"Só há amor quando não existe nenhuma autoridade."
Raul Seixas
Os biógrafos costumam dizer que Raul Seixas levou o rock às últimas consequências. Nos últimos anos de sua vida, mesmo sofrendo de pancreatite, ele não se afastou do consumo exagerado de drogas e álcool. A doença levou à morte o Maluco Beleza aos 44 anos, no dia 21 de agosto de 1989. Para eles, a decadência perante o público, os problemas com empresários e gravadoras são menores diante da sua relevância artística. Passados 22 anos, seus principais hits ainda são conhecidos do grande público.
Raul Santos Seixas nasceu em Salvador, Bahia, no dia 28 de junho de 1945. Era o primeiro de dois filhos do casal Raul Varella Seixas, engenheiro, e Maria Eugênio Santos Seixas, dona de casa. O baiano foi batizado e estudou em colégios católicos, incluindo o Marista. Repetiu várias vezes algumas séries do primeiro grau. Um dos motivos, no final dos anos 50, era porque matava aulas para ficar ouvindo Rock’n’Roll na loja Cantinho da Música. Em julho de 59, funda o Elvis Rock Club.
Em 1962, montou o Relâmpagos do Rock, seu primeiro grupo musical. No ano seguinte, o nome do grupo mudou para The Panthers e Raul conseguiu passar para a quarta série ginasial. Em 64, se tornariam o grupo mais caro de Salvador. Ficaram conhecidos na Bahia, fazendo shows em várias cidades. Raul desistiu de vez dos estudos e se profissionalizou. Dois anos depois conheceu a americana Edith Wisner, filha de um pastor. Atendendo um pedido dos pais e da própria Edith, Raul prometeu deixar a vida de artista e retomar os estudos. Prestou o vestibular para Direito e passou entre os primeiros colocados. Em 67, casou-se com Edith. Deu aulas de violão e inglês e tentou estudar Psicologia. Foi aí que apareceu Jerry Adriani e o convidou para acompanhá-lo em sua turnê pelo Norte do país. Raul reúniu Os Panteras e acabaram todos indo para o Rio de Janeiro. Em 1968 foi lançado o primeiro LP, Raulzito e Os Panteras.
O segundo LP, Sociedade do Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez, foi produzido e lançado em 1971, sem autorização. O disco sumiu misteriosamente do mercado e Raul foi expulso da CBS. Em 73, conheceu Paulo Coelho, com quem viria a fazer uma das maiores parcerias do rock brasileiro. A dupla foi responsável por sucessos como Gita, Sociedade Alternativa, Como vovó já dizia, dentre outros. Com Gita, em 74, ganhou o disco de ouro e lançou o primeiro musical colorido da TV Globo. Separa-se de Edith e, no ano seguinte, casou-se com outra americana, Glória Vaquer, com quem ficaria até 1977. Teve uma filha com cada uma. Após as separações, ambas levaram as filhas para os Estados Unidos.
Os sucessos se sucederam com os LPs Novo Aeon e Há dez mil anos atrás, ambos em 1975, quando também terminou a parceria com Paulo Coelho. Depois vieram O dia em que a Terra parou (1977), Mata virgem (1978), Por quem os sinos dobram (1979) e Abre-te Sésamo (1979), este último com a censurada Rock das Aranhas. Em 79, conheceu Angela Maria Affonso Costa, que seria a mãe de sua terceira filha (1981).
Raul protagonizou histórias antológicas durante toda sua carreira. Uma delas é quase inacreditável. Em maio de 1982, foi tido como impostor de si mesmo num show em Caieiras, São Paulo. Não tinha nenhum documento e quase foi linchado. Preso, foi espancado pelo delegado e por policiais. Em 1983, lançou um LP com seu nome e o livro As aventuras de Raul Seixas na cidade de Thor. Ganhou seu segundo disco de ouro e novos sucessos apareceram. Em 84, participou do especial Plunct Plact Zum, na Rede Globo, e lançou o LP Metrô Linha 743. Mais alguns lançamentos e uma certa dificuldade de manter a produção estável por problemas de saúde se sucederam até 1987, quando gravou o LP Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! e ganhou seu terceiro disco de ouro. Foi nesse ano que começou uma parceria com o também baiano Marcelo Nova, vocalista da banda Camisa de Vênus, ao participar da música Muita Estrela, Pouca Constelação. A parceria teria seu auge em 89, quando os dois gravaram o LP A Panela do Diabo e fizeram uma série de mais de 50 shows pelo país. O LP foi lançado no dia 19 de agosto. Raul morreu dois dias depois, sozinho, em São Paulo. Depois de morto, Raul continuava a protagonizar histórias antológicas como a do seu próprio enterro que acabou se transformando num tumulto danado com 5 mil fãs querendo tirar o corpo do caixão.
O interesse pela obra de Raulzito reacende em novas gerações de fãs, que fazem questão de soltar a voz com o grito “Toca Raul”. Ainda hoje é possível ouvir o jargão em bares, pistas de dança e shows de rock. Um dos legados do roqueiro é parecido com o fenômeno que acontece com o "Rei do Rock" Elvis Presley: inúmeros sósias fazem questão de se vestir de forma idêntica a Raul e atuar fazendo covers do cantor. A sua confirmação, como mito do rock nacional, é frequente em homenagens no teatro, na TV, nas biografias e relançamentos de álbuns.
4 comentários:
Sem dúvida, absolutamente genial para um país como esse nosso!
E ainda carregou alguns nas costas. Sou admirador de Raul, mas não posso me considerar fã. Se este cara tivesse outra nacionalidade, talvez, seria um fenômeno mundial do Rock.
Acompanhei o Raul desde o começo.Confesso,era um fã pontual.Não de carteirinha.Gostava de algumas coisas e outras eram fraquinhas.Mas ele tinha atitude.Merece as honras principalmente pelo pioneirismo e coerência.
Esse Raul não sentou no trono de um apartamento esperando a morte chegar !
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