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BOB DYLAN - LUIZ CLEMENTINO
Robert Zimmerman, cidadão norte-americano de nome artístico BOB DYLAN, é um autêntico camaleão no cenário musical, artista de mil facetas e de vários estilos musicais, tudo coerente com seus sentimentos. Em sua longa trajetória, foi um puro cantor e compositor folk de protesto, depois transformou-se em um roqueiro desafiador, quebrando as estruturas tradicionais, gerando espanto e ódio naqueles que o admiravam. Noutra ocasião era judeu ortodoxo que chorou no muro das lamentações em Jerusalém, depois cristão católico fervoroso e hoje produz um álbum totalmente diferente do anterior, mas com a mesma energia cativante. Será um niilista ou um homem tentando canalizar a alavanche de sensibilidade que vem através de sua pessoa? Talvez possamos ter uma pequena noção dessa “metamorfose ambulante” ouvindo os versos, da belíssima cancão folk “Blowin’ in the Wind” quando troveja com violão, gaita e voz anasalada : “Quantos caminhos um homem pode percorrer para ser chamado de homem? Quantos mares uma pomba pode percorrer até dormir na areia? Sim, e quantas balas de canhão vão voar até serem banidas para sempre? A resposta meu amigo está soprando com o vento... a resposta meu amigo está soprando com o vento.”
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Suas influências vão desde HANK WILLIAMS passando pelos bluesmen do Mississipi, e roqueiros negros, até o grande ELVIS, mas o que o atingiu em cheio e determinou o primeiro caminho a seguir foi o lendário trovador WOODY GUTHRIE. Esse cara era fabuloso, tinha uma consciência social que desafiava o Estado. Ele cantava contra as injustiças nos sindicatos, nos campos de colheita de algodão junto aos negros e nas manifestações populares.Para se ter idéia, em seu violão era cravada a seguinte frase: “Máquina de matar facista”.
BOB DYLAN em sua primeira mudança de rumo, pelos meados dos anos 60, elaborava um trabalho voltado para os movimentos dos direitos civis. Suas canções se tornaram clássicos de protesto. Ele abordando temas sociais e políticos com seu jeito franzino. Tornou-se um ícone dentro da elite folk americana, admirado por artistas como Joan Baez, Peter Seger, Allen Ginsberg, Lutter King, Jack Kerouac, Sam Shepard e demais pessoas engajadas nas causas sociais, como também em todo movimento beat.
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Em decorrência de tudo isso, BOB DYLAN pira de vez, surta e, para complicar, tem um sério acidente de moto. Em conseqüência, se retira do cenário pop internacional. A imprensa especula, investiga e cala. Tempos depois retorna com uma turnê que gera um álbum ao vivo “Before the Flood”, com o baita conjunto canadense THE BAND. A capa desse vinil é uma bela foto do auditório com velas e o trabalho é de um vigor e uma energia admirável, as baterias foram recarregadas, ele canta com fúria, dedilhando vorazmente a guitarra, como melhor lhe convém, desafiando a tudo e a todos. E por que não? Estava livre para voar bem alto. Daí não houve mais volta, BOB DYLAN não olhou mais para trás e nadou e nada hoje num grande oceano de várias maneiras e em muitas profundidades. Diz em entrevistas: “eu não podia continuar sendo aquele cantor solitário, dedilhando hinos folks acústicos durante três horas todas as noites”.
Outro fato relevante que gostaria de comentar é o seguinte: Em 1973, BOB DYLAN compôs a trilha sonora do filme “Pat Garrett e Billy the Kid”, direção de Sam Peckinpah com atuações de James Coburn, Kris Kristofferson, o próprio DYLAN e a saudosa atriz mexicana Katy Jurado, entre outros. O tema musical é latino-mexicano com baladas country onde se destaca a belíssima “Knockin’ on Heaven’s Door”, em que reafirma mais uma vez o desejo de não ser rotulado de paladino das causas sociais: “mãe tire esse distintivo de mim, eu não posso mais usá-lo, está ficando escuro demais para enxergar, sinto como estivesse batendo nas portas do céu”.
Outra música a que me refiro na trilha desse filme é “Bunkhouse Theme”, canção instrumental interpretada por ele mesmo e o violão afinado com o som de nossa viola caipira. O resultado é espantoso (ouçam, por favor, se puderem). Mostrei para nossos amigos violeiros, eles ficaram extasiados e admirados, como um músico do hemisfério norte, com outras raízes, consegue elaborar um som culturalmente autêntico, da outra banda do planeta distantes milhares de quilômetros? A arte transcende o racional, e tentar moldá-lo em padrões intelectuais pré-estabelecidos pelos babacas, é um grande erro. Deixem o cara trabalhar em sua arte, ele nasceu pra isso, e ademais, o produto é extremamente gratificante.
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Para encerrar citamos que anos atrás a Columbia Records, sua gravadora, promoveu uma festa em sua homenagem. Compareceram os velhos folkies: Judy Collins, Arlo Guthrie, Roger McGuin, a primeira fornada de punks: Lou Reed, John Cale, Iggy Pop, roqueiros britânicos: Peter Townshend, David Bowie, Ian Hunter, os grupos: Talking Heads, The Band e também: Martin Scorsese, Harvey Keitel, Yoko Ono, Roy Orbison, John Hammond Jr. e Jerry Wexler. Todos eles concordaram que tinham uma dívida de gratidão com BOB DYLAN, não somente a nata do rock, como também todos nós que adoramos música. E com simplicidade afirma em uma das canções: “os grandes livros foram escritos, os grandes ditos foram ditos e só quero tentar pintar um quadro do que acontece aqui de vez em quando.” Sabemos com toda certeza que Dylan fez muita mais que isso. Ninguém tem uma definição satisfatória da sua obra, seu trabalho advém de várias direções e de formas diferenciadas. É como o ar que respiramos, não sabemos de onde vem nem para onde vai, o talento não tem dimensões ou limites. E como podemos entender essa “máquina azeitada de criatividade”? Teremos que retornar à estaca zero afirmando: “a resposta meu amigo, está soprando com o vento... a resposta meu amigo está soprando com o vento”.
Muito obrigado e até aproxima. Luiz c
É isso aí, valeu Clementino! Obrigado e até a próxima.
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