

Filmado a toque de caixa, com período completo de produção (roteiro, filmagem, edição) espremido em 16 semanas, “Os Reis do Iê-Iê-Iê” nasceu como um produto 100% comercial, sem qualquer ambição artística. A idéia da gravadora dos Beatles, a EMI, era apenas aproveitar a fama dos rapazes de Liverpool, adquirida durante a primeira passagem da banda pelos EUA, para vender discos e bilhetes de cinema. Ninguém imaginava que o grupo se tornaria o mais importante da música popular no século XX. Tampouco previam que o filme se tornaria uma referência obrigatória no terreno dos musicais. O medo de que o sucesso escasseasse a qualquer momento acelerou a produção, mas não impediu o jovem cineasta Richard Lester de lançar as fundações do novo gênero (o documentário musical) e criar as sementes do que viria a ser um grande símbolo cultural no fim do século – o videoclipe.

Poderia ter sido um fracasso espetacular, mas não foi. Muito pelo contrário. A opção pelo improviso, associada às técnicas modernas de montagem (os jump cuts, cortes que rasgam a unidade de tempo e espaço dentro das cenas, aprendido nos filmes de Jean-Luc Godard), acabou por capturar muito bem a atmosfera de irreverência e inovação cultural associadas à Beatlemania. As piadas são ótimas (Lennon e Ringo Starr, em particular, se saem bem como atores), e os números musicais que intercalam as cenas dramáticas – em especial as imagens do quarteto brincando num gramado durante “Can’t Buy me Love” – forneceram inspiração e um modelo estético para o futuro nascimento do videoclipe.
Além de ser um musical brilhante, rende uma perfeita sessão dupla com o divertido “Febre da Juventude” (1978). Se o filme dos Beatles acompanha um dia na vida do quarteto de Liverpool, a estréia de Robert Zemeckis no cinema, assumidamente inspirada em “Os Reis do Iê-Iê-Iê”, focaliza as peripécia de um grupo de fãs para conseguir entrar na apresentação de TV gravada pela banda inglesa neste mesmo dia.
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