Paul foi o último Beatle a tirar uma folga da Inglaterra durante o hiato entre o final da última turnê e o inicio do LP seguinte. O primeiro projeto dele fora dos Beatles foi compor para a trilha sonora de The Family Way, um filme dirigido pelos irmãos Roy e John Boulting baseado na peça de 1963 All in Good Time, de Bill Naughton, que tinha se tornado a figura mais badalada da época desde que escrevera a peça e depois, o roteiro do filme Como Conquistar as Mulheres. Apesar do título espirituoso (na época "in the family way” era um eufemismo para uma mulher solteira grávida), The Family Way era a história de duas pessoas recém-casadas que não tinham sido capazes de consumar o casamento. Foi estrelado por John Mills, sua filha Hayley Mills e Hywed Bennett.
Os produtores procuraram Paul depois que o Beatle disse a Brian Epstein que queria compor para o cinema. Os irmãos Boulting foram os primeiros a aparecer. Entrevistado na Espanha sobre seu futuro, John se referiu ao projeto como algo que ele e Paul tinham sido convidados para fazer juntos. E disse: “Sei que temos músicas para compor assim que eu voltar. Paul acabou de assinar um contrato para compormos a trilha de um filme". Paul disse que, durante as negociações, foi sugerido que ele trabalhasse com o letrista Johnnv Mercer, coautor de clássicos como “That Old Black Magic" e "Moon River", mas deixou a oportunidade passar, porque na época não sabia quem era Mercer. De início, quando Paul estava em busca desse tipo de trabalho, sua ideia era compor um tema, não uma trilha inteira. Embora tivessem feito muito barulho sobre o fato de um beatle estar "compondo” para um filme, seu envolvimento com a música foi mínimo. Ele desenvolveu uma pequena peça ao piano e a entregou a George Martin, que a arranjou e orquestrou. Martin então submeteu a composição a uma quantidade suficiente de repetições, variações e reformulações, de modo que durasse 21 minutos. Aquilo foi mais tarde gravado no CTS Studios durante três dias pela George Martin Orchestra, mas Paul recebeu os créditos pela composição.
"Martin é o intérprete", Paul explicou ao Sunday Times. "Toco temas e acordes no piano ou violão, ele coloca tudo no papel, e eu falo sobre a ideia que estou tendo para a a instrumentação. Depois ele trabalha nos arranjos. Certa vez, tentei aprender a ler partitura com um sujeito que é um grande professor. Mas ficou parecido demais com um dever de casa. Tenho um bloqueio para enxergar a música em pontinhos pretos num papel. Parece braille para mim”. Outra peça foi solicitada para uma cena de amor no meio do filme, mas Paul estava demorando para criar alguma coisa. Martin ficou frustrado com a situação e alegou que foi preciso literalmente ficar em pé ao lado de Paul ao piano na Cavendish Avenue e forçá-lo a arrancar das teclas algum fragmento de música que ele pudesse estender, manipular e transformar numa partitura a ser gravada com a orquestra. “Preciso de uma pequena melodia melancólica", ele disse a Paul. “Era para você compor a música para esse negócio, e eu supostamente a devia estar orquestrando. Mas para fazer isso preciso de uma melodia, e você precisa inventar uma". No fim das contas, Paul produziu o que Martin descreveu como “um fragmento doce e pequeno de uma valsa”. Foi o suficiente, e com um toque de magia, se transformou em “Love in the Open Air".
O disco da trilha sonora não foi um sucesso comercial, mas ironicamente (considerando a quantidade de trabalho investido naquilo) deu a Paul McCartney e George Martin, ainda em 1967, o prêmio Ivor Novello pela composição de melhor trilha sonora cinematográfica. “Se a impressão é de algo feito às pressa, é porque foi de fato feito às pressas”. Disse Martin. Além de fornecer a melodia principal, Paul sugeriu que uma orquestra de instrumentos de sopro fosse usada para complementar a tuba e o órgão de igreja que faziam parte dela. "Para mim foi muito interessante, porque pude criar algo sozinho. Poder 'escapar" da rotina foi ótimo... A idéia de fazer algo "solo", só para uma mudança foi bom demais porque tudo nos Beatles é como se fosse um monstro de quatro cabeças. A gente se veste igual, faz tudo igual, e ter composto a trilha foi ótimo para fugir disso tudo por um momento", declarou Paul McCartney, em Londres no dia 18 de dezembro de 1966.
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