quinta-feira, 30 de novembro de 2017
quarta-feira, 29 de novembro de 2017
GEORGE HARRISON - YOUR LOVE IS FOREVER
O beatle mais jovem e tímido se afastou cedo dos holofotes – mas a vida dele só se tornou ainda mais profunda, rica e selvagem
O garoto magricela com cabelo escuro e grosso ficava sentado na fileira do fundo de uma sala de aula lotada, com a cabeça abaixada, olhos intensos fixos no caderno. Enquanto a professora falava, ele rabiscava com o lápis, como se anotasse cada palavra. Só que George Harrison não estava escutando. Aos 13 anos, filho de um motorista de ônibus, ele viajava em visões de seu futuro, enchendo os cadernos com desenhos obsessivos de guitarras – o instrumento que desejava tocar desde que começara a ouvir os sucessos de Elvis Presley, a incorporação sônica de toda a diversão e alegria que faltava na sombria Liverpool pós-guerra. Tempos depois, encheu os cadernos de letras de músicas, partituras e, de vez em quando, o desenho de uma motocicleta.
George ficou amigo de um colega de classe mais velho, Paul McCartney, que precisava de um guitarrista para uma banda nova. “Conheço alguém”, disse Paul ao líder do grupo, John Lennon. “Ele é um pouco novo, mas é bom.” Harrison passou no teste, tocando a música instrumental “Raunchy” na parte de cima de um ônibus de dois andares em uma noite – e, assim, virou um beatle, ou pelo menos um dos quarrymen. Só que os companheiros de banda nunca deixaram de pensar nele como um parceiro júnior – um “beatle da classe econômica”, na formulação sardônica de Harrison – e logo ele começou a pressionar para conquistar uma posição melhor.
George Harrison não era exatamente o beatle silencioso: “Ele nunca calava a boca”, diz o amigo Tom Petty. “Era a melhor companhia que você pode imaginar.” Ele era o beatle mais teimoso, o menos afeito ao showbiz, até menos preso ao mito da banda do que Lennon. Gostava de repetir uma frase que atribuía a Mahatma Gandhi: “Crie e preserve a imagem de sua escolha”. Harrison desafiou a primazia de composição de Lennon e McCartney; introduziu ao Ocidente – praticamente sozinho – a música indiana, por meio da amizade com Ravi Shankar; foi a primeira pessoa a fazer do rock um veículo para expressão espiritual desavergonhada e, com o Concerto para Bangladesh, filantropia em grande escala; fez mais sucesso em Hollywood do que qualquer beatle, produzindo filmes como A Vida de Brian, do Monty Python; e desmentiu a reputação de recluso solitário ao montar o Traveling Wilburys, uma banda que era tanto um clube quanto um supergrupo.
Como o novo documentário dirigido por Martin Scorsese, Living in the Material World, e o livro que o acompanha deixam claro, George Harrison não tinha ocupações casuais: ele seguiu seus interesses em ukulele, corrida de carros, jardinagem e, especialmente, meditação e religião oriental com uma energia incansável. “George era muito curioso, e, quando se interessava por algo, queria saber tudo”, diz a viúva, Olivia Harrison, que o conheceu em 1974 e se casou com ele quatro anos depois. “Também tinha um lado louco. Gostava de se divertir, sabe.” A primeira esposa de Harrison, Pattie Boyd, descreveu-o como oscilando entre períodos de meditação intensa e festas pesadas, sem meio-termo. “Ele meditava por horas a fio”, ela escreveu na autobiografia Wonderful Tonight. “Então, como se fosse difícil demais resistir aos prazeres da carne, parava de meditar, cheirava cocaína, se divertia, paquerava e festejava... Não havia normalidade nisso também.” Diz Olivia: “George não via preto e branco, alto e baixo como coisas diferentes. Não dividia seus humores ou sua vida em compartimentos. As pessoas pensam: ‘Ah, ele era assim ou assado, ou muito extremo’. Mas todos esses extremos estão dentro de um círculo. E podia ser muito, muito calado ou muito, muito espalhafatoso. Quer dizer, quando começava, já era. Ele não era, digamos, um banana, isso eu garanto. Ele conseguia ir mais longe do que todos”.
Harrison e os colegas de banda perderam shows de talento local para uma banda liderada por um anão - mas nem isso os abalou. "Éramos convencidos", afirmou Harrison. As coisas se reverteram intensamente, e ele adorou aquilo no início, adotando as fases do sucesso de "uma maneira quase adolescente": seu aprendizado de menor de idade no bairro da luz vermelha de Hamburgo (onde perdeu a virgindade enquanto os outros beatles fingiam dormir no mesmo quarto - e aplaudiram no final); o processo doloroso de desenvolver seu próprio estilo na guitarra, calcado no country e no R&B; o início da beatlemania; a fama, o dinheiro, as mulheres, a união entre os quatro. "Éramos pessoas relativamente sãs no meio da loucura", disse Harrison. Nos primeiros anos, também idolatrou Lennon em particular: "Ele me disse que admirava muito, muito o John", conta Petty. "Provavelmente queria muito a aceitação dele, sabe?" Só que, em 1965, Harrison experimentou ácido e, de repente, passou a não acreditar nos Beatles. "Não demorou muito para se dar conta de que 'não é isto'", conta Olivia. "Ele percebeu: 'Não é isto que vai me sustentar. Não vai ser o suficiente para mim'." "É bom ser popular e ser procurado, mas, sabe, é ridículo", disse Harrison à Rolling Stone em 1987. "Percebi que é algo sério, minha vida está sendo afetada por todas essas pessoas gritando." Ele se sentia fisicamente inseguro. "Com o que está acontecendo, presidentes sendo assassinados, toda a magnitude da nossa fama me deixou nervoso." No set de Os Reis do Iê-Iê-Iê, George conheceu Pattie Boyd, uma modelo loira e magra; no set do filme seguinte dos Beatles, Help!, encontrou a música indiana clássica - que o levou a uma busca que duraria muito mais que seu casamento. A tentativa de dominar a cítara o levou à ioga, que o levou à meditação, que o levou à espiritualidade oriental, que ajudaria a definir sua vida. "Ele estava buscando algo muito superior, muito mais profundo", disse Shankar, virtuose da cítara que se tornou amigo e mentor de Harrison. "Parece que ele já tinha algum histórico indiano nele. Caso contrário, é difícil explicar por que ficou tão atraído por um tipo de vida e filosofia, até religião, em particular. Parece muito estranho, a não ser que você acredite em reencarnação." Por um tempo, era como se ele estivesse sentado nos fundos da sala de aula dos Beatles, rabiscando cítaras - daí "Within You without You", a bela e anómala faixa de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. No entanto, depois de perceber que nunca seria mais do que um citarista mediano, George voltou a se focar na guitarra e na composição, criando algumas das melhores músicas dos Beatles: "Something", "Here Comes the Sun", "While My Guitar Gently Weeps", além de "Not Guilty" e "All Things Must Pass", que Lennon e McCartney erroneamente rejeitaram. Também começou a tocar guitarra com slide, desenvolvendo uma voz instrumental emotiva e diferenciada que refletia seu espírito recém-liberado.
Lutar por seu lugar na banda e pelo lugar de suas músicas nos discos era exaustivo - tanto quanto simplesmente ser um beatle. "Às vezes, eu me sinto como se tivesse mil anos", afirmou Harrison - que tinha 27 quando os Beatles se separaram. "Aquilo estava me envelhecendo... era uma questão de parar ou acabar morto." Os dias de turnê da banda tinham acabado, mas a beatlemania o deixou com algo parecido com um transtorno de estresse pós-traumático. "Se você tivesse 2 milhões de pessoas gritando para você, acho que demoraria muito tempo para parar de ouvir isso na sua cabeça", diz Olivia. "George não foi feito para aquilo." Harrison fez amizade com Bob Dylan ("Eles tinham uma conexão de alma", segundo a viúva) e Eric Clapton, e seus momentos com os dois artistas o mostraram um caminho adiante. Quando os beatles implodiram em 1970, ele lançou o álbum triplo All Things Must Pass, abrindo seu baú de músicas.
No ano seguinte, a pedido de Shankar, Harrison persuadiu Clapton, Dylan e Ringo Starr, entre outros, a se unirem para o Concerto para Bangladesh, que definiu o modelo para todos os grandes shows beneficentes nos 40 anos seguintes. O show foi um triunfo, mas o resultado foi uma confusão dolorosa, à medida que os esforços de Harrison para fazer a renda chegar aos refugiados enfrentavam códigos fiscais e burocracias. O casamento dele também estava desmoronando: de maneira infame, Pattie o trocou por Clapton, embora a amizade dos dois tenha sobrevivido de alguma forma. Apesar de toda a base espiritual, Harrison estava bebendo demais, festejando demais, dormindo com várias pessoas. "Senses never gratified/Only swelling like a tide/ That could drown me in the material world" (Sentidos nunca satisfeitos/ Só subindo como uma maré/ Que poderia me afogar no mundo material), cantou, esgotado, na faixa-título do álbum seguinte, Living in the Material World. A turnê norte-americana de Harrison em 1974 foi a última dele, com exceção de uma curta temporada no Japão em 1991. Com longos solos de Shankar, vocais fracos de Harrison e a recusa em tocar músicas conhecidas dos Beatles (ele gritava durante versões desanimadas de "Something"), as críticas foram brutais. Harrison ficou angustiado com as multidões desordeiras e a intensamente festeira banda de apoio que ele havia escolhido. Aquilo não parecia mais ser o mundo dele. "George falava muito sobre seu sistema nervoso, que ele simplesmente não queria mais barulhos altos", conta Olivia, que conheceu-o no ano da turnê. "Não queria ficar mais estressado."
Harrison lançou mais sete álbuns cada vez menos interessado em sua carreira convencional. "George não era disso", diz Petty. "Não queria ter um um agente. Estava fazendo o que queria e não dava valor algum ao estrelato." Seu relacionamento com Olivia o deixou centrado, e ele diminuiu as festas. Harrison ficou extasiado quando o casal teve seu único filho, Dhani, em 1978. «As únicas coisas que ele achava que eu tinha de fazer na vida são ser feliz e meditar", conta Dhani, que cresceu em Friar Park - a mansão de 120 quartos no interior da Inglaterra que Harrison comprou em 1970, prejudicando as finanças até de um beatle. A propriedade era linda e misteriosa, com cavernas, gárgulas, cascatas e vitrais instalados por Sir Frank Crisp, um milionário excêntrico que foi dono dela até morrer, em 1919. Harrison tinha fixação por restaurar os jardins de 14 hectares, que estavam em estado lastimável.
Quando criança, conta Dhani, "Eu tinha certeza de que ele era só um jardineiro" - uma conclusão razoável, já que Harrison trabalhava 12 horas por dia ali, perdendo jantares em família enquanto perseguia sua visão, plantando árvores e flores. "Ser o jardineiro, não conviver com ninguém e simplesmente ficar em casa, isso era muito rock and roll, sabe?", diz Dhani, que entendia a paixão do pai: "Quando você está em um jardim realmente bonito, isso te faz lembrar constantemente de Deus".
Depois de um hiato de cinco anos entre álbuns, Harrison convocou o produtor Jeflf Lynne para Cloud Nine, de 1987, que lhe fez chegar ao Número 1 com "Got My Mind Set on You," uma cover animada de uma obscuridade dos anos 60. O mais importante: uma sessão para gravar um lado B - uma colaboração casual com Lynne, Dylan, Petty e Roy Orbison - o levou ao Traveling Wilburys, o projeto pós-Beatles do qual ele mais gostou.
Ele gostava de fazer parte de uma banda novamente, sem falar da colaboração com Dylan, amigo e herói. “Fico muito à vontade tocando em equipe”, dizia Dylan a Petty. Os Wilburys gravaram dois álbuns (Dhani se lembra de passar tempo com Jakob Dylan jogando o game Duck Hunt no Nintendo enquanto a banda trabalhava no segundo disco, no andar de baixo), mas nunca fez um único show. "Toda vez que George fumava um e tomava algumas cervejas, começava a falar de fazer turnê", conta Petty. "Acho que falamos seriamente sobre isso uma ou duas vezes, mas ninguém se comprometeu de verdade." Um terceiro álbum dos Wilburys era sempre uma possibilidade. "Nunca achamos que não daria tempo", afirma Petty. Em vez disso, depois de uma turnê de 13 datas no Japão com Clapton, Harrison voltou a ser um jardineiro. "Ele não queria ter obrigações", diz Olivia. Continuou compondo e gravando músicas no estúdio em casa, mas recusou ofertas para aparecer em premiações -ou para qualquer outra coisa. "Simplesmente tenho de abrir mão disso tudo", dizia. "Não me importo com discos, filmes, estar na TV ou todas essas coisas."
Em 1997, foi diagnosticado com câncer na garganta e passou por um tratamento com radioterapia. Dois anos depois, um homem com problemas mentais conseguiu entrar em Friar Park e deu uma facada no pulmão de Harrison. George se recuperou, mas Dhani acredita que os ferimentos enfraqueceram o pai quando este enfrentou um câncer de pulmão, mais tarde. A doença se espalhou para o cérebro e George Harrison morreu em 29 de novembro de 2001. Olivia tem certeza de que o quarto do hospital se encheu de uma luz brilhante enquanto a alma deixava o corpo dele. "Ele dizia: 'Olha, não somos estes corpos, não vamos nos prender a isso'", diz Petty, que faz meditação desde que o amigo o introduziu na prática. "George falava: 'Só quero me preparar para ir do jeito certo e para o lugar certo'." Ele faz uma pausa e ri. "Tenho certeza de que conseguiu."
Em meados deste ano, Dhani Harrison, agora com 33 anos, voltou para Friar Park e passou um longo tempo olhando para o jardim. Nunca esteve tão bonito - as árvores que o pai plantou finalmente cresceram. "Ele provavelmente está rindo de mim", afirma Dhani, "dizendo: 'É assim que tem de ser'. Você não constrói um jardim para si mesmo, agora mesmo - constrói para gerações futuras. Meu pai definitivamente tinha visão de longo prazo".
GEORGE HARRISON - GONE TROPPO - 1982
No início dos anos 1980, George Harrison havia atingindo um equilibrio invejável em sua vida. Ele definitivamente deixara para trás um período obscuro e as tentações da vida de estrela do rock. Estava levando uma vida próspera, mas espiritualmente orientada, rodeado por esposa, filho e muitos amigos. Ele agora era o mestre de sua própria carreira e poderia escolher compor novas músicas ou manter-se improdutivo. Também possuía um papel satisfatório como produtor de filmes. Além disso, vivia em uma das propriedades mais bonitas da Inglaterra. A nova década se alinhava à sua frente como um caminho iluminado. John Lennon havia passado seus últimos cinco anos levando uma vida doméstica, como um dono de casa, evitando ser o centro das atenções e aproveitando a vida ao lado do filho pequeno. Depois de seu assassinato, e talvez como consequência dele, Harrison seguiu o exemplo do amigo. Ele tinha uma existência reclusa, raramente saía de casa, cuidando do jardim sem parar e aproveitando a infância de Dhani.
Comprou uma casa perto de Hana, na ilha de Mauí, e quando o tempo frio se instalava na Inglaterra ele escapava para seu esconderijo tropical. Mas mesmo lá não era remoto o suficiente. George estava sempre na missão de ir o mais longe que pudesse. A família descobriu o Havaí e construíram uma casa lá. Mas ele queria continuar. Então partiram para a Tasmânia, Nova Zelândia, Austrália... buscando isolamento. As experiências que George Harrison teve na Austrália lhe renderam um título para seu novo álbum - "Gone Troppo". Uma expressão australiana para falar de alguém que “ficou doido” por causa do clima tropical.
Lançado nos Estados Unidos em outubro de 1982, "Gone Troppo" alcançou apenas a posição 108 na lista da Billboard. Harrison não se perturbou. O álbum foi tão massacrado pela crítica que George Harrison optou por não promover o disco, que acabou passando quase despercebido.Tendo experimentado tudo o que a fama e o sucesso podem oferecer, não se importava muito mais. Ele não tinha a natureza competitiva de John e Paul e não escondeu não ter mais a energia ou desejo de entrar no tedioso jogo de promoção que parecia ser exigido para que emplacasse. O que importava para ele é que o álbum completava seu contrato com a Warner Bros. Completamente livre para seguir seu caminho, ele iria se afastar do mercado musical por cinco anos.
Produzido por George Harrison, Ray Cooper e Phil McDonald, um dos mais subestimados discos de George Harrison, inclusive pelo próprio, Gone Troppo foi seu 10º álbum de estúdio, gravado entre maio a agosto de 1982 em Friar Park e lançado em 27 de outubro de 1982 pela Dark Horse Records. É o último álbum do artista em cinco anos, durante os quais se afastou de sua carreira musical para se concentrar em outros assuntos, como cuidar da família, da casa e de seus imensos jardins e acompanhar as corridas de Fórmula 1. Harrison andava achando o clima musical atual alienante. Seu apelo comercial diminuiu, com Somewhere In England, em 1981. Com um álbum deixado em seu contrato de gravação atual, Harrison decidiu terminá-lo e gravou "Gone Troppo", lançando-o sem participar de qualquer promoção. O design do discão, assim como seus encartes são creditados a "Legs" Larry Smith, anteriormente da Bonzo Dog Doo Dah Band. O álbum alcançou o número 108 nos Estados Unidos e não conseguiu entrar nas paradas do Reino Unido.
Lançada como o primeiro single do álbum, “Wake Up My Love” foi escolhida como faixa de abertura de "Gone Troppo". Saturada de sintetizadores que se tornam cansativos, essa faixa guarda muitas semelhanças desconfortáveis com “Teardrops”, de "Somewhere in England" (1981), tanto no tom exagerado como no desempenho nos gráficos. Nem uma das duas atingiu o Top 40 na América, e ambas terminaram sem classificação no Reino Unido.
"That's the Way It Goes", Harrison escreveu durante um período em que se desinteressou pela música contemporânea e estava desfrutando de algum sucesso como produtor de filmes com sua própria Handmade Films. Em parte influenciado por suas férias prolongadas no Havaí e na Austrália, a letra mostra sua consternação com a preocupação do mundo com o dinheiro e o status, embora, ao contrário de várias das declarações musicais anteriores de Harrison sobre o assunto, ele expressa resignação e aceitação. Também foi gravada em Friar Park, "That's the Way It Goes" inclui contribuições de músicos britânicos como Henry Spinetti, Herbie Flowers e Ray Cooper, juntamente com uma participação vocal profunda do cantor de gospel americano Willie Greene. Vários comentadores identificaram "That's the Way It Goes" como um dos destaques de Gone Troppo. Em novembro de 2002, um ano depois da morte de Harrison, Joe Brown interpretou a música no Concert for George em Londres. Sua inclusão marcou um exemplo raro de uma música pós-1973 de Harrison sendo realizada nesse concerto tributo.
"I Really Love You" é a única faixa não autoral do álbum. Foi escrita por Leroy Swearingen e originalmente gravada por seu grupo vocal chamado The Stereos em 1961. Esse disco atingiu o número 29 no quadro da Billboard Top 40. George Harrison resolveu reagravá-la em 1982. A gravação em estúdio com Harrison, Herbie Flowers, Mike Moran, Ray Cooper, e os vocais e backing repartidos entre Harrison, Willie Greene, Bobby King e Pico Pena, tornam a música uma deliciosa brincadeira e um dos pontos altos de Gone Troppo. Também foi lançada como o segundo single nos Estados Unidos e Holanda, em fevereiro de 1983, mas não conseguiu emplacar.
A quase instrumental “Greece” traz a guitarra slide de Harrison dobrada seguida por sintetizadores e tem duas partes cantadas, embora curtas: “Yugo to Slavia, Half past Armenia, Down and towards the Med. Left side of Turkey, Nowhere near Fiji, You will find Greece. You may Athena, Handed on Plato, Hole in my Socrates, I came Acropolis, On Monty Pythagoras, Ulysses Greece”.
A alegre e ensolarada “Gone Troppo” que dá nome ao álbum, encerra o lado 1 com um saldo positivo, ao ritmo das marimbas do produtor Ray Cooper. Talvez, o grande erro de George no álbum, tenha sido subestimar o potencial da belíssima "Mystical One", absolutamente mágica, seguramente, deveria ter sido o carro-chefe do disco, ao invés da comercial “Wake Up My Love”. "Mystical One" é uma olhada de George Harrison para dentro de si mesmo, em busca de um caminho pacífico, que não exija que ele atue como roqueiro pregador. “I am yes I am. I know what I feel. You came in my life, made me more real” - Eu sou sim, eu sou. Eu sei o que eu sinto. Você veio em minha vida, me tornando mais real”. Será que é possível uma música como essa ficar ainda mais linda? Sim, é! Em 2004, quando “Gone Troppo” foi remasterizado e reeditado, como parte da caixa de luxo “The Dark Horse Years 1976-1992”, a reedição adicionou uma versão demo acústica de "Mystical One", somente com a voz de Harrison e o violão como sua única faixa bônus. Indescritível!
"Unknown Delight" é notável, encantadora e sublime. Escrita para o recém-nascido Dhani, reflete um foco emergente nas alegrias pessoais da vida. O contentamento de Harrison não é apenas completo, é mais profundo do que qualquer coisa que ele já havia contemplado. Novamente, os backing vocals de Willie Greene, Bobby King e Pico Pena, adcionam uma atmosfera mágica à música. "Baby Don't Run Away" segue a mesma linha, só que desta vez, os destaque são os backing vocals da cantora Rodina Sloan apoiados por Billy Preston.
A enigmática Dream Away começa com um estranho mantra em um dialeto indecifrável. Uns dizem que é um pseudo-hawaino, outros que seria um trocadilho como o que Harrison fez em ‘Extra Texture’ - "OHNOTHIMAGEN" ("Oh, not him again") - "Oh, não ele de novo!". Se fosse isso, a coisa mais próxima talvez seria algo como “Aren't I Lucky, Aren't I Lucky, Lucky I Am Hurray Oh, See me on the TV Show”. Isso, poderia fazer algum sentido, já que Terry Gilliam disse em uma entrevista que a letra de "Dream Away" era uma tirada de Harrison para o diretor sobre seu comportamento durante a produção do filme e, mais especificamente, a tensão que aumentou entre eles devido à relutância de Gilliam em incluir as músicas de Harrison num filme produzido pelo próprio Harrison. Pessoalmente eu não acredito nisso. Prefiro a versão de outros, que dizem que é somente um cântico de louvor a Deus, algo como “Aleluia, Aleluia, Meus olhos vêem, Deixe-me dizer que sim, Me veja como me viram”. Seja como for, "Dream Away" é a penúltima faixa de "Gone Troppo" e também foi lançada como single somente no Japão. É um hino épico que poderia facilmente ser a trilha sonora das batalhas lutadas por Krishna e Arjuna narradas no Bhagavad-Gitã, mas foi a trilha do filme “Time Bandits” de 1981, produzido pela Handmade Films, e estrelado por Sean Connery e grande elenco. "Dream Away" é exibida durante os créditos finais. Sem dúvida, a única parte boa do filme “TimeBandits” – Os aventureiros do Tempo.
“Aquele que sabe, não fala. Aquele que
fala, não sabe. E eu vou seguindo em ciclos”."Circles", uma
música lenta e contemplativa, encerra o ciclo de "Gone Troppo". George Harrison
começou a compor na Índia em 1968 enquanto ele e os outros Beatles estudavam Meditação
Transcendental com o Maharishi Mahesh Yogi. O tema central é
a reencarnação. A composição
reflete o aspecto cíclico da existência humana como, de acordo com a doutrina hindu, a alma continua passando
de uma vida para outra. Embora os Beatles nunca tenham gravado formalmente,
"Circles" foi uma das demos apresentada ao grupo na
casa de Harrison, em Kinfauns , em maio de 1968,
enquanto consideravam o material para o álbum The Beatles. A canção foi novamente
retomada durante as sessões para seu álbum de 1979, George Harrison, mas permaneceu
guardada até Troppo. Durante este período, Harrison suavizou a mensagem
espiritual em seu trabalho e também começou a renunciar ao negócio da música
para uma carreira como produtor de filmes com sua empresa Handmade Films. A música foi
produzida por Harrison, Ray Cooper e o ex-engenheiro
dos Beatles, Phil McDonald, com gravação no estúdio de
Harrison em Friar Park. "Circles", foi
considerada pelos críticos ‘excessivamente sombria’. Nos Estados Unidos, foi lançada
como lado 2 do segundo single do
álbum, com "I Really Love You" do lado 1, em
fevereiro de 1983. Como é a faixa final de "Gone Troppo",
seria a última música ouvida em um novo álbum de George
Harrison até 1987, quando ele retornou com "Cloud Nine".
Bem,
essas foram as minhas impressões desse álbum fantástico, simplesmente
incrível e sem dúvida, um dos meus preferidos. Mas parece que o disco que eu
tenho e ouvi milhares e milhares de vezes, não foi o mesmo que foi enviado para
os críticos, que estraçalharam "Gone Troppo" sem qualquer dó ou piedade! Algumas dessa críticas estúpidas, a gente confere aqui:
Steve Pond, da Rolling Stone, disse que, “Ultimamente,
Harrison tornou-se um produtor de cinema muito melhor do que músico, e
fez um álbum tão despreocupado, que chega a ser bobo e totalmente
superficial", e completava: "Wake Up My Love é a única música digna
de nota, e é zero!”. Roy Trakin, da revista Musician, considerou que, “na sequência
do assassinato de John Lennon dois anos antes, a
honestidade torturada de Harrison condena a tentativa desse álbum de curar
aquelas feridas psíquicas com música calma e sem mão". O crítico William Ruhlmann
da AllMusic disse: "Claramente,
Harrison não podia mais tratar sua carreira musical como um meio-filho de meio
período para seus interesses em corridas de carro e produção de filmes se ele
quisesse mantê-lo. As
músicas desse álbum são aéreas, quase frívolas, suficientes para preencher as
obrigações contratuais, mas longe da produção criativa de uma década atrás,
logo que George saiu dos Beatles”. Escrevendo na edição do Guia da Rolling Stone, Mac Randall opinou:
"A fraca ‘Wake Up My Love’, abre Gone Troppo e a assustadora
'Circles' (sobra não aproveitada dos Beatles) o fecha, mas não há nada no
meio”. John Harris da Mojo compara Gone
Troppo ao álbum final de Harrison para EMI / Capitol, Extra Texture (1975), e o
descarta, classificando-o como "mais um álbum de contrato, desta vez com
Warner Brothers, gravado super-rápido e lançado sem interesse e sem nenhuma
promoção”. O editor John Metzger também o mantém em baixa consideração,
dizendo: "Gone Troppo foi, sem dúvida, o pior dos álbuns solo de
George Harrison... Algumas músicas, como That's the Way It Goes e Unknown
Delight, poderiam ter funcionado melhor se tivessem arranjos diferentes, mas
como um todo, o Gone Troppo é em grande parte esquecível e às vezes
embaraçoso que apela apenas para conceitos fanáticos". De forma mais
positiva, Kit Aiken da Uncut descreve Gone
Troppo como "um retorno a boa forma" de Harrison depois
de Somewhere in England, e uma coleção de "músicas agradáveis e de
coração leve feita por um grupo de companheiros com nada para provar". Em
outra avaliação favorável para a Rolling Stone, Parke Puterbaugh
escreveu: "Gone Troppo pode ser o álbum mais subestimado de Harrison...
[Ele] captura Harrison em suas músicas mais relaxadas e brincalhonas, como a
faixa-título. Como poderia desprezá-lo?".
Passaram-se 35 anos do lançamento do álbum e até hoje, nunca entendi o porquê da ira de todos esses cães raivosos! Foi apenas mais uma página na história desse cara incrível, desse músico absolutamente formidável que É George Harrison. Essas críticas tão bizarras ajudaram, ainda mais (e muito) a consolidar o crescimento espiritual e artístico do nosso Hare. Nunca vou entender como puderam ter sido tão cruéis com um dos álbuns de George Harrison. Será que ansiavam por um novo “All Things Must Pass”? Quantas vezes Jesus teve que andar sobre as águas? A verdade é que foram muito injustos com um disco que pode não ser uma das sete maravilhas, mas, com ou sem divulgação nenhuma, é um grande disco com belas músicas que nos remetem a um passado que parecia que tudo estava bem. Fico pensando, cada vez que escuto as músicas, do que será que todos esses caras caretas não gostaram? E, a conclusão que chego é: porque George não deu a mínima para eles, não se vendeu como eles. Na época do seu lançamento, confesso que fiquei surpreso por ele lançar um outro álbum apenas com um ano de diferença do anterior, mas também me senti feliz e orgulhoso de um dos meus 4 artistas preferidos ainda estar bem vivo (e feliz!) e em paz consigo mesmo, me maravilhando com músicas lindas e sua guitarra incomparável, apenas fazendo seu trabalho e cumprindo sua missão na vida da forma mais honesta possível. No final, quem “pagou o pato” foi o mundo, fomos nós, que ficamos sem ouvir uma nova música de George Harrison durante mais de cinco anos. That’s the way it goes. Hare Krishna!
Passaram-se 35 anos do lançamento do álbum e até hoje, nunca entendi o porquê da ira de todos esses cães raivosos! Foi apenas mais uma página na história desse cara incrível, desse músico absolutamente formidável que É George Harrison. Essas críticas tão bizarras ajudaram, ainda mais (e muito) a consolidar o crescimento espiritual e artístico do nosso Hare. Nunca vou entender como puderam ter sido tão cruéis com um dos álbuns de George Harrison. Será que ansiavam por um novo “All Things Must Pass”? Quantas vezes Jesus teve que andar sobre as águas? A verdade é que foram muito injustos com um disco que pode não ser uma das sete maravilhas, mas, com ou sem divulgação nenhuma, é um grande disco com belas músicas que nos remetem a um passado que parecia que tudo estava bem. Fico pensando, cada vez que escuto as músicas, do que será que todos esses caras caretas não gostaram? E, a conclusão que chego é: porque George não deu a mínima para eles, não se vendeu como eles. Na época do seu lançamento, confesso que fiquei surpreso por ele lançar um outro álbum apenas com um ano de diferença do anterior, mas também me senti feliz e orgulhoso de um dos meus 4 artistas preferidos ainda estar bem vivo (e feliz!) e em paz consigo mesmo, me maravilhando com músicas lindas e sua guitarra incomparável, apenas fazendo seu trabalho e cumprindo sua missão na vida da forma mais honesta possível. No final, quem “pagou o pato” foi o mundo, fomos nós, que ficamos sem ouvir uma nova música de George Harrison durante mais de cinco anos. That’s the way it goes. Hare Krishna!
GEORGE HARRISON ALBUNS
terça-feira, 28 de novembro de 2017
JOHN LENNON & ELTON JOHN - LIVE AT MADISON SQUARE GARDEN
Publicada originalmente em 28 de novembro de 2014
O Dia de Ação de Graças, conhecido em inglês como Thanksgiving Day, é um feriado nacional celebrado nos Estados Unidos e no Canadá, como um dia de agradecimentos a Deus, com orações e festas, pelos bons acontecimentos ocorridos durante o ano. A partir de 1939, instituiu-se que o Dia de Ação de Graças seria comemorado definitivamente na quinta-feira da quarta semana de novembro e que seria um feriado nacional. A data é geralmente um dia quando as pessoas usam seu tempo livre para estar com a família, fazendo grandes reuniões. É também um dia em que muitas pessoas dedicam seu tempo para pensamentos religiosos, orações e missas. O prato principal geralmente é peru, o que dá ao dia o apelido de "Dia do Peru".
Na noite do Dia de Ação de Graças, em 28 de novembro de 1974, durante o show de Elton John no Madison Square Garden, em Nova York, John Lennon subiu ao palco para um público pagante pela útima vez, cumprindo uma aposta feita ao amigo Elton John: se "Whatever Gets You Thru the Night" chegasse ao 1º lugar ele participaria da apresentação de Elton no Madison Square Garden. Nessa noite, John pagou a promessa. Tocaram três músicas: "Whatever Gets You Thru the Night", "Lucy In The Sky" e para a surpresa de todos, uma versão muito boa de "I Saw Her Standing There".
Elton John era talvez, a maior estrela pop do mundo no momento, mas uma rara aparição ao vivo de John Lennon foi o suficiente para roubar o show. John Lennon estava visivelmente nervoso por estar no palco, mais uma vez, com o rugido ensurdecedor recordando os auges da Beatlemania uma década antes. Durante a gravação do álbum “Walls And Bridges” de Lennon, Elton John contribuiu com vocais e teclados em duas canções: "Whatever Gets You Thru the Night", e Surprise Surprise (Sweet Bird Of Paradox).
"Whatever Gets You Thru the Night", como já foi dito, foi o objeto da tal aposta. Lennon era o único ex-Beatle que ainda não tinha atingido um número 1 com um single, e concordou com a sugestão de Elton que, se ‘Whatever Gets You’ chegasse ao número 1 nas paradas, eles iriam tocar juntos no concerto de Ação de Graças de Elton naquele ano. Em novembro de 1974, "Whatever Gets You Thru the Night", bateu “You Ain't Seen Nothing Yet” do BTO (Bachman,Turner, Overdrive), e foi direto para o topo da Billboard Hot 100 nos Estados Unidos. O concerto foi no dia 28 de novembro e a aparição de Lennon no palco sem aviso prévio antes do evento, deixou o público em êxtase.
Lennon parecia resplandecente e sóbrio, com cabelos longos e um terno preto, empunhava uma guitarra Fender Telecaster preta. Ele, Elton e banda cantaram três músicas abrindo com "Whatever Gets You Thru the Night", depois "Lucy In The Sky With Diamonds" e por último, uma versão sensacional de "I Saw Her Standing There". Lucy In The Sky tinha sido gravada em estúdio por Elton John em julho de 1974, e foi lançada como single 10 dias antes do concerto. Lennon realizara backing vocals e guitarra na gravação. “I Saw Her Standing There”, foi sugerida por Elton, e prontamente aceita por Lennon.
Antes do grande final de John com essa versão matadora de “I Saw Her Standing”, ele disse: “Eu gostaria de agradecer ao Elton e os meninos por esta noite. Nós tentamos pensar em um número para terminar com que eu possa sair daqui e ficar doente, e nós pensamos em fazer uma de um antigo noivo distante chamado Paul. Esta é uma que eu nunca cantei, é um velho número dos Beatles, que todos nós conhecemos”.
Após o show, John disse: “Elton queria que eu fizesse ‘Imagine’, mas eu não queria aparecer como Dean Martin fazendo seus sucessos clássicos. Eu queria ter um pouco de diversão e tocar um pouco de rock and roll e eu não queria fazer mais do que três, porque o show era de Elton, afinal. Ele sugeriu I Saw Her Standing There e eu pensei 'grande', porque eu nunca cantei essa. Paul cantava e eu fazia a harmonia. Quando eu saí do palco, eu disse aos jornalistas: "Foi uma boa diversão, mas eu não gostaria de ganhar a vida com isso". Eu não sou contra performances ao vivo, mas eu não tenho um grupo e apenas não estou interessado nisso agora, mas posso mudar de ideia”.
Yoko Ono estava na plateia no Madison Square Garden. Embora mais tarde Lennon tenha dito que ela não estava ciente de sua presença, foi ele quem lhe mandou ingressos para o show, e ela lhe telefonou para agradecer. Ono também enviou orquídeas para Lennon e Elton, que ambos usaram no palco. O relacionamento de Lennon e Ono foi retomado em fevereiro de 1975, apesar de um mito criado de que sua volta aconteceu no backstage após o show. O show de Elton John foi a última aparição de Lennon para um público pagante. Depois do show, ele e May Pang participaram de uma festa no Hotel Pierre, em Nova York. Na época, o casal estava planejando comprar uma casa nos subúrbios da cidade, mas isso nunca aconteceu.
Por mais incrível que possa parecer, não existem grandes registros filmados desse show histórico, ou se existem, estão guardados às sete chaves. Esse vídeo que a gente confere agora, é fake, mas é legal. É um trecho do filme “John & Yoko – Uma História de Amor”, que já apareceu aqui no Baú.
Mas esse aqui é verdadeiro, embora sejam apenas fragmentos dos shows de Elton John, John Lennon aparece apenas por alguns segundos a partir dos 3'42".