Embora existam aqueles que provavelmente acham que remixar um álbum dos Beatles é um ato de profanação, é justo dizer que este álbum foi um dos lançamentos mais esperados de 2006. Demorou dois anos para ser produzido, e isso mostra que este é um remix de um mashup sofisticado. A abordagem de George Martin ao estúdio de gravação sempre foi experimental. Junto com seu filho Giles, ele aproveitou ao máximo a tecnologia digital para criar algo genuinamente desafiador e muitas vezes muito comovente. Pedaços de músicas são inteligentemente enxertados juntos; a abertura de "Get Back" traz o mais breve dos trechos de "A Hard Day's Night"; "Strawberry Fields Forever" é construído a partir de uma combinação de versões de demonstração e a gravação completa finalizada. "Sun King" é tocada de trás pra frente. “Love” é um tributo inteligente e sincero à banda mais influente e mais amada de todos os tempos. Um trabalho de amor, de fato. Os Beatles eram artistas primitivos e inigualáveis, um grupo. Como tal, a década dos Fab Four vale-se de registros que são frequentemente vistos como textos sagrados que não ousam ser perturbados. Com “Love”, os rapazes de Liverpool foram, literalmente, reinventados.
A ideia de remixar as músicas dos Beatles sobre elas mesmas não era nova, mas da forma com “Love” foi produzido, como uma experiência, pois é a trilha sonora para o espetáculo do Cirque du Soleil em Las Vegas, enriquece ainda mais o catálogo dos Beatles, misturando 10 anos de canções icônicas no espaço de 26 faixas. É a melhor compilação que já foi feita em torno de sua obra, no sentido mais palpável da palavra. “Love” não reimagina drasticamente as músicas dos Beatles, mas sim pedaços juntos, fragmentos de músicas que não parecem ter correspondência alguma como ‘A Hard Day’s Night’ e 'Get Back', por exemplo, derruba as barreiras do tempo, tornando os Beatles uma entidade musical fluida, assim, um grupo de composições flutuam para dentro e para fora um do outro para um efeito fantasmagórico e muitas vezes emocionante. O redemoinho muitas vezes estonteante de som em "Get Back" chega a parecer que vai entrar em colapso, enquanto "Eleanor Rigby" e "Julia" se misturam num efeito assombroso. Além de implodir os limites entre os álbuns e as músicas, os dois Martins, George, o pai, Giles, o filho, também trazem essas faixas para os ouvidos de hoje; é quase uma revelação. “Love” reafirma a vitalidade e a natureza essencial das gravações originais. É uma experiência única, deslumbrante e expansiva que está entre os melhores lançamentos dos Beatles em todos esses anos.
O espetáculo "Love" estreou em Las Vegas, na casa de espetáculo Mirage, no dia 30 de junho de 2006. Nele estavam presentes Paul McCartney, Ringo Starr, Yoko Ono, Cynthia Lennon, Julian Lennon, Olivia Harrison, Dhani Harrison, George Martin e Giles Martin. Foi o maior encontro da "família Beatles" desde o fim do grupo. Desde então, ele está em cartaz, sempre com a casa cheia.
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