No dia 1º de abril de 1974, em Santa Monica, na California, foi tirada a última foto em que John e Paul aparecem juntos durante o que ficou conhecido como “fim-de-semana-perdido”. A foto foi tirada por Dougal Butler, assistente pessoal de Keith Moon (The Who) que também pode ser visto em outras fotos da mesma sequencia. Absolutamente imperdível a mega postagem “MAY PANG - "O FIM DE SEMANA PERDIDO” – publicada em 25 de setembro de 2012.
Aqui, a gente confere um trecho do livro "Paul McCartney - Uma Vida"de Peter Ames Carlin, sobre esse encontro.
A
possibilidade de um encontro dos
Beatles sempre estivera presente e, por volta de 1974, pareceu estar perto de
se tomar realidade. A colaboração deles quase completa em Ringo foi
bastante tentadora nesse sentido, e até mesmo John demonstrou desejar que
aquilo acontecesse então. “É isso aí, nós três estávamos lá”, declarou ele ao
repórter da revista New Musical Express, Chris Charlesworth, ao comentar
a sessão em que tocara com George e Ringo, no final de 1973. “Provavelmente,
Paul também teria se juntado se
estivesse na cidade, mas não estava.” Embora Paul continuasse negando os
rumores de que o grupo voltaria a se reunir, tanto quanto os outros Beatles,
ele também não deixava de meditar sobre aquilo, e mesmo de ansiar publicamente
pela possibilidade de realmente fazê-lo. Talvez, com seu jeito quieto, ele
estivesse trabalhando para que isso acontecesse. Pelo menos, foi a impressão
que ele deu na noite em que apareceu, de surpresa, numa das sessões de gravação
de John, em Los Angeles. Na época, John estava separado de Yoko e
vivia com a antiga secretária dos Lennon,
May
Pang, e permitia-se algo como uma adolescência renovada. Mas também estava
trabalhando, tentando conciliar dois de seus novos projetos de gravação com um
álbum que estava produzindo para Harry Nilsson. Ele comandava as sessões
do disco de Nilsson, em março de 1974, quando Paul começou a circular pela
cidade. Eles se viram pela primeira vez na cerimônia de entrega de prêmios da
Academia, no dia 9 de março, e se encontraram nos bastidores para conversar
um pouco. O encontro público inspirou ainda mais rumores sobre a reunião dos
Beatles, e eles teriam sido ainda mais
febris se algum observador tivesse visto Paul e Linda se esgueirando
pelos
Burbank Studios, após a meia-noite do dia 28 de março, indo direto ao recinto
em que John estava trabalhando com Nilsson, Ringo e uma banda rotativa de
amigos famosos. "Não tínhamos ideia de que ele viria”, diz May Pang. "Subitamente, nos viramos e nos deparamos com Paul.” John
sorriu quando se abraçaram. "Como você descobriu que estávamos aqui?”
Paul deu de ombros e olhou em volta do estúdio. Mal Evans, o velho assistente
dos Beatles, estava lá, de pé com os outros músicos que rodopiavam por ali,
conversavam e fumavam juntos, e agora assistia a essa nova cena sendo
desenrolada diante de seus olhos. Mas Paul tinha perdido a sessão de gravação e
não conseguiu esconder a decepção no olhar. “Então, por hoje já
terminou?”."Bem,
sim". Mas John costumava ficar até mais tarde na maioria das noites e, no fim,
acabava fazendo improvisações com quem quer que estivesse por perto. Paul se
aproximou da batería — a batería de Ringo — subiu no banco, apanhou duas
baquetas e se postou cheio de esperança. John deu de ombros. “Ah, ok”,
afirmou, olhando em volta em busca de sua guitarra. “Vamos fazer um pequeno
improviso.” Linda ficou no órgão; um outro músico da sessão ao
lado pegou o baixo. Stevie Wonder, que estava gravando no salão de baixo,
entrou e se sentou no piano elétrico. Enquanto os técnicos corriam para arranjar
os microfones, John improvisou uma canção de jazz, ao mesmo tempo que Paul e
Stevie tocaram juntos. Ws so wonderful
to beeee, waiting for my green card with yooouuu [É
maravilhoso estaaaar, esperando pelo meu ‘green card' com vocêêêê],
John murmurou, mencionando sua contínua luta para ficar nos Estados Unidos. Mas
aquilo não resultou em nada, então Stevie conduziu o grupo numa progressão à
moda gospel até uma versão lenta, ftink, de "Lucille”, com Paul gritando
em total estilo Cavern e John fazendo a harmonia de fundo. Aquilo terminou em
dois versos e nada mais surgiu ("Alguém me dê um mi", John
falou, tentando afinar seu instrumento, “ou uma fileira”). “Stand by me” veio a seguir, gerando certa
confusão técnica. (Liga a porra do microfone do vocal!",
John comandou. “McCartney está fazendo harmonia na bateria Eles
continuaram tocando, e então estava acontecendo novamente. De forma breve, e
um tanto hesitante, mas ainda assim; John na dianteira, com a voz de Paul
fluindo com facilidade na alta harmonia, como se o tempo não tivesse passado,
como se eles não tivessem ficado quatro anos atravessando com pesar as próprias
animosidades e raivas. “Era como se fosse ontem”, diz Pang. “Eles não pulavam uma única batida, faziam tudo certinho. O
improviso continuou, assim como a bebedeira e a inalação de cocaína. A música
entrava e saía de foco, e John ia ficando irascível, tomando-se cada vez mais
neurastênico quando seu microfone perdia o volume. Mesmo assim. Pang recorda uma versão especialmente aguda da antiga canção “Midnight Special”, com novo ritmo. Quando acabou, já em plena
madrugada. John convidou seu ex-parceiro para visitar sua casa em Malibu, na manhã seguinte. Paul concordou animadamente e disse que sim, claro, estaria
lá. E feliz, com certeza. Ele apareceu com Linda e as crianças perto do
meio-dia, e encontrou Ringo, Keith Moon, do The
Who, e alguns
outros amigos sentados em volta da piscina. Sem ter nada para fazer, Paul se sentou ao piano e dedilhou algumas velhas melodias dos Beatles,
enquanto os outros riram e cantaram juntos. Quando John finalmente despertou,
Paul chegou para ele e sussurrou que tinha uma mensagem de Yoko. Algumas
semanas antes, ela tinha estado em Londres e telefonara para Paul, do nada.
Será que ela podia fazer uma visita? Bem, claro que sim. Ele estaria mesmo na
casa de Cavendish, naquela semana, então ficaria
mais fácil. Ela chegou sorrindo, mais calada do que o normal. Sem dúvida, Paul
e Linda ouviram falar que ela e John haviam se separado — ela o tinha mandado
embora para Los Angeles, para viver com May Pang. “Ela estava sendo muito gentil e confiava na gente, mas era muito firme
sobre aquilo”, Paul contou ao escritor Chris Salewicz, dez anos depois. Embora não estivesse contente com o
comportamento de John, ela queria que ele soubesse que estava aberta a uma
reconciliação. “Mas ele vai ter de se corrigir”, afirmou ela. “Eu disse: ‘Bem, você ainda o ama?”, Paul perguntou. “Então eu falei: Bem,
você acha que seria intromissão de minha parte se eu dissesse isso a ele, que
você o ama e existe um caminho para voltar?”. Ela disse que não se importaria.” Paul iria a Los Angeles dentro de algumas semanas e, assim, quando
ficou a sós com John no pátio de sua casa alugada, achou que seria o momento
adequado para entregar-lhe a mensagem. “Fui com ele para o quarto dos fundos e
disse: ‘Essa sua garota ainda o ama. (...) Você tem de se mexer, cara. Precisa
voltar a Nova York, alugar um apartamento sozinho e mandar flores para ela
todos os dias, vai ter de batalhar feito um condenado!”. John balançou a
cabeça, e foi isso. “É como uma canção dos Beatles!”, Paul
declarou a Salewicz, sem perceber que a história que estava contando era
praticamente a dramatização de “She Loves You”, sem o yeah, yeah, yeah. A tarde prosseguiu. Paul se sentou ao piano e começou a tocar alguns
sucessos, depois voltou a mais canções dos Beatles. Ringo se sentou ao lado dele
no banco e cantou junto, dando gargalhadas. John veio até a sala e observou por
alguns minutos, não demonstrando estar contente, e depois voltou para o pátio.
May e Linda levaram as crianças para andar na praia, e em seguida foram
mergulhar. Quando a luz começou a fenecer, os McCartney pegaram as crianças e
se despediram. “Vamos nos encontrar outra vez”, disse Paul. John
concordou com a cabeça. "Vamos, sim!” Pouco tempo depois, Pang ouviu
John conversando com Nilsson sobre o futuro. “Não seria legal juntar os
companheiros novamente?”, ele disse. Nilsson aprovou com um gesto,
sabendo exatamente quais eram os companheiros de que John estava falando. “Eu adoraria
entrar nessa com vocês”. “Oh, yeah”, John afirmou de modo ainda mais
entusiástico. “Nós podíamos fazer um show no outono”. Em vez disso, John e Pang
se mudaram para Nova York e alugaram um apartamento no Upper East Side, do
outro lado do Central Park e do apartamento que John dividira com Yoko no
edifício Dakota. em Central Park West. John começou a enviar flores para Yoko,
e ela foi assistir à apresentação dele com Elton John, no Madtson Square
Garden. Pouco depois, John voltou a viver com a mulher e aquele vinculo
revigorado tornou a ser o centro de suas preocupações.
Um comentário:
Loucos anos 70. Mas é legal pensar que existiu um momento em que tudo poderia vir a ser diferente.
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