Raul Seixas, o nosso Raulzito, sempre teve um quê de profeta. Não à toa, seus fãs, muitas vezes, parecem mais seguidores. Uma espécie de Antônio Conselheiro do rock tupiniquim – e Raul lidava com essas distâncias entre o hemisfério Norte e o Sul de maneira magistral – nos deixou canções inesquecíveis, como todos sabem e cantam. Uma delas, no entanto, nestes tempos em que o planeta está ameaçado e acuado, com as pessoas trancafiadas em suas casas, nos fez subir um nó na garganta acompanhada de uma inevitável vontade de rir: “O dia em que a terra parou”.
Lançada em seu álbum de 1977, a canção batiza o disco. Na mesma bolacha que trazia a emblemática “Maluco Beleza”, uma espécie de autobiografia do Raulzito, está lá a profecia fulminante do cantor, que nem os seus fãs mais ardorosos sonharam que, um dia, tantas décadas depois, poderia fazer algum sentido. Na canção, feita em parceria com Cláudio Roberto – a linda fase com Paulo Coelho já havia passado – Raul parecia prever a crise do coronavírus. Descreve com maestria o que se passa em diversos países da Europa, sobretudo na Itália. Ela antevê também, o que está prestes a ocorrer nas Américas, se os seus governos não tiverem algum juízo. Coincidência ou não, nesses tempos de medos e incertezas, Raul nos traz mais uma vez alento e sabedora. Naqueles idos também obscuros, mas de tantas esperanças, de 1977, não poderíamos jamais imaginar que, 43 anos depois, a terra iria de fato, parar.
O Dia em que a Terra Parou foi o sétimo álbum de estúdio da carreira solo do cantor e compositor brasileiro Raul Seixas, lançado pela gravadora Warner Music Brasil, em dezembro de 1977. As gravações ocorreram durante aquele ano em três estúdios: o Level e o Haway, no Rio de Janeiro; e o Vice-versa, em São Paulo. Este álbum foi o primeiro lançado após a mudança de gravadora. Também, foi o primeiro inteiramente realizado com um único parceiro na composição das músicas, Cláudio Roberto, velho amigo de Raul. Ao mesmo tempo, representou uma mudança estética do cantor e de temática no disco, com Raul de cabelo curto e trajando terno e gravata enquanto canta letras que falam sobre uma busca e um desejo de emancipação pessoal. O álbum teve uma crítica fria da crítica especializada, com casos de revanchismo pela mudança de gravadora. O consenso crítico foi de que o disco representou uma simplificação - uma popularização - nas letras e nas mensagens, creditada à parceria com Cláudio Roberto. O álbum foi bem divulgado, com o lançamento de dois compactos que se tornariam sucessos - a canção título e "Maluco Beleza"; um videoclipe musical; uma turnê pelo país; e participações do cantor em programas de rádio e televisão. As vendagens não foram boas para o padrão esperado pela gravadora, apesar do disco ser, hoje, considerado um dos pontos altos da carreira de Raul Seixas.
Raul o Maior Artista do Brasil!
ResponderExcluir"Está em qualquer profecia
Que o mundo se acaba um dia
Sem fogo, sem sangue, sem áis
O mundo dos nossos ancestrais
Acaba sem guerra mortais
Sem vitórias de Marte ferido
Sem um estrondo, mas com um gemido".