quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

J.D. SALINGER - O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO


J. D. Salinger, escritor de uma obra só? A morte do autor de "O Apanhador no Campo de Centeio" pode esclarecer essa questão: ele teria outras obras-primas jamais publicadas ou foi o gênio de um único romance?
Para muitos escritores, a morte chega como uma ratificação da genialidade. Para outros, e eles são poucos, abre uma janela para a existência que, apesar de celebrada, há muito se tornou nebulosa e enigmática. Nesse caso situa-se o escritor americano J.D. Salinger, que morreu na quinta-feira 28, aos 91 anos, de causas naturais. Autor de um dos livros mais cultuados e vendidos ao longo de cinco décadas, o romance “O Apanhador no Campo de Centeio” (65 milhões de exemplares ao todo, num ritmo de 250 mil ao ano), Jerome David Salinger vivia recluso desde 1951, quando publicou a sua obra mais conhecida, num sítio semelhante a uma fortaleza, em New Hampshire, nos EUA. Não dava entrevista e não divulgou nenhum texto a partir de 1965. Ficou, então, conhecido como o escritor de uma obra só. Esse título era-lhe um elogio: escrever um livro como “O Apanhador” já seria suficiente para ganhar a posteridade. Passado no ambiente de incertezas do pós-guerra, a obra narra a trajetória do adolescente Holden Caulfield, que entra em crise após ser expulso da escola e, sem coragem de enfrentar o desapontamento dos pais, se aventura por diversas regiões de Nova York. O retrato geracional provocou grande identificação na juventude da época e a sua escrita, que dava espaço à voz interior do personagem e incorporava a coloquialidade, foi considerada uma grande contribuição à literatura, influenciando autores como Philip Roth, Don DeLillo e John Updike. A demanda por novos trabalhos o levou a  tornar públicos, embora contrariado, outroslivros: a reunião de contos “Nove Histórias” (1953) e as duas novelas em torno da família Glass – “Franny e Zooey” (1961) e “Carpinteiros,  Levantem Bem Alto a Cumeeira & Seymour,uma Apresentação” (1963). Depois de “Hapworth 16, 1924”, lançado na revista “The New Yorker”, Salinger silenciou. “Publicar um livro é uma terrível invasão de minha privacidade. Amo escrever, mas faço para mim e meu próprio prazer”, disse em uma de suas raras entrevistas. Isso reforça a tese de sua ex-mulher, Joyce Maynard, que afirmou saber de pelo menos dois manuscritos do marido. Amigos garantem ter visto 15, dentro de um cofre. Talvez para criar o mito de artista recluso, Salinger tenha deixado suas obras ocultas. Ou, quem sabe, por medo da desaprovação da crítica e da legião de leitores, tenha se rebelado contra o establishment literário. Exatamente como o seu herói Caulfield em relação aos valores americanos. Fonte: istoe.com.br - 29.01.10 - Por Ivan Claudio.Imagem relacionada


Na noite em que Chapman matou John Lennon, ele tinha consigo três objetos: o revólver calibre 38, o álbum Double Fantasy e um exemplar de “O Apanhador no Campo de Centeio”. Aqui, a gente confere um trecho do livro “Salinger - Uma vida” de Kenneth Slawenski, onde o autor tenta traçar um paralelo entre Chapman e o livro de Salinger.
Em 8 de dezembro de 1980 ocorreu uma tragédia que iria estigmatizar para sempre O apanhador no campo de centeio e durante anos associaria os fâs de Salinger a algum tipo de instabilidade emocional perigosa. John Lennon, ex-membro dos Beatles, sua esposa, Yoko Ono, e o filho deles, Sean, moravam no Dakota, um edifício de apartamentos de luxo na avenida Central Park West. Na noite de 8 de dezembro, quando entravam no Dakota, um jovem perturbado de vinte e cinco anos, Mark David Chapman, disparou à queima-roupa quatro balas dundum em Lennon, matando-o. O assassino então se sentou calmamente na beira da calçada, puxou do bolso um exemplar de O apanhador no campo de centeio e começou a ler como se nada tivesse acontecido. O mundo ficou perplexo. Uma geração inteira identificava-se intimamente com Lennon, e sua morte absurda foi sentida como uma violaçào pessoal. Conforme emergiam os detalhes do assassinato, ficou claro que Chapman iria alegar insanidade. Ele declarou que uma voz dentro da sua cabeça forçara-o a matar Lennon. Mas sua principal defesa era bem mais elaborada e teria um impacto assustador nos fãs de Salinger do mundo inteiro: ele pôs a culpa do seu crime no Apanhador no campo de centeio. Chapman viajara do Havaí para Nova York para cometer o crime. Ao chegar à cidade, procurou uma livraria e comprou um exemplar de O apanhador no campo de centeio. Ele já lera a novela antes várias vezes e se convencera de que era o Holden Caulfield dos tempos atuais. Carregando o livro, Chapman refez cada um dos passos de Holden na novela. Conversou com uma prostituta que usava um vestido verde, foi até o zoológico do Central Park, visitou o lago e o carrossel e chegou a perguntar a um policial para onde iam os patos do Central Park no inverno. Então foi até o Dakota. Quando a polícia chegou para prender Chapman, ele ainda estava lendo placidamente. Eles tiraram o livro das mãos dele e detiveram-no. Dentro do livro, notaram que Chapman havia escrito algo perturbador: “Isso é o que eu tinha a dizer. Holden Caulfield, O apanhador no campo de centeio”. Nas entrevistas que concedeu até 2006, Chapman sempre sustentou ter matado John Lennon por influência da novela de Salinger. Outras vezes dizia que era o verdadeiro Holden Caulfield; tinha receio de que Lennon se proclamasse o novo apanhador no campo de centeio; e assassinara o músico para poupá-lo de cair na falsidade. Chapman mais tarde desistiu do recurso à insanidade e reconheceu ser culpado pelo crime. Condenado, recebeu uma pena de vinte anos a prisão perpétua na penitenciária de Attica, onde continua. Mark David Chapman interpretara a obra de Salinger da maneira mais distorcida possível. Infelizmente, nos anos que se seguiram, os fãs de Salinger passaram a ser vistos com suspeita, como se a instabilidade mental e a apreciação da obra de Salinger andassem de mãos dadas. Em 30 de março de 1981, menos de quatro meses depois do assassinato de Lennon, houve um atentado contra o presidente Ronald Reagan. Um psicótico chamado John Hinckley Jr. atirou no presidente, em seu assessor de imprensa e no seu guarda-costas, numa tentativa de chamar a atenção da atriz Jodie Foster. Quando a polícia revistou os pertences de Hinckley no quarto do hotel em Washington onde se hospedara, descobriu que tinha dez livros com ele, entre os quais um sobre Shakespeare, outro sobre alegações de insanidade e também O apanhador no campo de centeio. Como essa descoberta se deu logo após o assassinato de Lennon, a imprensa explorou muito o fato. Uma estranha especulação emergiu desses crimes. Alguns acharam que a morte de Lennon e o atentado a Reagan eram parte de uma complexa conspiração, um plano que lembrava o filme The Manchurian Candidate (no Brasil, “Sob o domínio do mal”). Apareceram várias publicações e artigos sugerindo que entidades misteriosas dentro do governo dos Estados Unidos haviam diabolicamente introduzido comandos subliminares de assassinato no livro O apanhador no campo de centeio. Essa ideia bizarra foi retomada em 1997 quando do lançamento do filme Conspiracy Theory no Brasil. “Teoria da conspiração”, no qual um assassino compulsivo programado coleciona centenas de exemplares de O apanhador no campo de centeio.

3 comentários:

Marcelennon disse...

Já tive muitas oportunidades, mas, por conta de sua ligação com o assassinato do John, nunca quis ler esse livro...

Joelma disse...

Agora fiquei curiosa

Unknown disse...

Duas! Nunca me senti a vontade para ler esse livro por causa disso.