quinta-feira, 22 de agosto de 2013

POR QUE OS BEATLES? By BARRY MILES

A banda de Liverpool, The Beatles, teve seu fim decretado há mais de 40 anos, mas o sucesso ainda continua a todo o vapor. Tudo o que carrega o nome dos quatro músicos, rende muito dinheiro. Em 2012, o faturamento do fenômeno chegou a £43,5 milhões, aproximadamente R$ 162,28 milhões.

Este belíssimo texto que vocês conferem a seguir, foi escrito com a propriedade de quem sabe o que diz. É o capítulo final que encerra o livro "O Diário dos Beatles" de Barry Miles. Um trabalho primoroso digno de todos os méritos. Parabéns Barry Miles!
"Todos os anos, vários grupos de mú­sica pop e rock recebem Grammys, Brits e discos de platina, mas os Beatles continuam a ser a referên­cia pela qual o sucesso de todos é medido. Graças ao contínuo cres­cimento da indústria musical glo­bal, muitos dos recordes de venda estabelecidos pelos Beatles foram ultrapassados; contudo, nenhuma banda chegou a ser considerada "maior que os Beatles" ou mesmo "os novos Beatles", e isso nunca acontecerá, pois ser "maior que os Beatles" é um patamar inatingível. Suas conquistas nunca deixarão de ser excepcionais em virtude do con­texto e da forma como foram atin­gidas.
A imprensa não tarda em compa­rar o sucesso de grupos de rock e pop com os dos Beatles, mesmo quando se trata de bandas que tive­ram uma carreira efémera, como, por exemplo, as Spice Girís; cinco garotas ousadas, cujo primeiro ál­bum e compactos lançados simul­taneamente venderam milhões de cópias em vários países. Mesmo assim, nem elas ou qualquer outro grupo gostaria de ser comparado aos Beatles. Como poderiam elas ser igualadas aos Fab Four, tendo lançado apenas um álbum? Essa é uma comparação totalmente des­cabida. Certamente, "maior que os Beatles" é um chamariz que ajuda a aumentar as vendas dos tabloides, (apesar de que o uso constante da frase só faz crescer a aura de sucesso inabalável dos Beatles). A maior parte dos que são breve­mente igualados aos Beatles co­meça e termina sua carreira como "boy bands", grupos de rapazes que cantam e dançam música pop, que, em sua maioria, nem sequer sabem tocar um instrumento mu­sical,   quanto   mais   compor  suas próprias músicas - seus shows ao vivo se resumem a danças atléticas, durante os quais cantam acompa­nhando playbacks. Normalmente, os catálogos dessas bandas ficam estagnados durante 12 meses até seu completo desaparecimento. Quanto valeria hoje o catálogo de The Monkees, The Osmonds, The Bay City Rollers, Duran Duran, Kajagoogoo, Wham!, A-Ha, Bros, New Kids On The Block, Brother Beyond ou mesmo Take That? De nada vale, também, comparar o sucesso dos Beatles a bandas do calibre de R.E.M, U2 ou Bruce Springsteen, que, apesar de lotarem estádios, levaram anos para alcan­çar o sucesso. Muito embora esses artistas tenham produzido pratica­mente o mesmo número de álbuns que os Beatles e seus recordes de vendas de discos e ingressos se equipararem aos dos rapazes de Liverpool, eles demoraram pelo menos três vezes mais para chegar a esse ponto em sua carreira. É verdade que se mantiveram íntegros dentro de uma indústria que só visa mais e mais ao lucro, mas nem o R.E.M., o U2 ou Bruce Springsteen jamais causaram nenhuma mudança significativa ou atraíram mais de algumas dezenas de ias ao Heathrow Airport.
Hoje, parece-me que qualquer ban­da que se torne famosa rapidamente recebe o rótulo de "os novos Beatles", ignorando o fato de que pelo me­nos três deles tocaram juntos du­rante quase quatro anos antes de entrarem em um estúdio de grava­ção. Nesse meio-tempo, tiveram de dar duro para poder ganhar alguns trocados, apresentando-se ao vivo. É pouco provável que qualquer grupo atual, incluindo o R.E.M. e o U2, conseguisse tocar junto du­rante quatro anos antes de começar a gravar, apesar de Bruce Springs­teen ter batalhado muito em New Jersey antes de atingir o sucesso. Entre as bandas contemporâneas dos Beatles, apenas três dos rapazes do The Who também conseguiram viver quatro anos à custa do que ganhavam com as apresentações ao vivo, antes de começarem a gravar - mesmo assim, eles lançaram so­mente quatro álbuns na década de 1960, ao passo que os Beatles lan­çaram 12. Em comparação, menos de seis meses se passaram entre a formação dos Rolling Stones, os principais rivais dos Beatles, e o início das sessões de gravação de seu primeiro compacto. Sem sombra de dúvida, os Beatles produziram seus discos sob con­dições extraordinárias, que pro­vavelmente nunca se repetirão. É inacreditável que, apesar de conta­rem com equipamentos de gravação ultrassofisticados, as gravadoras multinacionais atuais ainda não têm condições de gravar dois álbuns do mesmo artista no mesmo ano, e, também, não estão dispostas a gra­var compactos que não contenham músicas que façam parte desses ál­buns, que são normalmente lança­dos a cada três anos, pois eles não podem ser usados como material promocional. Ainda há mais um ponto que merece nossa atenção: atualmente os cinco compactos nos primeiros lugares das paradas de sucesso não alcançam o total de 100 mil cópias vendidas, ao passo que os Beatles, em seus dias de gló­ria, atingiam mais de 1 milhão de cópias em pedidos antecipados, so­mente no Reino Unido! A banda Oásis, de Manchester, tem feito muito sucesso, mas difi­cilmente conseguirá que mais de 2 mil artistas gravem qualquer uma de suas canções, Nenhuma banda moderna será capaz de ter uma in­fluência tão abrangente quanto a dos Beatles. Voltando às versões gravadas por outros artistas, os Beatles tiveram suas canções in­terpretadas por ninguém menos que estrelas como Ella Fitzgerald, Sinatra, Ray Charles, Fats Domi­no e Peggy Lee e até pela banda Laibach, que criou uma versão trash metal do álbum Let It Be. Não podemos deixar de mencio­nar a cantora Cathy Berberian, que gravou Beatles'Árias, um ál­bum de canções dos Beatles com uma roupagem operística, que in­cluía bandas de metais, quartetos de cordas e callíopes. Os Beatles ainda exercem tanta influência que muitas bandas nem percebem que estào sendo ins­piradas por eles. No auge de sua fama, em 1965, influenciaram um grande número de artistas da épo­ca: de Brian Jones, em seu período Rolling Stones (em especial, no uso da cítara e no álbum Satanic Ma/es­ties, uma cópia de Sgt Pepper), pas­sando por Donovan, The Kinks, até todos os grupos pop que passaram a produzir trabalhos mais elaborados e duradouros, motivados pelos pro­gressos e experimentos feitos pelos Beatles. Antes do final da década de 1960, seus arranjos vocais inspiravam a todos, desde The Hollies aos Bee Gees e, no finai dessa década, seu impacto musical foi disseminado pela banda ELO, Electric Light Or­questra, que usou as composições psicodélicas dos Beatles como base para seu trabalho. Outra faceta de sua obra, que é digna de nota, são as guitarras pesadas do White Ál­bum, muito usadas pelo Led Zeppelin, que possui um lado Beatle que poucos imaginam; e por Syd Barrett, no início da, então, excêntrica banda Pink Floyd. Não há ninguém que não fosse tocado por eles. Bas­ta observar o trabalho de The Byrds, The Beach Boys e Buffalo Springfieíd - citando apenas as bandas cujo nome começa com "B"' - para perceber o que significou a invasão britânica para os norte-americanos. O interesse na obra dos Beatles permanece mais elevado do que a de qualquer de seus contemporâ­neos, tanto assim que seu catálogo completo ainda é editado e vendi­do a preços atuais, e os fâs sempre querem mais. O quarteto de Liverpool possui o maior número de co-lecionadores de todos os tempos e de discos pirata. Desde sua dissolu­ção, os advogados e os empresários responsáveis por seus interesses têm controlado com mãos de ferro tudo o que foi produzido pelo grupo. Apesar de Paul e Yoko, a viúva de John, terem perdido o controle da editora musical, ambos (além de George e Ringo) conseguiram re­verter a relação de amo e escravos que tinham com a EMI nos anos de 1960, e hoje os amos são eles. Provavelmente, todos esses fatos expliquem por que a série Anthology, com três CDs duplos lançados em 1996, contendo gravações alter­nativas, algumas raras, outras não aproveitadas nos álbuns anteriores da banda, juntamente com a coleção de vídeos em oito volumes, tenha vendido tanto, alcançando a soma aproximada de 400 milhões de dó­lares. Esse valor foi dividido entre os três Beatles e Yoko, tornando-os, em 1996, quase 40 anos após o pri­meiro encontro de John com Paul na quermesse em Walton, parte do rol dos artistas mais bem pagos do mundo, perdendo apenas para Oprah Winfrey e Steven Spielberg. Independentemente de suas con­quistas musicais, esse numerário por si só mostra por que os Beatles continuam a ser a referência pela qual o sucesso de todos os outros músicos é e sempre será medido - e por que ninguém nunca será ''maior que os Beatles".

Para quem quiser ver ou rever a matéria sobre "O DIÁRIO DOS BEATLES" de Barry Miles, publicada no dia 13 de março de 2011, o link é:
http://obaudoedu.blogspot.com/2011/03/o-diario-dos-beatles-barry-miles.html

4 comentários:

  1. O que dizer , quando o texto do Barry Miles já disse tudo ??!!!
    Eu digo amém !!!

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  2. Que maravilha de texto! o Diário dos Beatles é uma ótima dica de leitura

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  3. Já li no livro e aqui acho que 2 vezes com esta.E me emociono!

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  4. É como você já disse Edu, ninquem se compara aos Beatles,eles foram e sempre serão os maiorais.

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