Brian Epstein era homossexual. O que só se tornou público tempos depois de sua morte. A homossexualidade de Brian era conhecida entre os mais próximos, inclusive os Beatles. Devido a uma maior proximidade que tinha com John Lennon surgiram rumores que os dois tiveram um breve caso numa viagem que fizeram juntos para a Espanha em abril de 1963. Pouco depois de começar a empresariar os Beatles, Brian começou a tomar anfetaminas. Para ele era o único meio de manter-se acordado até altas horas durante as exaustivas turnês. Mais tarde, se envolveu no uso de outras drogas como a maconha e o LSD. Pouco antes de sua morte, Brian foi internado na clínica Priory tentando se livrar do uso de anfetaminas e da insônia. Sua última visita aos estúdios de gravação foi em 23 de agosto. No dia seguinte ele partiu para sua casa no campo em Uckfield (Sussex) para férias. Chegando em Uckfield, resolveu voltar a Londres. No dia 27 de agosto de 1967, Brian Epstein foi encontrado morto em seu quarto, aos 32 anos. No laudo, constava "morte acidental" por overdose de Carbitol, um medicamento para insônia. No dia do falecimento, os Beatles estavam em Bangor meditando com o guru Maharishi Mahesh Yogi quando souberam da notícia e ficaram visívelmente chocados. O corpo de Brian encontra-se sepultado no Cemitério Judaico Kirkdale, Kirkdale, Merseyside na Inglaterra.








Sobre a morte de Brian, John Lennon disse: "Estávamos no País de Gales com o Maharishi. Havíamos acabado de assistir à sua primeira palestra quando recebemos a notícia. Fiquei chocado, todos nós ficamos, e fomos falar com o Maharishi. ‘Ele morreu’, dissemos, e ele, como um idiota, dizia em tom paternal, ‘Esqueçam, fiquem felizes, sorriam’, e foi o que fizemos. Senti o que qualquer um sente quando uma pessoa íntima morre: algo dentro de nós dizendo de forma descontrolada, ‘ainda bem que não fui eu’. Não sei se você já passou por isso, mas muitas pessoas próximas a mim morreram e eu pensei ‘Que droga! Não há nada a fazer’. Sabia que estávamos em uma enrascada. Estava assustado, pois não tinha nenhuma ilusão de que pudéssemos fazer qualquer outra coisa a não ser tocar, e pensei ‘Estamos acabados’. Eu gostava de Brian e tivemos uma relação estreita durante anos, por isso não quero que nenhum estranho seja nosso empresário, simplesmente isso. Gosto de trabalhar com amigos. Eu era o mais próximo de Brian, tão próximo quanto se pode ser de alguém que leva um estilo de vida ‘gay’, e você não sabe o que ele faz por fora. De todos os Beatles, eu era o mais próximo de Brian e realmente gostava muito dele. Nós tínhamos plena confiança nele como empresário. Para nós, ele era o especialista. Bem, no começo ele tinha uma loja e achávamos que qualquer um que tivesse uma loja sabia o que fazer. Ele costumava encantar e seduzir a todos, mas, às vezes explodia, tinha acessos de raiva e tinha crises de poder e, então, sabíamos que iria desaparecer por alguns dias. De tempos em tempos, entrava em crise e todo o negócio parava, pois ficava prostrado na cama, tomando soníferos por dias a fio. Às vezes desaparecia, porque fora espancado por algum estivador em Old Kent Road. No início, não sabíamos o que realmente acontecia, mas, mais tarde, descobrimos a verdade. Nunca teríamos conseguido chegar ao topo sem sua ajuda e vice-versa. No começo de nossa carreira tanto Brian quanto nós contribuímos, nós tínhamos o talento e ele fazia as coisas acontecerem. Mas ele não tinha força suficiente para nos controlar. Nunca conseguiu que fizéssemos algo que não queríamos”.
Aqui, a gente tem a graça de conferir novamente o sensacional texto do meu querido e saudosíssimo amigo João Carlos de Mendonça, publicado originalmente na sua coluna SÁBADO SOM em 26/12/2015.

De família judia, proprietária de lojas de móveis com sessões de instrumentos musicais e discos (NEMS – North End Music Stores), já aos 16 anos, BRIAN EPSTEIN queria ser “design de moda”, idéia repelida pelo pai, que o fez gerente do setor de discos da NEMS. Mais tarde esteve cursando teatro e serviu ao exército inglês, experiências que terminaram de forma desconcertante para o jovem. Como era homossexual, foi flagrado em situações que terminaram encobertas pelo poder da família. Imagino o que passava na cabeça daquele rapaz obstinado, inteligente, perspicaz e competente, numa época em que ser “gay” era crime. Previsto em lei. E quanto mais sucesso obtinha como gerente da loja, mais insatisfeito vivia. Nalgum lugar em sua mente, ele sabia que o seu talento envolvia o mundo artístico. Mas o que? Há várias histórias e na verdade, todas fazem sentido. Como proprietário de uma loja de discos seria natural que ele fosse o principal anunciante do jornal local MERSEY BEAT, para o qual escrevia artigos sobre música. Pode mesmo ter visto (e não percebido) os BEATLES diversas vezes na publicação. Considerando-se que era fã de música erudita, entre tantos grupos, cantores, fotos e matérias sobre a cena de Liverpool, poderia mesmo não ter associado nenhum daqueles conjuntos ao disco que um jovem solicitou e que, “tragicamente”, não localizou em sua loja. Tratava-se da canção “My Bonnie” com TONY SHERIDAN & THE BEATLES. Sendo o maior cliente das gravadoras na região, não foi difícil descobrir que o produto era de origem alemã, mas o conjunto era inglês de Liverpool e, conversando com uns e outros, ficou sabendo que o grupo exibia-se regiamente num “pub” local, o CAVERN, no horário do almoço. Tudo muito verossímil. Ao chegar ao CAVERN CLUB, efusivamente recebido, o elegante Brian queria conhecer o grupo de fato, mas como tinha encomendado diversas cópias do “disquinho”, pretendia antes de tudo, divulgar o produto contando com o apoio da casa. Mas ficou extasiado com o que viu e ouviu. Visionário, enxergou o que a maioria dos empresários pés-rapados do período nunca havia notado. O som diferente e poderoso da banda, que acabara de passar por uma experiência difícil e enriquecedora, tocando nos botecos e clubes de “strippers” barras-pesadas de Hamburgo e, principalmente o carisma deles. Isto ficou evidente ao conhecê-los pessoalmente. Até resolver “empresariar” o conjunto, Brian os viu várias vezes e apesar das irreverências, todos toparam porque perceberam sua classe e sua autêntica determinação. Até aceitaram suas condições. Epstein sabia que os cabelos e a música eram diferentes e empolgantes tanto quanto o estilo “rebelde”, “teddy boy” desleixado, não iria pegar. Acertou em cheio ao moldá-los com um visual meio andrógeno (para o período) em contraponto ao tipo James Dean de suas roupas (passaram a usar ternos). Mas jamais interferiu no som da banda. Nem é preciso observar com acuidade para constatarmos que os Stones, The Who, Yardbirds e todos os demais, adotaram o mesmo visual em seus primeiros álbuns. Brian Epstein foi à luta e mais do que os próprios Beatles, acreditava e apostava tudo naquele projeto. Com uma fita “demo” feita na DECCA (que os rejeitou), gastou muita sola de sapato, ouviu piadas, grosserias e conselhos desanimadores. E para todos tinha uma resposta pronta: “eles serão maiores que Elvis!”. Até o feliz encontro com o George Martin. E deu no que deu! Em dois anos Epstein era um milionário. Sua empresa passou a cuidar de vários outros artistas e, até JIMI HENDRIX fez parte de seu “cast”, mas a prioridade sempre foi Beatles. Todas aquelas gravadoras que rejeitaram o grupo viviam de lamentações e muitos empresários experientes o invejavam. Pisou na bola em alguns momentos, mas sempre mais por certa ingenuidade do que incompetência. Cercou-se dos melhores profissionais e fez o grupo deslanchar. Convenceu ED SULLIVAN a contratá-los e espalhou pelos EUA cartazes e “outdoors” com “OS BEATLES VÊM AI!” (bastante copiado posteriormente). Era mesmo a figura paterna, o elemento agregador, que suportava as idiossincrasias e até piadas insultuosas, especialmente de Lennon (sua biografia, “A CELLARFUL OF NOISE”, John chamava de “A CELLARFUL OF BOYS”). Se Brian moldou o visual do grupo quando no anonimato, alcançado o sucesso, deixou-os livremente “lançar” modas e jamais interferiu na evolução musical da banda. Apesar de tudo, sua homossexualidade o atormentava. Chegou a pensar em casar-se com a cantora ALMA COGAN, mas terminava sempre em noitadas com pilantras que, não raro, o espancavam, roubavam-no, chantageavam-no e depredavam suas residências. Embarcou sem pestanejar, junto com o grupo, no universo das drogas, o que mais ainda agravava seu sofrimento (depressão, insônia). E justamente, uma mistura de drogas com remédios contra insônia tomados com álcool o fez partir tão jovem. Aos 33 anos incompletos, BRIAN EPSTEIN levitou em 27 de agosto de 1967, logo após o lançamento do disco “Sgt. Pepper”. Os Beatles jamais tiveram a mínima desconfiança dele. E nunca se arrependeram. Sua morte desconcertou o ambiente e o conjunto se viu perdido no meio de advogados, documentos, contratos..., o que fatalmente precipitou o fim do sonho. Sem o velho EPY, o elemento catalisador, o homem ético e decente, o pai dos Beatles, ainda houve músicas e álbuns sublimes, mas o trem seguiu desgovernado por aquela longa e tortuosa estrada!
5 comentários:
Pelo que se lê, era uma pessoa do bem, que, assim como nós, se apaixonou pelo som dos Beatles. Com um detalhe: sem ele, possivelmente, os Beatles não teriam estourado como estouraram. Eles eram geniais, mas precisavam de alguém que "brigasse" por eles... E Brian fez isso com devoção!
R.I.P. Brian!
Grande amigo JC... Faz uma falta absurda aqui nesse baú!
Só existe outro encontro mais importante que Brian/Beatles: o encontro Lennon/McCartney.
Que dó desse jovem morrer tão prematuramente.
Outras coisas foram responsáveis , mas, com certeza o fim começou com a morte de Brian Epstein.
Um post para a gente se lembrar de dois caras do bem. Brian Epstein e João Carlos Mendonça.
Com certeza uma das maiores fatalidades do mundo da música. Epstein basicamente ornamentou o coneito de "ética" dentro do empresariamento no mundo Pop. Infelizmente seu legado precosse serviu mais pros empresários e gravadoras - que aprenderam com ele - a controlarem ainda mais seus artistas; por isso jamais veremos um "novo" Beatles.
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