quarta-feira, 29 de abril de 2020

PAUL McCARTNEY - CHOBA B CCCP - O ÁLBUM RUSSO



Tal e qual John Lennon em seu ábum “Rock’n’Roll”, de 1975, Paul McCartney também tinha um antigo projeto de gravar um álbum com velhos sucessos que marcaram sua juventude. Conhecido como o ‘álbum russo’ CHOBA B CCCP (pronuncia-se Snova Vess-ESS-ESS-erque nada mais é que "Back in the USSR" em russo, é um álbum de covers, gravado em dois dias, em que Paul passa por canções de seus ídolos Little Richard, Elvis, Fats Domino e outros dos primórdios do rock. São 13 faixas de pura energia interpretadas com brilhantismo por McCartney, como Lucille, Summertime e Kansas City. O disco foi um dos primeiros vinis de música pop prensados pela gravadora estatal Melodiya e as 400 mil cópias prensadas se esgotaram rapidamente, disputadas por ávidos beatlemaníacos soviéticos e também por colecionadores estrangeiros. No Ocidente, o álbum só sairia após a URSS acabar. “CHOBA B CCCP” foi o primeiro disco de um artista ocidental a sair em um país comunista, liderando as paradas de lá, e sendo lançado no resto do mundo apenas em 1991.

“CHOBA B CCCP”, foi como um presente para os fãs soviéticos que, em geral, não conseguiram obter suas gravações legítimas, muitas vezes tendo de se contentar com cópias; para eles houve uma mudança, ter um álbum que as pessoas de outros países não seriam capazes de obter. Assim, o álbum de Paul McCartney nunca foi vendido fora da URSS. Após o colapso da União Soviética, o 'Chobba' recebeu um lançamento mundial, em 1991, atingindo #63 no Reino Unido e #109 Nos EUA.
Aqui a gente confere um pequeno trecho do livro "Paul McCartney - Uma Vida" de Peter Ames Carlin
, lançado aqui no Brasil em 2011 pela Editora Nova Fronteira, falando sobre a ideia do lançamente de um álbum russo.

20 e 21 de julho de 1987 - Então, ele voltou ao começo. Numa tarde quente de julho, no estúdio do moinho de vento em Sussex, uma pequena reunião com alguns caras que também faziam música. Assim como nos velhos tempos, sem ensaios e expectativas reais além de se divertir o máximo pos­sível. Só os quatro: Paul no baixo, um veterano do Cavern chamado Mick Green na guitarra, o tecladista do Ian Dury/The Clash, Mick Gallagher, no piano, e um baterista recém-saído da escola de música chamado Chris Whitten. Amplificadores ligados, guitarras plugadas, engenheiro pronto para fazer a fita rolar, e A-one! Two! Three! Four! Well, l gotta a girl with a record machine/ When it comes to rockiti’ she’s a queeti... (Twnty Flight Rock). Exatamente como teria sido ouvido numa festa de igreja, num subúrbio de Liverpool, no verão de 1957. Só que agora trinta anos tinham se passado e aquilo significava muito mais para Paul McCartney. Basta seguir fazendo rock. Uma tomada, talvez duas, depois a pró­xima canção. “Lucille”, "Lawdy Miss Clawdy”, “Midnight Specia”, “That’s All Right Mama". De olhos fechados, qualquer um podia se sentir no Casbah. Somos os Quarrymen e estamos aqui para tocar rock ’n’ roll! As canções eram as mesmas, assim como era igual a alegria espon­tânea. A sessão terminou ao cabo de algumas horas e, no dia seguinte, eles fizeram aquilo tudo de novo, com um ou dois instrumentistas alternativos, e partiram para novas faixas. Assim como costumavam fazer em Hamburgo, quando preenchiam o tempo tocando números padronizados na batida da máquina de rock ’n’ roll de Mersey. Eis agora "Don't Get Around Much Anymore", só que com uma cadência forte e um solo de guitarra bárbaro na pausa. Esses encontros não eram destinados a se tornar sessões de grava­ção oficiais, Paul não estava trabalhando em nada de especial, apenas queria ver o sangue correr e lembrar o motivo pelo qual tinha começa­do a fazer música, em primeiro lugar. Entretanto, ao ouvir com aten­ção, ele começou a mudar sua cabeça. Meu Deus, era tudo tão fresco e natural! Apenas uns caras fazendo rock, e não era isso mesmo que de­via acontecer? Então, Paul teve uma ideia: Vamos piratear isso! Fazer al­gumas cópias às pressas, colocá-las em embalagens mimeografadas e fazê-las se parecerem com imitações russas de merda! Richard Ogden, o novo empresário, ficou na dúvida, mas, cumprindo sua obrigação, levou a proposta à EMI para ver os chefôes fazerem exatamente aquilo que ele esperava: cortar o mal pela raiz. "Oh, nós hoje estamos chatos, não estamos?”, Paul resmungou. "Muito superiores para ter esse tipo de diversão!” Ogden compensou seu cliente imprimindo algumas có­pias do disco, de presente, embrulhando-as em capas galhofeiras com letras do alfabeto cirílico, como se tivessem sido contrabandeadas pe­los capitalistas orientais astutos do sonho de Paul. Muito engraçado, e feliz Natal. Naquela época, a cabeça de Paul estava girando outra vez, enquan­to a brisa fresca da Perestroika soprava no: continente. Por que não lançar o disco na União Soviética como um gesto de boa vontade? Ele enviou Ogden em missão aos escritórios da Melodiya, a gravadora de discos estatal oficial, com sede em Moscou, e no espírito de paz eles. falaram sobre o lançamento, pela EMI, de quatrocentas mil cópias de um álbum intitulado Choba B CCCP, que, traduzido para o inglês, se chamou Back in the USSR. De modo inevitável, é claro, floresceu um novo mercado internacional de contrabando de discos e de vendas a varejo. O que era vendido por menos de sete dólares nas lojas soviéti­cas podia chegar a 250 dólares nos Estados Unidos, e à cifra astronô­mica de quinhentas libras (quase novecentos dólares) na Inglaterra. Paul não viu um centavo disso tudo, sem dúvida, mas fez sua pirataria, de qualquer maneira. Assim que as cópias piratas chegaram aos críti­cos, haja vista a raridade delas e a espontaneidade com que as sessões originais foram realizadas, provocaram uma mudança radical em suas ideias, o que os discos originais de Paul não tinham conseguido fazer durante mais de uma década.

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