCartney as subverte; o banqueiro não veste casaco na chuva, o bombeiro
carrega uma ampulheta, a enfermeira acredita estar atuando numa peça e o barbeiro
tem fotos de todos os fregueses atendidos. Lennon, que o ajudou a completar a
terceira estrofe, costumava se encontrar com Paul em Penny Lane, então criar
um final para os versos não era problema.A canção de John foi a primeira que os Beatles gravaram quando voltaram a trabalhar,
em 24 de novembro de 1966. Para comprovar como as coisas haviam mudado. “Strawberry
Fields Forever” demorou vários dias para ser gravada antes de ser considerada
quase pronta. “Love Me Do” consumira apenas duas horas. Os Beatles agora desfrutavam
do estúdio Abbey Road, que lhes permitia explorar todos os tipos de
possibilidades sonoras. Com a fita demo original de John ao violão, a canção
se transformou rapidamente numa obra-prima psicodélica, usando fitas com a
gravação rodando ao contrário, outras sendo executadas em rotações diferentes
e todos os tipos de instrumentação, como o melancólico mellotron utilizado na
introdução. Diversas versões da canção foram experimentadas até Lennon pedir
para Martin pegar duas versões diferentes e combiná-las. O fato de Martin ter
sido capaz de unir duas seções em tons diferentes e obter uma gravação
clássica é uma prova de sua habilidade.“Penny Lane” era a próxima da fila, consumindo nove dias de gravação. Essa
canção tinha muito mais apelo comercial que “Strawberry Fields Forever”. O
cativante riff de piano, as imagens vívidas, os sons brilhantes e a audácia
musical a tornavam uma candidata muito melhor ao sucesso de público.No dia 27 de janeiro de 1967, a banda assinou um contrato novo e melhor com a
EMI. A primeira coisa que a gravadora pediu foi outro compacto. Sem pensar duas
vezes, as duas canções foram entregues. E então, no dia 17 de fevereiro, essa
obra-prima dos Beatles foi lançada. Ao mesmo tempo, foram filmados vídeos de
divulgação, os quais, a exemplo das canções representadas, também traziam
imagens no sentido contrário com o grupo subindo e pulando de árvores) e
imagens surreais. Todos na banda usavam bigode e vestiam roupas coloridas. Pela primeira vez desde Please Please Me, um single dos Beatles não chegou ao primeiro lugar,
o que levou a mais especulações sobre a carreira dos Beatles ter chegado ao
fim. Na verdade, como eles não saíam em turnê pelo Reino Unido havia mais de um
ano, as especulações da imprensa quanto ao seu futuro não cessavam. O programa
Reporting 66 flagrou os quatro integrantes entrando no estúdio Abbey Road e os
questionou. Todos riram com a ideia de separação e seguiram para trabalhar no
novo LP, provisoriamente chamado Sgt. Peppefs Lonely Hearts Club Band.
Não chegou de imediato ao 1º, mas depois... e era pra ser mesmo duplo A.
ResponderExcluirAcho que não o mundo ainda não tinha se ligado no som, por isso não foi pro primeiro lugar.
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