
E eles vieram. Das 36 músicas do setlist, 22 eram da banda mais famosa do planeta. A fase iê-iê-iê (“Drive My Car”), as baladas (“The Long and Winding Road”), os rocks (“Back in the USSR”), as imortais (“Eleanor Rigby”), em sequências tão poderosas que deixavam o espectador anestesiado – catatonia é uma das sequelas de se assistir a uma lenda viva. Muita gente, fãs de todas as idades, chorava a cada nova melodia, verdadeiros clássicos da música mundial. Pode parecer exagero, mas a emoção era palpável, corria solta pelo gramado e arquibancadas e era altamente contagiante. Catarse é uma boa definição.
McCartney tocou duas das melhores faixas do projeto The Firemen, “Highway” e “Sing the Chances” (com imagens de Obama no telão), ambas poderosas e compostas, tem-se a certeza, para serem tocadas em estádio. Da carreira solo, hits e pérolas do Wings: a arrepiante “Let Me Roll It”, com uma citação a “Foxy Lady”, de Jimi Hendrix; “Nineteen Hundred and Eighty-Five”, irresistível, Paul ao piano; e “Mrs Vandelbilt”, que conseguiu levantar o coro de “eô”. O ápice, porém, aconteceu em “My Love”. “Escrevi essa música para minha gatinha Linda, mas esta noite ela é para todos os namorados”, disse McCartney, em português. Milhares entoaram o refrão.
As homenagens aos antigos companheiros foram dois dos pontos altos da noite: “Here Today”, composta para John Lennon, com Paul sozinho no violão, e “Something”, clássico de George Harrison, primeiro no ukelele, depois com toda a banda. A plateia respondeu levantando corações de papel, assim como na dobradinha “A Day in the Life” / “Give Peace a Chance”: o mantra pacifista de Lennon ressoou durante vários minutos no Beira-Rio, todo mundo com o símbolo da paz nos dedos.A sequência que abre caminho para o bis é matadora. Começa com “Band on the Run”, passa por “Ob-La-Di Ob-La-Da”, chega no teto com uma versão longa, rápida e pesada de “I've Got a Feeling” e explode no céu, literalmente, em “Live and Let Die” – fogos de artifício dentro e atrás do palco, em quantidade suficiente para o cheiro de pólvora dominar o ar. “Hey Jude”, como era de se esperar, foi a que teve maior adesão do público: trouxe um “na na na” insistente, antes, durante e depois, até para chamar Paul de volta para o palco.
Ele voltou empunhando uma bandeira do Brasil e outra do Reino Unido. O símbolo nacional, curiosamente, motivou que alguns cantassem o Hino Rio-Grandense e o estádio inteiro, o coro de “ah, eu sou gaúcho”. McCartney repetiu a frase no microfone, o público delirou. Não podia ser mais fácil.
O primeiro bis teve “Day Tripper”, “Lady Madonna” e “Get Back”, só singles campeões dos Beatles. Paul saiu de cena e retornou com a belíssima “Yesterday”. “Vocês querem rock 'n' roll?”, perguntou ele, e dá-lhe “Helter Skelter”. Daí foi o momento de ler os cartazes da plateia e ele resolveu atender ao pedido de duas meninas, Elisa e Ana: chamou a dupla ao palco e, caneta em punho, assinou o braço de ambas para que, depois, elas pudessem eternizar o autógrafo numa tatuagem. É a nova moda nos shows de McCartney, que parece estar se divertindo muito com disso.
O final, como de praxe, foi com “Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band” e “The End”, acompanhadas por uma tempestade de papel verde-amarelo picado. “Até a próxima”, se despediu Paul. Se em uma nova turnê, é pouco provável, mas o público brasileiro já tem encontro marcado com o cavaleiro da rainha: dias 21 e 22 de novembro, no Morumbi, em São Paulo. O roteiro vai ser o mesmo, sem dúvida. Será um belíssimo flashback.
6 comentários:
Edu
Eu não preciso procurar mais nada em sites, jornais e revistas. Você deu o serviço todo. Está soberbo!
Velho Johnny
Edu,
Conte-me, vc estava lá?
Adorei o seu texto, o carinho e o cuidado com as palavras. Ficaram d+.
bjs
Oi Edu...acompanho seu blog algum tempo já, como vc gosto muito dos Beatles. Não sou tão conhecedora como vc!
Não vou o show do Paul sou de Minas e minhas condições financeiras não me deixam ir até São Paulo, então tudo fico sedenta por notícias, vídeos, fotos e sabia que aqui eu ia entrar os detalhes do show visto por um fã como eu!
A emoção que vc me passou com esse texto é inexplicável...Chorei ao ler!
Parabéns pelo blog...
Abração!
Eveline
Meus queridos: Eveline, Michellen e velho Johnny. Sinto-me honrado com os elogios. Infelizmente, esse texto não é meu. Bem que poderia ser! Cito a fonte logo no comecinho da matéria, antes de tudo! Obrigadão! Valeu!
Vou nos 2 shows em SP, será que ele muda algumas músicas de um pra outro?
Edu,infelizmente não tem como eu ir aos shows e SP.É que além do Bolsa Família (ou Bolsa-Voto)eu sou de PE e vai que eu cruzo com os amigos da estudante de Direito (?) e resolvem me afogar ? Não vai dá tempo de dizer que votei no Serra.
Postar um comentário