Studio 50, West 53rd Street. Durante toda a manhã, os Beatles ensaiam para o Ed Sullivan Show. À tarde, eles gravam músicas para outro Ed Sullivan Show, que seria levado ao ar depois que deixassem o país. Este seria o terceiro show da banda - o primeiro seria exibido ao vivo naquela noite e o segundo seria transmitido ao vivo da Flórida, em 16 de fevereiro. Para a “terceira” apresentação eles gravaram: “Twist And Shout”, “Please Please Me” e “I Want To Hold Your Hand”. O público que participou da gravação do terceiro show foi diferente do que compareceu à transmissão ao vivo naquela noite, que também contou com a participação de Gordon e Sheila MacRae e The Cab Calloway Orchestra. Os Beatles abriram o show às 20h com “All My Loving”, “Till There Was You” e “She Loves You”, em seguida houve uma pausa comercial do analgésico Anadin, e outros convidados de Sullivan se apresentaram - Georgia Brown & Oliver Kidds, Frank Gorshin, Tessie 0’Shea. Após outro intervalo comercial, agora dos cigarros Kent, os Beatles fecharam o show com “I Saw Her Standing There” e “I Want To Hold Your Hand”. Foram 13 minutos e meio de televisão que mudaram a cara da música popular americana. De acordo com a pesquisa Nielsen, 73.700.000 pessoas assistiram aos Beatles no Ed Sullivan Show, um recorde de audiência não só do programa, como da história da TV. Meia hora antes de subir ao palco, Brian Sommerville entregou-lhes um telegrama: “Parabéns pela participação no Ed Sullivan Show e pela visita aos Estados Unidos. Esperamos que o programa seja um sucesso e a sua estada no país agradável. Lembranças ao sr. Sullivan. Atenciosamente, Elvis & The Colonel”. George leu o telegrama e perguntou com a maior cara de pau, “Quem é esse tal de Elvis?”. Após o programa, Murray the K levou os Beatles ao Playboy Club; mas George não pode acompanhá-los, pois ainda estava com dor de garganta. Protegidos por uma escolta policial, aventuraram-se a caminhar algumas quadras até a 59th Street, onde foram rapidamente levados ao bar do clube para jantar. Mais tarde, foram à discoteca Peppermint Lounge, o berço do twist, onde Ringo brilhou dançando com uma jovem chamada Geri Miller ao som dos Beatles. Os rapazes foram embora às 4h.Setenta e três milhões de norte-americanos sintonizaram seus aparelhos de TV no The Ed Sullivan Show do canal CBS na noite de 9 de fevereiro de 1964. Foi um susto, maior do que o próprio Ed Sullivan poderia supor. Quando já eram grandes na Inglaterra, os Beatles desembarcaram nos Estados Unidos ainda como uma incógnita ao apresentador de TV que havia tido problemas com garotos rebeldes em 1957, ao levar Elvis Presley a seus estúdios pela última vez. Muita euforia e audiência nas alturas, sua experiência ensinara, traziam sempre lancinantes dores de cabeça. Se o público só estava pronto para ver Elvis da cintura para cima, obrigando os câmeras a enquadrá-lo assim, como seria com quatro jovens inconsequentes de cabelos cortados na tigela vindos do outro lado do oceano com absolutamente nada a perder? Os Beatles chegaram e mudaram, mais do que os conceitos de Sullivan e a própria América, o universo da cultura pop. Setenta e três milhões de aparelhos ligados no Ed Sullivan para ver os Beatles! Uma audiência que só seria superada com a transmissão da chegada do homem à Lua em 1969. A polícia de Nova York informava que, pela primeira vez em uma noite, não havia feito registro de nenhuma ocorrência enquanto os Beatles se apresentavam. “Nem os ladrões saíram de casa”, brincou George Harrison.
Alguns jornalistas, indignados com o barulho que julgavam gratuito, foram ao ataque. “Visualmente, eles são um pesadelo. Musicalmente, um desastre: guitarras e bateria detonando uma batida impiedosa, que afugenta ritmo, melodia e harmonia. As letras (marcadas por gritos de ‘yeah, yeah, yeah’) são uma catástrofe, um monte de sentimentos inspirados em cartões do Dia dos Namorados”, escreveu a Newsweek. Pior foi o New York Daily News: “Bombardeada com problemas ao redor do mundo, a população voltou seus olhos para quatro jovens britânicos com cabelos ridículos. Em um mês, a América os terá esquecido e vai ter que se preocupar novamente com Fidel Castro e Nikita Kruchev”. 51 anos se passaram e ninguém se esqueceu dos Beatles – ao contrário de Fidel Castro, hoje mais uma memória do que uma ameaça, e Nikita Kruchev, secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética que cairia naquele mesmo ano de 64. A chegada dos Beatles à América fez do palco de Ed Sullivan apenas a largada para uma temporada transformadora de 34 dias que incluíram 32 shows em 24 cidades, girando um faturamento de US$ 7,5 milhões. A repercussão do impacto causado pela apresentação dos Beatles foi enorme. Os Beatles definitivamente conquistaram a América. Entusiasmados com um telegrama de Elvis Presley, deram uma entrevista coletiva no Hotel Plaza em NY. A imprensa norte-americana mudou suas impressões sobre eles: O “Daily News” afirmou que “as performances de Elvis não são nada comparadas à imagem dos Beatles no palco”. Ao Ed Sullivan, além do dia 9 de fevereiro, o grupo retornaria em 16 e 23 do mesmo mês, cada vez mais incendiário. As apresentações na TV norte-americana foram lançadas em DVD, deixando evidente o impacto do nível de decibéis que vinha da plateia.Ed Sullivan, morto em 1974 vítima de um câncer no esôfago aos 73 anos, esteve à frente do mais influente programa musical dos Estados Unidos entre 1948 e 1971. Viu a história ser escrita diante de seus olhos ao levar para lá Judy Garland, Beach Boys, Rolling Stones, The Mamas and The Papas, Jackson 5, Supremes, The Doors, James Brown, Ray Charles, Stevie Wonder, Janis Joplin, Creedence Clearwater Revival e todos os grandes representantes de duas gerações. Ao olhar para um Michael Jackson dançando com seus irmãos aos 6 anos de idade, disse apenas, antes de dar boa noite: “Olhem bem para ele, esse menino vai longe”. Muito bem. Como não poderia deixar de ser, o que todos nós queremos ver: nossa banda preferida quebrando o cacete, com toda classe, pros gringos delirarem.
Lembro que aquelas "marcas" foram noticiadas no mundo inteiro. Fenômeno.
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