Por LUÍS CABRAL
Morreu George Martin. Tinha 90 anos. Foi talvez o produtor de música mais bem sucedido de sempre.Martin era frequentemente referenciado como o "quinto Beatle". E com razão: ele escreveu inícios e fins de canções, harmonias, solos, etc. O seu contributo foi particularmente notório após os anos iniciais dos Beatles, quando eles foram para além do que se fazia no início da década de 60 e criaram um estilo muito próprio, com canções muito "trabalhadas"."Yesterday", por exemplo, foi gravada em 1965 por Paul McCartney "solo", mas Martin convenceu o cantor e o resto da banda (aparentemente com alguma dificuldade) a incluir um arranjo para quarteto de cordas (que foi acrescentado depois da gravação inicial de McCartney). (Como parêntesis, parece que muitos dos versos da canção foram escritos por McCartney durante uma viagem ao Algarve em maio de 65).Somando todos os arranjos e sugestões de produção com que Martin contribuiu para os "fab four", teríamos já uma obra colossal. Muitas canções creditadas Lennon-McCartney deveriam realmente ser Lennon-McCartney-Martin. No entanto, talvez ainda mais importante para a história da música foi a capacidade de Martin de "gerir" o talento criativo que tinha em frente: as horas e horas que ajudou McCartey, os dois sentados no piano; a paciência com que ouviu e correspondeu aos pedidos, nem sempre razoáveis, de Lennon; a forma como encorajou o sempre sub-estimado Ringo Starr. Como o próprio Martin admitiu, a única excepção a este padrão terá sido talvez a pouca atenção que deu a George Harrison, cujo talento como compositor apenas se tornou claro mais tarde.Modestamente, Martin dizia que "eu ensinei-lhes alguns truques e eles aprenderam muito depressa; tal como plantas numa estufa, cresceram rapidamente". E no título da sua biografia declara — numa referência clara a um dos títulos dos Beatles — que "All You Need Is Ears". Na verdade, ele tinha muito mais do que ouvido: tinha um talento muito especial para trabalhar com pessoas com talento.
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