Será que tudo que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda? Roberto Carlos já apareceu tantas vezes aqui no Baú, que eu não saberia quantas. Quase sempre com as melhores músicas, quase todas antigas com pelo menos 30 anos. Músicas do tempo que ele realmente podia ser chamado de "Rei" e ainda sabia fazer bons discos com sucessos substanciais. E desta vez não poderia ser diferente. "Ilegal, imoral ou engorda" é a faixa de abertura de seu álbum de 1976, e é impressionante a forma como a letra se mantém atual. No item protesto, é uma das composições mais contundentes de Roberto Carlos.
A ideia do tema surgiu quando o cantor foi participar de uma reunião de negócios em São Paulo e viu sobre a mesa de algum executivo um adesivo com a frase: "Tudo o que eu gosto é ilegal, imoral ou engorda". Na época, esse adesivo estava começando a circular por muitos lugares, era mais uma das formas sutis de protesto e denúncia contra a repressão imposta pelo regime militar (e alimentar). RC achou aquilo interessante, identificou-se com a mensagem e saiu da reunião com aquela frase na cabeça e começou a desenvolver o tema da nova canção. "Vivo condenado a fazer o que não quero / de tão bem comportado às vezes até me desespero...", desabafa RC no início da música, na qual ele revela a angústia de viver numa espécie de camisa-de-força que o impede de fazer tudo o que realmente gosta. "Ilegal, imoral ou engorda" foi composta exatos dez anos depois de o cantor se tornar o maior fenômeno de popularidade da música brasileira. Eram dez anos envolvido numa malha de compromissos que mantinha RC sob a estreita vigilância de secretários, produtores e empresários, todos encarregados de impedir que ele desse sequer um passo em falso, e que tentaram até impedi-lo de se casar. "Se faço alguma coisa sempre alguém vem me dizer/ que isso ou aquilo não se deve fazer/ restam os meus botões/ já não sei mais o que é certo...", questionava. O duplo sentido da frase da última estrofe, "se como alguma coisa que não devo comer" - é uma referência tanto ao alimento que engorda como ao sexo extraconjugal, e revela um artista cansado de sustentar aquela imagem de rapaz do bem, bom amigo, bom filho, bom pai e bom marido. "Procuro andar direito e ter os pés no chão/ mas certas coisas sempre me chamam atenção/ cá com meus botões/ bolas, eu não sou de ferro...", desabafa. "Ilegal, imoral ou engorda" indica que, por trás de toda aquela sobriedade revelada nas entrevistas e especiais de televisão, havia alguém sufocado e com vontade de mandar tudo novamente para o inferno. Dominado pela autocensura, por vezes ainda mais impiedosa que a dos órgãos oficiais, o cantor se revela um homem calado e desconfiado, temeroso de revelar suas opiniões publicamente, porque tudo de que gosta é ilegal, é imoral ou engorda.
Fonte: robertocarlos-internacional.blogspot.com
Na minha opinião, o ultimo bom disco do Roberto Carlos(76).
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