Tem gente que não aprende nunca mesmo, ou só aprende levando muito na cabeça. Com certeza, eu sou uma dessas pessoas. Desde o início, assim que foi confirmado o show em Brasília, procurei não criar expectativas e mesmo quando meus amigos perguntavam se eu iria, respondia que achava que não. Estou quebrado e mais duro que arroz de 5ª. Mas sabia que se eu quisesse mesmo ir, isso não seria desculpa. Problemas mais sérios como a saúde de minha mãezinha (que ontem completou 79 anos) e a morte recente e precoce de dois dos meus maiores amigos, esses sim, fazem que eu não tenha nenhum entusiasmo para qualquer tipo de festa. Mas os dias foram passando e logo a cidade começou a ser tomada por cartazes enormes anunciando o show. Meu filho Davi, de 18 anos, viu um desses cartazes e perguntou se eu iria. Respondi que achava que não e ele disse que gostaria de ver um show como esse pela primeira vez e aqui em Brasília. Fiquei pensando uns dois dias e pimba, comprei dois ingressos dos mais baratos para satisfazer pelo menos esse desejo do garotão. Na volta para casa, vendo os cartazes na rua, ficava pensando o que aquele cara e os três amigos dele representaram para mim nos últimos 40 anos. Meus olhos marejaram. Somente no início da semana do show, disse ao meu filho ele que tinha os ingressos.Sou velho, chato e rabugento! Não gosto de gente, de cachorros e menos ainda de crianças e adolescentes. Depois da traumática experiência no estádio Serra Pelada, ôps, Serra Dourada em Goiânia no ano passado, jurei que se dependesse de mim, jamais passaria por aquele inferno outra vez. Mas “todo castigo pra corno é pouco!”, diz um sábio amigo meu. No dia 23, ainda muito cedo, bem antes do sol nascer e a passarinhada se assanhar, eu já estava acordado. Atualizei nosso blog, tomei umas três latinhas, fumei uns 15 cigarros Hollywood vermelho e depois fui passear no parque Olhos D’Água, que é mais ou menos perto da minha casa. O tempo ainda estava bom, mas desde quinta-feira todos os jornais diziam que haveria chuvas torrenciais naquele dia. Umas 11 horas, já de volta à casinha, acordei o rapaz dizendo: “Bora, hora do show!”. Ai, ai... que bom se fosse verdade. Minha mãe nos convidou para almoçarmos na casa dela, nos aprontamos, vestimos os uniformes e partimos. “Deus nos ajude”, pensava olhando para o horizonte. Pois bem, exatamente às 2h30 chegamos no Mané Garrincha, um monstro gigantesco, quase no centro da cidade. Apenas umas 20 pessoas já estavam na fila à nossa frente na beira do portão. E o tempo foi passando, a negada chegando e a tempestade se anunciava. Deu 3 e meia, deu 4 e meia, e os dois manés la´, em pé, diante do imponente e feio manezão. A fila atrás de nós já era quilométrica e àquela altura eu já não poderia mais fumar, o que acabou sendo outro grande problema. O que mais me irritava eram esses pais que levam os filhos crianças para esse tipo de evento. E até por baixo de minhas pernas uma dessas criaturas passou, sem contar as que não paravam de gritar subindo no alambrado do corredor que nos cercava. Os pais achavam uma gracinha. A passagem de som estava marcada para as 5 horas. Os portões só seriam abertos às 5 e meia e a chuva chegou sem dó. A passagem de som só começou já quase 6 horas e somente às 6h40 finalmente abriram o portão quando a negada já ameaçava a invasão. Fiquei apreensivo, com medo de sermos esmagados pela multidão atrás de nós e o portão na nossa frente. Foi como o estouro de uma boiada. Chovia canivetes, minhas pernas estavam dormentes e mal conseguia me arrastar. O Davi já estava lá na frente, mas não nos perdemos, ‘meno male’. Finalmente estávamos dentro do estádio. Nos sentamos e rapidamente todo o lugar começou a ser lotado. Pelo menos, estávamos nas cadeiras superiores, cobertas e livres da chuva. Não senti pena de quem estava lá embaixo, na pista debaixo da chuva que castigava. Então, começou o 2º ato dessa ‘Divina Comédia’: Uma hora e dez minutos de remixes insuportáveis de músicas dos Beatles e de Paul no estilo batidão/pancadão. Um inferno que nem Dante Alighieri conseguiria imaginar nos seus piores dias de angústia. E nada do tal de McCartney! O início do show estava marcado para as 8 em ponto e às 9 e cinco, ainda tinha peão passando pano de chão no palco, e nós (eu e o Davi) com os sacos já absolutamente cheios e, meio sem querer, já ficando com raiva do próprio McCartney. Ora, desde quinta que nessa cidade não se fala em outra coisa senão desse show e do temporal que iria desabar. A organização devia ter se precavido, bolas. E não houve um elemento sequer que aparecesse nem para dar alguma explicação/satisfação para a plateia. Também não haviam ambulantes circulando entre o público. Quem quisesse ir ao banheiro, ou lanchonete, ou fumar, teria que deixar seu lugar e possivelmente, não conseguiria voltar para ele. Todo castigo? Tentava disfarçar meu mal-humor para não influenciar o Davi, mas acho que o dele já era bem pior que o meu.Finalmente o tal de Paul McCartney apareceu no palco depois de uma hora e meia de atraso. A negada foi à loucura! Nós não. Atrás de nós, adolescentes radicais extremistas gritavam de forma enlouquecedora ao ponto de sufocar o som das possantes caixas. McCartney se mostrou em forma, todo bonitão e trajando uma bela jaqueta vermelha, começou atacando com “Magical Mystery Tour”. Depois disse o que diz por todos os lugares que passa, com as mesmas frases em português e só trocando o nome da cidade, mas nenhum pedido de desculpas pelo atraso. Depois “Save Us”, um rockão violento no estilo que ele sabe fazer melhor. A negada gritava, chorava e se descabelava. Nós não. Eu já não tinha emoção nenhuma de estar ali, vendo o idolo de 2cm lá no palco e uns 18m de altura nos telões. Pelo menos, dessa vez, eu não estava quase atrás do palco, como foi em Goiânia. “All My Loving”, clássico dos Beatles, “Listen To What The Man Said”, “Let Me Roll It” (onde Paul deu um show de guitarra!), a animada “Paperback Writer”, “My Valentine”, “1985”, “The Long And Winding Road” (quando comecei a bocejar), “Maybe, I'm Amazed” (idem), “We Can Work It Out” (nós podemos resolver isso) e começou , para nós, a sessão nana-neném. Depois de“Another day”, comecei a cochilar, “And I Love Her”, “Blackbird”, quando olhei para o lado, o Davi também cochilava. No meio de “Here today”, exaustos e famintos, e eu doido para fumar, concordamos que já era nossa hora, embora eu quisesse que ele visse “Live And Let Die”, mas não deu. Saímos do estádio apressados e sem qualquer arrependimento ou culpa de estar abandonando o show de Paul McCartney em Brasília. Fomos caminhando até a W3 e no caminho ainda podemos ouvir “Lady Madonna”, “All together now”, “Lovely Rita”, “Everybody Out There” e “Eleanor Rigby”, para se ter noção da altura do som. Já com a chuva bem fininha, pegamos um táxi no rumo da 116 norte e paramos no Girafa’s para comer. Em casa, tinha deixado guardados uma caixinha de latinhas da Antarctica na geladeira e um pacotão com dez carteiras de Hollywood vermelho na frente do computador. Agora estava a salvo. Ontem, passei o dia imprestável. Minhas pernas ainda dóem até agora. Se valeu à pena? Valeu sim, porque dessa vez, aprendi a lição. Não tenho mais 20, 30 anos e isso não é mais para mim. Tenho os meus discos e guardo meu amor de uma forma que só a mim importa. Apesar da chuva, espero que Paul tenha gostado da cidade e volte outras vezes. Prometo que se eu ganhar na mega sozinho, vou vê-lo onde estiver e pedir desculpas pessoalmente por ter abandonado seu show na minha cidade. Obrigado Paul. O Brasil viu Brasília de uma forma diferente da que estava acostumado. Desculpem se não correspondi à expectativa de alguns que esperavam que eu só rasgasse a seda. Disse apenas o que vi, o que senti e o que achei. Obrigadão a todos pela paciência! Hey, ainda tem alguém aqui?
terça-feira, 25 de novembro de 2014
PAUL McCARTNEY EM BRASÍLIA - UMA LIÇÃO INESQUECÍVEL!
Tem gente que não aprende nunca mesmo, ou só aprende levando muito na cabeça. Com certeza, eu sou uma dessas pessoas. Desde o início, assim que foi confirmado o show em Brasília, procurei não criar expectativas e mesmo quando meus amigos perguntavam se eu iria, respondia que achava que não. Estou quebrado e mais duro que arroz de 5ª. Mas sabia que se eu quisesse mesmo ir, isso não seria desculpa. Problemas mais sérios como a saúde de minha mãezinha (que ontem completou 79 anos) e a morte recente e precoce de dois dos meus maiores amigos, esses sim, fazem que eu não tenha nenhum entusiasmo para qualquer tipo de festa. Mas os dias foram passando e logo a cidade começou a ser tomada por cartazes enormes anunciando o show. Meu filho Davi, de 18 anos, viu um desses cartazes e perguntou se eu iria. Respondi que achava que não e ele disse que gostaria de ver um show como esse pela primeira vez e aqui em Brasília. Fiquei pensando uns dois dias e pimba, comprei dois ingressos dos mais baratos para satisfazer pelo menos esse desejo do garotão. Na volta para casa, vendo os cartazes na rua, ficava pensando o que aquele cara e os três amigos dele representaram para mim nos últimos 40 anos. Meus olhos marejaram. Somente no início da semana do show, disse ao meu filho ele que tinha os ingressos.Sou velho, chato e rabugento! Não gosto de gente, de cachorros e menos ainda de crianças e adolescentes. Depois da traumática experiência no estádio Serra Pelada, ôps, Serra Dourada em Goiânia no ano passado, jurei que se dependesse de mim, jamais passaria por aquele inferno outra vez. Mas “todo castigo pra corno é pouco!”, diz um sábio amigo meu. No dia 23, ainda muito cedo, bem antes do sol nascer e a passarinhada se assanhar, eu já estava acordado. Atualizei nosso blog, tomei umas três latinhas, fumei uns 15 cigarros Hollywood vermelho e depois fui passear no parque Olhos D’Água, que é mais ou menos perto da minha casa. O tempo ainda estava bom, mas desde quinta-feira todos os jornais diziam que haveria chuvas torrenciais naquele dia. Umas 11 horas, já de volta à casinha, acordei o rapaz dizendo: “Bora, hora do show!”. Ai, ai... que bom se fosse verdade. Minha mãe nos convidou para almoçarmos na casa dela, nos aprontamos, vestimos os uniformes e partimos. “Deus nos ajude”, pensava olhando para o horizonte. Pois bem, exatamente às 2h30 chegamos no Mané Garrincha, um monstro gigantesco, quase no centro da cidade. Apenas umas 20 pessoas já estavam na fila à nossa frente na beira do portão. E o tempo foi passando, a negada chegando e a tempestade se anunciava. Deu 3 e meia, deu 4 e meia, e os dois manés la´, em pé, diante do imponente e feio manezão. A fila atrás de nós já era quilométrica e àquela altura eu já não poderia mais fumar, o que acabou sendo outro grande problema. O que mais me irritava eram esses pais que levam os filhos crianças para esse tipo de evento. E até por baixo de minhas pernas uma dessas criaturas passou, sem contar as que não paravam de gritar subindo no alambrado do corredor que nos cercava. Os pais achavam uma gracinha. A passagem de som estava marcada para as 5 horas. Os portões só seriam abertos às 5 e meia e a chuva chegou sem dó. A passagem de som só começou já quase 6 horas e somente às 6h40 finalmente abriram o portão quando a negada já ameaçava a invasão. Fiquei apreensivo, com medo de sermos esmagados pela multidão atrás de nós e o portão na nossa frente. Foi como o estouro de uma boiada. Chovia canivetes, minhas pernas estavam dormentes e mal conseguia me arrastar. O Davi já estava lá na frente, mas não nos perdemos, ‘meno male’. Finalmente estávamos dentro do estádio. Nos sentamos e rapidamente todo o lugar começou a ser lotado. Pelo menos, estávamos nas cadeiras superiores, cobertas e livres da chuva. Não senti pena de quem estava lá embaixo, na pista debaixo da chuva que castigava. Então, começou o 2º ato dessa ‘Divina Comédia’: Uma hora e dez minutos de remixes insuportáveis de músicas dos Beatles e de Paul no estilo batidão/pancadão. Um inferno que nem Dante Alighieri conseguiria imaginar nos seus piores dias de angústia. E nada do tal de McCartney! O início do show estava marcado para as 8 em ponto e às 9 e cinco, ainda tinha peão passando pano de chão no palco, e nós (eu e o Davi) com os sacos já absolutamente cheios e, meio sem querer, já ficando com raiva do próprio McCartney. Ora, desde quinta que nessa cidade não se fala em outra coisa senão desse show e do temporal que iria desabar. A organização devia ter se precavido, bolas. E não houve um elemento sequer que aparecesse nem para dar alguma explicação/satisfação para a plateia. Também não haviam ambulantes circulando entre o público. Quem quisesse ir ao banheiro, ou lanchonete, ou fumar, teria que deixar seu lugar e possivelmente, não conseguiria voltar para ele. Todo castigo? Tentava disfarçar meu mal-humor para não influenciar o Davi, mas acho que o dele já era bem pior que o meu.Finalmente o tal de Paul McCartney apareceu no palco depois de uma hora e meia de atraso. A negada foi à loucura! Nós não. Atrás de nós, adolescentes radicais extremistas gritavam de forma enlouquecedora ao ponto de sufocar o som das possantes caixas. McCartney se mostrou em forma, todo bonitão e trajando uma bela jaqueta vermelha, começou atacando com “Magical Mystery Tour”. Depois disse o que diz por todos os lugares que passa, com as mesmas frases em português e só trocando o nome da cidade, mas nenhum pedido de desculpas pelo atraso. Depois “Save Us”, um rockão violento no estilo que ele sabe fazer melhor. A negada gritava, chorava e se descabelava. Nós não. Eu já não tinha emoção nenhuma de estar ali, vendo o idolo de 2cm lá no palco e uns 18m de altura nos telões. Pelo menos, dessa vez, eu não estava quase atrás do palco, como foi em Goiânia. “All My Loving”, clássico dos Beatles, “Listen To What The Man Said”, “Let Me Roll It” (onde Paul deu um show de guitarra!), a animada “Paperback Writer”, “My Valentine”, “1985”, “The Long And Winding Road” (quando comecei a bocejar), “Maybe, I'm Amazed” (idem), “We Can Work It Out” (nós podemos resolver isso) e começou , para nós, a sessão nana-neném. Depois de“Another day”, comecei a cochilar, “And I Love Her”, “Blackbird”, quando olhei para o lado, o Davi também cochilava. No meio de “Here today”, exaustos e famintos, e eu doido para fumar, concordamos que já era nossa hora, embora eu quisesse que ele visse “Live And Let Die”, mas não deu. Saímos do estádio apressados e sem qualquer arrependimento ou culpa de estar abandonando o show de Paul McCartney em Brasília. Fomos caminhando até a W3 e no caminho ainda podemos ouvir “Lady Madonna”, “All together now”, “Lovely Rita”, “Everybody Out There” e “Eleanor Rigby”, para se ter noção da altura do som. Já com a chuva bem fininha, pegamos um táxi no rumo da 116 norte e paramos no Girafa’s para comer. Em casa, tinha deixado guardados uma caixinha de latinhas da Antarctica na geladeira e um pacotão com dez carteiras de Hollywood vermelho na frente do computador. Agora estava a salvo. Ontem, passei o dia imprestável. Minhas pernas ainda dóem até agora. Se valeu à pena? Valeu sim, porque dessa vez, aprendi a lição. Não tenho mais 20, 30 anos e isso não é mais para mim. Tenho os meus discos e guardo meu amor de uma forma que só a mim importa. Apesar da chuva, espero que Paul tenha gostado da cidade e volte outras vezes. Prometo que se eu ganhar na mega sozinho, vou vê-lo onde estiver e pedir desculpas pessoalmente por ter abandonado seu show na minha cidade. Obrigado Paul. O Brasil viu Brasília de uma forma diferente da que estava acostumado. Desculpem se não correspondi à expectativa de alguns que esperavam que eu só rasgasse a seda. Disse apenas o que vi, o que senti e o que achei. Obrigadão a todos pela paciência! Hey, ainda tem alguém aqui?
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5 comentários:
Edu, gosto do seu texto pela autenticidade e independente da sua saída antes do fim do show, achei ótima sua visão da estréia do Macca em Brasília. Sorri horrores, imaginando vc sem comer, beber, fumar...
Bjs Amigo
De fato. É phoda! Aqui em Recife, desorganização só do lado de fora. Ninguém pra orientar e organizar as filas e um sofrimento com os atrasos (como o dia foi lindo o atraso da passagem de som foi do Paul).Fumei e bebi tranquilamente fora. Dentro foi melhor. Tinha bares,vendedores e fiquei próximo de um banheiro (entre uma porrada).Por isso valeu demais. Mas 4 hora do lado de fora, pela minha idade...Não dá mais!
Amigo, você tem todas as credenciais para criticar um show do Paul, para o bem ou para o mal. A história de vocês é uma verdadeira prova de devoção e fidelidade de um Beatlemaníaco para com seu ídolo. Gostaria que você tivesse se divertido como todos que estavam lá, como eu me diverti. Mas entendo o que passou. Quando você ganhar na mega sena me leve para o próximo show com você. Daí será só diversão em alto estilo. Um abraço.
Levo não. Obrigado!
É Edu,eu te entendo, um dos motivos de eu não ir ver o Paul aqui em São Paulo,alem do monte de coisas para fazer e falta de grana,foi que não tenho mais paciência e idade para aguentar essa "maratona" em frente a estadio.Aguardar horas e mais horas debaixo de sol,chuva e o escambau,ficar sentado no chão e etc,são para essa rapaziada jovem de idade que gosta dos Beatles.Como vc cheguei ao ponto de me satisfazer com os meus discos e demais tranqueiras dos Fab Four e estou satisfeito que seja assim.
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