Em 8 de dezembro de 1980, John Lennon foi brutalmente assassinado por um idiota. Entretanto, o que pouco se sabe, é que naquela segunda-feira, uma testemunha teria presenciado tudo. Fonte: Observatório de Música.
Já havia passado das 22h quando John Lennon e Yoko Ono deixaram o estúdio Record Plant, em Nova York. Eles iriam jantar fora, mas Lennon, então com 40 anos quis passar em casa antes, para dar “boa noite” ao filho, Sean, de 5 anos. Às 22h40, o casal saiu da limusine diante do edifício Dakota, onde moravam, ao lado do Central Park. A artista japonesa se dirigiu ao portão em forma de arco na entrada do prédio, passando por um vulto que estava ali parado. Era Mark David Chapman, o mesmo cara que pediu um autógrafo a John quando os dois saíram de casa para o estúdio, por volta das 17h. Chapman esperou até que o ex-Beatle passasse também e disparou vários tiros a três metros de distância.
Naquele instante, o então estudante universitário Sean Strub, de 22 anos, andava com dois amigos pela Avenida Central Park West. Ao ouvir os estampidos, Strub achou que se tratava do escapamento de um carro. Mas, ao virar na Rua 72, percebeu que algo trágico tinha acontecido quando viu um grupo de pessoas falando alto e chorando na calçada diante do Dakota. Strub chegou à cena do crime junto com um carro da polícia, que surgiu em alta velocidade. Ele percebeu que alguém havia sido baleado, mas não imaginava quem era a vítima. "Entendi o que realmente tinha acontecido quando vi um policial inclinado sobre Lennon no chão, tentando fazê-lo reagir, perguntando várias vezes se ele sabia quem era. Foi quando percebi que a mulher angustiada ao lado deles era Yoko Ono. Uma cena horrível. Não havia tempo para esperar uma ambulância e os policiais o colocaram no banco de trás da viatura. Enquanto carregavam John, o sangue jorrava dos ferimentos no peito".
Hoje escritor e ativista, diretor de uma ONG nacional que trabalha pelo direito das pessoas com HIV/Aids nos Estados Unidos, Sean Strub foi testemunha do assassinato mais traumatizante da Cultura Pop no século XX. Ex-fundador dos Beatles, Lennon poderia ter completado 80 anos em outubro, se não tivesse sido morto covardemente por Chapman naquela noite. Três dos quatro tiros atravessaram o corpo do artista causando grandes estragos, enquanto uma bala ficou alojada em sua artéria aorta, ao lado do coração. Os projéteis usados tinham pontas ocas, que causam muito mais danos que as convencionais. Levado às pressas para o Hospital Roosevelt, os médicos abriram o peito do músico e massagearam seu coração com as mãos, mas sem êxito. Ele foi pronunciado morto às 23h15.
Assim que chegou ao edifício Dakota, Strub viu o assassino parado tranquilamente, na cena do crime, antes de ser levado preso. “Ele estava apoiado com as costas e um pé na parede da passagem entre a calçada e o pátio interno do prédio. Tinha um sorriso pretensioso no rosto, como um gato que devorou o canário, por assim dizer. Não aparentava remorso. Estava talvez a 12 metros de distância de Lennon. Fiquei em estado de choque por bastante tempo. Não conseguia me concentrar, estava obcecado por notícias de violência e me tornando ainda mais revoltado com políticos que se opunham ao controle de armas. Nunca mais voltei para a faculdade".
Cumprindo a pena de prisão perpétua numa penitenciária de segurança máxima desde o assassinato, Chapman já deu algumas explicações para tentar justificar o que fez. Nascido no estado americano do Texas, ele havia sido um fã de Lennon, mas se voltou contra o artista depois de se tornar um religioso fanático, que criticava Lennon, principalmente, pela famosa declaração que os Beatles eram “mais famosos do que Jesus”. Durante seu julgamento, ele se declarou culpado afirmando que aquela era “a vontade de Deus”. Hoje aos 65 anos, Chapman já pediu perdão pelo crime em mais de uma ocasião. No último mês de agosto, ele teve um pedido de liberdade condicional negado pela 11ª vez.
Houve comoção global com a morte de John Lennon. Milhares de pessoas tomaram as ruas para realizar vigílias em cidades como Nova York, Liverpool e Rio de Jneiro. O Cardeal-arcebispo do Rio em 1980, Dom Eugênio Araújo Salles deu a seguinte declaração sobre a execução do artista: “Lamento profundamente a morte desse ser humano, mas neste momento é bom lembrar talvez que o mundo tenha se esquecido do grupo dele. Este mesmo grupo chegou a anunciar ao mundo que era mais conhecido que Jesus Cristo”.
Sean Strub conta que só mais tarde entendeu o quanto a noite daquela segunda-feira, há 40 anos, marcou sua vida para sempre. Ele escreveu um pouco sobre isso em seu livro “Contagem de corpos: Uma memória de política, sexo, AIDS e sobrevivência” (2014). O americano nascido em Iowa, que tinha se mudado para Nova York um ano antes, para estudar na Universidade Columbia, hoje entende que presenciar aquele episódio de violência o traumatizou muito mais do que ele pensava, na época do crime. “Testemunhar aquela brutalidade e a angústia imposta à mulher que ele amava, aos seus familiares, aos fãs e ao mundo moldou minha perspectiva sobre a violência, a mortalidade e a preciosidade de todos os momentos que temos. Foi naquele outono (do Hemisfério Norte) que eu contraí o HIV, e a epidemia de Aids sequestrou minha vida para eu me tornar um ativista. Ver de tão perto a morte de um homem jovem, um artista no auge da sua criatividade, me forneceu um contexto doloroso para todas as outras mortes que eu veria nos anos seguintes”.
Declaração infeliz e desnecessária do D. Eugenio
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