O breve texto que a gente confere a seguir, foi publicado na edição especial da revista Rolling Stone - THE BEATLES - As 100 Melhores Canções, em agosto de 2010. "Revolution" ocupa a 13ª posição.
Na primavera de 1968, a guerra do Vietnã pegou fogo, Martin Luther King Jr. foi assassinado, greves e protestos de estudantes em Paris fizeram o governo francês cair de joelhos. Quando os Beatles - que há tempos criticavam abertamente a guerra do Vietnã - entraram no Abbey Road Studios para gravar The Beatles (o “álbum branco”), no fim de maio, a primeira coisa que gravaram foi “Revolution”, que é também a primeira música explicitamente política do grupo. A primeira versão de “Revolution” que os Beatles gravaram era um shuffle lento e blueseiro, que se tomou “Revolution 1” (os últimos seis minutos do take master formavam uma jam ameaçadora que, extraída, acabou se tornando “Revolution 9”). Em 10 de julho, eles voltaram a “Revolution” para uma energética versão elétrica - a mais conhecida, lançada como o lado B de “Hey Jude”. Era a performance mais pesada dos Beatles até ali, da escaldante introdução de guitarra de Lennon ao uivo final. “John queria um som muito distorcido”, disse o engenheiro Phil McDonald. “As guitarras foram passadas direto através da mesa de som, o que, tecnicamente, não era a coisa certa a se fazer. Sobrecarregou completamente o canal. Felizmente, o pessoal da técnica não descobriu. Eles não aprovavam o ‘abuso de equipamento’.” A diferença crucial da letra entre as duas versões era uma única palavra. “Revolution 1” incluía a frase “When you talk about destruction/Don’t you know that you can count me out... in” [“Quando você fala em destruição/Você não sabe que pode me considerar fora... dentro”]. Como McCartney destacou: “John estava apenas protegendo suas apostas, cobrindo todas as eventualidades”). Mas quando os Beatles gravaram a versão do single, o verso era um nada ambíguo “count me out” [“me considerar fora). Enquanto a mídia exaltava a postura de Lennon - a Time aprovou a crítica da música aos “ativistas radicais do mundo todo” -, a extrema esquerda não se impressionou. A revista Ramparts chamou sua ambivalência de “traição”. “A letra ainda vale hoje”, disse Lennon em 1980. “Ela ainda mostra meu sentimento quanto à política: quero ver o plano... Quero saber o que você vai fazer depois de derrubar tudo. Quero dizer, não dá para aproveitar alguma coisa? Qual o sentido de explodir Wall Street? Se você quer mudar o sistema, mude o sistema. Não adianta nada atirar nas pessoas".
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