"E em seus olhos, você não vê nada. Nenhum sinal de amor por trás das lágrimas choradas por ninguém... Um amor que devia ter durado anos".
“For No One”, a belíssima meditação de Paul McCartney sobre o fim de um grande caso de amor, foi um dos destaques de Revolver e composta somente por ele, creditada à dupla Lennon e McCartney, claro.
“For No One” foi lançada no sétimo álbum gravado pelos Beatles – Revolver, no dia 5 de agosto de 1966 no Reino Unido e 8 de agosto nos EUA. É a terceira faixa do lado 2 do LP – depois de “And Your Bird Can Sing” e antes de “Doctor Robert”. “For No One” é uma canção pop num estilo barroco sobre o fim de um relacionamento. Foi um dos trabalhos mais maduros e pungentes de McCartney até então.
Ele compôs a canção, cujo título provisório era “Why Did It Die?”, depois de uma possível discussão com Jane Asher, de férias em um chalé em Klosters, uma estação de esqui suíça em março de 1966. Ele disse que escreveu pensando numa garota imaginária, uma típica trabalhadora (vale lembrar o quanto a insistência de Jane em ter sua própria carreira o incomodava).
“For No One” foi gravada em 9, 16 e 19 de maio de 1966. Paul e Ringo são os únicos Beatles nela, Lennon e Harrison não participaram. O solo de trompa foi executado por Alan Civil, músico profissional, britânico descrito pelo engenheiro de gravação Geoff Emerick como o "melhor trompista de Londres".
Durante a sessão, Civil encarou o desafio de tocar a partitura escrita por Paul e George Martin, com notas agudas demais para o instrumento. “For No One” foi gravada nos estúdios da EMI em Abbey Road, produzida por George Martin e Norman Smith como engenheiro. Paul McCartney canta, toca baixo, piano e clavicórdio; Ringo Starr toca bateria, pandeiro e maracas; e Alan Civil toca a trompa francesa.
A recepção da crítica não poderia ter ser melhor: Thomas Ward, da AllMusic, descreveu For No One como "uma das grandes baladas de Paul McCartney com os Beatles", dizendo que é "uma canção simplesmente bela, cheia de toques idiossincráticos de McCartney, mas inegavelmente inspirada". Ward ainda elogia o desempenho vocal de McCartney e chama a melodia da canção de "uma das mais inspiradas de toda a carreira do cantor". E ainda vai mais longe: elogia a linha de baixo e o solo de trompa, concluindo sua crítica chamando a canção de "uma das baladas mais delicadas e finas de todo o cânone dos Beatles". John Lennon diria anos depois sobre ela: "Uma das minhas favoritas dele - um belo trabalho".
Sobre “For No One”, o jornalista e escritor Peter Ames Carlin, diz em seu livro “Paul McCartney – A Vida”:
John e Paul estavam impulsionando suas habilidades a novas
alturas, buscando novas formas de incorporar ideias, experiências e influências
díspares ao formato de três minutos da canção popular. Sem dúvida, os meses que
Paul havia passado mergulhando na cena avant-garde de Londres tinham
modificado sua consciência musical. De repente, ele estava compondo músicas
inspiradas nos clássicos e nos bailes de salão, mesclando harmonias dos Beach
Boys em canções de rock pesado como as do The Who, e enxertando trompetes
eloquentes de R&B em letras tiradas durante o uso de drogas. Se antes Paul
tendia a escrever canções românticas que optavam pelo sentimento, ao contrário
das complexidades humanas que John traçava em suas canções pessoais, ele agora
produzia algo tão cruel como "For No One”, na qual o final de um caso de
amor foi descrito com toda a clareza e a frieza do gelo. No sign of love behind
the tears, ele cantou. Cried for no one. Ao ouvir uma fita antecipada das
gravações de Revolver, num quarto de hotel, durante um intervalo da turnê de
verão, John, que sempre havia sido o mais duro e competitivo dos parceiros,
disse para Paul de forma cândida uma coisa surpreendente: "Provavelmente,
gosto mais das suas do que das minhas”.
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