sábado, 6 de julho de 2019

O DIA QUE JOHN LENNON CONHECEU PAUL McCARTNEY


É claro, óbvio e evidente, para qualquer um, fã ou não dos Beatles, que a imagem aí de cima é meramente ilustrativa. Certa vez, um amigo já disse aqui mesmo, algum dia, que o dia 6 de julho de 1957, devia ser guardado como um dia santo – que deveria ser feriado mundial! Exageros à parte, o fato é que essa data é realmente muito especial para qualquer fã dos Beatles. Foi o dia da festa na igreja de St. Peter, quando, depois da apresentação dos Quarrymen, as vidas de John Lennon e Paul McCartney se cruzaram de forma definitiva, ao serem apresentados um ao outro por um amigo comum, Ivan Vaughan.
Ali, naquele dia, começaria a nascer a dupla de compositores mais famosa de todos os tempos! E o resto é história. E como a gente gosta é muito de história, confere agora, mais uma vez, especialmente em homenagem a esta data tão especial, um trechinho do livro de Peter Ames Carlin – Paul McCartney – Uma Vida. Sensacional!
Como as grandes coisas da vida, tudo isso começou com uma ideia pequena, improvisada. Ivan Vaughan sugeriu que Paul fosse a uma festa e desse uma espiada na banda de uns amigos. Não era longe, os muros de pedra da igreja da paróquia de St. Peter ficavam logo acima da colina e na esquina da casa de Ivan, em Woolton. Ele frequentava as festas de sábado ao ar livre na igreja havia muitos anos, brincando nos jogos de Carnaval, assistindo à parada, se regalando com os doces e a limonada que vendiam no jardim paroquial. Mas os festejos tinham ainda um apelo especial para os garotos mais velhos. Havia garotas, é claro, montes de garotas, e música também. Inclusive, ele acrescen­tou, uma banda de skiffle comandada pelo seu vizinho de quintal, John Lennon. Paul o conhecia? A banda se chamava Quarrymen, batizada em homenagem à escola secundária Quarry Bank, na qual estudavam quase todos os seus membros. Ivan às vezes tocava com eles, assu­mindo o baixo quando Len Garry, o baixista, não podia fazê-lo. Então, que tal ir até lá? Paul sempre gostou de festas — outro traço herdado do antigo líder da Jim Mac's Band, em especial se tivessem garotas em mo­vimento. A perspectiva de conhecer outros músicos aspirantes as tor­nava ainda melhores. Os Quarrymen estavam escalados para fazer sua primeira apresentação às 16h15, e Paul começou a se preparar logo depois do almoço, separando as calças pretas apertadas e um casaco branco esportivo com abas nos bolsos e uma costura em fios prateados, refletivos, que bruxuleavam na luz. Colocou uma do­se extra de brilhantina no cabelo, para proteger-se do calor, e depois conduziu sua bicicleta Raleigh de três marchas pela Forthlin Road em direção à Mather Avenue, passando pelo parque Calderstones, e de­pois subindo a colina de St. Peter. Ele estava um pouquinho atrasado - os Quarrymen já estavam tocando no palco externo (na verdade, a carroceria aberta de um caminhão) quando chegou. Enquanto abria caminho entre as pessoas, ele ficou impressionado não com a banda em si — que nada mais era do que uma junção de músicos —, mas com o carisma do adolescente que ficava na frente e no centro, tomando para si o único microfone do palco.
Então, aquilo era John Lennon! Paul o reconheceu, embora jamais tivessem sido apresentados. Ele era o cara mais velho de fala áspera que Paul tinha visto na periferia de Allerton e Woolton — rindo no ônibus com um amigo, se pavoneando pela Mather Avenue — o tipo de cara indisciplinado, barulhento, do qual Paul aprendera a se afastar na época da escola em Speke. E não se enganem: John parecia um teddy boy, um desses jovens robustos vestidos no estilo eduardiano que podiam ser vistos encostados contra o muro de algum lugar, saindo do encosto para ameaçar alguém que passasse por ele. Só que ele era amigo de Ivan, o que significava que não podia ser de todo ruim. E aqui John estava usando uma camisa quadriculada e uma calça escura, um feixe de cabelo castanho caindo sobre a testa úmida, enquanto tocava sua guitarra acústica e cantava no microfone de pedestal. Os demais — outro guitarrista, um baixista, um tocador de wash-board, um baterista e um tocador de banjo — seguiam junto. Mas o foco era John Lennon. Ele não era um gran­de guitarrista, sob nenhum aspecto. De fato, sua maneira de tocar era muito estranha e as letras também estavam erradas. Todavia, o que quer que cantasse com sua voz crua e poderosa — "Puttin' On the Style”, "Maggie Mae”, “Railroad Bill”, “Be-Bop-A-Lula” —, Lennon projetava um prazer anárquico e travesso. A banda tocou durante algum tempo, talvez trinta minutos, e de­pois saiu rapidamente para pegar suas coisas e liberar o palco. Um aviso sobre o baile no salão de festas da igreja, naquela noite, com a apresentação de dois números dos Quarrymen, ecoou pelo gramado. Paul se encontrou com Ivan, que lhe deu tapinhas nas costas e apon­tou para a pequena cabana de madeira na qual os Quarrymen, jun­to com outros participantes do dia, guardavam suas coisas entre um show e outro. “Vamos dar um alô”.
Ivan levou Paul até a cabana, onde encontraram o grupo. Colin Hanton, bate­rista dos Quarrymen, levantou a cabeça e acenou. “Vi Ivan chegando com esse outro rapaz”, ele disse. “Esse cara que não conhecíamos. E então eles começaram a conversar com John”. A princípio, o líder dos Quarrymen demonstrou certo desdém. Deu de ombros, não falou muita coisa, percebeu a aparência do jovem Paul — os últimos vestígios da fofice adolescente faziam-no parecer ainda mais novo do que os quinze anos que tinha. Ivan continuou, dizendo a John que Paul era um grande guitarrista e que sabia tocar inúmeras canções de ouvido. Eles conversaram sobre violões e John afirmou que deixava o seu afinado no G aberto, como um banjo. Sua mãe lhe havia ensinado aquilo e ele jamais aprendera a afinação correta. Falaram sobre canções, comparando o que sabiam e o que ainda estavam ansiosos por descobrir. Quando Paul mencionou o sucesso de Eddie Cochran, "Twenty Flight Rock", os olhos de John cintilaram com interesse — ele a conhecia mesmo? Acordes, letra, tudo? "Claro!" Ele apontou a guitarra de John. "Posso?" John deu de ombros. Paul apanhou a guitarra, procurou os pinos e rapidamente reajustou as cordas na afinação usual. Com isso, girou o instrumento, achou um acorde G — tocando com as cordas colocadas do lado errado para as suas mãos — entrou pelo primeiro verso. Oh well, I gotta girl with a record machine... Os Quarrymen ficaram impressionados. "Foi fantástico", lembrou Eric Griffiths, o outro guitarrista. "Ele tinha tanta confiança, deu um verdadeiro show." Ivan ficou radiante. Até John parecia impressionado. Deliciado com a audiência, Paul continuou. Fez um passeio por "Be-Bop-A-Lula" — um gesto corajoso, porque os Quarrymen haviam acabado de cantá-la no palco —, e depois apresentou uma série de sucessos de Little Richard: "Tutti Frutti", "Long Tall Sally", "Good Golly Miss Molly”. Paul tinha se apaixonado pelas linhas irrequietas do baixo de Richard, e pelos seus vocais poderosos, em tom elevado, e passou horas aprendendo a imitar os seus wop-bop-a-loo-bop e os penetrantes berros em falsete. "Ele conseguia tocar de um jeito que nenhum de nós conseguia, nem o John", continuou Griffiths. “Não queríamos parar de ouvir." John estava visivelmente emocionado também, rindo e aplaudindo o tempo todo. Mas quando Paul terminou, John pensou em convidar o novato para se juntar à banda. “Eu era o chefe até então", ele disse a Hunter Davies, em 1967. "Passou pela minha cabeça que eu teria de mantê-lo na linha, se o deixasse entrar. Mas ele era bom, valia a pena trazê-lo.” Naquela noite, eles seguiram seus caminhos separados, sem qualquer promessa de que voltariam a se encontrar. John, no entanto, aventou a ideia com seu melhor amigo e colega de banda, Pete Shotton, enquanto caminhavam de volta para casa naquela noite, e Pete concordou imediatamente: aquele tal de Paul seria uma ótima aquisi­ção para a banda. Assim, quando Pete viu Paul montado em sua Raleigh a caminho da casa de Ivan, dias depois, acenou para ele e apresentou o convite: ele gostaria de se juntar aos Quarrymen? Paul deu de ombros, balançou a cabeça. Bem, sim, claro. Parece legal. Então, Shotton prosse­guiu, ele podia vir ensaiar para o próximo show, no centro da cidade, no Cavem Club, no dia 8 de agosto? Paul fez uma careta. Estaria via­jando de férias. Mas não ia demorar, tudo bem? Shotton meneou a cabeça, e cada qual seguiu seu caminho. Pete foi a pé pela Menlove Avenue, de volta para casa, enquanto Paul pedalou sua bicicleta. "Dali em diante, fui numa direção completamente nova. Depois de conhecer John, tudo mudou".

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