quarta-feira, 29 de junho de 2022

1975 - JOHN LENNON INTERVIEWED BY BOB HARRIS - SENSACIONAL!


Em 1975, John Lennon há muito tempo já transcendia a música e era o rosto definitivo da década, tipicamente franco em seu comportamento. A BBC enviou Bob Harris a Nova York para gravar uma entrevista especial com o ex-Beatle que tinha toda a atenção de seus compatriotas ingleses ligados em cada palavra de Lennon. Harris estava em boa forma como entrevistador, conseguindo fazer com que Lennon fosse sincero, aberto e reflexivo, o que levou a um encontro fascinante e respeitoso entre a dupla - uma conversa que terminou com uma performance impressionante de "Stand By Me"A clássica entrevista de Bob Harris com o ex-Beatle foi gravada em Nova York em março de 1975 e transmitida no Old Grey Whistle Test da BBC em 18 de abril daquele ano. John Lennon foi questionado sobre uma reunião dos Beatles e sua resposta ficou gravada na lenda como evidência de que tal reunião poderia ter sido possível um dia. Harris ficou especialmente encantado com isso durante a sessão que se seguiu e mais tarde ele diria: “Eu realmente amei conhecer John e filmar essa conversa maravilhosa. Foi no início de 1975, pouco antes do lançamento do álbum 'Rock n Roll'. Que dia fabuloso!”.

Esse ponto da entrevista merece destaque em particular: quando Harris mencionou que iria fazer “a pergunta inevitável” e antes que ele terminasse, Lennon, com um sorriso irônico completou: “Eles vão voltar a ficar juntos?”. E o entrevistador acrescenta ainda mais profundidade à pergunta: “Em primeiro lugar, existe alguma possibilidade? Em segundo lugar e muito mais importante, você acha que é uma boa ideia?”. Em vez de oferecer a Harris uma frase de efeito, Lennon responde com uma resposta cheia de nuances: "Essa é outra história, se seria ou não uma boa ideia. É estranho porque teve um tempo que se me perguntassem isso, eu diria: "Ah, jamais! Mas que diabos. Voltar? Não, eu não." Depois chegou um tempo que era, tipo: "Por que não?" Se a gente estiver a fim de gravar um disco ou fazer alguma coisa... Todo mundo vislumbra um show no palco, para mim, se a gente voltar, é no estúdio de novo. Show no palco é outra história. Se a gente tiver algo para dizer no estúdio, ok. O que eu estou dizendo é que se eu me manifesto numa entrevista, George [Harrison] fala: "Estou fora!" Nunca chegou ao ponto onde cada um de nós estivesse afim ao mesmo tempo. Acho que nesse período em que estamos separados, todos nós em algum momento pensamos que seria legal. Eu trabalhei com Ringo e George, só não trabalhei com Paul — porque nós passamos por um momento mais complicado, [mas] agora estamos bem próximos".

Lennon então passa para a segunda parte da pergunta que é respondida com a mesma franqueza: "A outra pergunta foi se valeria a pena. A resposta é que se nós quisermos fazer isso, então vai valer a pena. Se formos para o estúdio juntos e um empolgar o outro de novo, então valeria a pena, sabe? E que se fodam-se os críticos! Eles não têm nada a ver com isso. A música é a música. Se a gente fizer um trabalho e acreditar que ele é válido, ele será lançado. Mas é uma fantasia. Pra mim tanto faz, se alguém fizer acontecer, eu estou dentro. Eu não estou afim de fazer acontecer, isso com certeza. Eu tenho muito... Todos nós temos muito o que fazer por conta própria. Se eles estivessem na cidade, eu diria: "Chega aí!", eu colocaria eles no meu disco, e então seria um disco dos Beatles. Se eles estivessem por perto, sabe… Eu toquei com Paul um dia desses. Fizemos umas paradas em Los Angeles. Embora tivessem outras 50 pessoas tocando, todas ficavam só olhando para mim e Paul [risos].
A conversa segue então para o relacionamento de Lennon com o ex-colega de banda Paul McCartney. Harris perguntou especificamente se ele tinha algum arrependimento sobre a faixa How Do You Sleep, que é famosa por escrever sobre McCartney, mas Lennon respondeu com sinceridade e sugeriu que talvez a faixa diga mais sobre ele mesmo do que seu ex-colega. O ex-Beatle, pensativo, confessou: “Houve duas coisas das quais me arrependi, que havia muita conversa sobre Paul, então eles perderam a música que era uma boa faixa e eu deveria ter ficado de boca fechada, mas não na música, pois isso poderia ter acontecido. Foi sobre qualquer um. Sabe quando você olha para trás e Dylan diz sobre suas coisas, que a maior parte é sobre ele. Não é sobre Paul, é sobre mim e estou realmente me atacando. Lamento a associação, mas o que é um arrependimento, ele viveu isso. A única coisa que importa é como ele e eu nos sentimos sobre essas coisas, não o que o escritor ou comentarista pensa porque ele e eu estamos bem, então não me importo com o que eles dizem sobre tudo isso”. Acrescentando de maneira pungente: “Nossa primeira notícia nacional foi eu espancando um disc jockey (Bob Wooler) na festa de 21 anos de Paul, essa foi a primeira notícia nacional dos Beatles que recebemos na última página do The Mirror, eu sempre fui um pouco, sabe, solto e espero que isso mude porque estou farto de acordar nos jornais, mas se não mudar, meus amigos são meus amigos de qualquer maneira”.

Uma coisa que torna a entrevista tão especial é que Harris não interrompe Lennon e permite que seus pensamentos fluam. Lennon fala com liberdade para se expressar, uma diferença reveladora que nem sempre foi aparente nas entrevistas do músico na televisão. Além disso, a performance de "Stand By Me" é espetacular com Lennon despejando todo o seu sentimento na canção de Ben E. King que ele eternizou. Aqui, a entrevista inteira em inglês e sem legendas, logo abaixo, a parte que Lennon fala dos Beatles com legendas em português e por último, a sensacional "Stand By Me".

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