Em 1980, a morte de John Lennon foi chorada pelo mundo inteiro, desencadeando um processo de beatificação e idolatria de dimensões absurdas, comparável apenas ao que cercava a imagem de Elvis Presley. Oito anos depois, um escritor da Pennsylvania, Albert Goldman, resolveu por conta própria, assassinar também o mito que havia sido criado em torno do ídolo, disparando sua metralhadora giratória nas páginas de “The Lives Of John Lennon”, um livro ultra-sensacionalista que despertou a fúria dos fãs e a ira dos amigos mais próximos de Lennon. Quando Albert Goldman publicou a biografia de 600 páginas “The Lives Of John Lennon” (As vidas de John Lennon), em agosto de 1988, Paul McCartney ficou indignado. ‘Boicotem esse livro,’ ele disse aos fãs de Lennon e dos Beatles. ‘É revoltante que alguém como Goldman possa inventar uma penca de mentiras convenientes apenas para ele, e possa publicá-las sem receio de punição.’ ‘Ele devia se envergonhar de si mesmo,’ respondeu Goldman. ‘A geração dos anos sessenta sempre foi contundente em criticar tudo e todos. Agora, de repente, eles ficaram tão certinhos e moralistas que reagem quando alguém diz algo a seu respeito que não querem ouvir. Eles sabiam transmitir seus recados, mas agora é certo que não conseguem escutá-los.’ Goldman carregou nas tintas ao retratar Lennon: fixado pela mãe, movido a drogas, instintivamente violento, psicologicamente problemático - a atitude de valentão teria sido a causa da morte do amigo Stuart Sutcliffe - e além do mais, homossexual reprimido e agressor do próprio filho, enquanto este ainda era um bebê. Mesmo nos momentos em que demonstra alguma afeição pelo personagem - e Goldman declarou-se acima de tudo um admirador do trabalho de Lennon - o autor usa termos como ‘dano cerebral genético’, ‘violência’ de ‘um caráter epilético’, ‘extrema passividade’, ‘ingênuo a ponto de ser facilmente enganado’, ‘muito prepotente’ e ‘perigoso’. “The Lives Of John Lennon” pipocava de erros factuais e de interpretação, era especulativo ao extremo, cheio de má-fé e encharcado de esnobismo. Contudo, Goldman forneceu muitas evidências sobre: a necessidade quase patológica de Lennon pela dominação de uma mulher forte; a sinistra ambiguidade de um pregador da paz ter sido movido pela violência, explícita ou reprimida; o declínio de seus trabalhos após deixar a Inglaterra em 1971; e a necessidade instintiva de acreditar nalgum poder maior que o dele mesmo, o que o levou de guru em guru, cada uma das obsessões esparramando-se em desilusões e desespero criativo. Ironicamente, o livro - um best-seller mundial, que apesar disso desapareceu da história após a morte de Goldman, em 1994.
Embora tenha criado estardalhaço na imprensa, o livro de Goldman não foi o maior evento relacionado ao ex-Beatle lançado em 1988. O que Goldman não imaginava, era que para combater seu livro “maldito”, Yoko Ono usaria de todas as armas que dispunha fazendo com que o livro de Goldman quase não fosse nem percebido. Naquele mesmo ano, chegava aos cinemas do mundo inteiro o documentário "Imagine: John Lennon", uma biografia preparada por Yoko com recursos multimídia semelhantes aos adotados pelos Beatles no projeto “Anthology” anos depois. A história oficial da vida de John, ganhou um excelente longa-metragem, um álbum duplo com a trilha sonora e um livro sensacional. Narrado pelo próprio John Lennon, a partir de extratos selecionados em mais de 100 horas de depoimentos gravados, o documentário aborda todos os principais, ou mais conhecidos, momentos da vida do genial músico, desde seu nascimento em Liverpool até o trágico fim em Nova York. Essa biografia, feita a base de aproximadamente 240 horas de filmes e vídeotapes caseiros de Lennon e sua vida, é transformada em uma fascinante história de um dos mais complexos e extraordinários homens da era moderna da música. Inclui algumas cenas polêmicas, perspicazes e algumas até então nunca antes vistas pelo publico.
Com o mesmo nome, “Imagine: John Lennon” é a trilha sonora do fime, lançada em 4 de outubro de 1988 nos EUA e 12 de outubro de 1988 no Reino Unido. Totalmente composta por Lennon e algumas de “Lennon & McCartney”. Originalmente lançado naquele mesmo ano como um álbum duplo, ainda não está fora de catálogo e pode ser encontrado somente em CD. O álbum é dividido em duas fases musicais. Uma como um membro dos Beatles e a outra como artista solo (semelhante ao de George Harrison “The Best of George Harrison”). “Imagine: John Lennon Soundtrack” é uma coleção de sucessos de Lennon desde o início da Beatlemania ao “Double Fantasy”. Além disso, o álbum apresenta duas gravações inéditas até então: uma demo acústica de "Real Love" gravada em 1979 (uma gravação alternativa de que só seria concluída em 1996 pelos outros Beatles para o álbum “Anthology II” ) e um ensaio de "Imagine" em meados de 1971 antes do take final ser capturado. O álbum “Imagine: John Lennon” foi ótimamente recebedo por público e imprensa, chegando ao posto 31 nos EUA, e 64 no Reino Unido.
3 comentários:
Detesto livros sensacionalistas, seja pra santificar ou denegrir. Lennon era um gênio musical e um homem cativante justamente por sua humanidade. Cometia erros estúpidos ou ingênuos e acertos. E é essa humanidade que nos cativa... sempre!
Lembro do aué que foi esse livro na época. É o tipo de livro que merece o esquecimento. O Lado bom é tudo isso acabou que resultou nesse projeto "Imagine:John Lennon" como resposta e a dona yoko liberou a faixa Real Love. Significou muito isso na época e ainda hoje.
Concordo com ambos. Livros sensacionalistas estão fadados ao esquecimento. Lennon tinha defeitos? Óbvio que sim. Mas, para cada defeito ele também tinha virtudes e essas em muito maior quantidade. Que as pessoas não gostem dele ou de sua música, eu posso aceitar... Mas falar de quem não está aí para se defender é deplorável, para não dizer que beira à canalhice completa...
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