Quando as luzes baixaram, o rugido pareceu estremecer o teto de concreto do Kingdome. A música começou devagarinho, uma guitarra acústica sendo dedilhada, um baixo, um sintetizador tocando uma melodia simples, persistente. Em seguida, uma voz. Sitting in the stands of the sports arena, waiting for the show to begin (...), e não qualquer voz, mas aquela sonoridade sincera e pueril. Tão familiar, e mesmo assim tão arredia; todos o conheciam, mas fazia tanto tempo que ele se apresentara nos Estados Unidos que quase nenhuma das pessoas presentes ao estádio o tinha realmente visto em carne e osso. A seguir, um único refletor acendeu sobre o palco e lá estava ele, uma figura semiencoberta pela névoa. A luz era turva, seu rosto era apenas uma nódoa nas telas de projeção. Ainda assim, era possível enxergá-lo - o cabelo escuro, os olhos de animalzinho de estimação, as bochechas firmes - e aquele súbito reconhecimento provocou outro rugido capaz de sacudir o teto do estádio. O verso de "Venus and Mars" deu margem a uma breve passagem instrumental, um padrão de acordes circular que tomava os instrumentos conforme convergia para um pequeno refrão da guitarra elétrica, que sibilava em direção ao momento em que tudo explodia de uma só vez. Os tambores retumbaram, o baixo espocou, as guitarras rosnaram. Em seguida, soaram os primeiros sinais de "Rock Show" e aquela mesma voz no ápice de sua força, prometendo todos os tipos de loucura que estavam por vir. If there's a rock show, ele gritou. We'll be there - oh yeahhhh! O palco foi totalmente iluminado, era possível ver todos os membros da banda, cinco estrelas do rock cobertas de brilho. No entanto, a figura icônica no centro do palco atraía todos os olhares. Mais de setenta mil pares de olhos arregalados, radiosos, brilhando ao ver Paul McCartney. É bom lembrar que se trata de uma banda e que ela tem um nome: Wings. Aquela mensagem fora pensada para toda a turnê nos Estados Unidos, e para as apresentações na Inglaterra e na Austrália que a precederam. O nome de Paul não apareceu em nenhum lugar dos ingressos, e em nenhum dos anúncios. Wings Over the World ou Wings Over America foi tudo o que se disse. E, na época em que alcançaram aquela etapa de clímax da turnê norte-americana, com o novo disco Wings at the Speed of Sound sendo seu terceiro álbum colocado em primeiro lugar na lista, era tudo que as pessoas precisavam saber. Ou ouvir, para todos os efeitos. Assim, após a abertura explosiva com "Venus and Mars/Rock Show", a banda prosseguiu com "Jet" , e depois com "Let Me Roll It", de Band on the Run, mantendo toda a arena de pé.
Trecho do livro "Paul McCartney - Uma Vida" de Peter Ames Carlin.
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