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Quem passa por aqui todos os dias ou só de vez em quando, com certeza já sabe que "She Loves You" é uma das campeãs absolutas de audiência aqui da casa. E é isso mesmo. Ela me ama e eu sei que com uma garota dessas tenho mais é que ser feliz. Yeah, Yeah, Yeah, Yeah!
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George Martin pressionava os Beatles a produzir material para um novo compacto, de modo a manter a liderança nas paradas. Uma composição iniciada em Newcastle, após um espetáculo no fim de junho, dava a impressão de que poderia satisfazer os requisitos do pedido. Viajando na traseira de uma perua mal iluminada internamente, Paul tinha esboçado um fragmento de letra bastante promissor. Era baseado em uma answering song (música de resposta), segundo Paul, que se recordou de ter ouvido uma gravação de Bobby Rydell em que ele usava o recurso de forma inteligente. Um coro de garotas cantava: "Go, Bobby, go, everything's cool", ao que Rydell respondia: "We all go to a swingin' school". Paul vislumbrou os Beatles fazendo uma coisa parecida. Ele cantaria: "She loves you", enquanto o restante da banda responderia: "Yeah, yeh...yeah", produzindo um efeito meio sem sentido, mas com um gancho musical eficaz. Decidiu levar o projeto a John, que o classificou como "idéia de jerico". Mas achou que a letra tinha futuro.
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Retornaram então ao quarto no Turk's Hotel, empunharam as guitarras, e em poucas horas tinham elaborado a estrutura da canção. "She Loves You" foi concluída na noite seguinte, durante um raro dia de folga em Liverpool. Os rapazes trabalharam com afinco nela, em uma pequena sala de jantar, na Forthlin Road, com o pai de Paul sentado a menos de 2 metros, fumando sem parar e assistindo à televisão. A presença dele e o ruído não tinham importância - nada conseguia interromper a concentração de Paul e John. Eles compunham com um sentido de missão, reformulando frases inadequadas, tocando sem parar, aperfeiçoando a métrica até chegar ao ponto certo. Quando acabaram, sabiam que tinham um sucesso nas mãos. A música tinha uma energia positiva que inrrompia nas primeiras notas e culminava em uma bela harmonização vocal, distribuída pelos yeahs. George Martin ouviu-a num ensaio no estúdio, no dia primeiro de julho, e a considerou "brilhante, uma das melhores canções já composta pelos Beatles". O grupo trabalhou na música durante os dias que se seguiram, ensinando a George Harrison uma terceira voz, para encorpar o efeito. De volta ao estúdio, com Martin empoleirado em um banco em frente ao piano, eles a repassaram, seguindo um arranjo que John e Paul tinham elaborado para a guitarras. O engenheiro Norman Smith, de pé em frente à mesa de edição, mostrava-se agradavelmente surpreso enquanto ouvia a música. Um pouco antes, ele tinha examinado a letra, que estava em um suporte, e sentira um frio na barriga. Ele contaria mais tarde a Mark Lewisohn: "She loves you, yeah, yeah, yeah, she loves you, yeah, yeah, yeah...aí eu pensei: "ah, meu Deus, que letra! Acho que não vou gostar dessa música".
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Esse texto que a gente conferiu foi o do livro "The Beatles - A Biografia" de Bob Spitz. Agora, a gente confere o que disse a revista Rolling Stone em sua edição especial "As 100 Melhores Canções dos Beatles":
Na tarde de primeiro de julho de 1963, Os Beatles estavam para gravar "She Loves You" nos estúdios da EMI quando começou a confusão. Como relembrou Geoff Emerick - então assistente no Abbey Road e, mais tarde, engenheiro dos Beatles -, "a enorme multidão de garotas que estava do lado de fora invadiu o lugar pela porta da frente... Montes de adolescentes histéricas, gritando, corriam pelos corredores, perseguidas por um punhado de ofegantes policiais londrinos". A bagunça pode ter sido uma benção disfarçada para os Beatles, que imediatamente engataram em um dos mais exuberantes singles pop de todos os tempos. "[O caos] ajudou a despertar um novo nível de energia no grupo", escreveu Emerick.
Lennon e McCartney começaram a escrever "She Loves You" em uma van, em turnê, e depois fizeram o grosso do trabalho no Turk's Hotel, em Newcastle, sentados em suas camas, munidos de violões. A novidade na letra foi a introdução de uma terceira pessoa, balançando a típica fórmula do eu-te-amo. A variação foi inspirada por "Forget Him", de Bob Rydell, um sucesso no Reino Unido. "Era alguém trazendo uma mensagem", disse McCartney. "Não éramos mais nós. Há uma pequena distância que conseguimos colocar nela, o que é bem interessante." Ainda assim, algo estava faltando. "Tínhamos escrito a canção e precisávamos de mais", disse Lennon. "Tínhamos 'yeah, yeah, yeah' e pegou. Não sei exatamente de onde tiramos - Lonnie Donegan sempre fazia. Elvis fez em 'All Shook Up'."
Eles terminaram "She Loves You" na casa de McCartney, de volta a Liverpool. Quando o pai de Paul ouviu a música, disse: "Filho, há americanismos o suficiente por aí. Você não poderia cantar 'yes, yes, yes' só uma vez?" McCartney respondeu: "Você não entende, pai. Não ia funcionar".
Por todo o imediatismo cru de seu som, a música também anunciava um novo nível de sofisticação para os membros da banda como compositores e arranjadores. "She Loves You" abre com o refrão, em vez de usar o primeiro verso, dando um impacto extra - uma sugestão de George Martin. O toque final foi o característico acorde que encerra o refrão - ideia de Harrison -, que para Martin soava "meloso". "Ele achou que estávamos brincando", disse McCartney. "Mas não funcionava sem ele, então mantivemos o acorde e o convencemos."
A aparição dos Beatles no Sunday Night at the London Palladium da ITV, em 13 de outubro de 1963, culminando na performance de "She Loves You", é frequentemente considerada o pico da Beatlemania. Os Beatles seguiriam de triunfo em triunfo no decorrer dos anos 60, mas na Grã-Bretanha, "She Loves You" continuou sendo o single mais vendido da década.
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8 comentários:
"Não quero cantar She Loves You quando eu tiver 30 anos" - John Lennon.
Por mim, podia tocar mil vezes todos os dias! "She Loves You" foi um dos maiores petardos da música pop de todos os tempos e foi como um soco no estômago e outro na boca de críticos e prováveis concorrentes. Ô dó! Amo. Adoro! Ainda posso ouvir 20 vezes seguidas!
Ótimo.
Pra que não assistiu ao filme, taí o link:
http://fmovies.to/film/the-beatles-eight-days-a-week-the-touring-years.1n7mq/xjyjqq
Mexeu comigo no primeiro momento que ouvi. Minha irmã mandou gravar uma fita cassete na única loja de LP da cidade (não sei, quem sabe) ou alguém emprestou uma fita cassete (não sei, quem sabe). Só sei que na hora que ouvi foi paixão At First Sight não parava de ouvir embora não tivesse como saber quem cantava...
Sempre me pergunto, dado ao grande sucesso e importância dessa musica, por que o Paul nunca a cantou em seus shows solo?
Acho que não aguentaria...
Não aguentaria pela emoção e sabe melhor do que ninguém que o cantor principal não era ele e que esse Rusty Anderson não ficaria bem nesse papel.
Ela é uma mudança de perspectiva significativa. Tanto na letra (mesmo simples) quanto na melodia.
Quando ouço essa canção, meu sangue parece que vai ferver dentro das veias...
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